2112. George, podemos começar com você falando sobre o seu início na música?
George. Sim. Meus reais inícios na música estão na minha infância mesmo. Eu quase fui um pianista por volta dos meus 7 anos de idade; tive uma única aula com uma professora, e lembro muito bem que me dei bem nas primeiras noções de musicalização. Infelizmente, como não tínhamos um piano em casa, ou uma pessoa que me conduzisse regularmente até a residência dessa professora, a ideia foi descartada. Isso foi parcialmente sanado com a compra de um tecladinho Casio que tive aos 12 anos, mas as cordas, a percussividade e o corpo ressonador do violão me falavam mais alto. Minha mãe teve um DiGiorgio de estudante, mas nunca foi uma estudante regular nele. Eu só percutia nele em minha infância... E lembro de experimentar por o violão ao vento do ventilador e de identificar uma melodia nele (e que me lembro até hoje); curiosamente, só anos mais tarde soube que Walter Smetak fez algo parecido muitos anos antes, o que o inspirou na criação do violão eólico. Essa melodia que deduzi tentei reproduzi-la anos depois numa ruidosa peça instrumental que está no meu primeiro LP (mas segundo trabalho lançado) “Prelúdio Tardio”. Trata-se da faixa de encerramento intitulada “Tardio”. Agora, se estiver realmente querendo saber de meu início oficial mesmo como musicista, ele se deu mesmo aos 14 anos, quando manifestei a vontade de aprender violão graças a Stevie Howe e ao Yes. Um velho amigo de vizinhança e colega de escola, Mateus Spyke, me emprestou um álbum triplo em LP que foi um marco em minha vida: o ao vivo “Yessongs” de 1973. Entre outras tantas faixas que me deslumbraram, a instrumental ao violão clássico “Mood for a Day” foi a que me fez querer ser violonista. Minha mãe me matriculou num curso particular e tive noções básicas de violão popular e do clássico graças ao professor Josett Cerqueira por, pelo menos, um ano, entre 1995 e 1996. Depois disso, fui autodidata em minhas escutas e aprendizados ao violão, mas sempre ambicionando ter uma guitarra elétrica no futuro, mas sem regularidade ou disciplina no intuito de ser musicista. Tive também meu tio-avô Dilo Vilela como instrutor em 2005, no intuito de me aperfeiçoar no violão clássico, mas a Síndrome de Alzheimer o abateu, infelizmente. Mas esses poucos meses que tive com ele foram fundamentais para que eu aprendesse a ter um autodidatismo de estudo mais firmemente consolidado. Vale mencionar também que só pude começar a aprender os rudimentos mais formais na Composição primeiramente no curso de extensão que fiz entre 2011 e 2013 e pude ter meu aprendizado real no piano mesmo quando ingressei no curso de Composição pela UFBA entre 2013 e 2020. Já o baixo é algo que comecei a tocar de maneira autodidata a partir de 2012, tendo somente um aprendizado formal mesmo ano passado, no intuito de aperfeiçoamento, com o professor Fábio Garboghinni no ano passado (2022). Confesso que nunca tive maiores ambições com a música. Nem me sabia musicista por vocação durante muitos anos. Embora eu já começasse a compor canções a partir de meus poemas durante minha graduação em Letras, só pude perceber que tinha um interesse maior na música do que na literatura no transcorrer de minha formação primeira, pela qual me diplomei na Licenciatura de Letras Vernáculas com Inglês em 2007. Bastou uma demissão depois de seis meses de trabalho como revisor no Colégio Integral, para que, em 2008, eu entrasse numa profunda crise existencial sobre minha carreira. Houve também um assalto à mão armada naquele ano de 2007 que me retirou a minha mochila e, com ela, minha intensa produção poética em meu caderno de poemas no período. Daí, uma outra pessoa amiga me sugeriu que eu começasse a fazer Yoga e psicoterapia. A partir disso, das visualizações que tive, emergiu um George musicista de uma forma como não existia no passado. Percebi que minha missão mais importante estava na música e que deveria levar o ofício do ensino de línguas como um trabalho em paralelo por um tempo. E comecei a criar e difundir a minha música online em 2008 através do MySpace.
