Sempre fui adepto de experimentar sons e tons em suas mais diversas expressões. E numa dessas viagens tive o prazer de conhecer o trabalho maravilhoso desenvolvido pelo Júlio Ferraz. Música com conteúdo, com poesia, com instrumental relevante. Se você ainda não conhece “o novo som” se ligue nas plataformas digitais. Conecte-se!
2112. Ano passado você lançou o single "Travessia Boa Viagem" e nos próximos meses será a vez do seu quinto álbum. Como está a aceitação do single e os preparativos do novo álbum? Já tem uma data prevista?
Júlio. Ainda não temos data de lançamento do meu novo álbum, mas estou trabalhando bastante e acredito que seja lançado ainda no primeiro semestre deste ano. “Travessia Boa Viagem” me surpreendeu bastante, pois houve um retorno muito positivo de todos que ouviram e escreveram a respeito do single e também sobre “Algoz”, o lado B, e isso é animador, principalmente estando em um processo criativo.
2112. Você comentou que praticamente não saiu de casa durante esse período da pandemia. Conte como foi o processo de composição, criação dos arranjos e a própria gravação do álbum. Ele foi todo registrado em casa?
Júlio. Desde que foi anunciado o isolamento eu me mantive em casa, saindo apenas em casos realmente inevitáveis, sempre com todo cuidado. Registrei tudo em casa pois eu não podia ir a estúdios, não dava para arriscar, e fui desenvolvendo formas de captação para alcançar os timbres que eu queria, e isso foi bem legal. Infelizmente, também pela razão de estar isolado, não pude contar com meus colegas de grupo, que me acompanham nas gravações, e passei a mudar os planos do calendário discográfico. Comecei com um EP mais intimista chamado “Lampejos”, em seguida veio o “Quarentine Live”, que foi registrado ao vivo por Marcelo Froes durante uma live no Instagram, e em seguida o álbum “Orbe Onírico”, lançado em janeiro de 2021, ainda nesse clima intimista. Passado o tempo fui me cansando de me limitar apenas a instrumentos acústicos e resolvi voltar a incluir peças elétricas, assim nasceu os primeiros arranjos do meu novo disco e em consequência o lançamento de "Travessia Boa Viagem" em novembro.
2112. Você mencionou que gravou "todos os instrumentos no álbum". Que você tocou além do violão?
Júlio. Sim, verdade. Gravei tudo sozinho nesses materiais lançados durante o isolamento. Nos mais intimistas, fora o violão, gravei baixo, metalofone, gaita, algumas percussões, mas não me recordo de toda a instrumentação. Em “Travessia Boa Viagem”, que é o mais recente, toquei guitarra, baixo, bateria acústica, teclados e as peças percussivas, claro, além dos violões.
2112. Esse processo me lembrou um tecelão trabalhando calmamente na criação de um novo tapete. O que foi mais difícil neste processo de gravar, rever o material registrado, equalizar os instrumentos ou mesmo regravar partes que não ficaram boas no seu ponto de vista.
Júlio. Normalmente quando eu componho um álbum, eu vejo o material como um quadro pronto, uma espécie de imagem, então eu sei até onde preciso ir. Logo, meu objetivo é chegar no ponto que está aquela imagem que compus, eu não costumo dar voltas. Eu diria que o mais difícil em todo esse processo tem sido não ter uma sala com isolamento acústico, tenho tido que tocar com os sons que me aparecem no acaso, tem sido um desafio, mas isso me trouxe possibilidades de novas texturas e estou achando isso um barato.
2112. O bom de trabalhar sozinho é que você tem total autonomia de criação na produção mas que também não deixa de ser um tanto desgastante, não é?
Júlio. Sempre é um pouco desgastante, como qualquer trabalho. Mas sem dúvidas também é um processo muito prazeroso.
2112. Você é muito crítico na criação de suas músicas?
Júlio. Eu sou extremamente crítico comigo, sou bastante detalhista e perfeccionista com o meu trabalho. Levo muito a sério e eu só encerro um projeto quando realmente tenho certeza de que cheguei onde eu queria.
2112. Entrevistei certa vez um músico que confessou quando está em processo de criação não ouve nada para não ser influenciado indiretamente. Como você trabalha isso na sua cabeça?
