Durante os anos 70 o cenário do rock brasileiro
fervilhava de bandas maravilhosas que ainda hoje são cultuada e seus álbuns
vendidos a peso de ouro. E nessa seleta lista incluímos a banda Pão com
Manteiga que recentemente teve seu único álbum relançado pela Polysom.
Aproveitando o momento bati um papo com Diógenes Rondon, seu guitarrista que na
época usava o pseudônimo de Johnny.
2112. Após 44 anos o disco da Pão com Manteiga é relançado
para deleite de muita gente que não podia adquirir uma cópia no mercado negro
devido ao seu alto custo. Como surgiu o projeto de relançamento do disco?
Diógenes
(Johnny). Justamente por essa procura
ao disco, que se tornou difícil de encontrar por quem aprecia este álbum, e
simultaneamente o surgimento, que foi de grande ajuda, por redes sociais. E,
principalmente pela grande ajuda do Flávio Cigano, da loja Medusa Records, em
parceria com a Polysom conseguiram o licenciamento da Continental para a
reedição deste.
2112. A banda tem uma das histórias mais obscura da
história do rock brasileiro. Pouco ou quase nada se sabe sobre o surgimento da
banda, detalhes sobre a gravação do disco e o que levou a banda a terminar
sumindo sem deixar rastros. Vamos começar com você falando sobre o surgimento
da banda...
Diógenes
(Johnny). Eu comecei na música
tocando desde a adolescência, e que na juventude formei bandas de bailes e
apresentações. Nessa ocasião fui procurado pelos fundadores (Pierre e Paulo
Som) para ajuda-los nesta obra. E que já tinham firmado contato com o produtor
Waldir Santos, que nos serviu de ponte para chegar a gravadora Continental. O
disco foi lançado no início de 1976, e a banda encerrou neste mesmo ano.
2112. Uma curiosidade... porque Pão com Manteiga?
Diógenes (Johnny). Certa vez num ensaio, o Pierre
(baixo) em resposta, sobre o porque de Pão com Manteiga para o nome da banda. "O
pão, um alimento singelo, que está em todas as mesas do mundo, é também
alimento espiritual, de paz, esperança e valores morais."
2112. Quando o assunto é a música produzida pela banda ela divide
opiniões. Para uns prog rock, para outros psicodélicos e outros uma mistura de
folk com toques de música medieval. E você, como definiria a banda?
Diógenes
(Johnny). Então, é isto que tornou
este disco diferente, e que foi nossa intenção. Suscitou esta impressão e o
remeteu para o público aprecia e o vê destas formas.
2112. Que bandas vocês ouviam e que foram fundamentais para
o surgimento do Pão com Manteiga?
Diógenes
(Johnny). Eu por ser guitarrista de
banda de bailes, e que tinha a incumbência de tirar solos, arranjos e detalhes
de músicas que eram tocadas, acabou por incutir influencias de bandas como Deep
Purple, Black Sabath, Carlos Santana, Ten Years After, Free, Nazareth, e
outros, e que não deixou de ser aprendizado.
2112. A banda surgiu em plena ditadura militar e é do
conhecimento de todos que muitos foram os artistas que sofreram com a questão
da "censura". Quando não eram shows cancelados ou sabotados, tinha
cortes ou proibição de músicas, espancamentos, prisões, deportamento etc. Vocês
também passaram por coisas desse tipo?
Diógenes
(Johnny). Felizmente não, como disse
anteriormente, talvez pelo fato da pouca permanência na mídia.
2112. Como era trabalhar em meio a todo esse clima tenso?
Diógenes
(Johnny). A época, talvez, tenha sido
o fator dominante, preconceito também, por se tratar de músicas que a princípio
não eram assimiladas com facilidade.
2112. Diógenes, você poderia falar sobre o processo de
composição, pré-produção e gravação do álbum?
Diógenes
(Johnny). De certa forma conseguimos
trabalhar a obra ao tempo desejado, preparando e gravando demos que nos
serviram de apoio e ingresso na gravadora.
2112. Vocês fizeram um bom uso de efeitos, teclados e
guitarra que deixou o álbum bem homogêneo. Foram vocês mesmos que fizeram os
arranjos?
Diógenes
(Johnny). Os arranjos de guitarra
foram todos feitos por mim, efeitos inclusive. Arranjos de teclado concordo que
foram bem colocados. Todos os arranjos foram feitos por nós, componentes da
banda.
2112. A gravadora em algum momento tentou opinar ou mesmo
impor algo mais comercial ao som da banda ou vocês tiveram total liberdade no
estúdio?
Diógenes
(Johnny). A gravadora não opinou
sobre tornar o álbum um pouco mais comercial, mas não teve nenhum componente
presente nas mixagens e masterização.
2112. Micróbio do Universo, Cavaleiro Lancelot e Montanha
Púrpura são peças maravilhosas que ficam entre viagens intergaláticas e
caminhadas em bosques esfumaçados. O resultado final ficou magnífico!