2112. Assistindo aos seus vídeos senti que a música acústica é a base do seu trabalho. Que músicos/bandas são suas maiores influências e como você definiria a sua música?
George. Com certeza, a música acústica é o meu fundamento mesmo. Mencionei anteriormente o Stevie Howe do Yes, mas houve outros heróis na guitarra que me inspiravam em meus começos. Jimi Hendrix, Jimmy Page, Kurt Cobain, David Gilmour e Neil Young no rock. Todos eles lidaram com o violão acústico de uma maneira ou de outra, tendo seus estilos bastante particulares nas guitarras elétricas. No Brasil, Egberto Gismonti no violão acústico, Pepeu Gomes, Lanny Gordin e Sérgio Dias na guitarra elétrica foram os que mais me fizeram a cabeça nas seis cordas (ou mais, no caso do Egberto). Mas houve um violonista acústico em particular cujo nome eu havia descoberto durante a minha graduação em Letras e cujo estilo de tocar muito me inspirou para que eu começasse a criar instrumentais unicamente para o violão, que foi John Fahey. Percebi que as pesquisas dele por afinações alternativas, como também o estilo de execução dele é o que unifica a referência tanto de um Jimmy Page (que bebia também da fonte de Davy Graham, John Renbourn ou de Bert Jansch), quanto dos guitarristas do Sonic Youth. Percebi que poderia unificar o estilo de dedilhado dele, inspirado pelo blues e pelo bluegrass, com a polifonia na execução do violão clássico europeu e o choro villa-lobiano e brasileiro que aprendi em minha adolescência e início de vida adulta. E foi assim que eu comecei a forjar o meu estilo de tocar. (Poderia também mencionar Nick Drake no folk inglês; embora ele tivesse sido mais cancionista, foi o violão dele que mais me chamou a atenção.)
2112. Como você trabalha todas essas influências em sua cabeça para criar a sua música?
George. Minha música parte muito da improvisação, mas ela tem ideias e temas que são tão consolidados que considero o que faço, na realidade, de comprovisação. Sou um violonista que, como poucos no Brasil, prefere as cordas de aço. Meus antecessores mais remotos são Américo Jacomino (Canhoto) e Dilermando Reis. Nomes como o de André Geraissati, Marco Antônio Araújo ou o Duofel foram descobertas um pouco mais tardias em minha vida adulta. Mas sou também um roqueiro que se atreve a eletrificar o violão, além de tocar na guitarra elétrica. Sou muito mais um harmonista do que um solista, admito. Mas tenho minha rebelião particular contra a harmonia bossanovista que se tornou uma norma desde o final dos anos 1950 até aqui no Brasil: o meu interesse por afinações alternativas e por construções harmônicas fora do usual são uma chave de compreensão para a minha música. E minha música parte de uma cosmovisão que é, antes de tudo, nordestina; Quinteto Armorial, Elomar e a psicodélia pernambucana (em especial, Lula Côrtes) me foram de grande inspiração. Procurei também superar a influência única e estritamente anglo-ocidental, para buscar fontes de inspiração também na música indiana, turca, persa, indonésia, japonesa... tanto tradicionais, quanto modernas ou contemporâneas.
2112. ... sons e ruídos também te inspiram?
George. Sim, com toda certeza. Mencionei a experiência do ventilador na infância, e que repeti em 2008, desta vez munido de violão elétrico amplificado (para a gravação de “Tardio”). Fui despertado por Naná Vasconcelos e Hermeto Pascoal para o mundo dos sons, em sua natureza tangível, antes mesmo de eu descobrir John Cage ou o mundo da música eletroacústica por volta do ano de 2004/2005. Se eventualmente não gravo sons da natureza ou do cotidiano, eu incorporo objetos e pedais de efeito de modo a criar uma guitarra semi-preparada, pensando tanto nas experiências de Walter Smetak, quanto em Keith Rowe (AMM). E lido também com música eletroacústica e computacional desde 2008, embora eu não me considere um musicista eletrônico por via de regra.
