O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



segunda-feira, 14 de março de 2022

Entrevista Cesar Fronzi Ladeira (The Bubbles)

Existe um ditado que diz “um dia tudo que está oculto será revelado!” E  aos  poucos tenho entrevistado músicos dos anos 60/70 para trazer à tona histórias de bandas que ainda hoje são cultuadas. Desta vez conversei com Cezar Fronzi Ladeira que falou sobre a lendária The Bubbles que incendiou os famosos bailes no final dos anos sessenta. O próximo passo seria A  Bolha. Mas aí já é uma outra história!

2112. A The Bubbles foi criada em plena efervescência da Beatlemania e do começo da Jovem Guarda por você e Renato seu irmão. Fale um pouco sobre o processo de criação da banda.

Cesar. Lá por volta do ano 63, a gente ouvia, desbundado, o Chubby Checker cantando ‘The Twist’ ou ‘Let´s Twist Again’, e qual não foi nossa surpresa receber o compacto ‘She Loves You/I Wanna Hold Your Hand’, na lojinha de discos na frente da porta do nosso colégio. A partir daí, foi uma verdadeira loucura. A gente colecionava fotos deles, recortava e colava na parede de nosso quarto. Tudo que a gente via impresso nos jornais, revistas e fotos conseguidas da distribuidora do filme e do disco, era tudo pra parede. Como o sucesso deles estava começando, nas festas que frequentávamos, víamos o que eles eram capazes de fazer com as meninas que enlouqueciam, quando levávamos os discos e todo mundo dançava sem parar. A resolução de criar o grupo veio quando estávamos conversando sobre eles numa festa e surgiu a ideia de montar um “conjunto”. Essa era a definição de banda daquela época. Mas tínhamos um pequeno grande problema... Não sabíamos tocar guitarra, muito menos outros instrumentos. E com todo nosso jeitinho fomos ao papai e mamãe rogar para que eles nos oferecessem um curso de violão, para podermos montar nosso grupo. Como exceção aos padrões da época, nossos pais também nos colocaram para fazer aulas de canto. Canto lírico. Dá pra perceber que ninguém do nosso grupo de amigos acreditava, mas era a pura verdade. Passados alguns meses, continuamos a ouvir tudo que aparecia do ‘London Beat’, e resolvemos encontrar amigos ou amigos dos nossos amigos que tocassem violão, baixo e bateria, pois já tínhamos ideia de como queríamos a formação da banda. Você não tem ideia o que era pedir para a nossa professora de violão nos ensinar uma música dos Beatles: ‘I Don’t Want To Spoil The Party’. Esse realmente foi um sacrifício para ela. É bom lembrar que essa professora havia sido professora do Wilson Simonal e outros big astros da época. Durante o primeiro período de ensaios, a primeira formação era: Cesar (solo), Renato (ritmo), Ricardão (baixo) e Ricardo (bateria). Porém, logo nas primeiras semanas, o Ricardão não se encaixou com as nossas ideias e foi substituído pelo Lincoln Bittencourt no baixo. Super músico ligado em Beatles, se encaixou com um baixo Hofner em nossa formação. Isso era demais! Igualzinho ao do Paul. A partir daí, os ensaios, na sala de nossa casa, começaram a acontecer diariamente, num trabalho exaustivo de tirar as músicas que gostaríamos de tocar e convencer nossos pais (de todos), que precisávamos de bons instrumentos para poder nos apresentar nos bailes da vida. Quanto ao nome, lembro-me que depois de tanto conversarmos e pesquisarmos alguma coisa legal chegamos ao seguinte: “precisamos de um nome em inglês que fosse fácil de lembrar, que tivesse irreverência e que começasse com B, pois na bateria queríamos o logo da banda com a mesma logotipia da dos Beatles”. E assim foi... Lembro que minha mãe (NR - Renata Fronzi) é que deu a palavra final... nós éramos uns bolhas, mesmo. Uns pentelhos.

2112. Como todas as bandas daquele período vocês participavam ativamente dos tradicionais circuito de bailes e das famosas domingueiras, não é?

