Junto de
João Ricardo e Ney Matogrosso, Gerson Conrad fez parte do lendário Secos &
Molhados que gravou apenas dois álbuns e quebrou vários tabus em plena ditadura
militar: sexual, musical, cênico... lotou shows, vendeu mais de um milhão de
copias do primeiro disco e deixou vários hits que são cantados até os dias de hoje. Após
vários anos longe da mídia Gerson retorna com sua carreira solo e nós
aproveitamos para um bom bate papo.
2112.
Primeiramente devo dizer que está sendo muito bacana entrevistar um dos grandes
visionários da música brasileira... Seja bem-vindo!
Gerson
Conrad. Muito obrigado.
2112. Muita coisa aconteceu no mundo desde que você decidiu abandonar os
palcos e o estúdio por 37 anos. Enfim, o que motivou o seu retorno?
Gerson
Conrad. Em verdade, não abandonei os palcos. Fiquei
afastado de outubro de 1981 até março de 1992 quando voltei a fazer
apresentações ao vivo.
37 anos foi o tempo que fiquei fora do mercado fonográfico e, por uma questão de bom senso, sem gravar nada como produção independente. Apenas participando
uma vez ou outra de gravações de discos de amigos.
37 anos foi o tempo que fiquei fora do mercado fonográfico e, por uma questão de bom senso, sem gravar nada como produção independente. Apenas participando
uma vez ou outra de gravações de discos de amigos.
2112. O que você
fez nesse período de inatividade musical?
Gerson
Conrad. Não diria inatividade musical, mesmo porque,
compor e estudar música para mim é um exercício diário. No período citado
acima, sobrevivi e trabalhei como arquiteto uma vez que, essa área me
apresentava mais oportunidades
do que a área do show business naquele momento.
do que a área do show business naquele momento.
2112. Lago Azul o
novo trabalho vem com doze faixas inéditas e com certeza irá alegrar em cheio
aos seus fãs e também os do Secos & Molhados, não é?
Gerson
Conrad. Certamente irá alegrar à Gregos e Troianos.
Sou um compositor consciente de que minhas obras vem trilhando num processo de
evolução natural
com o passar do tempo. Acredito que o som que hoje faço seria o que estaríamos fazendo se o extinto grupo Secos & Molhados não tivesse acabado. A mesma qualidade
melódica e literária que tivemos é a que mantenho em meu trabalho atual.
com o passar do tempo. Acredito que o som que hoje faço seria o que estaríamos fazendo se o extinto grupo Secos & Molhados não tivesse acabado. A mesma qualidade
melódica e literária que tivemos é a que mantenho em meu trabalho atual.
2112. Uma
curiosidade... como você conseguiu gravar um cd inteiro em total mistério sem
que ninguém soubesse de nada?
Gerson
Conrad. Apenas não divulgando o que fazia. (rsrsrs)
Comecei a gravar sem compromissos e pressa no início de 2017 e, também sem a
intenção de que virasse
um CD. No momento em que percebi que tinha um material de qualidade registrado, mostrei à gravadora Deck Disc, que se interessou em lançar o produto.
um CD. No momento em que percebi que tinha um material de qualidade registrado, mostrei à gravadora Deck Disc, que se interessou em lançar o produto.
2112. Você
poderia falar um pouco sobre as gravações?
Gerson
Conrad. Apesar de ter um grupo que me acompanha em
shows ao vivo, com formação clássica das bandas de rock (guitarra, baixo,
bateria, teclados, violão e voz) esse trabalho foi gravado apenas comigo e meu
guitarrista (multi-instrumentista) e arranjador, Aru Jr. _ Dispúnhamos de mais
tempo para isso que os outros integrantes e, quando nos demos conta, o CD
estava pronto. A cada sessão dentro do estúdio, tínhamos a certeza de estar no
caminho certo.
2112. A recepção
nos shows tem sido boa?
Gerson
Conrad. Sim, muito boa. Tenho um público fã que me
acompanha já há décadas e sabem da qualidade de minhas apresentações.
2112. Você inclui
releituras dos S&M? Quais são as mais pedidas?
Gerson
Conrad. Sangue Latino, Delírio, El Rey e Rosa de
Hiroshima.
2112. O que o
novo trabalho difere dos seus outros dois trabalhos solos?
Gerson
Conrad. Acredito que o fato de ser inédito ao
público. (rsrsrs) Em meu primeiro trabalho tive Zezé Motta dividindo os vocais
comigo (Som Livre 1975) e a pressão
da gravadora em ter que ter um hit de sucesso. Não foi muito diferente pela Continental em 1981. O que difere, atualmente, é que nesse novo trabalho eu dirigi e produzi
livre de cobranças ou grandes expectativas e o resultado é que consegui reunir 12(doze) hits de futuros sucessos.
da gravadora em ter que ter um hit de sucesso. Não foi muito diferente pela Continental em 1981. O que difere, atualmente, é que nesse novo trabalho eu dirigi e produzi
livre de cobranças ou grandes expectativas e o resultado é que consegui reunir 12(doze) hits de futuros sucessos.
2112. Deve ser
emocionante ver jovens quem nem eram nascidos quando você começou cantando suas
músicas, indo aos shows... Isso te emociona?
Gerson
Conrad. Gratificante por demais. A cada nova
apresentação ao vivo, meu público cresce com a presença de uma garotada com
idade entre 20 e 35 anos.
Normalmente chegam tímidos no camarim e contam que seus pais são meus fãs.
Normalmente chegam tímidos no camarim e contam que seus pais são meus fãs.
2112. Os Secos
& Molhados surgiu como um verdadeiro meteoro, lançou dois álbuns brilhantes
e se consumiu na própria chama que ascendeu. O que realmente levou você e o Ney
a saírem da banda?
Gerson
Conrad. Incompatibilidade com os rumos com que o
grupo caminhava. João Ricardo é detentor da marca Secos & Molhados e
acredita ainda hoje no "eu que faço", "eu que mando", assim
sendo o deixamos caminhar sozinho.
2112. Não deve
ter sido nada fácil enfrentar de peito aberto a ditadura e toda a pressão que
eles impunham, não é? Vocês devem ter passado por maus momentos...
Gerson
Conrad. Não exatamente com o regime mas, com a
censura.
2112. O culto a
banda tem crescido vertiginosamente a cada dia renovando o seu público... é
como se fosse uma herança passada de pai pra filho. Como você explica toda essa
veneração?
Gerson
Conrad. Estou certo de que a qualidade musical e
literária do que conseguimos registrar com o S&Ms.
2112. A prova de
toda a loucura que rondava vocês foi o lançamento do álbum “Ao Vivo no Maracanãzinho” gravado em 1974. Que
lembranças você tem desse show?
Gerson
Conrad. O Maracanãzinho foi um marco de ousadia no
show business na época. Não havia na história de nossos artistas alguém ou um
único grupo que tivesse reunido mais de 25.000 (vinte e cinco mil) pessoas
assistindo a um espetáculo musical. Foi a visão empresarial de Moracy do Val
que nos deu essa oportunidade.
2112. A loucura
do público lembra muito a dos Beatles, não é?
Gerson
Conrad. Na época, sim. Havia um fanatismo enorme para
com o grupo.
2112. Tenho
conhecimento de dois discos tributos a sua ex-banda: “Assim Assado - Tributo ao Secos e Molhados” (2003) e “Armazém 73 -
Tributo ao Secos e Molhados” (2013) com a participação de grandes nomes da MPB
junto a nova geração de bandas o que reforça a grande influência de vocês ainda
nos dias de hoje... Você chegou a ouvir esses álbum? O que achou?
Gerson
Conrad. O Tributo (2003) sim. Esse "Armazém
73" não conheço. _ Acho que todo tributo é sempre bem-vindo pois, ajudam a
cultuar a memória de trabalhos consagrados.
2112. É do
conhecimento de todos que Vinícius de Moraes ficou super feliz com a versão
musicada do seu poema Rosa de Hiroshima. Você chegou a conversar com ele
sobre isso?
Gerson
Conrad. Conheci Vinícius nos bastidores da TV
Bandeirantes e lá, apresentei minha composição a ele. Emocionado, Vinícius
segurando meu braço disse que minha melodia eternizaria seu poema que estava
perdido em meio à sua antologia poética. Assim, aconteceu. Vinícius foi um
visionário.
2112. Mesmo
distante dos palcos e das gravações você acompanhava o cenário musical? O que
você acha de interessante atualmente?
Gerson
Conrad. Distante, só das gravações. Voltei ao palcos
em 1992 e de lá para cá, não parei. De interessante atualmente, os
artistas que primam por um trabalho de qualidade. Com ouvidos apurados
conseguimos perceber que ainda existem bons trabalhos.
2112. O que você
tem em mente para este ano?
Gerson
Conrad. Três frentes de trabalhos/shows para 2018. O
show do novo CD Lago Azul, uma releitura dos discos dos Secos&Molhados e um
musical de minha autoria e de Paulinho Mendonça, chamado Os Sete Pecados
Capitais.
2112. Boa sorte para você e o seu novo trabalho... e que venham outros e
outros. Estamos sedentos por músicas de qualidades.
Gerson Conrad. Grato, pela oportunidade ao Blog 2112.
2112. Uma última pergunta: existe a possibilidade dos Secos & Molhados se
reunirem novamente?
Gerson
Conrad. Não! Isso é utopia.
2112. O microfone
é seu...
Gerson Conrad. (rsrsrs) Lançamento oficial DECK DISC / CD
Lago Azul - Gerson Conrad
dia 04/05/18 disponível em mídia digital dia 15/05/18 CD físico nas principais lojas em território nacional.
dia 04/05/18 disponível em mídia digital dia 15/05/18 CD físico nas principais lojas em território nacional.
Obs.: As fotos usadas nesta postagem foram retiradas do facebook do Gérson. O único fotógrafo identificado foi Elias Nogueira. Quem tiver maiores informações entre em contato com o meu e-mail: fúria2112@gmail.com.
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