2112. Você poderia falar sobre a Afluentes Ensemble e quem são os outros integrantes?
George. Sim, claro. Considero a Afluentes Ensemble uma nova vida para um projeto cujo real início se deu entre o final de 2019 e começo de 2020, com o Ensemble Phuturista (projeto que era capitaneado por mim, Maria Phuturista e Heitor Dantas e que periodicamente tocava para o evento Onda Futurista; só existiu em duas edições, com formações distintas). Pelo menos, eu, Fernando Fernandes (bateria e percussão) e Yrlan Guedes (violino, saxofone tenor e diversos outros instrumentos) fomos egressos do Ensemble Phuturista. O real começo da Afluentes Ensemble se deu foi em janeiro de 2023 mesmo, após muitas conversas e transformações na formação que estávamos a engendrar durante o período final da pandemia. Atualmente, além de mim, Fernando e Yrlan (já mencionados), temos também Maurício Lourenço (baixo e piano) e Eufrásia Neres (vocais). São todos musicistas de larga experiência, mas estamos ainda começando, mas nos propomos a trabalhar temas próprios, de criação comprovisativa, e de criação livre, experimental e coletiva. Esta banda é parte de meu projeto de pesquisa atual no Mestrado em Composição, que trata sobre a relação entre as ideias de comprovisação e de composicionalidade no contexto de um projeto musical coletivo.
2112. Que bandas você participou antes de sua carreira solo e da Afluentes Ensemble?
George. Nunca tive banda mesmo antes da minha carreira solo. Tive uma banda chamada Vento Bravo. Curiosamente, ela não começou antes de minha carreira solo, mas durante ela! Foi entre dezembro/2012 e agosto/2015 que a banda existiu, com João Carlos Mascarenhas no baixo e Tácio Lima na bateria. Fazíamos tanto canções próprias, de minha autoria, quanto nossas versões para artistas como Jards Macalé, Arnaldo Baptista e Velvet Underground. Temos material gravado com a Vento Bravo sim, mas não é de qualidade ideal para uma difusão maior.
2112. O que mais influenciou na decisão de partir para a carreira solo?
George. O fato de que eu poderia ser um artista independente, sem as neuras circunstanciais de se ter uma banda. Artistas como Skip Spence e Arnaldo Baptista me inspiraram a ser one-man-band, de uma certa maneira. E outros artistas como Michael Yonkers, R. Stevie Moore e Jandek me inspiraram a abraçar o Lo-Fi sem reservas. Fazer música com os recursos limitados ao alcance é algo que ainda me move. Mas houve em minha discografia um crescente desejo de gravar melhor, substituir tecnologias. Em meus começos, percebi artistas no My Space como o mexicano Eduardo Padilla no projeto Molloy and His Bike (minha primeira inspiração, na música online), os estadunidenses Max Go no Bethlemufo, Colt Kirkpatrick no Mister Sleepy, o sérvio Igor Jovanovic no Lezet, Sabrina Siegel, Vanessa Rossetto... minha primeira parceria musical foi com a greco-novaiorquina Danielle Demos, que atendia pelo projeto Owl Dreams. Todo/as esses artistas, enfim, me motivaram a começar a entrar no mundo da música independente online, como também a ter minhas primeiras parcerias musicais, mesmo sem conhecer ninguém pessoalmente, em 2008. Prossegui tendo outras parcerias na minha carreira musical online, mas sou um artista quase ausente na cena musical local de minha cidade, Salvador. Tenho sérios problemas para lidar com a logística (por morar numa parte distante da capital e não ter carro), mesmo sendo artista solo, e detesto a ideia de ser malmente contemplado financeiramente como é de praxe por aqui. (Sou atualmente bolsista universitário, felizmente.) Tenho boas relações e contatos, no entanto. Não sei se realmente me identifico com a cena rocker soteropolitana, pois baseei o meu projeto artístico numa consciente rebelião a um estado de coisas que eu via por aqui nos anos 2000, com o predomínio das bandas cover e com a pouca vontade de se perseguir uma identidade própria. É um imenso erro um/a artista pautar sua carreira perseguindo a ideia de seguir com um único estilo ou num figurino de um rótulo. Sempre considerei que os melhores projetos musicais são uma síntese das individualidades de cada musicista participante. E é muito raro de se ver isto por aqui. Um projeto estético de uma banda como a Crac! (para mim, a melhor banda baiana nos últimos vinte ou trinta anos), por exemplo, não vai existir novamente assim tão cedo.
