Conheci o
grupo na Internet através de um vídeo em que eles descontruiram o mega hit
Sultans Of Swing do Dire Straits e o transformaram num gostoso old blues. Fui
atrás do André e o resultado do nosso bate papo você lê abaixo. Uma dica...
anotem o nome da banda.
2112. Como surgiu a idéia
de transformar Sultans Of Swing num old blues? A música ganhou uma dimensão que
com certeza deixaria Mark Knopfler orgulhoso se ele a ouvisse.
Parabéns.
André: Fico muito feliz que você tenha
gostado do meu trabalho. Eu sou um fã declarado do Dire Straits, em especial do
Mark Knopfler. Ele está na minha lista top five dos guitarristas. As
influências dele são as mesmas que as minhas: Country Music, Blues, Rock e
Jazz. A versão de Sultans Of Swing surgiu de uma maneira bem natural, num
primeiro momento a executei com uma levada blues, só que com um beat mais
lento. Resolvi dar uma acelerada inspirado no Gipsy Jazz francês de Django
Reinhardt e a cantora francesa Zaz. Acabou ficando um Gipsy Blues, se é que
existe... rs. Além disso, gosto de cantar com uma interpretação minha.
2112. A meu ver quando um artista pega uma composição alheia e a
desconstrói como você fez ela quase se torna uma composição própria ou você não
vê dessa maneira?
André: Eu também vejo dessa maneira. O
mais interessante é quando o artista consegue ter uma “impressão digital”, a
partir daí ele pode executar qualquer música, mesmo sendo de outros
compositores, que acaba ficando com a sua cara. Eu adoro fazer isso, garimpar
músicas que eu gosto, do meu universo musical, e tento tocá-las e cantá-las da
minha maneira, mudando o arranjo, a tonalidade, a harmonia, o riff, o estilo,
etc. Com isso acaba nascendo outra música. Uma curiosidade: Nos meus shows eu
percebo as pessoas cantando e logo em seguida pesquisando no celular para saber
qual música é. Ao mesmo tempo eu tenho o meu lado didático, sempre dou
explicações entre as músicas.
2112. Apesar do Dire
Straits ter ficado mundialmente conhecido pelo seu classic rock a música
"Brothers In Arms" é um verdadeiro lamento blues... mas vejo que
poucos fãs da banda perceberam isso.
André: Essa música é linda! Ainda farei uma versão. Tem muitos elementos blues ali. Aliás esse álbum inteiro é primoroso.
André: Essa música é linda! Ainda farei uma versão. Tem muitos elementos blues ali. Aliás esse álbum inteiro é primoroso.
2112. O que levou você a
formar o André Youssef Trio após 27 anos acompanhando grandes nomes do pop rock
e do blues? Você tinha necessidade de criar algo próprio para expressar suas
ideias?
André: Desde pequeno o piano e o órgão
sempre me encantaram. Comecei os meus estudos por eles aos 8 anos de idade. Aos
15 anos comecei a tocar com as primeiras bandas de garagem. Tecladista era uma
figura rara, portanto eu acabei ficando requisitado. Eu toco violão e guitarra
também, mas não tinha chance, era o teclado que as bandas precisavam. Eu já
cantava desde essa idade, mas por ser muito tímido, não arriscava nos palcos, e
as bandas já tinham vocalistas, impossível ter dois cantores... rs. Ou seja,
meu sonho de cantar foi sempre postergado. Outro fator que pesou foi o lado
músico profissional, acompanhar artistas maiores garantiam cachês maiores. Até
que quando eu completei 40 anos disse pra mim mesmo, preciso pôr em prática
esse meu lado cantor, não posso esperar mais. Comecei cantando algumas músicas
na minha banda Tritono Blues. Aos poucos senti segurança para fazer shows solo,
cantando o show inteiro, foi aí que nasceu o André Youssef Trio em 2015. Com
esse projeto, consegui escolher meu repertório, escolher músicos para me
acompanhar, montar o meu show, cuidar da agenda, falar com o público etc...
