2112. Parabéns pelo excelente trabalho desenvolvido por vocês no álbum Stratus Luna. Músicos tão jovens já com uma proposta madura. Parabéns!
Ricardo. Obrigado! É muito legal ouvir isso. Eu, particularmente, acredito que no universo das artes não existe melhor professor do que a própria obra dos artistas que vieram antes da gente. Reformulando um pouco a frase “você é aquilo que você come”, acredito que pras artes a máxima seria “você produz aquilo que você consome”. Então, nesse sentido, seu elogio merece ser compartilhado com os incríveis artistas que vêm inspirando a gente desde que começamos.
2112. ... crescer assistindo pais, tios acompanhados de amigos deve ser muito estimulante, não?
Gustavo. Quando você recebe inúmeras referências dentro de casa e está sempre sendo estimulado a criar, experimentar, estudar, o desenvolvimento acontece naturalmente! E o fato de eu, o Ricardo e o Giovanni termos crescido e aprendido a tocar juntos, fez com que um incentivasse o outro constantemente. Pra nós, a música sempre foi um momento de diversão e agora, com a banda já formada e estabelecida, podemos levar isso pra outras pessoas e tentar contribuir um pouquinho pra vida daqueles que quiserem ouvir!
2112. Como surgiu a banda?
Ricardo. A banda surgiu por pura e exclusiva
pressão familiar (risos). Estou brincando mas no fundo existe um pouco de
verdade nisso. Nunca houve nenhum tipo de pressão concreta por parte de nenhum
familiar, mas quando você cresce no meio de gente apaixonada por música é
natural que você se interesse pelo assunto. Tivemos a sorte de crescer em casas
onde haviam instrumentos musicais e gente que conhecia a técnica por trás
deles. Desde cedo, eu, o Guto (tecladista) e o Gio (baterista), por sermos
primos, costumávamos tocar juntos. Não lembro de termos tido uma conversa como:
“e aí, topam montar uma banda?”. Mas lembro de discussões sobre como vamos
chamar essa banda que acabou por surgir naturalmente. Essa formação de trio
perdurou por vários anos até a entrada posterior do Gabriel (baixista), no
período final das composições do primeiro disco. Sendo que hoje, depois da
entrada do Gui (vocal), formamos um quinteto.
Gustavo. Exatamente! A gente não se vê como uma banda definida por um ou outro estilo, mas sim como músicos livres pra compor e tocar qualquer coisa que brotar na criatividade. Nosso trabalho atual está até mais livre e eclético do que o primeiro disco.
2112. Sei que é um pouco complicado... mas que bandas/discos marcaram a vida de vocês?
Gustavo. Acho que duas das bandas que mais me marcaram no mundo do progressivo foram o Yes e o PFM. O Yes pela sensibilidade, beleza, criatividade, e porque a música deles tem uma coisa difícil de explicar, mas que toca um lugar bem profundo. E o PFM pela liberdade criativa e a habilidade de não se prender em nada. Eles transitam pelo rock, jazz, erudito, música experimental, música tradicional, e outros estilos com muita leveza e naturalidade e isso sem dúvida me inspira a não me prender em nada e deixar a música fluir. Também acho válido citar o álbum Call Of The Valley, de Shivkumar Sharma, que me introduziu à música hindustani que hoje é tão presente na minha vida; e a vida e obra de John Cage, que eu tive a oportunidade de estudar a fundo e que me ensinou como fazer da música (e de qualquer coisa, na verdade) uma profunda prática espiritual.
Gui. Acho que alguns dos discos que mais me marcaram foram Larks Tongues In Aspic, do King Crimson; Tilt, do Scott Walker; Só Não Toca Quem Não Quer do Hermeto Pascoal e Milagre dos Peixes do Milton Nascimento. Mesmo sem querer eu me vejo voltando pro trabalho desses artistas como inspiração.
2112. Nos shows além do material próprio vocês também fazem releituras?
Gustavo. Sim! É sempre um grande prazer e grande aprendizado tocar música dos outros e gostamos de apresentar um repertório bem variado. Atualmente estamos tocando desde Deep Purple até Mutantes, Clube da Esquina, Camel, King Crimson, Billy Cobham.
2112. Acho interessante quando o músico/banda dá um nova cara a música como fez a banda belga Esperanto com ao regravar Eleanor Rigby. Vocês conhecem essa gravação?
Guilherme. Eu conheço essa banda pelo álbum Danse Macabre - que é muito bom, por sinal. Essa gravação em particular não conheço. Há grandes releituras de músicas dos Beatles, o Milton Nascimento mesmo tem uma versão ótima de Norwegian Wood que é bem puxada pro prog. Querendo ou não, é um material que influenciou todo mundo direta ou indiretamente.