2112. Você consulta as plataformas digitais para se manter informado? Qual é a sua visão da atual cena?
George. Sincera e honestamente, não acompanho o tanto quanto eu gostaria. Acho que estou me sentindo um “idoso digital” (Risos...). As plataformas que mais uso, que são da empresa Meta - Facebook e Instagram - estão, atualmente, cada vez mais defasadas aos olhos de uma geração catequisada pelo TikTok... não tenho nada contra a China, mas eu NÃO consigo lidar com o TikTok! (Risos...). Enfim, se eu tivesse de apontar artistas recentes que mais me despertaram o interesse, acho que estaria mencionando gente que começou carreira na década passada. Eu não sou um constante usuário das plataformas de streaming, mas me rendi às assinaturas do You Tube Music e do Spotify para não me sentir totalmente alheio ao que vem sendo difundido atualmente. As plataformas de streaming são uma resposta do mainstream musical para a cena independente online e promovem uma nova perpetuação do jabá, e eu procuro fugir disso ao máximo. Gosto de buscar por gente que mereça ser descoberta e que não esteja nos holofotes da grande mídia. Mas sigo sendo da ideia de que artista que se deve ao respeito deve prioritariamente disponibilizar seu trabalho pelo Bandcamp. Um dia haverei de ser assinante, mas tenho desde 2010 sem arrependimentos. Acredito que sou um dos primeiros artistas baianos a trabalhar com o Bandcamp. O catálogo de meu selo GC Sound Artifacts está todo ali.
2112. Que bandas você destacaria com um trabalho bacana?
George. Da cena roqueira mais recente no Brasil, destaco a chamada neo- psicodelia brasileira: Caminhante Flutuante, Jedias Hertz e os Tropicaóticos, Marina Silva, Ala Mil (do amigo César Blax), Edmar Silva (ou Hédi, atualmente), Luno Torres, Júlio Ferraz... daqui de Salvador, menciono Os Reids, Exu Overdrive, além de The Honkers (banda que acompanho desde 1998, do amigo vocalista Rodrigo Sputter). Já da cena experimental nacional, com a qual tenho maior vinculação, destaco: a banda Protofonia (para mim, uma das melhores bandas brasileiras recentes, dos confrades André Gurgel, Janari Coelho e André Chayde), Marco Scarassatti, Eufrásio Prates (Eufraktus_X), Thelmo Cristovam, Heitor Dantas, Renê Freire, Taticocteau, Flávia Goa, Sannanda Acácia (Quasycrystal), JP-Caron, Leandra Lambert, Lea Taragona, Arabu Avua, Rádio Diáspora, Löis Lancaster, IO, além de outras... Artistas internacionais da cena experimental online: Jeff Gburek, The Man From Atlantis, Kawol Samarqandi, Mehata Sentimental Legend, Vincent Bergerond, Giannis Arapis, Mariano Rodriguez, Helecho Experimentar, Antonella Porceluzzi, Helen Larsson, Anastasia Vronski, o já mencionado (e muito mais prolífico do que eu) Lezet são os que mais me despertam interesse nos anos mais recentes. Eventualmente, a maior parte desses artistas que mencionei fizeram parcerias comigo...
