O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



terça-feira, 2 de agosto de 2022

Entrevista Micka Michaelis

2112. O que te levou a ressuscitar a Santuário após tantos anos fora de cena?

Micka. Apesar da banda ter terminado em 1987, continuamos amigos. Todos desenvolveram outros projetos musicais mas havia aquela sensação de trabalho inacabado, uma vez que tínhamos um grande repertório e que não havia sido registrado. Então, em 2009 nos reunimos exclusivamente para gravar a canção "Os 7 Clarins" para o filme BRASIL HEAVY METAL, ainda com a participação do Julio. Em 2015 fomos convidados para a celebração dos 30 anos do SP METAL I e II e nos reencontramos. O show foi muito bacana e sentimos uma boa energia mas só em 2018 decidimos entrar em estúdio para registrar algumas canções.

2112. Tirando o Julio seu irmão falecido a alguns anos quem da formação original retornou com você?

Micka. No ínício em 1982 havia um guitarrista chamado Armando Bandeck.  Ele ficou na banda apenas por pouco tempo. Da formação original permanceram todos: Alessandro Marco (bateria), Jorge "Rato" Basotos (baixo) e R. Micka Michaelis (guitarra e vocal). 

2112. O metal em solo brasileiro sempre caminhou com as suas próprias pernas e com o apoio dos fãs já que a mídia nunca apoiou o movimento. Como você explica toda devoção ainda hoje com a Santuário?

Micka. Na primeira metade da década de 1980 havia uma grande vibração em torno deste novo som que estava surgindo. As bandas cantavam em português e o público apoiava e acompanhava. O Santuário foi provavelmente a primeira banda da baixada santista a tocar o genuíno heavy metal. Nossos grandes amigos do Vulcano iniciaram com influências do rock´n´roll e em seguida partiram para um som mais pesado. Tivemos a sorte de estarmos no lugar certo, na hora certa e fazendo aquilo que mais gostávamos. E com isso houve uma grande sintonia com os fãs pois éramos apenas "fãs que tinham uma banda"...rsrsr... E foi mágico!

2112. ... o visual de vocês na época também fazia a diferença. Ao invés das tradicionais roupas de couro com adereços de metal roupas de guerreiros medievais. De onde surgiu a idéia?

Micka. Cada banda buscava uma identificação com seu tipo de som e sempre inspirados na cena do NWOBHM. Ver as capas e fotos das grandes bandas era uma referência. Certamente naquele momento o Manowar estava despertando muito interesse e curiosidade e entendemos que seguir por este caminho poderia nos destacar. E deu certo!

2112. "Era excelente, uma das melhores do Brasil na época. Mas não foram bem capturados em disco, rola só uma música no SP Metal que não tem nada a ver com o que era ao vivo, na época boa". (Tarso Wierdak). Porque essa energia não foi captada em estúdio? O que de fato aconteceu?

Micka. Era praticamente impossível ter o registro em estúdio com a energia que as bandas tinham ao vivo. Quem assistiu ao filme BRASIL HEAVY METAL vai entender bem. Não havia amplificadores, técnicos de som e nenhuma experiência em gravações. As canções do SP Metal foram gravadas em sobras de horário de estúdio de madrugada, em 08 canais e em 06 horas (gravação e mixagem). Adorávamos e sonhávamos com o som das guitarras do Judas Priest e Accept gravados com guitarras Gibson e amplificadores Marshall e operados por engenheiros que já haviam produzido Black Sabbath e Deep Purple. Porém usamos Gianinni com captadores que o Jorge Ben usava, bateria Pinguim e o técnico de som (Zé "Heavy" Luiz) ainda era menor de idade como eu...rsrsr... Mas as composições estavam lá e ao vivo era pura energia. E é isso que estamos conseguindo resgatar agora neste álbum inédito! A propósito: Tarso foi roadie e "segurança" da banda. Grande amigo!

2112. Mas a participação da banda na coletânea foi de grande valia, não?

Micka. O SP Metal I e II foi determinante para a cena do heavy metal nacional e mostrou para o Brasil que havia algo feroz acontecendo, inspirando a nova geração de bandas que viria a seguir.

2112. Vocês inclusive fizeram shows por alguns países da América Latina. Existe áudio ou vídeo dessas apresentações?

Micka. Fomos a primeira banda brasileira de heavy metal a apresentar-se fora do Brasil. Existem registros precários em vídeos e alguns trechos estão no documentário "Um Rei Pra Sempre" que será lançado em DVD junto com o álbum.

2112. O que levou vocês a decretarem o fim da banda no auge da sua popularidade? 

Micka. Ficamos na expectativa do retorno do Julio, que era nosso vocalista e figura importante nos shows. Porém em 1987 o panorama do heavy metal já estava mudando rapidamente e as novas bandas buscaram uma sonoridade mais agressiva e objetivamente queriam cantar em inglês. Aquela cena inicial estava enfraquecida. Tentamos uma sonoridade mais voltada ao hard rock incluindo teclados e um novo vocalista (Beto Silveira), mas já não havia mais aquela energia original da banda.

2112. .... com o fim da Santuário você, Beto e alguns ex-integrantes da Pegasus fundam a Naja. Vocês chegaram a gravar algum material na época?

Micka. Tentamos dar segmento usando parte das canções desta fase mais hard do Santuário e demos o nome de Pégasus que não pôde ser registrado e então trocamos para Naja. Eu assumi os vocais. Quem buscava um som parecido com o Santuário certamente estranhou pois era outro foco e interesse. Mas em contrapartida surgiram novos fãs.