Cesar. Sim, tudo o que aparecia: Clube Monte Líbano com os Analfabitles; Associação Atlética Banco do Brasil; Quitandinha (shows exclusivos em Petrópolis, na boate do hotel aonde meu pai havia realizado um monte de shows com artistas estrangeiros e nacionais na época dos cassinos); Canecão (tocávamos com a banda do Canecão, o grupo Azimuth (do baterista Mamão) que tocava MPB, os Hangmen do Maurício Kaiserman (depois, Morris Albert, cantor de ‘Feelings’...), e os Sunshines, dos filhos do comediante Walter Ávila); Cervejaria Shinitt; Escola Americana; Esporte Clube Radar com o Guilherme Lamounier (AllStar Band), Renato Terra (Os Nômades) e seu grupo, Mamães e Papais (que o Fernando Adour e a menina faziam conosco uns vocais maravilhosos nas músicas dos Mamas and the Papas); Boliche 300 com a garotada do The Botles, The Gooffies (Dadi, da Cor do Som, Pedro Lima, depois d’A Bolha e Rick Ferreira, ex-Raul Seixas, o super guitarrista mais requisitado de hoje em dia); Grajaú Tênis Clube; Escola Estadual André Maurois, depois das sessões de cinema do Bruninho Barreto, com a banda do americano Bruce Henry (The Outcasts) e o Sound of San Francisco (com um guitarrista careca americano que não me recordo do nome) que fazia projeções psicodélicas com óleos e tintas no fundo do palco com um retro projetor num imenso lençol branco - uma loucura na época, o zé povinho ficava todo de boca aberta; e, ainda, o Colégio Aplicação. Também fizemos uma excursão pelo Espírito Santo, tocando em Cachoeiro do Itapemirim, Mimoso do Sul, Alegre, Castelo, junto com o cantor de Jovem Guarda Ricki Ricardo (que cantava uma música chamada ‘Quero Apodrecer Contigo Num Túmulo Qualquer’ - algo dark, meio punk já na época) para agradar gregos e troianos (NR - alguém, por favor, tem isso por ai, pra rodar no programa de Senhor F, na Usina do Som?). 

2112. Dava para ganhar alguma grana ou o que valia era mais a diversão?

Cesar. Dava pra comprar uns equipamentos. De resto era pura diversão.

2112. Como era os shows da banda? Havia muitas garotas gritando por vocês?

Cesar. Os shows eram sensacionais, mas as garotas só gritavam na porta das TVs.

2112. Logo a Musidisc convida vocês para a gravação do compacto “Não vou cortar o cabelo” (versão da música Break It All da banda uruguaia Los Shakers) e “Por que sou tão feio” (versão do hit stoniano Get Off My Cloud). Como surgiu o contato?

Cesar. Durante uma apresentação do grupo em 1966, no programa Mário de Andrade na TV Globo do Rio, num sábado à tarde, um representante da gravadora Musidisc (o senhor Rosenblit), nos convidou para gravarmos um compacto, ali na coxia do palco antes de atacarmos. E assim foi. Dois meses depois, entramos no estúdio e, em um dia, gravamos as duas versões. Letras essas que foram feitas por amigos nossos que frequentavam os nossos ensaios, e que depois dessa tentativa, nunca mais escreveram nada (William Salvador e o Ameba - não me recordo seu verdadeiro nome).

2112. Segundo informações o compacto não fez o sucesso esperado por falta de divulgação. O que de fato aconteceu?

Cesar. Para a época do lançamento, nada arranhou a nossa perspectiva de fazer sucesso. A gravadora não dava jabá, e nós também estávamos mais ocupados em preparar bons repertórios para as nossas vesperais, do que estar andando de rádio em rádio, divulgando nosso compacto, o que na época achávamos que era obrigação da gravadora.

2112. As músicas chegaram a ser tocadas nas rádios?

Cesar. Poucas vezes, apesar das nossas visitas as rádios... o tal do “Jaba”!

2112. Em 1968 Márcio Greyck convida a banda para participar da gravação do seu álbum lançado naquele ano. E foi a partir do sucesso do álbum que surge interesse da Polygram em assinar contrato com vocês. Foi tudo muito rápido, não?