Diógenes
(Johnny). Com certeza, é a melhor
definição para estas composições.
2112. A idéia de entremear a temática do mundo de Avalon
com críticas a sociedade moderna foi o meio que vocês encontraram para falar
tudo o que queriam e não serem censurados?
Diógenes
(Johnny). Sim, e na época, ainda do
período da ditadura (1964-1985) e que talvez pela escassa divulgação, passou
despercebido. A música "Multi-átomos" tem um certo apelo, místico e
político/social.
2112. Que bandas vocês ouviam naquele período e que foram
fundamentais para a criação do Pão com Manteiga?
Diógenes
(Johnny). Quando na época de ensaios
e gravações, ouvíamos muitas bandas de rock, tais como Pink Floyd, Rush, Carlos
Santana, Deep Purple, Yes, Kiss, Genesis e tantos outros clássicos.
2112. A capa com a foto do pão parece simples mas é bem
significativo. Vejo algo como repartir boa música com todos... De quem foi a
idéia?
Diógenes
(Johnny). Acredito ter sido da
própria gravadora em parceria com seus fotógrafos.
2112. Na sua opinião o álbum foi mal compreendido na época
do seu lançamento? As vendagens foram boas?
Diógenes
(Johnny). Não tenho registro desta
informação.
2112. Vocês fizeram muitos shows? Qual era a reação do
público diante de um som pouco convencional na cena da época.
Diógenes
(Johnny). Em todas as apresentações
que foram feitas, tanto ao vivo ou gravadas pareciam ser que foram bem aceitas
pelo público que nutria música instrumental e progressiva.
2112. Que motivos levou vocês a decretarem o fim da banda?
Diógenes
(Johnny). Com a saída do Paulo, e em
seguida minha, por motivos familiares, a banda desincentivou.
2112. Nos anos que seguiram em algum momento a banda tentou
se reunir? E agora relançamento do álbum existe uma possibilidade ainda que
pequena da banda se reunir para fazer alguns shows para promover o álbum?
Diógenes
(Johnny). Não mais existe esta
possibilidade, pois os fundadores, (Pierre e Paulo Som) não mais estão entre
nós. Talvez entrevistas, ou podcast possam elevar a este patamar.
2112. ... o microfone é seu!
Diógenes
(Johnny). Agradeço a todos que se
importaram a voltar em avivar na memória a obra da banda Pão com Manteiga. Em
especial ao Felipe Zangrandi, que abrilhantou com a espetacular entrevista, na
sexta edição do Trilhas Podcast. A grandiosa entrevista com o carismático
Carlos Vaz, a ProgSky WEB ROCK RADIO STATION para o TOP PROG BRASIL. E agora
para este conceituado blog, BLOG 2112, Carlos Antonio Retamero Dinunci, gratidão.
Aos colaboradores Fabricio Bizu, da Psico BR Discos & Posters Psicodélicos da Psicodelia
Brasileira, Henrique do canal You
Tube "henriquebeira", e tantos outros que de certa forma divulgam,
mostrando em seu canais. Aos meus amigos Daniel Passiri e Walter Tadeu
Ferreira, que muito me prestigiam. Ao meu grandioso brother, Flávio Cigano, da
loja Medusa Records, que teve a exclusividade de lançar a Reedição Polysom do
"LP Pão com Manteiga". E finalmente à gravadora Polysom, que acolheu
e regravou esta obra. À todos minha eterna gratidão.
Pão com Manteiga (1976)
A1. Mister Drá
A2. Merlin
A3. Flor Felicidade
A4. Micróbio do Universo
A5. Montanha Púrpura
A6. Multi-Átomos
B1. Serzinho sem medo
B2. Cavaleiro Lancelot
B3. História do Futuro
B4. A Feiticeira
B5. Fugindo do Planeta
B6. Virgem de Andrômeda
Formação:
Paulo Som (vocais, viola e violao);
Johnny (vocais e guitarra);
Pierre (baixo e vocais);
Gilberto (teclados e banjo);
Edilson Edisol (bateria e efeitos).
A2. Merlin
A3. Flor Felicidade
A4. Micróbio do Universo
A5. Montanha Púrpura
A6. Multi-Átomos
B1. Serzinho sem medo
B2. Cavaleiro Lancelot
B3. História do Futuro
B4. A Feiticeira
B5. Fugindo do Planeta
B6. Virgem de Andrômeda
Formação:
Paulo Som (vocais, viola e violao);
Johnny (vocais e guitarra);
Pierre (baixo e vocais);
Gilberto (teclados e banjo);
Edilson Edisol (bateria e efeitos).
Dedico esta entrevista as memórias de Pierre e Paulo Som.
Aproveito para agradecer ao Diógenes pelo envio das raras fotos que ilustram a entrevista.
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