O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



quinta-feira, 28 de março de 2019

Entrevista Santa Jam Vó Alberta


Mais uma descoberta interessante via internet e que sai muito do convencional ao misturar várias influências somado a belos vocais o que resulta numa música articulada e interessante. Um conselho: Para quem conhece continue curtindo e para quem não conhece procure ouvir...      

2112. Achei muito bacana a homenagem que vocês prestaram a grande Alberta Hunter ao incluir o nome dela no da banda. De quem foi a idéia?

Zito. Eu eu o Bubba (mandolim e voz da Santa Jam) tínhamos um projeto chamado Open Mic Vó Alberta já homenageando a Alberta Hunter... Em função do Open Mic conhecemos muitos músicos e reunimos muitos amigos que tocavam conosco e daí começou o projeto e daí veio o nome da banda.

2112.Chega ser estranho e ao mesmo tempo fascinante ver toda uma nova geração de músicos curtindo a sua obra. Como vocês tomaram conhecimento do trabalho dela?  

Zito. Todos na banda amam blues e ela ainda é um dos maiores nomes do estilo. Há quem a considere a embaixatriz do blues!
Quando você começa a investigar um estilo musical, um movimento, é inevitável recair sobre seus alicerces e claramente ela tem uma influência muito grande em tudo o que foi construído desde 1895 (ano do seu nascimento) até hoje.

2112.É possível que muitos de vocês nem tivessem nascido quando ela morreu. O que explica essa admiração pela sua obra?

Zito. A admiração por ela é uma equação de fatores emblemáticos! Ela foi uma das primeiras mulheres negras a se apresentar na década de 20, ainda como blueseira. Complexo. Um contexto onde o jazz tradicional estava se consolidando num cenário muito fechado e muito pouco claro no que tudo aquilo iria dar. Quando, então, ela vai consolidar sua carreira no jazz e parar tudo na década de 50 pra virar enfermeira. Ela bordava “eu gosto de cuidar das pessoas com a música ou com as mãos mesmo”. E volta pros palcos em 70 para o ápice da sua carreira apoteótica. Fala se não é uma vida difícil, inspiradora, densa e linda?

2112. Além de Miss Hunter o que vocês ouvem?

Zito. Johnny Cash, Sister Rosetta Tharpe, Jelly Roll Morton, Loui Armstrong, Puppini Sisters, Pokey LaFarge, Gonzagão, Secos e Molhados, Almir Sater, Antonio Nóbrega e muita coisa recente boa que tem por aí: Tekô Porã, Mustache e os Apaches, Perota Chingo, Wood Brothers... vai chão aí! Tá com tempo?

2112. Achei bem interessante essa mixtura que vocês promovem ao injetar no blues elementos do folk, do baião, da valsa, da violada, da música cigana, do jazz tradicional... Como vocês definem o som da banda?

Zito. Música Tradicional

2112. Seria essa a fórmula do tão sonhado blues brasileiro?

Zito. Bicho, a fórmula do blues tá na alma de quem toca. A fonte tá no Rio Mississipi, claro. Tal qual o baião tá lá no Velho Chico e difundida pelo sertão. Mas teu esforço, teu estudo e teu trabalho permitem que você com seu repertório (musical e de vida) interaja com isso e desenvolva o sotaque do seu blues. Saca?

2112. E os puristas nunca reclamaram dessa miscigenação sonora não?

Zito. Sinceramente nunca rolou nenhum baixo astral dessa ordem com a gente. Deve ser porque purista gosta de encher o saco e a gente ama fazer música. Meu chapa, música feita com amor num tem como sair errado! (Mentira. Tem sim!! Mas ficou uma puta frase linda pra terminar essa pergunta.)

2112. Uma vez fui duramente criticado ao afirmar que Cartola é tão importante quanto Robert Johnson. Fico extasiado só de imaginar suas músicas vertidas para o blues...