Cesar. Até a minha saída, além do compacto, fomos a banda que realizou um sonho de artista. Fomos convidados pelo Márcio Greyck e o produtor Durval Ferreira, da Philips/Polydor (um craque da bossa nova), para gravarmos todos os instrumentais de um LP de versões dos Beatles, que seria cantada pelo Márcio, com vocais dos seus irmãos que tinham um grupo vocal. Recordo-me de contar com um estúdio muito mais moderno do que aquele que gravamos o primeiro compacto, com técnicos e produtor muito mais preparados, sem limites para tentar chegar o mais perto das gravações originais, contando com um maestro (senão cometo erros, era o maestro José Paulo, da TV Tupi do Rio), e com todos os recursos para podermos copiar os efeitos, tanto nos instrumentos, quanto nas vozes que gravamos. O engraçado é que nunca consegui ouvir a bolacha. Só me recordo de ouvi-lo mixado no estúdio. E foi só. (NR - a capa do disco pode ser vista no site Ratolaser, que tem link na capa de Senhor F, e o som poderá ouvido em breve, no programa Senhor F, na Usina do Som).

2112. O contrato regia apenas a gravação de alguns compactos ou também incluía álbuns?

Cesar. Não tínhamos ideia do que assinamos....

2112. Porque “Ob-La-Di, Ob-La-Da / Honey Pie” e outros singles gravados por vocês não foram lançados?

Cesar. Não era hora....

2112. Em 1972 é lançado “Raw And Unreleased” pelo selo europeu Groovie Records contendo gravações em mono e estéreo das mesmas músicas. Você saberia me dizer se além do material usado nesse álbum existe outras gravações que ficaram de fora?

Cesar. Tudo o que gravamos está nesse LP.

2112. “Get out of my land” e “The space flying horse and me” foram retiradas de uma fita de VHS do filme Salário Mínimo. As gravações originais se perderam ou elas foram gravadas ao vivo durante o set das filmagens?

Cesar. Não. Foram gravadas em estúdio... já não fazia parte do grupo. Era o assistente de produção do filme e convenci o meu avô, Adhemar Gonzaga em colocá-los no filme.... 

2112. Como surgiu a participação de vocês no filme e do que tratava o enredo de Salário Mínimo?

Cesar. Simples... a família toda era para participar....

2112. Outro fato curioso é a inclusão de “Sem Nada” e “Os Hemadecons Cantavam em Coro Chôôôô” ambas gravadas já pela A Bolha num compacto que ainda trazia a faixa 18:30 (Parte 1) em 1971. A inclusão dessas duas músicas não deixa de ser instigante levando em conta que se trata de uma outra banda, com outros integrantes e um som completamente diferente, não é?

Cesar. Absolutamente certo. Já era outra época...

2112. Não sei se estou certo em afirmar que a inclusão das duas faixas fosse mostrar que o legado do The Bubbles teve uma continuação a altura, não?

Cesar. As cabeças estavam se transformando...

2112. As gravações da banda se resumia apenas em covers de bandas inglesas e americanas ou vocês chegaram a compor algum material próprio?

Cesar. No meu tempo só covers...

2112. Além do Márcio Greyck vocês também deram suporte a outros artistas em shows e gravações?

Cesar. Sim. Uma faixa com a Denise Barreto e outra com o Grande Otelo declamando...

2112. Uma curiosidade: você se lembra de todas as formações que a banda passou?

Cesar. A primeira formação era: Cesar Ladeira (guitarra solo), Renato Ladeira (guitarra rítmica), Ricardão (baixo) e Ricardo 1 (bateria); a segunda: Cesar (guitarra solo), Renato (guitarra rítmica), Lincoln Bittencourt (baixo) e Ricardo 1(bateria); a terceira: Cesar (guitarra solo e gaita), Renato (guitarra rítmica e teclados), Lincoln (baixo) e Ricardo Reis (bateria); a quarta: Pedro Lima (guitarra solo), Renato (gaita, guitarra rítmica e teclados), Lincoln (baixo) e Ricardo Reis (bateria); a quinta, e última: Pedro (guitarra solo), Renato (gaita, guitarra rítmica e teclados), Arnaldo Brandão (baixo) e Johnny (bateria).

2112. Em 1968 você sai da banda para se dedicar aos estudos. Você hoje se arrepende dessa decisão?

Cesar. De jeito nenhum.... foi uma opção pensada...

