Pepe Bueno é um dos membros da banda Tomada mas que nesta entrevista
fala de sua promissora carreira solo. O músico acabou de lançar seu segundo
álbum composto apenas de material autoral o que dá a ele mais liberdade para arriscar.
Portanto, saia da sua mesmice, amplie sua visão musical respirando novas
paisagens sonoras!!
2112. Você está lançando seu segundo álbum
"Eu, o Estranho". Mas antes de aprofundar no assunto quero saber o
porquê desse título? Achei super bacana e condizente com os tempos
atuais...
Pepe. Conversar que sou estranho, pra mim é super
normal. Não vivo e não sou um cara que se encaixe nos padrões atuais, o que
para mim é o máximo isso. O disco foi lançado digitalmente em 2016, tem muito a
ver com as esquisitices que estamos vivenciando atualmente.
2112. É difícil ser normal no mundo de hoje ou
o mundo é normal e nós é que somos os estranhos?
Pepe. Eu prefiro viver minhas estranhezas sem pensar
no que os outros estão esperando de mim, estamos numa época em que aproveitamos
pouco o que a terra e a vida nos proporciona e o tempo todo estamos procurando
nos afirmar e fazermos julgamento uns dos outros, mas essa não é a minha vibe.
Quero produzir, ser autêntico e continuar tocando.
2112. Em conversa com amigos sempre digo que
não sou um roqueiro normal (detesto rótulos!) pois também gosto de outros tipos
de músicas como jazz, prog, blues, clássicos... Eu gosto de me definir apenas
como um colecionador de sons. E você ouve todo tipo de música?
Pepe. Ouço música quase o dia todo, o mundo sem a
música seria um grande erro, né? Vou de Stax a Clube da Esquina posso ouvir
Sabbath e Macy Gray no mesmo dia. A galera quando vem ouvir som aqui em casa
tem a liberdade pra escolher qualquer coisa no Spotyfy e vinils.
2112. Vejo o radicalismo como uma das armas
mais letais que existe justamente por dividir o cenário o que deixa tudo
parecido como um campo de guerra. Porque uma banda punk não pode dividir o
mesmo espaço com uma banda prog. Ideologias particulares não tornou o mundo
melhor...
Pepe. Essas diferenças normalmente trazem conflitos
para o artista, mas ao mesmo tempo pode trazer uma originalidade genial ao som.
Não sou radical e nem curto esses dias de extremismo. A abertura musical
deveria ser a chave do sucesso, não ao cadeado do passado, principalmente nos
dias de hoje, onde temos a possibilidade de ouvir tudo o que quisermos.
2112. Vamos falar um pouco sobre o novo álbum.
Como ele foi planejado já que você também toca na banda Tomada e deve ter sido
um tanto trabalhoso dividir o tempo, não é?
Pepe. Estou trabalhando atualmente na divulgação do
meus singles. “Os Estranhos” surgiram
depois do lançamento do segundo disco intitulado “Eu, o estranho” em 2016, no
Sesc Belenzinho, os shows passaram pelo Sesc Rio Preto, Sesc Belenzinho,
Festival Feira da Pompeia e outras casas de shows. Com ele surgiu a banda e o
lançamento inédito dos singles: Xerox Plastificado e Pelo Mar. A banda conta
com Roy Carlini (Tutti Frutti), Gabriel Martini (Guilherme Arantes), Xande
Saraiva (Baranga), Pi Malandrino (Balls) e Rodrigo Hid (Patrulha do Espaço e
Pedra) e teve as participações ainda do bluesman Chico Summan e Tata Martinelli
nas vozes e meu camarada Jea nos violões. Pra mim estar tocando e produzindo é
o maior barato, dá um pouco de trabalho sim, mas ficar ao lado da música é uma
recompensa grande.
2112. George Harrison certa afirmou que All
Things Must Pass lançado em 1970 como álbum triplo foi consequência de suas
músicas não serem aceitas por Lennon & McCartney. O mesmo ocorreu com você
ou as composições de seus álbuns solos são tão pessoais que não se ajustam no
repertório do Tomada.
Pepe. Cara, o trabalho de uma banda é diferente
porque lá é onde a criação coletiva precisa acontecer, tanto de arranjo quanto
de composições. Logico eu tenho liberdade maior quando estou trabalhando em
meus projetos, posso arriscar mais, saca?
2112. Ao contrário de “Nariz de Porco não é
Tomada” seu primeiro álbum solo que teve participação de parceiros o novo
trabalho traz apenas composições suas. Vejo que quando um artista compõem só
ele arrisca mais e o trabalho final tem mais a sua cara, a sua personalidade...
Vejo isso ouvindo os trabalhos solos do Arnaldo e os gravados com os Mutantes e
a Patrulha do Espaço. O que você pensa a respeito disso?
Pepe. Concordo, o desprendimento natural é super
interessante, mas muitas vezes “estranho” aos ouvidos das pessoas, o que tem um
charme maravilhoso e autêntico, é nisso que me identifico.
2112. O que este álbum na sua opinião se difere do
primeiro?
Pepe. São álbuns bem diferentes, em uma década
acontece muitas coisas. O Nariz de Porco, foi uma festa, muita gente dentro de
estúdio, aprendi muito com a produção deste disco, é um disco de rock festeiro,
tem umas pitadas de rock pesado e caipira, mas é um disco pra cima. Já, O
estranho, é um disco mais experimental, eu queria explorar esse lado mais
esquisito, trabalhar uns timbres e músicas experimentais, coisas que eu não
tinha feito nem com o Tomada, nem no Nariz de Porco.
2112. Você poderia falar um pouco sobre as
gravações? O que foi mais complicado na hora de gravar?
Pepe. A maior parte do disco foi gravado no Area 13
em Rio Preto, sob o comando de Alberto Sabella e Junior Muelas. Quando voltei
pra Sampa, senti falta de umas guitarras e outros detalhes, dai fui para o
estúdio do meu amigo Edu Gomes, o cakewalking. É um disco que surgiu no
estúdio, nao estava arranjado antes, não teve ensaio, saca. Ele foi nascendo,
esse é um grande segredo do disco, assim que gravamos as cozinhas, foi surgindo
as guitarras e tb as teclas. Foi uma experiência bem maluca, rs.
2112. Neste álbum além de compor, tocar seu
Rickenbacker e cantar você não pensou em algum momento produzir
também?
Pepe O disco foi produzido, mixado e arranjado por
mim, junto ao Junior e o Alberto.
2112. Além de Juninho Muellas (bateria) e Alberto
Sabella (teclas e cordas) que gravaram suas participações em Rio Preto quem
mais participou do álbum?
Pepe. Eu usei a base da banda A Estação da Luz,
banda que eu curto muito lá de Rio Preto, da qual o Muelas e o Alberto fazem
parte, dai aproveitei para chamar Renata Ortunho (cantora deles) e Fish, para
me ajudarem nas vozes e quando eu voltei pra Sampa, chamei Xande (Baranga) pra
colocar uns slides em “O estranho”, além de Debbie Camiotto(que compôs e cantou
comigo nessa faixa), mais dois guitarristas da pesada, Edu Gomes (irmandade do
blues) e Pi Malandrino (Balls) na faixa Pote de Mel e meu amigo compositor e
cantor Denny Caldeira com uma voz em “Tudo o que eu queria”, Nesse vídeo aqui
pode sacar como foi o clima do disco: https://www.youtube.com/watch?v=tJ2kJnnAucs
2112. Das oito faixas gravadas qual você
destacaria como a sua preferida?
Pepe. Pergunta difícil né. Eu gosto de Se Abra e Bem
a Vista, que funcionou muito bem ao vivo também, mas eu tenho um carinho
especial pelo disco como um todo
2112. Você vai gravar algum vídeo
promocional?
Pepe. Na minha página da Vevo no Youtube, tem
webclipes de todas as faixas: https://www.youtube.com/channel/UCY3KlhMpFTh3jaIhqhfsigg. E os meus novos lançamentos terão clipes, “Pelo Mar”, já tá no ar:
https://www.youtube.com/watch?v=xi4DquPrstU
2112. Pretender fazer shows solos ou algo
parecido?
Pepe. Fiz uns shows bem legais com Os Estranhos, nos
Sescs Belenzinho e Rio Preto, além de tocar na Feira da Pompeia e devem rolar
mais alguns shows, é muito legal, pq é um show dividido com a galera da banda,
cada um canta músicas das carreiras solos, um lance na pegada do Ringo Star e
sua banda rsrsrs.
2112. Vamos falar um pouco sobre o seu primeiro
álbum o Nariz de Porco não é Tomada? Como surgiu a idéia de
gravá-lo?
Pepe. Em 2007, eu estava
com a necessidade de aprender mais dentro do estúdio, o Tomada estava tocando
direto e estávamos arranjando o disco Ö Inevitavel”, mas sem previsão de entrar
em estúdio, quando tive uma oportunidade de entrar em estúdio para gravar o Nariz
de Porco, não hesitei, tinha umas faixas na manga e uma galera que queria tocar
junto, foram gravações bem divertidas. Ele acaba de ser lançado digitalmente
nas plataformas digitais.
2112. É complicado gravar um álbum solo quando se
participa de uma banda? Dá vontade de chamar os companheiros ou aquele momento
é como fazer amor com sua parceira?
Pepe. É uma experiência legal gravar algo seu, você
acaba se expondo mais. Diferente de estar numa banda, que é uma experiência
coletiva, mesmo muitas vezes mais direcionadas por um ou por outro.
2112. O que você ouve quando está em casa e
quais as bandas que o influenciam?
Pepe. Depende do dia, nos dias de fúria vou pro rock
pauleira do MC5, e nos dias de calmaria fico com o Sá, Rodrix e Guarabyra e
Fiona Apple.
2112. O que você tem visto de bacana no atual
cenário? Tenho visto um aumento significativo de bandas autorais o que dá
esperanças de dias melhores não é?
Pepe. O que tenho ouvido de novo aqui no Brasil é um
cara chamado André Prando e também o disco novo do meu amigo Chico Suman. Das
gringas gosto do The Temperance Movement e The Royal Blood. Hoje em dia é mais
fácil ouvir novidades, bandas e sons de todos os lugares, isso é muito legal,
sabe, esse leque enorme de música que temos a possibilidade de explorar,
conhecer e curtir.
2112. Na sua opinião o que está faltando para
a cena ficar melhor? Conscientização do público que vai aos shows, do próprio
músico, mais lugares para tocar...
Pepe. Profissionalizar e criar um circuito de shows
para nascer uma nova cena, renovar é preciso, criar é fundamental, mas rodar o
Brasil tocando é essencial para essa mudança. Atualmente o desejo dos artistas
é tocar nos Sescs, onde somos bem tratados, o público também tem a chance de
ver um show completo e bonito dos artistas.
2112. O microfone é seu...
Pepe: Obrigado
demais ao 2112, fiquem ligados nos meus links:
Esse ano ainda estarei lançando um EP com Denny Caldeira, tem um
projeto de blues nacional com Sergio Duarte e quem sabe consiga terminar de
gravar um disco completo com Os Estranhos.
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