Tudo isso me trouxe um novo prazer, uma adrenalina nova que estava faltando no
meu trabalho de músico e na minha vida, resumindo, uma realização mais
artística.
2112. O convívio com
estilos variados cria respaldo para uma infinidade de combinações musicais. E
você é bem eclético, não?
André: Sem dúvida. Sou bastante
eclético. Além do blues, ouço muito jazz (preferência para os anos 30 a 50),
amo country music, rock dos anos 50 e 60. Na música brasileira, gosto muito do
samba tradicional e do baião. Luiz Gonzaga para mim é um blues man, por
exemplo. Por outro lado considero Simonal, Benjor e Tim Maia caras que
conseguiram trazer influências da música norte-americana para a brasileira.
2112. Jimmy Page e Jeff
Beck são exemplos típicos de que a ousadia musical os conduziram para além do
blues e do rock. Kashmir é um exemplo típico do que estamos falando. Ela soa
como um mantra por seu toque oriental mas que tocado por uma banda que tem o
blues e o rock'n'roll como base. Isso sim, é evolução...
André: Sem dúvida. Ótimo exemplo.
2112. No Brasil Nuno Mindelis e Zé
Pretinho romperam com o tradicionalismo do blues ao misturar música caipira,
eletrônica e étnica ao seu som com ótimos resultados. A essência do blues está
lá mas sob uma nova perspectiva musical. Os puristas vão me crucificar mas sou
totalmente a favor e você?
André: Sou totalmente a favor dessas
fusões com outros estilos musicais. Se a coisa é feita com sinceridade, com
honestidade, não tem como dar errado. Em contrapartida, quando alguém tenta
fazer algo forçado, copiar algo que já foi feito, a coisa não se sustenta.
Toquei algumas vezes com o Nuno, realmente ele criou uma identidade própria de
tocar guitarra, e sempre está à procura de fusões.
2112. Um estilo musical precisa estar
em constante ebulição para não se transformar numa lembrança longínqua de uma
determinada época, não é?
André: Concordo em parte com a sua
afirmação. Como eu disse anteriormente, é extremamente rico quando algum
artista faz inovações, fusões com os estilos, acaba gerando coisas novas.
Exemplo: O blues, que originou o R&B, que ao beber da fonte da música
cubana evoluiu para o funk de James Brown, que influenciou o pop de Michael
Jackson, que inspirou Bruno Mars, e por aí vai... Em contra partida existem
alguns estilos como por exemplo o Traditional Jazz (ou Dixieland), que nasceu
no início do século XX, com uma série de regras, instrumentos característicos,
linhas melódicas, harmonias etc, que quando alguém começa fugir muito dessa
estrutura, deixa de ser esse estilo musical. Ou seja, ele está “congelado”. Até
hoje existem bandas com décadas de existência tocando exatamente da mesma forma
que há 100 anos atrás, e na minha opinião, isso é fantástico, traz um respeito,
uma reverência pela música que foi criada, e tem a missão de perpetuar
determinado gênero.
2112. Correto. Em 2015 você iniciou sua carreira solo tocando blues, rock 50
& 60, country, folk e soul. O que você tinha propriamente em mente quando
criou o seu trio?
André: Eu fui trazendo todas essas
influências músicais para o meu repertório, e continuo fazendo isso. Escolhi o
baixo acústico pois tenho uma grande afinidade com esse instrumento e a bateria
dá a sustentação e o ritmo necessário para o show acontecer. Às vezes adiciono
um gaitista ou um saxofonista a essa formação.
2112. Quais músicos ou bandas mais
influenciou sua carreira?
André: Ray Charles, Chuck Berry, The
Beatles, Fats Domino, Louis Armstrong, BB King, James Brown, Rolling Stones,
Johnny Cash, Elton John, Eric Clapton, James Taylor, Willie Nelson, Mark
Knoplfer etc
2112. Você tem algum disco de
cabeceira?