2112. Em 1970 a banda encerra atividades e Renato logo parte para novas experiências musicais. Você acompanhou de perto a carreira dele?

Cesar. Meio de longe... Usava o talento do Renato para criar jingles para meus clientes...


2112. Entre as bandas que ele ajudou a formar ou participou... qual você gostou mais?

Cesar. Herva Doce. Cheguei a dirigir um vídeo clip da música Pica Pau...

2112. A sua voz em Erva Venenosa (Poison Ivy) e outros hits marcou toda  uma nova geração e a sua morte deixou uma lacuna aberta na história do rock brasileiro. Como era o Renato fora dos palcos?

Cesar. O melhor irmão... o único... grande talento e profissionalismo. Super perda... ainda sinto saudades...

2112. O The Bubbles fez vários comebacks no decorrer dos anos. Você e o Renato chegaram a participar de algum deles?

Cesar. Não... Só em 2008 quando tivemos uma “jam session” no estúdio do Arnaldo Brandão, no Rio de Janeiro...

2112. Qual a melhor memória que você guarda daqueles tempos?

Cesar. Quando realizávamos esses bailes, a gente sempre parava a rapaziada e pedia para que eles se sentassem no chão do local para que pudessem assistir a um momento muito especial. Quando todos estavam quietinhos, nós mudávamos a iluminação e fazíamos um show só com Beatles. O povo vibrava, aplaudiam de pé, gritavam com nas sessões de cinema do ‘A Hard Days Night’, meio na brincadeira, mas curtindo adoidado. Os que nos conheciam, e frequentavam nossos shows, ficavam aguardando quais as novas músicas que iríamos apresentar. Esse era o nosso momento. Essa adrenalina jamais vou esquecer. Lembro- me de alguns anos atrás, uma de minhas filhas, me contou que um de seus professores da faculdade era nosso fã e não perdia uma domingueira. Que loucura, cara. Estamos ficando velhos...

2112. ... o microfone é seu!

Cesar. Nada me fazia sentir tanta alegria e prazer ao tocar. Um vício. Essa era uma das sensações mais bonitas e incríveis as quais passei durante esse tempo. Tempo de aprender, tempo de experimentar, tempo de compartilhar e de dividir nossos sonhos. Chegava a dormir com minha Fender colada a meu corpo noites e noites afim. Acordava assustado, mas sempre me recordava que estava dividindo com ela meus devaneios. Era como se fosse uma extensão dos meus dedos e braços. A cada ensaio que passava entendia que estava me aproximando da vontade extrema de me sentir fundido com aquele instrumento. Não era um virtuoso, mas sempre conseguia tirar sons excepcionais naquele instrumento. Tocava bem. Pessoas, naquela época achavam incrível minha maneira de tocar e tirar sons. A cada zumbido do amplificador quando o ligava ficava extasiado, mas consciente do que aquele som poderia se tornar. Meus ouvidos já estavam começando a entender a afinação e os tons diferentes que conseguia tirar daquelas cordas e trastes. Em algumas manhãs acordava com as pontas dos dedos da mão esquerda sangrando de tanto tocar as cordas de aço. Essa é a saga para se conseguir bons calos neles. E os efeitos! Aquilo sim era um orgasmo de prazer, um som divino vindo dos deuses das guitarras. Era um trabalho bem feito e atribulado, pois todos os movimentos de braços, mãos e dedos tinham que soar incríveis. Mas quando acontecia a sensação era de dever cumprido. De prazer auditivo. De saber que alguém, um dia, numa plateia qualquer iria ver, ouvir e sentir o mesmo que eu estava ali proporcionando a todos. Melhor do que qualquer droga disponível e arriscada... Posso afirmar com certeza absoluta. Esse era o meu gozo! Meu prazer absoluto. Apesar de ter tido várias guitarras compradas ou emprestadas nada se comparou a minha Fender Stratocaster. Ela era um deleite para se tocar e se ouvir. Os três captadores tinham tons distintos, tal qual qualquer guitarra com aquele tipo de eletrificação. Mas a cada mudança de chavinha, tanto no captador 1, 2 ou 3 o arco-íris de tonalidades aparecia e parecia, mais do que um só instrumento. E quando começaram a chegar os pedais com efeitos, socorro, o mundo se abriu novamente. Por outro lado, chegávamos a ensaiar “a capella” os vocais dessas músicas até aperfeiçoar a afinação e o entrosamento. Vocalizações e dinâmicas equalizadas. Semanas realizando experimentos para conseguir as melhores combinações e resultados. Uma experiência única e desafiadora. 