2112. Quais álbuns foram essenciais na sua formação musical?
George. Em meus primeiros anos como músico, aponto os seguintes álbuns, em ordem cronológica:
Frank Zappa & The Mothers of Invention - Freak Out (1966)
The Beatles - Revolver (1966), White Album (1968) e Abbey Road (1969)
Bob Dylan - Highway 61 Revisited (1966) e Blood on the Tracks (1974)
Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn (1967), Atom Heart Mother (1970) e Dark Side of the Moon (1973)
Jimi Hendrix Experience - Are You Experienced? (1967)
The Velvet Underground - The Velvet Underground & Nico (1967)
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Nara Leão e Rogério Duprat -Tropicália ou Panis et Circensis (1968)
Mutantes - Os Mutantes (1968)
Neil Young & Crazy Horse - Everybody Knows This Is Nowhere (1968) e
Tonight’s The Night (1974)
Captain Beefheart & His Magic Band - Trout Mask Replica (1968)
MC5 - Kick Out The Jams (1968)
King Crimson - In The Court of the Crimson King (1969)
Skip Spence - Oar (1969)
The Stooges - Fun House (1970)
Milton Nascimento & Lô Borges - Clube da Esquina (1972)
Novos Baianos - Acabou Chorare (1972)
Nick Drake - Pink Moon (1973)
Yes - Yessongs (1973)
Elomar - … das Barrancas do Rio Gavião (1973)
Walter Franco - Ou Não (1973) e Revolver (1974)
Egberto Gismonti - Academia de Danças (1974)
Arnaldo Baptista - Lóki? (1974) e Singin’ Alone (1980)
Jandek - Ready for the House (1978) e You Walk Alone (1987)
Sonic Youth - Daydream Nation (1987)
Mercury Rev - Yerself Is Steam (1991)
Nirvana - In Utero (1993)
A partir de 2008, passei a ter uma perspectiva cada vez menos centrada no rock, menos anglo-americana, e mais sintonizada com a música do mundo e também com a música experimental. Aponto estes como os mais fundamentais para mim cronologicamente:
Dorival Caymmi - Canções Praieiras (1949)
Karlheinz Stockhausen - Kontakte (1958-60)
Ravi Shankar - Three Ragas (1959)
The Ornette Coleman Double Quartet - Free Jazz (1961)
Arnold Schoenberg, Pierre Boulez, Helga Pilarczyk - Pierrot Lunaire (1962)
Sandy Bull - Fantasias for Guitar and Banjo (1963)
John Fahey - The Transfiguration of Blind Joe Death (1965)
John Coltrane - Ascension (1966)
Ali Akbar Khan - Morning and Evening Ragas (1966)
AMM - AMMMusic (1967)
Gruppo di Improvizatione Nuova Consonanza - Azioni (1967-1969, lançado em 2006)
Robbie Basho - The Falconer’s Arm I (1967) e The Falconer’s Arm II (1968)
Pärson Sound - Pärson Sound (1966-1967, lançado em 2001)
Michael Yonkers Band - Microminiature Love (1968, lançado em 2002)
Walter Smetak, Ernst Widmer, Lindembergue Cardoso, Fernando Cerqueira e Milton Gomes - Compositores da Bahia 2 (1970)
Miles Davis - Bitches Brew (1970)
Musica Elettronica Viva - Leave The City (1970)
Linda Perhacs - Parallellograms (1970)
Linda & Sonny Sharrock - Black Woman (1970)
Klaus Schulze - Irrlicht (1971)
Can - Tago Mago (1971)
Faust - Faust (1971)
Hamza El-Din - Escalay, The Water Wheel (1971)
Derek Bailey - Solo Guitar (1971)
Tangerine Dream - Zeit (1971)
Wendy Carlos - A Clockwork Orange (Soundtrack) (1971)