2112. Como surgiu o Extravaganza? Nessa época a Naja ainda existia como banda?

Micka. Em 1991, após aproximadamente um ano inativo, o Naja retornou com força e gravou uma excelente demo tape. Eu estava cantando mas sentia que seria importante ter um frontman com boa presença, voz e carisma. Sempre fui muito amigo do China Lee (Salário Mínimo) e então convidei-o para assumir os vocais. E com a soma de nossas experiências ajustamos o repertório e surgiu a "Extravaganza".

2112. Conte como foi a pré-produção e as gravações do álbum "O Prazer é Seu" e porque o projeto não seguiu adiante?

Micka. Extravaganza foi talvez nosso ápice em termos de profissionalismo e busca por um objetivo maior na música brasileira. Rapidamente despertamos interesse de empresários e gravadoras e tivemos grande circulação em diversos segmentos da mídia. Houve muita exposição em programas de TV, rádios e shows e tudo caminhava bem. Desenvolvemos um grande repertório, versátil, brasileiro e interessante. No momento em que estávamos para assinar o contrato com uma multinacional houve um interesse maior em novas bandas brasileiras que misturavam rock com outros estilos e isso nos enfraqueceu. Ainda sim o ábum foi lançado e causou grande interesse. Tivemos boa exposição na imprensa e o clipe de "Sexo e Extravagâncias" foi censurado pela MTV (pois tinha umas cenas "picantes"), o que nos ajudou anda mais. Em seguida a MTV nos procurou pedindo para exibir e então dissemos: tá bom...pode passar aí...rsrsr

2112. Recentemente você e o China reativaram o Extravaganza. A idéia é manter a banda em atividade gravando álbuns e fazendo shows?

Micka. Nos reaproximamos e estamos desenvolvendo um material inicialmente acústico, resgatando algumas canções do nosso álbum além de algumas inéditas e clássicos do rock.

2112. O que os fãs podem nos shows de ambas as bandas?

Micka. O Santuário planeja alguns shows especiais para este lançamento. Queremos fazer disso um momento único de celebração, com show e também a exibição do filme documentário "Um Rei Para Sempre" que está simplesmente emocionante. Extravaganza está em fase de preparações mas planejamos apresentações acústicas.

2112. Ouvi "Santuário" numa postagem do China e confesso que ficou bem melhor que a versão incluída no SP Metal. Pesadíssima! Parabéns!

Micka. Obrigado. Confesso que o registro está muito honesto e sincero. Buscamos manter o máximo da originalidade, com timbres e arranjos originais mas mantendo a pureza e energia inicial.

2112. Micka, como foi trabalhar no projeto Brasil Heavy Metal e como juntar todo aquele material?

Micka. O BHM foi um projeto fantástico. Alguém precisava registrar e eternizar de forma profissional o que foram aqueles primeiros anos na década de 1980 e o surgimento do heavy metal no Brasil. Creio que conseguimos e estamos felizes pois sentimos que os fãs reconheceram, nos apoiando em todos os momentos. Obrigado aos IMORTAIS. Foi um grande trabalho de pesquisa e todos os personagens nos receberam muito bem, abrindo suas portas, arquivos e corações. Inesquecível!

2112. O documentário foi lançado no exterior?

Micka. O DVD Digipack rodou e ainda está rodando o mundo. O filme tem legendas em inglês e espanhol. Houve exibições em alguns festivais de cinema e agora estamos retomando as conversas para eventualmente termos exibição em plataformas de streaming, mas isso ainda é uma tentativa....

2112. Agora com duas bandas para trabalhar quais são os seus projetos para o futuro?

Micka. O Santuário não é uma banda de carreira e nosso plano é promovermos o álbum da melhor forma, mas não há projetos para novas canções ou algo assim. Além do Santuário e Extravaganza tenho trabalhado fortemente em canções de um repertório solo que acredito não serem adequadas para nenhuma das bandas. Também estou curtindo muito este momento e com muita inspiração.

2112. Recentemente me deparei na internet com uma banda cristã também de nome Santuário. Você tinha conhecimento disso?

Micka. Sim, sabia que existia mas não conheço o material.

2112. Qual o telefone/e-mail para contratar a banda?

Micka. O melhor caminho é via Instagram: @mickamichaelis

2112. ... o microfone é seu!

Micka. Estamos ansiosos para que todos possam curtir o álbum. Foi um esforço e dedicação muito grandes, porém estamos muito felizes. 20 canções gravadas em ordem cronológica para mostrar a todos o desenvolvimento e mudanças que foram acontecendo ao logo dos 05 anos de existência. O filme documentário que faz parte do Digipack Quádruplo é imperdível! E ainda há um CD com raridades e gravações que, apesar da baixa qualidade, mostram aquela energia que comentamos. Não poderia deixar de agradecer a CLASSIC METAL RECORDS que acreditou em nosso projeto apoiando desde o início e inclusive indo além. Lançar um álbum de vinil duplo nos dias de hoje é algo muito ousado e corajoso mas estamos confiantes! Nosso sincero agradecimento. Grande abraço a todos do 2112 e agradecemos o espaço. AVANTE GUERREIROS!

 
Obs.: As fotos foram retiradas da internet e não consegui identificar os nomes dos fotógrafos... Quem tiver alguma informação favor enviar para retamero2112@gmail.com que eu faço as devidas correções. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário