O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



quarta-feira, 22 de abril de 2020

Entrevista Duo Taufic


A música é verdadeira quando ela transcende os rótulos e atinge as mais variadas camadas sociais com a mesma intensidade. O Duo Taufic soa como um mosaico de múltiplas sonoridades que não apenas os ouvidos eruditos mas também os populares. Quem conhece seus álbuns ou já foi a um dos seus shows sabe do que estou falando.

2112. "É um orgulho pra toda nossa classe musical ver que o Brasil produz músicos como esses dois. Eu me confesso fã completo dessa dupla gêmea de música e de sensibilidade..." Ouvir um elogio de uma lenda como o Roberto Menescal é um baita incentivo, não é?

Roberto. Com certeza esse elogio do Menescal nos honra e nos alegra muito. Como produtor musical o Menescal faz parte da história da música popular brasileira além de ser um músico formidável! Eu tive a honra de ser ouvido por ele, a primeira vez, através do meu disco de violão solo “Eles & Eu”, e através do qual o Menescal declarou a sua grande admiração pelo meu trabalho como violonista! A partir daí, ficamos amigos e seguimos em contato compartilhando novidades e muita música.

2112. Vocês começaram muito cedo na música e o que é melhor... com apoio dos seus pais e familiares. Qual é a formação musical de vocês?

Roberto. Eu e o Eduardo temos 10 anos de diferença, sendo eu o mais velho. A música sempre esteve presente na nossa casa, em primeiro lugar graças ao nosso pai que era um grande artista e grande amante da boa música! A música era, na nossa família, um motivo para estarmos juntos e passar o tempo...essa é a verdadeira função da música; aproximar as pessoas! A nossa formação musical é 90% autodidata, muito estudo e dedicação fizeram parte do nosso cotidiano além de muito trabalho em bares, bailes, concertos...enfim, tocando pra valer e aprendendo com quem estava conosco, pessoas mais experientes e dispostas a nos ajudar a crescer como músicos!

Eduardo. Com toda a certeza, os pais tem papel fundamental no incentivo e solidificação de nossas carreiras artísticas. Me interessei pela música aos 9 anos, tendo Roberto como referência, e aos 11 ganhei meu primeiro instrumento, um piano vertical. Tive poucas aulas com o Maestro Waldemar de Almeida, e depois, aos 13 anos, me tornei músico profissional, sempre atualizando meus estudos de forma autodidata, inclusive nas áreas de orquestração, arranjo e composição, o que sempre me fascinou! Roberto foi morar na Itália quando eu ainda tinha 10 anos, então ele acompanhou de longe a minha evolução na música, cada vez que vinha ao Brasil ficava admirado de como a música estava presente na minha vida. Desde essa época, e à distância, amadurecemos nossa admiração mútua, o que nos faz tocar de forma tão espontânea e una.
2112. Independente de serem irmãos vocês tem uma química musical muito forte. Egberto Gismont traduziu isso muito bem ao dizer: "O Duo Taufic é totalmente afetivo, amigo, carinhoso, transbordado de sentimentos bons com ótima música tocada pelos irmãos Taufic que parecem 1 em 2 ou 2 em 1." Tem como separar os irmãos dos músicos ou vice versa ou tudo soma um?

Roberto. Acho que antes de tudo vem a essência como ser humano. É dela que partem as outras coisas da vida... E a música não fica fora dessa regra. A nossa música é realmente o resultado do nosso respeito recíproco, do amor pelo que fazemos, da procura pelo belo, da escolha da melhor sonoridade e da preocupação em compartilhar a nossa arte com todos, independentemente de idade, gostos e culturas!

2112. Hoje existe uma enorme ansiedade em formar bandas, gravar discos, fazer shows... Qual a visão de vocês sobre essas questões e quais conselhos dariam para quem está começando?

Eduardo. Os tempos e a forma de fazer e consumir música mudaram muito e não cabe a mim julgar se para melhor ou pior... Mas ao meu ver a música tem que ser “viva”, tem que emocionar, tem que ser útil a todos e não permanecer reclusa em comportamentos egocêntricos! Tocar ao vivo é o que todo músico ou artista deveria fazer pois isso é o que alimenta o ciclo do fazer música, pessoas indo ver shows e dando uma razão para continuarmos a realizar a nossa obra!

2112. Sabemos o quão difícil é para um artista viver exclusivamente de sua obra em países como o Brasil onde a cultura é sempre relegada a segundo plano. Vocês já estão conseguindo viver apenas da música?

Roberto. O trabalho de músico engloba diferentes possibilidades de atuação: concertos, didática, gravações, televisão e rádio, etc... Nós sempre trabalhamos na música e isso nos orgulha muito. Apesar das dificuldades e das incertezas econômicas seguimos em frente felizes do reconhecimento que cresce em relação à nossa obra! Infelizmente a música no Brasil vem sofrendo uma triste decadência no que diz respeito ao gosto popular, criando mitos e alimentando um mercado que com o tempo destruirá (torcendo que não!!!) o que temos de mais precioso: a mais rica e bela música do mundo!

Eduardo. A música sempre foi nosso trabalho, único trabalho. E sempre conseguimos nos manter trabalhando com a música. Como Roberto mencionou, não é só nos palcos que se ganha a vida como músico! Sempre mergulhamos nas várias vertentes de trabalho, como cinema, estúdio de gravação, arranjando, orquestrando, ensinando... Dá pra fazer muita coisa quando a sua paixão é a música, quando você sente que seu trabalho é gratificante. Esperamos não ter que fazer outra coisa pra sobreviver, rsrsrsr.
2112. Quais músicos/bandas influenciam o trabalho de vocês?

Eduardo. Olha, como Roberto foi (e ainda é) a minha principal referencia como músico, o som que ele ouvia (e trazia muitos LPs da Europa) era o mesmo som que eu acabava ouvindo. Ou seja, música de ótima qualidade. Canções e músicas instrumentais. Elis Regina, Egberto Gismonti, George Benson, Michel Petrucciani, Paralamas do Sucesso, Chick Corea, Tom Jobim, Chico Buarque, Pat Metheny, Oscar Peterson, Ivan Lins, Djavan, entre centenas de outros... Tudo que ouvimos naquela época reflete na bagagem musical do Duo Taufic.

2112. Entre os muitos discos ouvidos... quais deles foram essenciais para o crescimento de vocês como músicos?

Eduardo. Acho que não temos predileção quanto aos álbuns ouvidos por nós, todos foram muito especiais, necessários e influentes.

2112. A cena instrumental no país melhorou muito com o aparecimento de grandes bandas, festivais e trabalhos maravilhosos. Ainda não é o ideal... mas está bem melhor se comparado a alguns anos atrás. Falta apenas a grande mídia apoiar e divulgar a cena. A recompensa final acaba sendo a fidelidade dos amantes da boa música que compram os cds e vão aos shows, não é?

Eduardo. De fato, o aparecimento de novos festivais no Brasil, no ramo de música instrumental, tem dado uma boa credibilidade na promoção dos músicos e fidelização do público. Certamente, é uma ótima vitrine pra nós e uma forma de agregar ainda mais nosso público. Não só os espaços e projetos destinados à música instrumental aumentaram, mas o número de músicos de alto nível também. Isso nos alegra demais, ver nosso Brasil produzindo artistas reconhecidos pelo som peculiar e pela beleza de suas estéticas musicais tão fortes e admiráveis. Quanto aos discos, vendemos sempre nos shows, o público sempre compra, até como forma de lembrança de uma noite especial!!!!

2112. Vocês costumam ouvir rádio para saber das novidades?

Eduardo. Eu e Roberto trabalhamos como produtor musical, temos estúdio de gravação. Produzimos mais de 600 álbuns de artistas nacionais e internacionais. Não ouvimos constantemente as rádios, mas sempre estamos ligados nas boas novidades do mercado mundial, mas só nas boas mesmo!!!hahahah

2112. Em meio as novas bandas quem mais chamou a atenção de vocês? Pessoalmente curto muito o Peu Abrantes Trio. Vocês conhecem?

Roberto. Eu não conheco o Peu Abrantes mas vou dar uma sacada sim! Tem tanta coisa boa pra ouvir que é difícil acompanhar tudo. Ultimamente procuro outras fontes de inspiração para a minha música como a clássica ou a música africana!

Eduardo. Pois é... Muita coisa pra acompanhar. Com as plataformas digitais de música a gente fica maluco!!!! O Peu Abrantes com certeza deve ser maravilhoso, vou conferir!!!! No Brasil, trabalhos como o do Marcus Abjaud, Antonio Loureiro, Felipe Silveira, Cainã Cavalcanti, entre outros artistas da nova geração, tem me fascinado!!!

2112. Existem pessoas que só ouvem um determinado estilo de música e eu acredito que um músico só cria seu próprio estilo quando ele se abre a todos os tipos de sons. Vocês concordam com isso?

Roberto. A música é uma linguagem universal e o músico é o fruto do que ele escuta no arco da sua vida, desde criança e assim por diante. Não gosto muito de catalogar a música em estilos, mas a nossa cultura funciona assim... O Brasil é um celeiro musical incrível, um exemplo vivo de possibilidades musicais sem limites. Escutar Chico Buarque é fazer um passeio em vários estilos assim como Jobim, Edu Lobo e tantos outros. Então você acaba descobrindo universos musicais diferentes. Assim, como essas influência de sons, achamos o som do Duo Taufic.
2112. Eu por exemplo cresci ouvindo chorinho, samba canção, baião, orquestras, partido alto, jovem guarda, bossa nova e só mais tarde conheci o rock, o jazz, o pop, o blues etc. Tenho muito orgulho de ter conhecido todo esses estilos musicais... ao contrário da intolerância musical dos dias de hoje.

Roberto. Com certeza, a minha geração teve a sorte de crescer em meio a muita música boa. Mais do que orgulho sinto gratidão pelas pessoas que me apresentaram a MPB, o chorinho e logo após o jazz e o fusion! Daí em diante, sendo música feita com arte, consumi muitas coisas e, como músico, sou o fruto dessas influencias!

Eduardo. Idem!!!

2112. Como é a recepção do Duo Taufic no exterior? Vocês fazem muito o roteiro dos festivais?

Eduardo. O DT é sempre muito elogiado nos concertos feitos no Brasil e no mundo. Existe uma química entre nós e a nossa música realmente proporciona aos ouvintes boas sensações. Acho que tocar para nós é uma terapia e isso passa para o público. A música flui livre de pensamentos paralelos, passeia pelo público e retorna a nós em forma de energia... É realmente uma troca muito gratificante! Já tocamos em muitos festivais e continuamos a receber convites!

2112. Diversas matérias citam a música do duo como brasilian jazz. Vocês concordam com essa definição?

Roberto. Não concordo absolutamente! Eu na realidade não consigo rotular o Duo, pois no nosso repertório temos variadas formas musicais. O que nos caracteriza realmente são as fortes melodias e o modo como dialogamos com os dois instrumentos! isso não é brasilian jazz! É, como diz Hermeto Pascoal, MÚSICA UNIVERSAL!!!!!

2112. Pessoalmente sou contra o uso de rótulos pois restringe a música a um determinado gueto. Isso incomoda vocês?

Eduardo. Na verdade não incomoda, pois quem nos conhece vai nos ouvir de qualquer forma, rsrs! Quem não nos conhece com certeza não vai achar o Duo Taufic numa sessão de Axé, Pagode, Rock, etc... Então estamos tranquilos... O que vimos se aproximar mais do nosso som foram classificações como MPB, JAZZ, BRAZILIAN JAZZ, CLASSICAL, WORLD MUSIC.
2112. Em shows vocês seguem a métrica das gravações realizadas em estúdio ou rolam algumas jams?

Roberto. Geralmente mantemos a forma original das composições mas nada impede de mudar repentinamente o que tocamos... Nos sentimos livres e a confiança que existe entre nós nos proporciona a segurança necessária para arriscar sempre algo de novo!

2112. O que mais influencia vocês na hora de compor suas músicas?
Roberto. Não existem regras. O que mais nos interessa quando compomos é o equilíbrio e o bom gosto, seja melódica ou harmonicamente. O que acontece é que procuramos sempre a beleza no que fazemos e pra gente é importante que essa beleza chegue no coração de quem nos escuta... Só assim damos um sentido à nossa arte!

Eduardo. A influência na hora de compor parte da soma de experiências vividas na música e na vida. Às vezes tem motivações fortes, as vezes a música só vem! Outras vezes a gente tem que compor algo na pressão! Depende demais. Mas estamos sempre prontos a escrever músicas!!!

2112. Sei de músicos que no período de composição se resguardam de tudo que é externo para não serem incomodado ou influenciado. Um caso clássico desta natureza aconteceu com Jimmy Page e Robert Plant do Led Zeppelin que se isolaram no campo para compor o material do que seria o terceiro álbum da banda. Isso realmente funciona?

Roberto. Bom, essa é uma pergunta difícil de ser respondida... no meu caso eu preciso do contato com a natureza, ela sim me inspira muito...Mas para trabalhar a composição, o arranjo, acho que um lugar silencioso onde possa me concentrar é sempre bem-vindo!

Eduardo. Compor é um momento onde a sua cabeça está focada em idéias, em buscas, em achar beleza e originalidade naquilo que está proposto a escrever. O silêncio e reclusão são necessários na minha opinião, mas alguns imprevistos também podem trazer uma idéia legal à tona, rsrsrsr.
2112. Vocês já lançaram três grandes álbuns: Bate Rebate, Todas as Cores, D'Anima. Um quarto álbum já está sendo preparado? Teremos novidades este ano?

Roberto. O nosso desejo é levar as nossas composições ao ambiente das orquestras. Já começamos a elaborar algumas possibilidades para esse fim e quem sabe o próximo disco do Duo não tenha essa dimensão!?!?

2112. A música produzida por vocês é ótima para ouvir no carro, para caminhar, ler um livro, tomar um bom vinho... enfim, é uma trilha sonora perfeita para quem quer curtir a vida longe do estresse ouvindo música de qualidade. Parabéns!

Roberto. Obrigado! ficamos felizes por isso. Diversas mães que compraram os nossos cds nos contaram que as crianças adoram o nosso som, e não foram poucas as que falaram da reação dos filhos ao ouvir os nossos cds! Isso nos alegra muitíssimo porque sabemos que as crianças, livres de filtros, possuem a real capacidade de ouvir e sentir a música.

Eduardo. Muito obrigado! Esse feedback das pessoas pra gente é o objetivo principal da música que tocamos. É ter um sentido pra quem nos ouve. Fazer lembrar de momentos especiais, ou sentir saudade de algo! A música está cumprindo sua missão quando toca alguém. Isso nos fortalece também e nos mantém na instiga de produzir mais...
2112. Achei muito interessante os álbuns Tudo Será Como Antes e Terra unindo o som instrumental do duo com as vozes das cantoras Paula Santoro e Bárbara Casini. Como surgiu esses dois projetos? Vocês pretendem repetir a experiência?

Roberto. Os dois discos mencionados nasceram do desejo da Barbara e da Paula de fazer algo com o Duo Taufic. A nossa forma de acompanhar é realmente peculiar e para uma cantora é muito bom ser acompanhada por instrumentos que procuram a beleza do acompanhamento, nesse caso o violão e o piano formando juntos uma grande orquestra de cores, dinâmicas e vibrações. Com certeza virão outras vozes e pra gente vai ser um prazer!

2112. O álbum Tudo Será Como Antes é uma bela homenagem ao Clube de Esquina. Como foi realizado a escolha do repertório?

Eduardo. A Paula Santoro, que tem família em Natal (onde moro), veio de férias e nos encontramos. Foi no meu estúdio, e em uma manhã decidimos que teria tudo a ver gravarmos algo que nos apaixonasse e que tivesse ligação com as origens da Paula, ou seja, algo de Minas Gerais. Foi tiro certo!!! Tocamos um pouco das músicas do Clube da Esquina, que estaria completando 40 anos naquele ano, e ali mesmo nasceram alguns arranjos e escolhemos parte do repertório. Foi um momento de pura liga, deu certo demais!!!! E nunca tínhamos tocados juntos, hahahah. A música tem dessas fascinantes capacidades de aproximar pessoas. Voltando ao repertorio não foi fácil de escolher entre centenas de perolas produzidas em Minas especialmente durante o movimento do Clube. Amadurecemos os arranjos e escolhemos o resto das músicas à distância: Paula no Rio de Janeiro, Roberto na Itália e eu em Natal. Depois gravamos em dois dias no Rio de Janeiro.

2112. Os shows receberam ótimas críticas o que comprova a qualidade do repertório, as interpretações ímpares de Paula Santoro e as belas releituras que vocês deram as músicas. Tem projeto de lançar cd/dvd dos shows?

Eduardo. Não está nos planos ainda, mas seria uma boa!!! Existem alguns vídeos de shows no youtube.
2112. Vocês já estão preparando a agenda deste ano? Teremos shows no exterior?

Eduardo. Sim, teríamos uma turnê de 2 meses na Europa, mas em decorrência do corona vírus tudo foi cancelado. Mas esperamos remarcações de datas. No Brasil, fechando agenda para segundo semestre.

2112. Qual telefone/e-mail para contratação de shows e aquisição dos cds?

Roberto. Vocês podem acessar nosso site oficial (www.duotaufic.net).

2112. ... o microfone é de vocês!

Duo Taufic. Primeiramente, gostaríamos de agradecer ao convite do 2112 em nos entrevistar. E dizer que amamos nosso público que nos presenteia cada vez mais com mensagens e sensações maravilhosas quando nos ouve tocar. Isso já é o bastante pra nos manter firmes na arte de fazer música. Muito obrigado a todos! E teremos novidades nesse próximo mês! Dois novos clipes serão lançados. Fiquem ligados no site e nas nossas redes sociais.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Exposição Desenhos Taty Rajaa

Conheci Taty na net e através dela sua banda Khamal que estava iniciando suas atividades. E depois desse primeiro contato surgiu a idéia da entrevista com a banda e agora a exposição virtual dos seus desenhos.  
















quarta-feira, 8 de abril de 2020

Entrevista Lilian Knapp


Lilian sempre será lembrada como uma das grandes musas da Jovem Guarda. E nesta entrevista ao 2112 ela fala de sua carreira como compositora, do começo e fim da famosa dupla Leno & Lilian, da sua carreira solo e muito mais.   

2112. Nos últimos anos tem acontecido um crescente interesse pela música produzida no período da Jovem Guarda. Muitas bandas que tem se inspirado em vocês e uma quantidade enorme de álbuns e coletâneas tem sido lançado no mercado com ótima aceitação. Você acha esse reconhecimento um pouco tardio ou ainda tá valendo?

Lilian. Acho toda forma de lembrança e homenagem válida.

2112. O movimento surgiu após o boom de Cely Campelo & Cia. O diferencial é que vocês trouxeram uma nova linguagem de comportamento que ia muito além da música. Como foi quebrar e criar novas regras para uma juventude sedenta por liberdade mas que era reprimida por diversos preconceitos? 

Lilian. Na verdade, o que fizemos foi muito espontâneo. Estávamos seguindo o que acontecia na Inglaterra, com o surgimento dos Beatles e a moda de roupas e cabelos, que vinha de lá e nos influenciou. Passamos tudo pra nossa geração naquele momento. Desde as músicas até as roupas e cabelos. 
2112. Os jovens com certeza aprovaram mas os pais com certeza não viam isso com bons olhos. Vocês sofreram muitas críticas?

Lilian. Não muitas... A moda foi mais forte.

2112. A dupla Leno & Lílian surgiu em 1965 e já no ano seguinte explodiu nas paradas com os hits Pobre Menina, Devolva-me e Eu não sabia que você existia. Foi tudo muito rápido, não?

Lilian. Muuuito! Durou menos de 2 anos a 1° fase, mas foi muuito intensa. Trabalhamos, gravando discos e programas de TV, reportagens em revistas e bornais, rádio e muitos shows pelo Brasil. Além de participar como contratados, do programa Jovem Guarda do Roberto, no Rio e em São Paulo. Foi uma loucura!!

2112. Os poucos vídeos da época provam a histeria que girava em torno dos grupos e cantores. Você tinha apenas 18 anos... como lidou com tudo isso?

Lilian. Eu sempre quis ser artista desde que fiz TV aos 8 anos, fazendo dublagens de Brenda Lee. Ameeiii o sucesso. Mas nunca me "subiu à cabeça". Cantava por prazer... nunca por dinheiro. Era bem imatura aos 17 quando comecei profissionalmente mas sempre foi tudo muito natural pra mim.
2112. Segundo informações daquele período apenas você e Martinha compunham num universo totalmente dominado pelos "meninos". Como foi furar o bloqueio?

Lilian. Isso também foi por acaso... adorava fazer versos e Renato (Barros) meu namorado na época, me ensinou a colocar as letras que eu fazia, nas músicas. Assim comecei a compor (antes de cantar) fazendo versões e músicas originais também, com ele. Aliás devo a ele minha carreira artística tanto como cantora, como compositora.
2112. Erasmo Carlos foi quem gravou uma de suas primeiras composições, não é?
 
Lilian. Sim. O Pica-pau, que eu fiz com Renato Barros. Aliás descobrimos que foi o primeiro rock brasileiro feito por uma mulher.

2112. A gravação de versões de sucessos americanos, inglês e italianos era uma imposição das gravadoras para terem um sucesso imediato ou vocês mesmos optavam por isso?

Lilian. Eram ideias da gravadora. Mas depois começamos a escolher músicas que gostávamos também, pra fazer versão que na verdade eram adaptações. Inventávamos a letra que nem sempre tinha a ver com a original. Às vezes a gente só aproveitava a idéia. 
2112. O que você ouvia na época?

Lilian. Em casa minha avó gostava de música clássica e com ela passei a ouvir e gostar também. Minha mãe gostava de cantores italianos de ópera e dos populares Carmem Miranda, Angela Maria. Eu comecei cantando bossa nova: João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius, Tamba Trio...até ouvir The Beatles. Aí tudo mudou na minha vida. Haha

2112. A dupla tinha um ótimo acento pop rock com belas vocalizações. Segundo alguns críticos rolava muita ingenuidade nas letras ou para você era apenas um reflexo daquele momento?

Lilian. As duas coisas. E eu sempre adorei fazer vocais. Tenho muita facilidade pra isso desde pequena. Antes da dupla, cantei com os Golden Boys (amigos meu e de Renato desde aquela época) na gravação do coro de "Festa de Arromba" do Erasmo e também na gravação da minha versão " O meu primeiro Amor" ("You gonna loose that girl"- Beatles) no coro com Renato.
2112. Falar de amor, cumplicidade e desamor nunca ficou fora de moda, não é?

Lilian. Claro que não!

2112. Acho esses tipos de comentários levianos se levarmos em conta que os primeiros álbuns dos Beatles traziam a mesma temática e ninguém falava mal, não é?

Lilian. Beatles são gênios.
2112. Vocês participaram de diversos programas da Jovem Guarda, de rádios, revistas... Quais as melhores lembranças que você guarda desse período?

Lilian. Todas são maravilhosas. Mas fazer os programas de auditório na TV Rio e na TV Record em São Paulo, com os amigos são especiais.
2112. A dupla acabou prematuramente em 1967. O que realmente houve? Porque o fim?

Lilian. Leno sempre quis cantar sozinho. Ele terminou a dupla pra seguir carreira solo e eu achei normal, já quem quem inventou a dupla foi Renato e tínhamos nos separado. Foi um ciclo, rápido mas muito intenso que acabou. Nesse momento Marcio (dos Vips) me pediu em casamento. Ele morava em São Paulo e eu no Rio. Por isso resolvi casar. E começaram a pensar que por isso a dupla terminou. Mas a verdade foi a que contei agora para você.

2112. Muitos historiadores afirmam que a Tropicália surgiu como um rolo compressor sobre a Jovem Guarda. Você concorda com isso?

Lilian. Não. Acho que foi outra coisa acontecendo. A Jovem Guarda está aí até hoje, tendo suas músicas regravadas, fazendo o maior sucesso (como "Devolva-me" entre muuuitas outras!).

2112. O que você fez entre o término da dupla e o seu retorno em 1972 e porque encerraram carreira novamente em 1974?

Lilian. Casei em setembro de 67, tive uma filha, Priscilla Evelyn Knapp Antonucci, em 69 e nesse tempo também continuei fazendo versões pra Fermata e algumas composições também. Tentei a dupla, mas foi impossível sem a mediação e competência profissional do Renato. 

2112. Ainda no mesmo ano você partiu para carreira solo gravando vários álbuns. Como foi começar do zero?
 
Lilian. Foi maravilhoso! Sem estresse, sem nada negativo ao meu lado, todo mundo me ajudando e dando força pra gravar minhas próprias músicas. Tanto que gravei "Como se fosse meu irmão" e "estourou", como se dizia... ha,ha

2112. Sou Rebelde uma versão de Paulo Coelho estourou nas paradas e vendeu aproximadamente três milhões de cópias. Esse sucesso confirmou que você tinha tomado a decisão certa, não é?

Lilian. Sim, dessa vez fui eu quem não quis mais continuar e foi a melhor decisão de minha carreira artística!
2112. Você acha que o excesso de exposição causado pelo single prejudicou os demais discos gravados depois? Afinal, o sucesso gera muita expectativa...

Lilian. Quando se consegue um sucesso do nível do que aconteceu com "Sou Rebelde", meu 1° Disco de Ouro, é normal que o seguinte não seja na mesma proporção. Mas mesmo assim, meu segundo disco "Uma música lenta" de Roberto Livi (foi ele quem me relançou na carreira solo) e Ed Wilson, teve uma vendagem e execução significativas me dando o 2° Disco de Ouro com mais de 1 milhão de cópias vendidas.

2112. Houve muita pressão por parte da gravadora para que você repetisse o sucesso? Afinal os selos vivem de lucros imediatismos, não?

Lilian. Tivemos muita sorte e contamos com a competência dos meus produtores Livi e Ed Wilson, que me proporcionaram um segundo sucesso na sequência. Gratidão a Deus também! 

2112. Em 2008 você montou o projeto Kynna com músicos de bandas como a Júpiter Maçã, Graforréia Xilarmônica, Bidê ou Balde e Autoramas. O que te impulsionou a tomar essa decisão?

Lilian. Sempre amei cantar Rock. Por acaso fiz muito sucesso com músicas românticas. Estava na hora de mostrar meu outro lado, o roqueiro. Não esqueça que fui a primeira mulher a compor um rock no Brasil "O Pica-pau". Esses artistas de muito sucesso que você citou, todos gostam e "beberam" na Jovem Guarda. Resolvi gravar a músicas deles. 
2112. Foi uma proposta bem ousada da sua parte se jogar em algo totalmente novo. Qual foi a reação dos seus fãs? Vocês chegaram a gravar algum álbum?

Lilian. Sim, gravamos um CD muito legal que lançamos no programa do Jô Soares na TV Globo e agradeço ao amigo Fernando Gueiros que mostrou nosso trabalho a produção. Mas avisei a todos que não era um trabalho que os fãs de Jovem Guardam iam gostar... era bem diferente. Ficamos felizes porque fomos contatados pelo prêmio Multishow para concorrer na categoria de revelação. Infelizmente não realizaram o prêmio nesse ano.

2112. Porque você não deu continuidade ao projeto?

Lilian. Na verdade estamos na pré-produção de outro CD da banda Kynna.

2112. Nas comemorações dos trinta anos da Jovem Guarda você e Leno se reencontraram mais uma vez para shows. Vocês chegaram a pensar na possibilidade de uma nova volta? 

Lilian. Não. Pra mim acabou. A dupla não existe mais.
2112. Você participou do filme Minha Fama de Mau inspirado na vida do Tremendão? Como aconteceu isso?

Lilian. A música "Devolva-me" minha e de Renato Barros, foi cantada pelo Erasmo e Wanderléa num programa da TV Record e eles reproduziram no filme com os atores que participaram. Fiquei muito feliz.

2112. Nesse período você também gravou um novo álbum com regravações dos sucessos Sou Rebelde, Uma Música Lenta, Devolva-me e o Pica Pau em meio a novas composições. Foi imposição da gravadora?

Lilian. Foi uma produção independente como todas que fizemos desde 92.

2112. Recentemente Wanderléa lançou sua autobiografia. Você também pretende lançar alguma coisa nesses mesmos moldes?

Lilian. Lancei a minha em 2001. Se chama "Como um conto de Fadas" fazendo menção à letra que fiz pra música "Pobre Menina".
Já estou procurando uma editora para a segunda edição, porque a editora que lançou não existe mais e já estou escrevendo outro livro: "Sou rebelde" porque o mundo quis assim. É a segunda parte que conta desde minha separação do Marcio (dos Vips) e da gravação de "Sou Rebelde", até agora.
2112. Você ainda está na ativa fazendo shows e lançando discos regularmente para a felicidade dos seus fãs. Como está a sua agenda?

Lilian. Faço shows em São Paulo, Rio e onde me contratarem.

2112. Qual o seu telefone/e-mail para contratar seus shows?

Lilian. 11 9697-1412

2112. ... o microfone é seu!

Lilian. Agradeço muito a oportunidade e quem quiser pode me seguir no meu Facebook onde faço "lives" às terças, quintas e sábados as 18:30, junto com Cadu Nolla e Léo, nosso "filho" ET que adotamos hahaha. Bjinsss a todos.