The Master Musicians of Joujouka - Brian Jones Presents the Pipes of Pan at
Joujouka (1971, gravado em 1968)
Mahavishnu Orchestra - Birds of Fire (1973)
Hermeto Pascoal - A Música Livre de Hermeto Pascoal (1973) e Por Diferentes Caminhos (1987)
Lula Côrtes & Lailson - Satwa (1973)
Luis Alberto Spinetta (Pescado Rabioso) - Artaud (1973)
Erkin Koray - Elektronik Türküler (1974)
Quinteto Armorial - Do Romance ao Galope Nordestino (1974)
Lula Côrtes & Zé Ramalho - Paêbirú (1974)
Walter Smetak - Smetak (1974) e Interregno (1980)
Fred Frith - Guitar Solos (1974)
Ya Ho Wa 13 - Penetration, An Aquarian Symphony (1974)
Masayuki Takayanagi - April Is The Cruellest Month (1975)
Vangelis - Heaven and Hell (1975) e Blade Runner (Soundtrack) (1982)
Les Rallizes Dénudés - ’77 Live (1991, gravado em 1977)
Sun Ra - Languidity (1978)
Olivier Messiaen, André Prévin, Michel Béroff, Jeanne Loriod, London Symphony Orchestra - Turangalila Symphony (1978)
Ernst Widmer, Hans Juergen Ludwig, Alfredo Esteban Rey, Piero Bastianelli - 10 Anos Conjunto Música Nova UFBA (1979)
Alcides Neves - Tempo de Fratura (1979) e Destrambelhar ou Não? (1980)
Loren Mazzacane Connors - Unnacompanied Acoustic Guitar Improvisations (1979-1980)
Arrigo Barnabé e Sabor de Veneno - Clara Crocodilo (1980)
Keiji Haino - Watashi Dake? (1981)
Tetê Espíndola - Pássaros na Garganta (1982)
Marco Antônio Araújo - Entre um Silêncio e Outro (1983) e Lucas (1984)
André Geraissati - Solo (1987)
Ali Farka Touré - The River (1990)
Sonny Sharrock - Ask The Ages (1991)
Edward Artemiev - Solaris. The Mirror. Stalker (1999, gravações de trilhas sonoras para filmes de Andrei Tarkovski feitos entre 1972 e 1979)
Loren Connors - Airs (1999) e Portrait of a Soul (2000)
Six Organs of Admittance - Dark Noontide (2002)
Jeff Gburek - The Watermark (2014)
Mdou Moctar - Afrique Victime (2021)
Enfim, são muitas as fontes, mas este é o recorte mais preciso dos álbuns que mais me inspiraram na jornada musical até o presente momento.
2112. Você é multi-instrumentista o que ajuda bastante na hora de compor e gravar. Mas e nos shows você contrata músicos ou programa tudo nos teclados/pc?
George. Não costumo fazer isso. Até porque eu não teria capital para contratar outros musicistas. Gosto mesmo é de criar com gente disposta a ser criativa mesmo em performances ao vivo, com musicistas que são pensadores(as) livres. Por isso que a minha atual banda, a Afluentes Ensemble, é formada por gente cuja habilidade improvisativa é a mais natural e fluente possível. Não gosto da ideia de impor um repertório, admito... Agora, quando se trata de performances de meu trabalho solo, como minha música é fundamentalmente eu ao violão acústico ou na guitarra elétrica, prefiro fazer assim, sem a necessidade de um backing-track - a não ser ocasionalmente, para algumas peças em especial.
2112. Você tem uma discografia com diversos álbuns, singles, EP’s, participação em diversas compilações e em álbuns de outros músicos. Como você administra o seu tempo? De vez em quando dá para tomar uma cervejinha no bar da esquina?
George. (Risos...) Olha, ultimamente tenho me dedicado menos ao estudo instrumental no meu dia-a-dia, devido ao mestrado acadêmico. Sou uma pessoa que já passou da vontade da ansiedade de ser um melhor instrumentista, pois sinto que aprendi o suficiente para poder tocar o meu suficiente. Estou numa fase diferente na minha vida, com menos ânsia de ser musicista, mas com mais vontade de me desenvolver como compositor e instrutor de música no âmbito do ensino acadêmico. Desisti há muito tempo de buscar meios de tornar minha música mais difundida por aí, e prefiro que ela chegue ao público que mais se sinta conectado e sintonizado, independentemente da quantidade numérica. E o meu tempo de tomar uma cervejinha é mais nas manhãs de domingo, acompanhado de um bom tira-gosto... (Risos...)
2112. Ao entrar em estúdio você já chega com as músicas e os arranjos definidos ou elas vão tomando forma de acordo com o clima das gravações?
George. Vão tomando forma à medida do clima das gravações. Prezo muito pela criação em tempo real. Mas tenho peças também criadas em tempo diferido, prévio ao das gravações. Tenho procurado trabalhar algumas peças assim com a Afluentes Ensemble, embora a banda se sinta mais à vontade é com as criações do momento dos ensaios. Em meu trabalho solo, já gravei canções escritas previamente, como também peças instrumentais laboriosamente ensaiadas, além das que foram criadas no momento. Cito a minha trilogia de álbuns “Exílios” como um exemplo dessa sistemática. Tenho peças partituradas também, para diferentes conjuntos instrumentais.
2112. Você mesmo é quem faz os arranjos e produz os seus trabalhos?
George. Sim, normalmente. Mas nos trabalhos em parceria, há a co-autoria nos arranjos e na produção. E isso é facilmente identificado em minha discografia. Não há nenhum “ghost-writer” em minha vida... (Risos...)
2112. Em meio a gravações, ensaios, estudos... como funciona o seu processo de criação?
George. Procuro manter a minha mente voltada à escuta musical todo dia. Mas não procuro copiar ninguém. Posso até eventualmente me interessar por uma canção ou uma peça instrumental a estudar, partiturada ou não, mas não procuro copiar o estilo em hipótese nenhuma. Procuro absorver o que há de interessante naquela sonoridade para saber como se escreve ou como se executa em um instrumento. Eu procuro ser uma síntese de tudo que me interesso musicalmente.
2112. Entrevistei um músico que disse manter um grande banco de dados com trechos de músicas, riffs... para não perder as idéias. Você também tem esse costume?
George. Não. Até porque, se eventualmente eu fizesse algo do tipo, seria aproveitado para uma gravação futura minha. Eu sou da filosofia de não desperdiçar material nenhum. (Risos...)
2112. Quais são os seus projetos para este ano?
George. Tenho um álbum inédito cujo material musical foi gravado entre 2021 e 2023 que será lançado no final de mês de março em parceria pelo meu selo GC Sound Artifacts e o selo búlgaro Mahorka, de Ivo Petrov. Chama-se Nothingness... ou O Vento. É mais um trabalho majoritariamente instrumental, mas tomo a canção “O Vento” de Dorival Caymmi como um norte conceitual para o álbum. Afora ele, tenho trabalhos em parcerias que estão a se desenvolver com Helen Larsson e com Tiu Funk e Ala Mil, mas que farei de maneira (como sempre) esporádica e sem pressa. Meu foco real é o meu mestrado e a maturação do trabalho com a Afluentes Ensemble.
2112. Qual e-mail/telefone para contratar seus shows e adquirir seu material de merchandising?
George. Bem, posso pensar na possibilidade de me apresentar solo, mas dentro de brechas de disponibilidade sim. Meu e-mail de contato é gc.soundartifacts@gmail.com e telefone é (71)99242-3435 (Whatsapp).
2112. ... o microfone é seu!
George. Somos apenas um grão num universo, mas podemos ser múltiplos em multiversos. Podemos ser reais, basta termos o cuidado não sermos irreais num mundo cada vez mais surreal para se viver. Basta querer! “Salve-se quem souber, porque poder, ninguém poderá mais!” - Walter Smetak.