 
 

Memórias do Rock em Copacabana

De Cesar Fronzi Ladeira

 

Essas são memórias que relembrarão histórias e fatos das bandas ou conjuntos de rock dos anos 60 no bairro de Copacabana, zona Sul da cidade

do Rio de Janeiro. Em especial do conjunto The Bubbles dos irmãos Cesar e Renato Ladeira, filhos da atriz Renata Fronzi e do radialista Cesar Ladeira, como surgiu, como interagiu com outras bandas e artistas da época e como se dissociaram da “brega”; Jovem Guarda. Afinal a zona Sul do Rio de Janeiro era o epicentro cultural daqueles tempos.

A juventude desse período era rebelde e interessada nos movimentos artísticos estrangeiros que influenciaram musicalmente esses garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones. Desde a influência de seus avós artistas aos pais eles, tão jovens, trilharam um caminho cheio de dificuldades e experiências extraordinárias. Da Opereta ao teatro de revista, do rádio à televisão as histórias contemplam nuances verdadeiras aos relatos. Dos programas de TV, dos clubes, casas de shows e espetáculos descrevem a trajetória do conjunto The Bubbles ou como eram chamados Os Bolhas...

Nessa caminhada a família, os novos amigos, os locais e as peripécias dos meninos vão deixar os leitores cada vez mais enfronhados nos meandros da vida artística e da música durante a década de 60. Essa leitura deixará os interessados com uma visão da era dos beatlemaníacos e afins mais perto da revolução cultural daqueles anos. Os encontros e os bailes da vida irão deixar mais perto das interações de amizade e companheirismos desses jovens. Com depoimentos de músicos, artistas conhecidos, ídolos daquela época e amigos a leitura deixará todos entretidos. Casos curiosos, relatos de fãs e frequentadores dos shows e performances adicionam veracidade e nostalgia naqueles relatos.

Entrevistas e relatos de sites conhecidos pelos aficionados acrescentam realidade e conhecimento dos fatos e coisas daqueles tempos. Os autores de livros e sites de música enriquecem os relatos e demonstram interesse nessa memória. Nélio Rodrigues, escritor dos livros editados: Histórias perdidas do rock brasileiro vol. 1 e Histórias Secretas do Rock Brasileiro, Fernando Rosa do site sobre rock Senhor F e Márcio Ribeiro do site sobre histórias do rock WHIPLASH corroboram as histórias e casos contados.

Inserções de alguns depoentes:

THE BUBBLES

Enquanto a bossa nova ainda agitava o Beco das Garrafas, algumas quadras dali, quatro garotos com idades entre 13 e 16 anos tinham suas antenas voltadas para ondas sonoras vindas de longe, do outro lado do Atlântico. Também vestiam terninhos, empunhavam instrumentos e botavam seus yeah, yeah, yeahs pra fora, obedecendo à estética e o estilo dos seus maiores ídolos: os Beatles. E assim, como John, Paul, George e Ringo, escolheram um nome igualmente curto, com a mesma letra inicial, para se autoproclamarem, orgulhosamente, The Bubbles.  Folheto de abertura do LP “Raw and Unrelease” dos Bubbles

Do autor: Nélio Rodrigues.