Zito. Cartola: gênio que mostrou como se consolidava a linguagem do samba com tudo o que ele tinha (sofrimento, alegria, amor, pouca grana, musicalidade). Robert Johnson: gênio que mostrou como consolidar o blues com tudo o que ele tinha (sofrimento, alegria, amor, pouca grana, musicalidade). São linguagens diferentes e sentimentos muito parecidos. Eu acho essa analogia entre os dois foda de boa! Manda os caras que te encheram o saco me ligarem. Eu amo falar no telefone!

2112. Cartola é um gênio da música popular brasileira. Um visionário que trouxe para o samba de raiz uma poesia visceral.

Zito. É isso, mano! O cara num era só um gênio. Mozart não era só um gênio! Eram caras que conheciam o que tavam fazendo, que estudavam, que sabiam se expressar. Que tinham conteúdo, que se aprimoravam todo dia, que buscavam na música a alma da porra toda. Música é um compromisso com você mesmo, com a tua polidez em expressar teu sentimento mais profundo.
2112. Mas voltando a Santa Jam falem um pouco sobre o surgimento da banda.

Zito. Bando de gente numa marcenaria numa segunda a noite depois do expediente fazendo uma roda de blues-baião. O resto eu JURO que não lembro!

2112. Hoje o blues está muito bem representado no cenário brasileiro com várias bandas e instrumentistas maravilhosos que inclusive tem público cativo no exterior. Isso apenas afirma que algo novo está acontecendo independente da opinião da grande mídia, não é?

Zito. Tá tudo aí! Se você fuçar, você vai achar coisas lindas na grande, na média, na pequena e na mídia-brotinho. ps. Eu amo fazer analogias de mídia com pizza.  Pizza é bom pra cacete, né!?

2112. Vocês inclusive já andaram fazendo shows pela Costa Oeste dos EUA. Como foi a recepção por parte do público americano?

Zito. Surreal!! Eles amam música brasileira, curtiram pacas nossas autorais e piraram quando tocamos Johnny Cash e June Carter. Um clássico ouvido lá: “oh god!! Do you really know Johnny Cash?” tipo… não não. Estamos tocando porque não conhecemos! Cazzo!

2112. Soube que o ponto alto dessas apresentações ocorreram em San Francisco e Carson City, Nevada. Isso é real?

Zito. Foda!! Também tocamos em Reno, Lake Tahoe e nos trens que ligam essas cidades! Que dias!!! Puta merda!

2112. Vocês chegaram a tocar no lendário Filmore?

Zito. O dia que tocarmos lá a gente vai fazer um banner do tamanho de Goiás e estender no mar. Ainda não rolou, mas quando rolar, você vai ficar sabendo por fotos da NASA. Fica relax!

2112. E o público argentino? Eles são realmente fanáticos por blues e rock como afirma as bandas que já tocaram lá?

Zito. Madre mia!! Amam. Enlouquecem. Ficam extasiados e deixam a gente com ainda mais tesão de tocar! Papo sério. Muito massa tocar lá.
2112. Falem um pouco sobre “Sinfonia Caipira” que registrou parte dessas viagens e que ganhador de melhor documentário musical e melhor filme do festival em Carson City.

Zito. Foi ideia do Nielsen (Denis Nielsen - Diretor e Roterista do documentário). Ele pira na banda e sugeriu de nos gravar indo tocar no Festival de Blues de Ibitipoca. Aí isso rendeu um documentário maravilhoso que nos levou para os EUA, México e agora pra Portugal. Lá em Carson City ganhamos melhor filme da categoria e melhor documentário do festival. O Nielsen é um cara foda demais!

2112. Este ano vocês estarão ocupados com agravação do primeiro álbum e a preparação da segunda parte do documentário. Pelo visto, será um ano bem intenso para a banda, não?

Zito. Demais. Mas criamos uma agenda do google que ninguém (da banda) usa e parece que agora tudo (não) vai dar certo!
ps. Zito adora usar entrevistas para alfinetar seus amigos de banda e de vida. Realmente ele é de um sarcasmo interessantíssimo, não é!?

2112.As composições já estão prontas?

Zito. Sim. Temos um rio de coisas prontas, mas estúdio dá um trabalho do demônio, então vamos soltar em fases durante os próximos anos. A ideia é que o primeiro EP seja mais autoral e os próximos tenham as autorais com releituras de canções tradicionais mais contundentes.

2112. Vocês já tem uma data prevista para a entrada no estúdio?

Zito. Tô indo pra lá depois de te responder esses trem todo aqui!
2112. Além do material autoral vocês pretendem incluir alguma releitura?

Zito. Pra esse disco, não! Mas pros próximos, sim!

2112.Vocês estão muito ansiosos? O que os fãs podem esperar deste trabalho?

Zito. Sim. Mas a gente usa droga pra ficar calmo! Mentira, crianças. Saiam dessa!

2112. ... o microfone é de vocês!

Zito.  Fazer música é do caralho! É difícil, mas é do caralho. Se você que estiver lendo isso gosta de música, pelo amor de deus, larga isso e vá tocar suas parada! Sai na rua cantando alto. As pessoas piram nisso. beijomeliga

Santa Jam é:

Ivan Staicov - Zito - Vocal / Banjo / Mandolin / Violão 12 / Gaita / Piano

Pedro Cury - Pedrinho - Vocal / Violão / Mandolin / Mala-bumbo / Percussão

Danilo Ruiz - Dan Daniel Cantor que só anda a cavalo - Vocal / Violão / Banjo / Percussão

Pedro Marini - Magrão - Vocal / Contrabaixo / Mandolin

João Paulo Lopes - Juju Sanfoneiro - Vocal / Sanfona / Caixa / Zabumba / Surdo / Washboard

Daniel Oliveira - Déniel - Vocal / Piano / Violão
Bruno Motta - Bubba - Vocal / Mandolin / Violão 12 / Violão / Lap Steel / Piano e só

@santajamvoalberta
cargocolective.com/santajam 

Postagens Mês de Abril


segunda-feira, 25 de março de 2019

Entrevista Tempus Fugit


Na década de oitenta muitos deram o prog como um estilo morto. Mas os verdadeiros fãs nunca aceitaram esse veredito e como verdadeiras formiguinhas mantiveram o estilo vivo e atuante. Nesse meio tempo o cenário viu nascer várias bandas maravilhosas como a Tempus Fugit. E nessa entrevista com Ary Moura (bateria) & André Mello (teclados e voz) conta um pouco da sua trajetória e os planos para o futuro.

2112. Este ano a Tempus Fugit comemora 27 anos de estrada. Qual o balanço que vocês fazem desse tempo e quais os projetos para o futuro?

Ary Moura. Bem, se chegamos até aqui, é porque tivemos o apoio do grande público de Rock e de ProgRock, e queremos agradecer a todos vocês por essa conquista e apoio. Atualmente estamos em processo de ensaios visando as próximas apresentações ao vivo já que ano passado nem tivemos essa oportunidade infelizmente, mas estamos trabalhando duro para que novas conquistas venham a se realizar, a banda continua com força total, vem chumbo grosso aí, podem aguardar!!

André Mello. Nossa... É muita coisa... Uma montanha russa de emoções... conquistas... fracassos, etc... viajar aos EUA sem dúvida foi a maior conquista. Ser respeitado e até admirado por músicos de uma banda como Kenso, no Progfest 2000... conversar com fãs americanos... mexicanos...e japoneses. Tocar em Buenos Aires foi sensacional também. Fomos tratados de forma excepcional pelos argentinos. Por outro lado, as várias baixas de integrantes na banda, idas e vindas de componentes... dificuldades do mercado brasileiro...falta de patrocínio, etc. Isso fez com que nossa discografia não estivesse compatível com tantos anos de estrada...gostaria de estar já no quinto CD, no mínimo...de ter um DVD descentemente gravado, por exemplo. Mas a vida é assim... e não desistimos. Vamos em frente!

2112. Acompanho o trabalho de vocês pelas redes sociais e vejo o quanto as pessoas admiram o trabalho da banda. Os fãs do rock progressivo são como membros de uma sociedade secreta que divulga suas bandas no calado sem fazer muito alarde, não é?

André Mello. Sim... uma legião silenciosa que adora esse tipo de música. E que felizmente muito tem nos ajudado a espalhar o nosso som pelo mundo.

2112. Mesmo quando o progressivo foi dado como “morto” pela mídia os fãs se mantiveram unidos dando força para as bandas comprando seus cds, frequentando seus shows... Isso é que é fidelidade!

Ary Moura. Sim, perfeitamente, o que nos mantém vivos e em plena atividade são os fãs, sejam do Brasil ou exterior, ainda que em pequena escala mas mesmo assim temos o nosso público ainda fiel!

2112. É incrivel a quantidade de comunidades, blogs e sites dedicados ao movimento e bandas na Internet. Isso sem contar o mercado negro de vinis raros vendidos a peso de ouro...

Ary Moura. os Blogs, Vlogs, canais streaming, spotify, youtube, etc.. tem que continuar para que se mantenha a chama acesa. Quem sabe no futuro ainda não lançaremos nossos trabalhos em vinil, não podemos descartar nenhum tipo de mídia nesse momento tão estéril para música de um modo geral!

2112. Vocês têm uma trajetória respeitável com quatro ótimos álbuns lançados, um DVD e fãs espalhados por todo o Brasil e no exterior. O que ainda falta conquistar?

Ary Moura – Parece pouco mas queremos muito mais, queremos estender nossa discografia o quanto antes, somos livres para compor, arranjar, criar, sempre buscamos coisas novas, novos desafios, quebrar barreiras, nos reinventar, enfim, nos superar. Hoje o trabalho está praticamente consolidado com essa formação atual, tivemos algumas dificuldades no passado para cobrirmos a ausência de alguns integrantes mas agora temos um time extremamente competente e queremos ainda, retornar para palcos no exterior e conquistar ainda mais fãs da nova geração do Progressivo.

André Mello. Eu gostaria de tocar em outros estados... Por enquanto só fomos a Minas Gerais. E claro no exterior também. Vejo festivais por aí pelo mundo em que teríamos capacidade de representar bem o Brasil novamente. Ter um bom material em vídeo também é importante. Felizmente em 2018 isso  começou a se tornar realidade com a ajuda de muita gente interessada na nossa música. Já temos um novo canal no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCMzp0PnwYC2G2BcKTPRT4cg) com alguns vídeos em HD, som direto da mesa mixado e multicameras, do show de 25 anos.
2112. Em 1996 vocês lançaram uma demo que além de uma ótima aceitação deu a banda o título de “revelação brasileira”. Vocês se surpreenderam com os resultados?

Ary Moura. Foi na época do Rio Art Rock 96 com shows de bandas como Solaris, Sagrado, Bacamarte e Minimum Vital no atual Citybank Hall, tivemos a oportunidade de distribuir algumas cópias e em outro evento chamado Carreta da Cultura na Cinelândia, um evento aberto ao público de rua com 2 palcos armados no calçadão, resultado é que vendemos todas as nossas cópias, foi algo surpreendente e animador.

André Mello. Aquela demo (que pode ser ouvida no canal https://soundcloud.com/amelloc/tracks) foi como gravar um ensaio para o primeiro cd. Ajudou bastante a melhorar o resultado final, do que viria a ser nosso primeiro CD oficial.

2112. O sucesso da demo inclusive foi um dos fatores decisivos para as gravações do primeiro álbum: Tales From a Forgotten World. De um certo ponto de vista tudo aconteceu muito rápido, vocês não acham?

Ary Moura. Sim, o Alexandre Regino e o Paulo Cesar da antiga loja PC Mellody resolveram entrar em contato e nos patrocinar com a gravação do que seria primeiro CD oficial da banda. Isso nos deixou totalmente focados para seguirmos nosso caminho e procurar fazer cada vez melhor em trabalhos futuros.

André Mello. Sim... Exatamente... Acho que surgimos num momento de respiro no mercado... Não havia novos lançamentos de bandas naquele  ano. Hoje temos muitas bandas, fomos talvez até os primeiros de uma leva de bandas que vieram nos anos seguintes... 98, 99, 2000...Fizemos essa divulgação de panfletagem como o Ary escreveu...de um show em Botafogo na casa LUGAR COMUM. E foi o início de tudo.

2112. Esse trabalho projetou o nome da banda no exterior a ponto de serem disputados por selos importantes como o Musea, Mellow entre outros. O que mudou na história da banda desde então?

Ary Moura. Foi algo assim imensurável, ter uma projeção além das nossas expectativas com gravadoras fora do país com o desejo de nos lançar pro mercado Internacional, graças a Deus temos um selo genuinamente brasileiro para nos manter ativos e focados e ainda temos muito por fazer.

André Mello. Uma surpresa agradável eu diria. Um reconhecimento do empenho e da qualidade das composições do primeiro álbum. Teríamos até tocado no BAJAPROG no México em 1999... Mas a falta de estrutura da banda na época não nos deixou participar desse festival. 

2112. A primeira tiragem de 1000 copias esgotou em questão de três meses e ficou no primeiro lugar no Garden Shed, uma parada de música no Japão. Isso de uma certa maneira surpreendeu vocês?

André Mello. Sim...certamente. Éramos uma banda nova... sem muita experiência em estúdio e tal...Mas acho que a qualidade das composições, impacto da arte gráfica, boa divulgação mais o momento em foi lançado foram fatores que impulsionaram o álbum chegar onde chegou.

2112. Em 1999 em comemoração aos dez anos da banda o álbum foi relançado pelo selo Masque Records com o título “Tales From a Forgotten World Extended & Remastered Edition” com a adição de duas faixas bônus.

André Mello. Foi um belo "upgrade ", até mesmo na capa que já era uma bela idéia.  Tivemos duas faixas extras, com nossa primeira gravação em estúdio das músicas "The Goblin's Trail" é "Princesa Vanessa"... com somente eu e Henrique Simões da formação que gravou o álbum. 
2112. Em quantos países vocês já se apresentaram e como foi a acolhida?

Ary Moura. Tocamos no Buenos Aires Prog 99` como banda principal e no Progfest 2000 na cidade de Los Angeles, Califórnia (USA), onde fomos recebidos com extremo carinho desde a chegada no aeroporto quanto ao Hotel e Teatro. Foi mágico ao saber que somos admirados e queridos por pessoas de países que nem imaginávamos.

André Mello. Fomos convidados como disse para o Baja Prog no México. Mas não conseguimos dinheiro pra viagem.

2112. Na minha opinião os brasileiros e os italianos são os maiores e mais fiéis fãs do prog rock no mundo. Qual a opinião de vocês?

Ary Moura. Não só o Italiano, mas acredito que o público Japonês e o Alemão ainda consomem Rock Progressivo como poucos, ainda que o Brasil não esteja longe disso.

2112. Entre 2000 e 2007 vocês passaram por várias reformulações, mudanças na formação... Enfim, o que de fato aconteceu?

André Mello. Sim... período conturbado que atrasou muito o lançamento do álbum Chessboard. Aconteceram problemas diversos... desde problemas com o selo Rock Symphony, estúdio com problemas, componentes da banda saindo, novos entrando, componentes voltando, etc... Chegamos até ter 2 guitarristas na banda por um tempo. É até difícil contar tudo desse período cronologicamente sem erros rsrs 
2112. É muito difícil encontrar músicos com formação e que seja compromissado?

Ary Moura. Aqui no Brasil é tudo muito difícil em se tratando de grandes músicos, que vias de regra, já tem seus compromissos com outros artistas, assim, fazer parte de uma banda de Rock Progressivo torna-se um desafio e uma grande dificuldade. Uma vez que amamos o que fazemos, porém sempre encontramos um tempinho para nos reunir. Temos que nos dar esse direito.

2112. Me explica uma coisa, como surgiu a idéia do lançamento do cd Official Bootleg 98-Feb? Como vocês tomaram conhecimento da gravação?

André Mello. Outra estória complicada rsrs... fizemos um show no Flamengo que foi gravado e filmado. Virou um cd bootleg... quando vimos já estava praticamente pronto. Não gostamos do resultado, mas... paciência...a gravação é tosca, a performance não foi das melhores. Ou seja, se dependesse de nós esse álbum não existiria. Tanto é que uns 3 anos depois eu comprei os fonogramas e impedi que houvesse uma nova prensagem desse cd.

2112. O material sofreu overdubs em estúdio ou foi lançado mantendo tudo como foi gravado?

André Mello. É um autêntico bootleg nesse sentido... gravado direto da mesa (eu acho rsrs), sem "overdubs"... sem mixagem...sem qualidade...não recomendo rsrs

2112. Após um hiato de quase oito anos é lançado Chessboard para o alivio dos fãs que ansiavam por uma nova gravação da banda. Como foi o processo de criação e gravação do álbum?

Ary Moura. Poucos anos após o lançamento de “Dawn After...” mais precisamente em 2001, iniciei minhas gravações de bateria, pois queríamos lançar logo esse trabalho, estava de fato nos planos da banda, lançar bem próximo de 99, porém sofremos com saída de integrantes, processos digitais que quase foram corrompidos e perdidos na mesa de gravação dentre outros fatores, mas ainda sim, conseguimos recuperar todo material e assinamos com a Masque Records o que seria o nosso próximo disco. As composições já estavam bem adiantadas e era só uma questão de tempo. Tempo esse que com muita dificuldade e total dedicação conseguimos lançar com atrasos mas ainda sim, o trabalho tinha que sair do forno. Em 2008 ele sai, porém, não queríamos mais esperar para que se concretizasse oficialmente.

André Mello. Bem...o fato de termos todos esses anos entre 1999 e 2008 foi bom pois foi possível lapidar as composições ao máximo. Tínhamos um estúdio "próprio " a nossa disposição, então foi possível gravar e regravar muita coisa...nos deu mais experiência de tirar o melhor de nós e dos equipamentos. As músicas já vinham sendo tocadas em shows anos antes do cd sair, o que também é bom pra testar a melhor forma da música. 

2112. O que mais estimula vocês durante o processo de composição?

Ary Moura. Só o fato de nos reunirmos para trocarmos idéias, já é algo motivador e estimulante porque com músicos excepcionais como estes ao meu lado é indescritível se pensar diferente e temos sempre o que aprender um com o outro, hoje somos uma única peça.

André Mello. No meu caso...sou um compositor antes de ser tecladista e principalmente vocalista rsrs. E as idéias que os outros músicos trazem para as minhas composições são sempre bem vindas, só as valorizam.  De fato uma das nossas características é trabalharmos para música, não há estrelismo entre nós.  É puro amor a música. 
2112. Que tal conversarmos um pouco sobre as gravações do quarto álbum? Como anda as gravações? Vocês já tem uma previsão de lançamento?

Ary Moura. Ainda estamos curtindo um pouco desse relançamento de “Dawn After Remaster...” mas já temos algumas composições prontas e concisas em relação ao que será o próximo trabalho de inéditas, estamos ávidos a iniciar tal processo. Hoje temos um time de primeira já fechado, portanto queremos sempre mais, e com isso termos a certeza que ainda podemos ir mais longe. A idéia inicial é começarmos a gravações já no mês de Março ou Abril de 2019 e para um possível lançamento em 2020

André Mello. O que eu posso dizer é que estamos coesos e faremos o melhor possível. A faixa extra "The last day" é nossa primeira gravação de estúdio em 10 anos e dá uma idéia da forma que estamos. 

2112. O novo trabalho já tem um título definido?

Ary Moura. Ainda é muito cedo para isso rsrs, mas já se tem uma vaga idéia do que possa vir a ser.

André Mello. Tenho sim já um nome em mente. Mas ...é cedo pra revelar. Devemos ter umas 5 ou 6 músicas no próximo álbum... O tamanho das músicas limita o tempo. A maioria tem mais de 7...8 min.

2112. O que nós fãs da banda podemos esperar deste novo trabalho? Dá para adiantar algum segredinho ou tudo está guardado a sete chaves?

Ary Moura. O que eu posso adiantar é que este será ainda melhor que os anteriores, pode ter certeza, podem me cobrar, temos grandes músicos e boas idéias para não pararmos pelos próximos 100 anos.

André Mello. Eu sou mais contido que o Ary nesse caso. Grandes expectativas podem gerar grandes decepções rsrs.  De novo digo que daremos o melhor possível de nós. Temos boas idéias e pouco tempo infelizmente, mas já temos tocado 2 músicas novas em shows nos últimos anos. Isso azeita a execução e evita perda de tempo no estúdio quando chegar a hora de gravar.  Estou feliz com o material que temos pra trabalhar e triste com o que não vai entrar nesse próximo.  Adoro essa parte de criação, estúdio, arranjo, etc...

2112. De certa maneira o cenário prog está bem mais forte e maduro que alguns anos atrás quando várias bandas incluíram elementos da música pop na fórmula original do prog. Como vocês analisam este período?

André Mello. Sim...o cenário está   intenso. Existem muitas bandas hoje em dia. É  até difícil acompanhar tudo. Quando lançamos nosso primeiro CD a cena nacional era uma avenida aberta. Hoje as pessoas gravam álbuns em casa muito mais facilmente também.  Temos bandas de todas as vertentes progressivas...uma variedade excepcional. 

2112. Acredito que a ausência das grandes suítes, das experimentações em estúdio ou de elementos eruditos foi decorrente da frieza do mercado o que levou muitas bandas tomarem medidas drásticas para se manterem na ativas, não é?

Ary Moura. Nesse novo trabalho estamos fazendo o que chamamos de pequenas suítes, e isso não vamos descartar de nossa característica principal na nossa maneira de compor. Os desafios e as dificuldades existem para serem superados e estamos prontos para isso.

2112. O Iron Maiden disse certa vez que eles tem os melhores fãs do mundo. E vocês, o que dizem dos fãs da Tempus Fugit?

Ary Moura. Os nossos melhores amigos pelo mundo, nosso alicerce que ainda nos mantém vivos dentro do cenário ProgRock! Levamos nossa música aos fãs e eles dão seu feedback, é uma troca de energia!!

André Mello. Fã é sempre muito bom... São aqueles que vibram com a música como nós... Estão em sintonia com o que transmitimos e nos transmitem de volta a força pra continuar. Só gratidão!!

2112. Uma curiosidade... O nome da banda é uma homenagem ao Yes que tem uma música com esse título ou é mera coincidência prog?

André Mello. É minha banda preferida. E um nome que remete ao progressivo instantaneamente. Yes, Eloy, Anyone's D., Genesis, Supertramp, essas são algumas das minhas preferidas. 

2112. ... o microfone é de vocês!

Ary Moura. Estou muito feliz em participar dessa entrevista e agradecer a todos vocês pelo carinho e tempo disponível conosco. Quero ressaltar que a Tempus Fugit quer alçar vôos ainda maiores, queremos voltar aos palcos mundo afora, outros estados brasileiros e conquistar cada vez mais o grande público, ainda temos muito o que realizar como músicos, sentimos que não fizemos tudo aquilo que de fato gostaríamos, mas ainda assim queremos ir mais longe e sermos cada vez melhores músicos.

André Mello. Obrigado ao 2112 pela oportunidade e interesse na nossa música. Pela divulgação desse estilo que tanto gostamos. Obrigado os fãs da Tempus Fugit, de coração. Estejam certos estaremos trabalhando pra trazer um novo álbum e músicas novas a partir de agora... Pois afinal... Tempus Fugit.


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