André: Hmmm, muito difícil essa
pergunta. Tem vários, mas vou citar um. Abbey Road é um álbum muito especial
para mim.
2112. Apesar do André Youssef Trio ser
relativamente novo no cenário vocês já estão compondo material próprio ou a
início ficarão apenas fazendo releituras de clássicos?
André: Por enquanto não estou compondo.
Mas as ideias vão sendo devidamente guardadas para serem usadas no futuro. Minha
última experiência com músicas autorais foi o disco “Mojito do Bom” da banda
Tritono Blues lançado em 2013, inteiramente com composições em português de
nossa autoria. Vale a pena conferir.
2112. Ao contrário de outros estilos o
blues não faz maiores alardes, mas é notório que o público no Brasil vem
crescendo na calada da noite. O que você tem ouvido de interessante?
André: O blues demorou para aparecer
aqui no Brasil. Nos anos 70 e 80 as pessoas conheciam somente as bandas de rock
que tinham o blues como base, por exemplo: Doors, Led, Stones, Hendrix, Janis.
Assim os nossos artistas beberam dessas fontes: Raul Seixas e Rita Lee por
exemplo. Nos anos 80 começou a chegar discos de blues por aqui, foi assim que
Blues Etílicos, André Christovam, Celso Blues Boy começaram as suas carreiras.
Isso teve um ápice nos anos 90 com a vinda de grandes Festivais pra cá,
trazendo artistas internacionais. Eu comecei a tocar blues nessa época, para
ser mais preciso em 1995. Já nos anos 2000 deu uma caída. Hoje já tem uma cena
mais consistente, principalmente em São Paulo, pode se ouvir blues ao vivo
praticamente todos os dias da semana. E de 15 anos pra cá a quantidade de
Festivais de Jazz e Blues que apareceram pelo Brasil a fora foi
impressionante!! Isso é muito bom.
2112. Vejo o blues como um poderoso
vírus que contamina a alma de tal maneira que passa a fazer parte do DNA de
quem o ouve. É algo muito forte que não tem uma explicação plausível, não é?
André: Sem dúvida. Inexplicável...
2112. O trio tem se apresentado em
importantes hotéis, bares e clubs. A reação do público varia de um local para o
outro?
André: O público tem gostado muito do
meu show. Mesmo quando toco em hotéis com poucas pessoas, sempre tem alguém
curtindo que vem conversar conosco. Já nos bares o show é mais “quente”, as
pessoas interagem mais. Nos clubes então as pessoas dançam, é muito bom! Nos
teatros conseguimos fazer um show mais artístico onde as pessoas conseguem
prestar atenção a todas as nuances do espetáculo. Já num Festival é o êxtase
para o artista, reúne todos os ingredientes: é um show artístico, o público
presta atenção, aplaude, dança, e ainda compra CD, pede autógrafo e tira foto.
Para finalizar tem o evento (social ou corporativo), onde tem pessoas que nunca
ouviram blues e tomam conhecimento ali e gostam. Essa oportunidade é muito
importante.
2112. Vocês pretendem lançar algum material ainda este ano como um single por exemplo?
2112. Vocês pretendem lançar algum material ainda este ano como um single por exemplo?
André: Esse ano ainda estou trabalhando
em cima dos vídeos em estúdio que gravei no ano passado, com 10 faixas. No ano
que vem pretendo entrar novamente em estúdio, mas ainda não tenho detalhes.
2112. E quanto a sua carreira como
músico em outras bandas você pretende continuar ou o seu grupo agora é
prioridade?
André: As duas coisas. O meu trabalho
solo é prioridade. Mas não recuso convites para tocar com outros artistas e
bandas. Tenho feito alguns shows com o Nasi (IRA!) e com o Kiko Zambianchi.
2112. Qual o telefone/e-mail para
contratar o show de vocês?
André: (11) 98658-0347 / ayoussef@uol.com.br
André: (11) 98658-0347 / ayoussef@uol.com.br
2112. ... o microfone é
seu!
André: Carlos, agradeço o contato e a
oportunidade dessa entrevista.