2112. Em 2019 vocês lançaram o primeiro trabalho contendo sete temas instrumentais. Como é que funciona o processo de composição de vocês?
Gustavo. A gente tem um processo extremamente colaborativo. Não tem um líder da banda, não tem alguém que dá a palavra final. Todo mundo dá pitaco nas partes de todo mundo e as músicas vão se construindo aos pouquinhos. Às vezes alguém vem com uma ideia muito boa e a música já sai quase pronta. Mas mesmo assim cada um coloca seu dedo e muda um pouquinho, então de um jeito ou de outro as composições são sempre da banda como um todo. A gente tem se reunido semanalmente pra compor em conjunto, e aí vamos gravando as novas ideias e testando!
2112. Como foi desenvolvido o trabalho em estúdio? Vocês mesmo produziram e arranjaram o álbum? O que foi mais difícil?
Gustavo. Nós fizemos todas as composições, arranjos e produção. No estúdio, gravamos bateria, percussões, sitar e hammond, ou seja, tudo que precisou ser microfonado. Aí em casa, gravamos o resto dos teclados, baixo e guitarra. A guitarra depois passou por um re-amp no estúdio. Acho que o mais difícil foi a mixagem. Optamos por um esquema à distância em que a gente recebia uma versão da mix, aí dávamos sugestões e vinha uma nova versão. Não funcionou muito bem… A comunicação fica muito mais complicada assim. No próximo álbum eu vou fazer uma mix preliminar em casa e depois vamos para algum estúdio pra finalizar junto com um engenheiro experiente.
2112. O álbum também foi lançado no exterior?
Gustavo. Não chegou a haver um lançamento propriamente dito no exterior mas ele foi distribuído pela MoonJune Records, o que rendeu até uma matéria na revista inglesa PROG. Somos muito gratos ao Leonardo Pavkovic por ter dado todo esse suporte!
2112. O single Namkha (1. Nuvens) trouxe a inclusão de vocais. O que levou vocês a tomarem essa decisão?
Gabriel. A real sobre Namkha é que o tema vocal e a letra vieram de um rascunho de cançãozinha de um minuto que eu escrevi em uma tarde e enviei no grupo da banda uns quatro anos atrás. Eventualmente o Guto surgiu com a peça toda desenvolvida e todo mundo gostou. A questão do tema ficou em aberto por um bom tempo. Inclusive, a gente estava com receio de lançar um som com voz, tanto pela expectativa do pessoal, quanto por ser eu cantando né, que sinceramente não tenho nenhuma prática de verdade nesse sentido. Mas a melodia e o fraseado já tavam tão fixos que a gente acabou decidindo arriscar, eu gravei, lançamos isso mesmo e, na real que acabamos gostando bastante do que saiu.
Gustavo. De forma geral, e principalmente para o nosso próximo álbum, eu acho que o vocal é um timbre a mais a ser explorado. E não só as possibilidades sonoras mas também a adição da poesia que pode ser muito poderosa na construção da nossa arte. As notas têm um potencial muito forte de impactar os ouvintes, mas quando somamos uma letra a isso, o potencial aumenta consideravelmente! E para além da questão criativa, eu acredito que, como artistas, temos a possibilidade de contribuir muito com a sociedade, e é mais fácil e direto de se comunicar quando a música também traz palavra e poesia.
2112. A aceitação do single tem sido boa?
Gustavo. Infelizmente, como foi lançado durante a pandemia, não pudemos divulgar ele de um jeito apropriado, tocando em shows, etc. então ele acabou ficando um pouco escondido. Mas o feedback que recebemos até agora tem sido bem positivo.
2112. ... mas vocês continuarão desenvolvendo temas instrumentais?
Gustavo. Sim! Não nos prendemos em caixinhas como “banda instrumental” ou “banda com vocal”. É tudo uma questão de estarmos com vontade de colocar uma letra ou não. Eu acho que são propostas diferentes e vamos continuar explorando ambas.
2112. Vocês já estão produzindo material novo? O que vocês podem adiantar sobre o novo trabalho?
Gustavo. Estamos já há um bom tempo no processo de criação do nosso segundo álbum. Tem uma espécie de narrativa que é a espinha dorsal das composições e, em volta disso, as músicas e letras estão sendo criadas. Dá pra dizer que é um álbum “conceitual”, e por essa razão, a maioria das músicas vai ser cantada. Mas além do vocal, estamos incorporando várias outras linguagens e referências que estão resultando num álbum muito mais eclético e rico do que o primeiro, que, olhando hoje, ficamos um pouco presos demais nas influências setentistas. Uma das músicas, por exemplo, é toda baseada em um synth sequenciado, bem imersiva e cheia de efeitos. E no final ela ganha força com a entrada da bateria e baixo bem intensos. Aí a faixa seguinte começa com um violão bem suave e sítar, e não tem bateria, só percussões como udu, bongô, etc... É uma sonoridade totalmente acústica e orgânica, contrastando com a anterior. Nesse sentido, vai ser um álbum bem mais heterogêneo que o primeiro.
Gui. Acho que uma referência que procuramos explorar mais nesse trabalho é a canção. Não necessariamente no sentido de fazer coisas com forma de canção, que sejam sucintas e tenham estrofe A, B, C e etc, mas usar isso como referência na hora de pensar em letras, materiais musicais. O Brasil tem uma tradição de canção muito rica, temos grandes letristas, grandes histórias contadas através da canção. Considerando que a gente quer contar uma história nesse álbum, há muita coisa para se olhar aí.
Giovanni. O fato de meu pai tocar guitarra e ouvir o tempo inteiro vários gêneros musicais me incentivou a entrar nesse mundo da música. Tanto que, desde muito jovem, tive acesso a determinados trabalhos que, sem dúvida, influenciaram minha formação. Apesar do meu pai ser mais conhecido em ambientes de rock, ele escuta muito jazz, música étnica e fusion. Assim, a gente acaba conversando muito sobre nossas impressões e se torna corriqueiro um apresentar para o outro novos álbuns e artistas que estamos ouvindo. Quanto a minha carreira, posso sempre contar com ele quando precisar de algum conselho.
Gabriel. Meu caso é muito parecido com o do Gio. Falar de uma influência direta, no sentido de referência técnica e etc. é um pouco complicado até porque a gente não toca o mesmo instrumento. Mas é indiscutível o quanto o jeito que eu penso, falo e faço música foi informado por trocar ideia com meu pai ao longo da minha vida. Tanto de mostrar som um pro outro quanto ficar falando em cima de algo que estamos ouvindo, fazendo interjeições e comentando que nem aquela galera chata no cinema. Pelo menos nesse caso é só a gente ouvindo e não incomoda ninguém.
2112. ... a ligação entre vocês é muito forte a ponto de vocês participarem dos álbuns solos deles. Como funciona essa parceria?
Giovanni. Quando participei do disco do meu pai, tinha apenas 8 anos. Ele me levava nas sessões de gravação e na verdade foi ideia do João Parahyba de me colocar pra gravar algumas percussões adicionais. Já no caso dos discos do Fabio, ele conhecia minha prática constante de jazz. Quando me apresentou a ideia, achei que tinha tudo para me encaixar e ter um resultado interessante.
Gabriel. Eu acabei gravando e tocando bastante coisa com meu pai nos últimos anos. Vira e mexe ele tem uma brisa nova pra um tipo de som que ele quer fazer e vem trocar ideia comigo. Como eu cresci tocando um monte de instrumentos e ouvindo grande parte do som que ele gosta, o diálogo roda bem e eu acabo tendo um papel meio coringa pra escrever partes e desenvolver as ideias. Claro que sempre tem aquela tensão e um pouco de descompromisso de estar trabalhando com família, mas também é sempre bem legal, iluminador, e a gente gosta do som que sai.
2112. Já existe uma data de lançamento para o novo álbum?
Ricardo. Ainda não temos uma data definida. Devemos entrar em estúdio para começar as gravações ainda esse ano para, quem sabe, fazer o lançamento no começo do ano que vem. Mas para aqueles que estiverem mais curiosos, vale a pena dar uma olhada no nosso perfil do Instagram (@stratus.luna). Lá temos postado um pouco dos bastidores por trás dessas novas composições.
2112. Qual e-mail/telefone para contratar a banda e adquirir os cds?
Banda. Nosso e-mail é stratuslunaoficial@gmail.com. Mas, se preferir, pode entrar em contato pelas nossas redes sociais por onde respondemos o mais rápido possível.
2112. ... o microfone é de vocês!
Gustavo. Primeiramente, muito obrigado pela entrevista e pela oportunidade de falarmos um pouco sobre nós! Acho que existem dois tipos de artista: aquele que está tentando se expressar para o mundo e, de alguma forma, se afirmar enquanto indivíduo; e aquele que tenta contribuir para o mundo independente de ser ou não reconhecido. Eu vejo a Stratus Luna tendendo mais para esse segundo tipo, no sentido de que estamos simplesmente fazendo o que gostamos de fazer com a aspiração de que isso possa, de algum jeito, trazer momentos interessantes e, se possível, tornar os dias mais agradáveis pros nossos ouvintes! Nosso trabalho atual está focando ainda mais nisso e espero de coração que nossas melodias, texturas e harmonias possam deixar um impacto positivo no mundo, por menor que seja.
Obs.: Todas as fotos foram retiradas do Facebook da banda.
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