Júlio. Eu ouço bastante música, estudo bastante. Mas quando eu vou trabalhar um disco ou mesmo uma canção, meus ouvidos são exclusivos apenas para a minha produção. Já houve trabalhos, como em casos de versões, posso citar “A Dança das Borboletas” de Zé Ramalho, confesso que quando gravei com a Novanguarda para o projeto de 40 anos do disco, evitei outras versões da canção para não sofrer indiretamente algum tipo de influência. Mas, de um modo geral, eu planejo bem o que quero encontrar em meus resultados, isso muito antes de iniciar o trabalho de gravação, logo, não coloco isso como uma preocupação.
2112. Entre as músicas gravadas qual delas levou mais tempo para ficar pronta?
Júlio. Sinceramente, não me recordo, é muito material. Mas, as canções normalmente acontecem bem mais rápido, os arranjos levam mais tempo no papel antes de partir para os ensaios e gravações. Mas não me recordo de uma música específica.
2112. Você deixou muita coisa de fora?
Júlio. Se for sobre sobras nos discos, sempre acontece, sempre produzo a mais, fora que quase todo dia eu gravo algum take de alguma canção nova. Mas, eu fecho o conceito e trabalho o número exato de faixas, o que acontece é que durante o processo algumas outras canções aparecem, mas como a produção já está fechada elas ficam de fora.
2112. Você poderia falar um pouco sobre novo repertório? O que as pessoas podem esperar do seu novo trabalho?
Júlio. É difícil descrever, será sempre uma surpresa. Mas, é um disco em que toco todos os instrumentos, logo, não terá uma instrumentação muito grande, mas terá uma cozinha firme como em “Algoz” e "Travessia Boa Viagem”. Sobre sonoridade ou referências, seguirá a pluralidade e singularidade que eu proponho desde o meu primeiro trabalho solo.
2112. A bela “Algoz” por exemplo será incluída no álbum ou ficará registrada apenas como b-side do single Travessia Boa Viagem?
Júlio. “Algoz” é uma canção lado B, traz a energia do disco, pois é parte do projeto, mas ficará fora do repertório oficial.
2112. Você pensa em agendar alguns shows para o lançamento do álbum ou tudo será resumido através de uma live mesmo?
Júlio. Não farei shows presenciais enquanto houver riscos de infecção. Eu não vou compactuar com nada que possa gerar aglomerações, não me importam as perdas que vão acontecer se tratando de trabalho, a única coisa que me importa nesse momento é a segurança das pessoas e buscar fazer a minha parte.
2112. Este novo álbum será lançado apenas nas plataformas digitais ou você pretende lançá-lo também em edição física (cd/vinil/cassete)?
Júlio. Primeiro nas plataformas digitais e futuramente em formato físico.
2112. Me diz uma coisa... como você descreveria a música psicodélica? Pergunto isso levando em conta que muitas pessoas alegam que só quem faz uso de substâncias químicas entende o som como um todo. Você concorda com isso?
Júlio. Eu não descrevo música psicodélica, compreendo a sonoridade e as texturas. E discordo completamente que para fazer música psicodélica é necessário a utilização de substâncias químicas. Para mim isso é tolice, o que importa mesmo são as ideias, o contexto, a convicção no conceito. Gravar chapado e não saber o que está fazendo, não faz da música algo bom ou ruim, já a certeza no que se faz, no mínimo lhe dará a convicção de que você chegou onde queria. Se alguma substância realmente ajuda em algum caso específico, ótimo, mas cada organismo funciona de uma maneira. Logo, ela não faz ninguém ser bom ou psicodélico, mas, estudar, pensar, alimentar ideias e ir a campo, isso sim, pode ajudar.
2112. A meu ver esse tipo de pensamento desqualifica a música e a coloca "presa" num nicho fechado, você não concorda?
Júlio. Estando no ponto de vista de artista, não acredito em prisões. Acho que esse perigo é mais presente no ouvinte e, muitas vezes têm sua posição invertida dentro de uma ótica geral, como se o artista estivesse preso em algo que ele não quer. O artista que se prende a algo, creio eu que normalmente ele sabe e quer estar ligado a uma mesma idéia repetidas vezes.
2112. Acredito que música é uma questão de estado de espírito, ela é universal, não existe fronteiras, não é?
Júlio. Concordo, estado de espírito para criação, mas é necessário o equilíbrio de um conjunto de fatores. Mas, para mim, a música não tem teto, é uma busca para a vida inteira.
2112. Qual o seu telefone/e-mail para aquisição de seus discos e shows?
Júlio. julio.ferraz.contato@gmail.com
2112. Foi um prazer imenso entrevistar você... o microfone é seu!
Júlio. Querido, o prazer foi todo meu, agradeço bastante o seu convite, estou muito feliz em participar dessa entrevista. E vamos em frente. Saúde, paz e música sempre!
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