Evandro Mesquita (Blitz), musico, cantor e contemporâneo: “Caramba!!! Me lembro muito!!! Vocês me influenciaram demais!!! The Bubbles, Analfabitles, Outcats do Bruce. Lembro de vocês tocando Magical Mystery Tour etc. etc. Eu tive a sorte de ter estudado no colégio André Maurois, no final dos anos 60. Onde minha mãe, Samira Mesquita, era professora de português e amiga da diretora Henriette Amado. O lema da escola era “liberdade com responsabilidade” e ali começávamos a descobrir do mundo e a receber também informações musicais daqui e de fora. Beatles, Rolling Stones, Hendrix, Mamas & The Papas entre outros heróis. Lembro que no auditório do colégio ia ter a apresentação do The Bubbles, os irmãos Renato e Cesar Ladeira, o baixista Lincoln e um batera que eu esqueci o nome. E me impressionou demais a sonoridade que eles faziam... as canções dos Beatles, os vocais do Renato e solos e performance do Cesar e dos meninos. Era possível! Meu pai tocava violão clássico e eu depois de insistir um pouco no clássico fui pela via rápida e tentava canções dos Beatles e Roberto Carlos com o primo Max e amigos. Fui atrás das possíveis namoradas e das apresentações dos The Bubbles, na Escola Americana, (Renato no teclado e vocais...). Acho que vi também uma apresentação no Monte Líbano, antes de virar A Bolha e mudar a formação com a entrada de Arnaldo Brandão e Pedrinho na guitarra. Outros conjuntos e lugares surgiam pra animar as festas e domingueiras. Clube Caiçaras com Os Analfabitles, nos boliches do Rio: Outcasts, do Bruce Henry, que junto comigo anos depois formamos o The Fabulous Tab, (até hoje rola o som de músicas que fizeram nossa cabeça e influenciaram nossa vida e música), no clube Campestre, Curtisom, O estômago Azul, vi Levindo quebrar uma guitarra no estilo The Who. Dividíamos informações e as paixões pela música, cinema e pelas garotas. Depois, comecei a compor em português e formei a Blitz que é um pouco disso tudo. Renato Ladeira formou o Herva Doce, com o também amigo Marcelo Sussekind. Apesar da ditadura e das guerras no Vietnã nossa curiosidade em descobrir o lado bom da humanidade viajava nos sonhos em Woodstock, Saquarema, Petrópolis, Friburgo e adjacências. Arte começava falar mais alto e a coragem e curiosidade em descobrir o mundo através da música e das peças como: hoje é dia de Rock, o assalto de Zé Vicente, Hair, etc. me trouxe até esse encontro. Eu conversava com Renato e seria o próximo a dar uma canja no bar onde ele tocava em Ipanema... Na semana que ele se foi... Trocávamos mensagens sobre o repertório quando recebi a notícia da sua partida para continuar a festa no céu.”

Sergio Magrão (14 Bis), amigo e músico do grupo. “Estudei com Cesar e Renato Ladeira no Colégio Mello e Souza em Copacabana, na mesma sala quase todo o primário, como chamava na época. Tempos depois, virei fã dessa banda, The Bubbles, e curti muito bailes/shows dessa galera e depois A Bolha.

Lilian Knapp (da dupla Leno & Lilian), amiga e contemporânea: “Lembro muito dos ensaios que tínhamos que fazer na TV Rio, quando éramos contratados do Programa do Roberto “Alta Tensão”. A turma toda se encontrava... adolescentes (de 13 a 18,19 anos dos 70 & 39;). Imagina a “zona” que a gente fazia... todo mundo falando alto contando piadas... era uma alegria só... quem tinha preocupação nessa altura da vida...”

Marcio Greyck, compositor, músico e cantor: “A energia da nossa juventude rolava alegre e solta, viajando na influência Beatles; e tudo o que todos nós queríamos era ser como eles em tudo, a partir de então. Conheci o Renato e o Cesar lá em Petrópolis onde os The Bubbles tocavam nas frenéticas horas dançantes no salão do Grande Hotel Quitandinha em que eu havia me hospedado em férias! E foi ali, que me encantei com aquela energia que deles emanava tocando êxitos do Rock n´roll entremeadas de canções dos Beatles e com as quais eu me identificava e queria também, seguir os passos deles em tudo, além das músicas! Trocamos umas figurinhas, ficamos amigos e eu então passei a frequentar os seus ensaios lá em Copacabana no super apartamento dos “Ladeira’! E nessa intimidade e sintonia musical, convidei-os então para gravarem comigo no meu segundo LP para a Polydor! Pouco depois, e lá estávamos nós cheios de empolgação no imenso e intimidante estúdio, mas que só possuía apenas dois canais, e sem mais nenhum recurso tecnológico em que tínhamos mesmo era que improvisar para que tudo pudesse sair a contento! O Lincoln tocava o baixo com boa pegada no estilo e o Ramon era o baterista, que depois acabou integrando a minha banda e viajando muito comigo, tocando em meus shows pelo Brasil. Penso que essa era uma época em que estávamos nos sentindo, assim meio que autorizados a brincar e ousar experimentar concepções novas de arranjos nas gravações, munidos de uma espécie de carta branca dada pelos Beatles para criarmos o que desse na nossa telha, assim como eles! E eu, me sentia como se eu fosse uma espécie de crooner como o Billy Shears do Sgt.Peppers e integrante imaginário da banda! Momentos mágicos de interação musical em que nós ainda ingenuamente e cheios de ilusão, aprendíamos sobre o real, Maestro Guerra Peixe escreveu os arranjos... “o cara”;, com direção artística de Durval Ferreira. O Durval era um ícone da Bossa nova e não sacava nada de Rock... hehe! É da coisa! Com o tempo Os Bubbles evoluíram para um trabalho mais profissional e já com o nome versado para o Brasil, de “A Bolha” que agora teriam também o guitarrista Marcelo Sussekind incrementando ainda mais o que para mim já era muito bom e consequentemente acontecendo nas paradas, como uma super banda de sucesso!”

Ricardo Corte Real (Os Pulgentos e Família Trapo), músico, ator e

publicitário: “Em 1967, talvez 1968, eu atuava como Sócrates, o filho adolescente da Família Trapo, programa (para quem não sabe) de muito sucesso na TV Record. Gravávamos todas as sextas o programa ao vivo, sem cortes nem intervalos com auditório sempre lotado.”

Rick Ferreira, guitarrista de Raul Seixas, amigão e grande produtor: “Conheci The Bubbles numa festa de uma amiga da nossa turma que foi namorada do meu irmão Neco chamada Daniela na Rua Fonte da Saudade, Lagoa Rio de Janeiro. Isso deve ter sido em 64 ou 65. Eu e minha banda The Goofies, com Dadi Carvalho, Pedro Lima e Paulo Affonso estávamos tocando lá. De repente, quem aparece na festa... Os irmãos Cesar e Renato Ladeira e o Ricardo baterista. Lembro-me como se fosse ontem, o Lincoln baixista não foi. E lá estava o The Bubbles a já famosa banda que conhecíamos somente pela televisão. Eles nos pediram pra dar uma canja e claro nós deixamos. Mandaram um Suzie Q, que mesmo sem a presença do Lincoln, o baixista, foi o suficiente para que nós, os Goofies, não querer mais tocar. Eles foram até o final da festa tocando, e nós sem entender, como podiam tocar tão bem assim, na nossa frente, coisa que até então só ouvíamos nos discos dos Beatles. The Bubbles foi pra mim, uma grande influência na minha vida, todos eram excelentes, naquela época, 63, 64, já tocavam muito. Cesar Ladeira, o guitarrista, foi uma pessoa de grande inspiração pra mim como segmento musical. É claro que ainda naquela época, acabamos nos aproximando e ficamos amigos. Marcus Veras De Faria, jornalista, escritor publicado de obras de ficção e contos, grande amigo e parceiro de muitas horas: Se havia uma coisa boa no final dos anos 60 no prédio onde a gente morava em Copacabana era acompanhar os ensaios do The Bubbles na casa do Cesar e do Renato. Enquanto o pau comia lá fora - passeatas, sequestros, manifestações dissolvidas à pancadaria - lá dentro, naquele lindo apartamento no sétimo andar, vivíamos em Carnaby Street. Ali aprendi um bocado de música, conhecimento que me foi muito útil mais tarde. Ressalva-se aqui a paciência dos pais, seu Cesar e dona Renata, porque ensaio era aquela coisa - errou, faz de novo, errou, faz de novo...”

 

Entrevista dedicada a memória de Renato Ladeira

 

Obs.: As fotos utilizadas nessa postagem foram retiradas do Facebook do Cesar. Não consegui identificar os nomes dos autores das fotos. Quem tiver alguma informação favor enviar para o meu e-mail: furia2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.
 
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário