O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Entrevista Ultranova

2112. O Ultranova surgiu em pleno movimento neoprog que trazia músicas mais curtas com elementos de música pop. Como foi montar a banda em meio a esse novo contexto musical?

Daniel. Naquele momento nossa intenção mesmo gravar nossas músicas e divulgar o som da banda. A gente nem estava muito preocupado com outros lançamentos, nossa ideia mesmo era mostrar nossa identidade, tocar a nossa verdade sonora, criar baseado em nossas compreensões, experiências, vivências musicais. Queríamos mesmo era produzir e tocar. Fazer parte da história da música progressiva brasileira que sempre foi muito rica.

2112. O movimento apresentou ótimas bandas como Marillion, IQ, Pendragon, Saga, Pallas, Twelfth Night... mas foi duro ver bandas do calibre do ELP, Triunvirat, Yes, Genesis, Pink Floyd tentando se readaptar aos novos tempos ou encerrando carreira por falta de apoio. Foi um período difícil, não?

Daniel: Fazer música não-comercial é muito desafiador. O progressivo então é um estilo onde a gente está sempre se colocando à prova, testando arranjos complexos, tempos que variam muito dentro de cada música e ainda tentar inserir melodias que realmente sejam marcantes. Então já surgimos aí, no meio desses novos tempos. A gente se desafia o tempo todo, pra compor, pra executar as músicas, e também para levar nosso som para o público. Acredito que se nos preocuparmos muito com isso, podemos acabar perdendo tanto a nossa identidade. É claro que para um disco inteiro, a gente precisa planejar a estrutura musical das faixas e do disco, como vai soar, as nuances e a dinâmica disso para quem vai ouvir. Porém nossa ideia é seguir tocando o que a gente acredita, o que nos move a continuar produzindo nossa arte.

2112. Como foi o início de vocês levando em conta a nova cena?

Thiago. A trajetória da banda teve início com Thiago Albuquerque (tecladista) e Daniel Leite (guitarrista), que curiosamente são primos de primeiro grau. Thiago, sempre compondo temas em estilos totalmente variados, sentia a necessidade de expressar suas melodias de alguma forma. Foi Daniel, já familiarizado com as composições, quem teve a ideia de formar uma banda de rock progressivo e apresentar algumas dessas músicas. O álbum “Órion”; inclui quatro faixas que faziam parte de um projeto solo anterior de Thiago: “Abismo Azul”, “Salinas”, “Aquântica” e “Órion”. As outras duas “Órbita” e “Chronos” foram compostas já pensando na formação da banda. No início, não demos muita importância à cena musical; nunca ponderamos muito sobre isso. Só queríamos compartilhar nossa verdade musical com os outros. Aquilo que achávamos belo. Assumimos a responsabilidade de organizar shows e pequenos festivais por conta própria, convidando outras bandas de rock progressivo para participar. É importante destacar que o maior esforço para fazer a banda acontecer, até hoje, partiu de Daniel, que sempre se dedicou a impulsionar a banda, enviando nossa música para crítica gringa resenhar, estabelecendo contatos, entre outras, criou o site, entre outras iniciativas. Inclusive, falando no Daniel, neste novo álbum, também teremos composições de dele, que possui uma abordagem muito diferente de Thiago, mas igualmente forte, complexa. Essa é uma vantagem de sermos uma banda prog; somos livres musicalmente. Apesar das músicas serem muito diversas entre si, mantemos a marca e a personalidade distintas da Ultranova.

2112. O movimento se manteve vivo graças a legião fiel de fãs que continuavam se encontrando, comprando os álbuns, divulgando os shows etc. Virou quase que um culto sagrado, não?

Daniel. Isso é das coisas que acho mais interessantes do estilo: quem gosta, geralmente é muito fiel. É alguém que além de admirar o estilo, gosta de pesquisar, de saber o que sendo lançado, as novidades, notícias... É realmente um culto sagrado para todos e também para nós, que além de músicos também somos fãs!

2112. Já são seis anos de história, vários shows, um álbum lançado, o elogiadíssimo Orion pelo selo francês Musea Records e um novo álbum programado para o próximo ano. Como vocês resumem esses seis anos?

Thiago. Sempre nos divertimos muito quando estamos juntos para ensaiar e tocar, e, incrivelmente, nunca houve qualquer desavença entre os membros que passaram pela Ultranova, incluindo aqueles que fazem parte da formação atual. Acreditamos que nossa história é construída principalmente pela amizade, bom humor e respeito que compartilhamos uns pelos outros, não apenas como músicos, mas como pessoas. Talvez seja por isso que, ao criar arranjos para novas composições, buscamos ouvir as opiniões de todos e tomamos decisões de forma democrática para garantir o melhor resultado para a música. A música é o cristal que nos une, esses seis anos representam um período de aprendizado constante, tanto em relação a nós mesmos quanto à arte que amamos.

2112. E como aconteceu da Musea Records entrar em contato com a banda? Vocês enviaram material para eles?

Daniel. A ideia surgiu da Rock Symphony, na verdade. Quando estávamos conversando sobre a prensagem do disco, eles nos disseram que a Musea ficou interessada no som e aí tudo aconteceu.

2112. Com o lançamento do álbum em vários países a banda fez shows ou turnês em solo estrangeiro?

Henrique. Ainda não fizemos shows fora do Brasil, porém estamos ansiosos por essa experiência! Como nosso som é instrumental imaginamos que é uma linguagem universal, sendo assim qualquer lugar pode curtir nosso som!

2112. O Ultranova faz uma interessante fusão do prog com influências do acid rock e do psicodelismo. Como vocês definem o som da banda?

Daniel. Quando a gente cria um tema ou às vezes uma música inteira, levamos para os demais integrantes e daí as ideias vão surgindo. Cada integrante contribui com sua verdade e experiência musical na elaboração dos arranjos, buscando um denominador comum que resulta em uma identidade singular para a banda. A gente curte muito o som que surge a partir do que cada um coloca de si ali na faixa. Na ProgArchives estamos classificados como Cross Over Prog, e talvez seja por aí mesmo. Nossas raízes são prog, a partir daí a música vai se desenvolvendo, e nós vamos dando vazão a ela se construir. Algumas mais pesadas, outras mais quebradas, outras com tempos ímpares outros no comum 4/4... A música chega e a gente a deixa crescer na hora de compor. Quando levamos aos outros integrantes, ela vai tomando mais corpo e daí a gente finaliza. É um processo que leva tempo, mas é uma das experiência mais legais de participar na banda.

2112. ... particularmente não gosto de rótulos pois na minha opinião restringe a evolução de um músico/banda, vocês não concordam?

Daniel: É como falamos anteriormente, a música ‘vem’ e a gente vai construindo. Às vezes é a partir de um tema, de uma cadência ou de uma melodia, e daí ela vai se desenvolvendo. Uma das músicas do disco eu sonhei com a melodia e gravei cantando no celular. Depois de tomar um café, sentei-me para fazer uma demo e a música ficou pronta em um único dia de trabalho. Eu acho que é mais importante a gente deixar a coisa fluir sem pensar muito em rótulos ou qualquer coisa do tipo. O que importa mais é que a criação fique do agrado de todos, que tenha uma sonoridade do nosso agrado. Assim a gente sabe que se alguém gostar da nossa música, vai estar gostando da nossa expressividade, da nossa identidade, e estará gostando de verdade da nossa arte.

2112. Falando em influências achei muito interessante a participação do Trio Manari no show de vocês. O músico brasileiro precisa deixar o preconceito de lado e divulgar mais suas raízes para o mundo. Parabéns pela iniciativa!

Daniel: E traremos muito disso no novo disco. É algo que queremos incorporar cada vez mais no nosso som.

2112. Uma curiosidade: O Manari tem material gravado?

Daniel. O Trio Manari é altamente conceituado, já fizeram turnês internacionais diversas vezes, tocaram pela Europa e pela América também. São músicos professores, titulares de escolas e institutos em Belém dedicados a percussão. Eles possuem muito material gravado, já fizeram participações algumas vezes ao vivo com a gente e estarão no nosso disco novo.

2112. Voltando ao Orion, que curiosidades vocês guardam das gravações? Quanto tempo gastaram para registrar o álbum?

Thiago. Há algumas curiosidades interessantes relacionadas às gravações do álbum. Um fato peculiar envolve as linhas de baixo, pois houve uma mudança de baixista quase no final do processo. O talentoso Mário Neto, querido por todos, mudou-se para outra cidade e não voltaria a morar aqui em Belém. No entanto, antes de sua partida, ele conseguiu gravar todas as faixas, com exceção da música “Órion”, para a qual contamos com a contribuição de Príamo Brandão que se tornou o baixista da banda durante alguns anos. No caso deste segundo álbum, algo semelhante ocorreu, mas de uma maneira mais complexa rs. Durante o processo de gravação, tivemos a participação de três baixistas diferentes. Nosso baixista atual, Arthur, entrou na banda e imediatamente impressionou a todos com sua técnica e suas linhas de baixo criativas. Curiosamente, percebemos que ele, por vezes, lembrava o estilo de Príamo e, em outros momentos, o de Mário. Diante dessa fusão, carinhosamente o apelidamos de & “PríMário”.

Obs: Tanto Príamo quanto Mário continuam no grupo da banda, pois consideramos eles SENDO parte do time e somos grandes amigos.

2112. Os fãs da banda cobram ou mesmo vocês já pensaram em incluir um vocalista para cantar em algumas músicas? Algum de vocês canta?

Henrique. Esse é realmente um assunto que vez ou outra vem à tona! É realmente uma experiência que um dia podemos tentar, todos na banda tem como fazer trechos vocais, porém realmente ainda não paramos para pensar em algo nesse estilo.

2112. Que outras bandas prog existem no Pará? Vocês têm muitos eventos voltados para a promoção da música instrumental?

Daniel. Das antigas tinha o Alma Cog e o Moonshadow, nossos amigos da Lótus Área que paralisaram as atividades e existem várias outras bandas de estilos variados que misturam com o prog, mais metal como a Rhegia, outras de vertente mais brasileira como a Móbile Lunar, e mais psicodélica como a Steamy Frogs. Sobre a música instrumental, Belém produz uma quantidade absurda de música em diversos estilos. A música instrumental é realmente muito forte aqui e sempre tem eventos voltados pro estilo como o Tapajazz (no rio Tapajós) e o Sonido que acontece anualmente, e é dedicado exclusivamente para o instrumental.

2112. Apesar da música instrumental ser pouco divulgada existe um público bem variado com a mesma devoção. Como se explica esse fenômeno?

Daniel. A audição é mais “fácil” para a música popular e músicas com voz, mas o interessante é que quem aprecia o som instrumental, acaba se tornando alguém bastante fiel ao estilo. 

2112. Em breve vocês estarão lançando o novo álbum. O que os fãs podem esperar do novo trabalho? Ele já tem um título definido?

Daniel. Nele estarão nossos dois últimos singles (Samsara e Odisseia para Sírius) e mais algumas outras músicas que já começamos a apresentar ao vivo. Esse novo disco vem bem variado, músicas muito quebradas, outras 4/4... a gente optou por não fazer ele todo seguindo só de uma forma senão ficaria muito “cabeçudo” (rsrsrs)

2112. Vocês todos compõem?

Daniel. O primeiro disco conta bem como a gente começou. O Thiago tinha algumas músicas que me mostrou e daí eu tomei a iniciativa de montar uma banda e tocar as músicas dele. Para o novo disco é mais dividido entre mim e ele as composições. Mas quando a gente apresenta as músicas para os outros integrantes, cada um coloca ali um tanto de si para soar com sua própria identidade musical. E isso tem sido uma das coisas mais legais na Ultranova.

2112. Assim como aconteceu no primeiro haverá participações especiais no novo álbum? Quem está produzindo?

Daniel. Com certeza teremos algumas participações especiais no novo disco. Uma ideia que adotamos que deve nortear o álbum é misturar o rock progressivo com os tambores amazônicos. Somo muito abertos a experimentações e inserir outros elementos, e vamos testar muita coisa dessa vez.

2112. Vocês já têm uma prévia do lançamento do álbum?

Daniel. Estamos com a ideia de terminar a gravação no primeiro semestre, para lançar em agosto ou setembro. Talvez no meio do caminho a gente publique um outro single nas plataformas digitais.

2112. Ele será lançado apenas nas plataformas digitais ou também teremos lançamento físico cd, vinil e cassete?

Daniel. Há uma expectativa nossa lançarmos também em LP e em CD.

2112. Vocês já dividiram o palco com músicos/bandas do quilate de Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Violeta de Outono, Bacamarte etc. Deu para conversar e trocar experiências com eles?

Daniel. Isso é uma das coisas mais legais de tocar em festivais, poder trocar experiências com outros músicos. Dos mencionados, o que mais pudemos conversar foi o Egberto que recebe todo mundo muito bem!

2112. Além do novo álbum... que outros projetos vocês têm para este ano?

Daniel. Mais shows, sem dúvida! Queremos divulgar mais o novo disco. O primeiro que lançamos teve uma entrada bem interessante e esperamos receber mais convites para tocar, levar nosso som e fazer nosso show.

2112. Qual e-mail/telefone para contactar vocês?

Daniel. ultranovarock@gmail.com e 91 98411-9191

2112. Obrigado pela entrevista... o microfone é de vocês!

Daniel. Queremos agradecer a oportunidade de podermos falar sobre nosso novo disco que ainda nem saiu e já estamos por aqui falando sobre ele. Também enaltecer o trabalho do 2112 que é muito importante para o prog nacional, fortalecendo os artistas e difundindo o estilo com muita propriedade.


Obs.: Todas as fotos foram retiradas da página da banda. Não citei os autores porque não encontrei. Mas qualquer coisa entre em contato pelo meu e-mail retamero2112@gmail que eu faco as devidas correções.   

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