Uma banda que se tornou uma lenda com álbum que nunca foi lançado oficialmente e uma história nunca antes revelada. Depois de mais de quarenta anos desde a gravação de Nascimento tive a honra de entrevistar o único remanescente vivo da banda. Uma história reveladora...
2112. Temos testemunhado o relançamento de vários álbuns dos anos 60/70 o que comprova a qualidade do material independente de estarem ou não na mídia, não é?
Chico Lobo. O nosso álbum Nascimento, sequer foi lançado oficialmente. É uma história muito inusitada que ainda requer virar filme de tão estranha.
2112. Não entendo o "descaso" das gravadoras em não relançar determinados álbuns já que muitos deles são disputados a tapas nos leilões e sebos não apenas por colecionadores brasileiros mas também por estrangeiros.
Chico Lobo. As gravadoras comerciais não tem interesse em arte ou cultura. A
única coisa que interessa a estas empresas comerciais são os lucros que seus lançamentos
podem produzir. Este é o norte que orienta essas gravadoras, tanto no Brasil
quanto em todo o mundo capitalista. O talento, a criatividade, a profundidade
artística é o que menos importa para esses empresários da arte. Exatamente por
esse motivo é que sempre se viu na mídia florescer a mediocridade, a falta de
criatividade, a mesmice, a vulgaridade no cenário musical.
Mas, não foram esses motivos que impediram na época o lançamento do nosso
disco, como eu vou te contar no decorrer da nossa conversa.
2112. Atualmente você o único membro vivo da banda. Existe projetos para relançar o único álbum da banda?
Chico Lobo. Já foi relançado de forma pirata tanto a versão original em vinil quanto em CD. Os lojistas da galeria do Rock podem te informar com mais precisão.
2112. Você ao menos recebeu alguma coisa por isso?
Chico Lobo. Nada. Nem eu, nem ninguém enquanto estavam vivos. Nem da gravadora Chantecler, pois o disco sequer foi lançado e nem das reproduções piratas. Regravaram por causa da demanda do sucesso na internet, e também por saberem que o disco original não é sequer oficial. Pra você ter uma idéia, nem as músicas estão registradas. Pode dar uma busca e você vai constatar.
2112. Chico, você poderia contar como surgiu a banda pois praticamente não existe nenhuma informação sobre a história de vocês. E as poucas existentes não tem veracidade comprovada...
Chico Lobo. A banda foi formada em 1973 por minha irmã de criação Ana Maria Ferraz Guedes e seu companheiro Aderson Bemvindo Pereira. A banda estava sediada num dos apartamentos do prédio de Ana, alameda Eduardo Prado 276 apto. 1 nos campos Elíseos, prédio onde meus país moravam como zeladores. Antes da banda, Ana ainda solteira tentou montar uma produtora de cinema experimental no mesmo apto. chamada IAVARUM CINE PRODUÇÕES, mas não deu certo devido a repressão que havia naqueles tempos de ditadura militar. Ana era muito talentosa não só na música, mas também no desenho. Tinha um traço muito preciso e criativo. Sua primeira fase de vida (infância e adolescência) ela viveu com seus avós maternos Aarão Jeferson Ferraz e Guiomar Seabra Ferraz. O avô era major do exército e dono de grande fortuna. Ana foi criada com todas as pompas e regalias que se possa imaginar para a época. Teve cursos de música, pintura e outros que eu não saberia dizer. Ana apesar de tudo nunca pisou numa universidade, nesse sentido ela era tão autodidata quanto rebelde para se submeter a vestibulares e exames. Ana tinha um gênio muito para aqueles tempos. Pra ela e seus admiradores ninguém era tão competente quanto ela e quem estivesse a serviço dela na banda e na vida. Benvindo era o oposto. Muito humilde, mas muito entusiasmado e criativo. Foi ele quem convenceu Ana a montar uma banda que revolucionasse a música brasileira naquela década. Benvindo era de Porto Velho, e na época já tinha tido trabalhos com TOM ZE e outros artistas, entre eles Lisoel do grupo Língua de Trapo em sua terra natal. Foi Benvindo que conseguiu os primeiros músicos da banda: JEAN MARK na guitarra e GIL na bateria, pois eles vieram da Bahia e conviviam com Tom Zé. A banda até então não tinha baixista. Mas foi também Benvindo que trouxe PEDRO AUGUSTO BALDANZA para a banda pra fazer (avulso na gravação do disco) o baixo no Perfume. Aliás, a banda nasceu com outro nome: VITORIA REGIA, por ideia do Benvindo, e assim ela ensaiou em 1973. Em 1974 eu entrei pra fazer backs vocais junto com Marcinha (mulher do Pedro), mas logo eu comecei tocar violão de 12 cordas na banda.
2112. Antes do Perfume Azul do Sol você já havia participado de outras bandas? Como foi o seu começo na música?
Chico Lobo. Sim. Antes do Perfume eu toquei em outras bandas Phanton Ship e Corça Branca com outros colegas de forma amadora.
2112. E que tipo de som essas banda faziam?
Chico Lobo. A banda Corsa Branca fazia uma mistura de rock com algo bem próximo do que o Perfume fez. Nada muito definido... era uma banda alternativa, experimental, amadora que servia mais de exercício na arte. Phanton Ship (Navio Fantasma) fazia cover de Santana, e eu solava guitarra. Era uma banda enorme com 11 componentes. Tudo muito amador... era uma banda de garagem formada por amigos que gostavam de música. Ambas estavam nos campos Elíseos e Bom Retiro em São Paulo.
2112. O nome Perfume Azul do Sol soa místico e lisérgico... Quem teve a ideia de batizar a banda com esse nome?
Chico Lobo. Ana descontente com o nome de Vitória Régia "bateu o pé" para Perfume Azul do Sol. Devo lembrar que Ana e Bemvindo frequentavam uma sociedade esotérica chamada EUBIOSE. Por isso esse nome que remonta elementos esotéricos.
2112. Anos mais tarde o grande Tim Maia acabou por usar o nome "Vitória Régia" para rebatizar a sua banda.
Chico Lobo. Na verdade, a banda do Tim Maia já se chamava Vitória Régia, antes da nossa. Nós é que não sabíamos do nome da banda do Tim Maia. Sem saber desse fato, Ana coincidentemente mudou o nome da banda para Perfume Azul do Sol. Só anos depois é que nós soubemos do nome da banda do Tim.
2112. O álbum traz uma rica trama musical sem abrir mão dos sons regionais brasileiros. Naquela época o que vocês ouviam?
Chico Lobo. Bemvindo (o compositor) ouvia muita música regional, mas conhecia os clássicos. Ana (a letrista) conhecia muito de música clássica, por Isso ela sempre tinha nas participações de composições um viés clássico e erudito. Podemos perceber isso na música A CEIA com pinceladas de coro madrigal e flauta medieval. Ana tocava piano razoavelmente bem as suas melodias... mas nunca se preocupou em tirar músicas de outros autores. Mesmo quando estudava piano, eu já a via compondo peças de estética barroca que ela tanto gostava.
2112. Nas resenhas que li sobre o álbum muitos não conseguem classificar o som da banda. Uns alegam ser uma mistura de folk com tempero psicodélico, outros uma bem articulada mistura de MPB com elementos prog e por aí vai. Como você define o som da banda?
Chico Lobo. Eu defino como música alkímica. Uma forte temperada de música regional com sabor da música progressiva. Aliás, nem vou chamar de rock, mas era algo que os amigos roqueiros da época gostaram muito. Outros sequer conseguiram assimilar direito. Devo lembrar que na mesma época surgiram bandas com propostas musicais muito interessadas no movimento antropofágico da década de 20. Nossa banda amava de igual forma Villa Lobos e o forró do Nordeste, o barroco e o swing, mas não desprezavam uma guitarra, baixo e bateria de rock. Quanto o projeto de profissionalização foi algo não muito planejado por nós. Tanto é, que agora vem um detalhe importante da história. Em janeiro de 1974 nos conhecemos o produtor do Fantástico da Globo... Moracy do Val através do Pedro. Moracy tinha um escritório de produção artística (não tenho notícias de onde era) e lá ele produzia algumas bandas para lançamento. Pois bem. Pintou na cabeça de Moracy em lançar uma série de programas na Globo com o nome de Movimento Alkimia, um programa musical para TV assim como a Jovem Guarda, Fino da Bossa... o qual recebemos o convite dele para encabeçar esse programa junto com outras bandas do mesmo estilo que ele estava encubando em sua produtora, ... entre elas o Som Nosso de Cada Dia e a lendária Secos & Molhados Era um novo gênero musical que Moracy queria lancar na Globo. Foi através desse pré projeto que nos foi dada a oportunidade de gravar um vinil no selo Chantecler. De janeiro de 74 até outubro ensaiamos para a gravação. Na banda eu era o "patinho feio". Era eu quem carregava as caixas de som, regulava, preparava tudo para os ensaios e depois, era eu quem guardava tudo e limpava o local. Nunca tive muita liberdade para criar muita coisa na banda, mesmo porque, eu tinha simultaneamente uma outra banda de composição chamada Corsa Branca, que levava mais ou menos o mesmo estilo por influência e amizade entre ambas as bandas. Com muito apoio dos demais colegas da banda eu consegui colocar no repertório uma música minha: Deusa Sombria, e com os arranjos de piano de Ana. Essa minha música tinha sido escrita originalmente para soar meio que heavy metal, como Black Sabbath. Mas fiquei satisfeito em vê-la interpretada por nós ao piano.
2112. Imagino o quão rico não deveria ser os ensaios e os encontros entre vocês. Quantas trocas de informações não deveria rolar, não é?
Chico Lobo. Sim, os músicos eram ótimos e criativos. Cada um trouxe uma bagagem diferente... Poderia ser diferente se não houvesse o centralismo de decisões por parte de Ana, mas a banda era "dela", embora Benvindo era o que mais compunha.
2112. Explica melhor o que era o Movimento Alkimia? Como funcionava? Qual era o foco maior?
Chico Lobo. Movimento Alkimia, nome criado pela Ana, com conceitos dela e do Benvindo, tinha tudo a ver filosoficamente com temas esotéricos. Músicas com letras que ressaltavam as questões da chamada ERA DE AQUARIUS, e que davam um enfoque mais astral. Exemplo básico disso é a música A Ceia, musicalmente colava na sonoridade da Tropicália, misturando instrumentos acústicos com instrumentos elétricos e acima de tudo a mescla entre o nosso regional brasileiro com a música erudita, exemplo disso vemos nos arranjos de DEUSA SOMBRIA (de minha autoria) que a Ana interpretou ao piano. A própria música Nascimento já é um chamado ao Movimento Alkimia. Vide a letra. Ana e Bemvindo frequentavam a Sociedade Brasileira de Eubiose (em Santo André), uma entidade esotérica que dava as bases filosóficas que Ana e Benvindo aplicavam no gênero de música do Perfume. Aliás, o nome Perfume Azul do Sol também remete a essas questões esotéricas. Essa ideia de se criar o "movimento" foi passada para o Moracy do Val, o qual achou interessante em se produzir uma série de programas de TV encabeçada por nós, pelos Secos e Molhados que levavam mais ou menos a mesma linha e pelo Som Nosso de Cada Dia, que também não estava longe da nossa proposta. Infelizmente mesmo, não deu certo porque Moracy se desiludiu com o Perfume que nunca se predispunha em tocar nas apresentações preliminares antes de se criar o programa propriamente dito. No fundo, Moracy tinha razão, no lugar dele hoje eu (como produtor) também dispensaria uma banda que tivesse alguém com a prepotência de sua cantora maior que o talento.
2112. Na minha opinião os anos 70 foram a conclusão do desbunde dos anos 60 com o surgimento da Jovem Guarda, do Tropicalismo e dos festivais. Abriu-se uma porta por onde passou bandas importantíssimas que transformou para sempre o cenário tupiniquim. Como foi vivenciar esses novos tempos e o que mais te marcou?
Chico Lobo. A jovem guarda era um fenômeno musical dos anos 60 fabricado e financiado pela ditadura. A Tropicália era do fim dos anos 60 e que contestava a cultura vigente. Um grande nome nesse tempo é de Willy Verdaguer (baixista dos Secos & Molhados). Sem Willy nossa música brasileira não seria o que é hoje. E o movimento ALKIMIA era pra dominar a segunda metade da década de 70 em diante. Mas foi abortado pela saída do perfume do projeto. Foi abortado porque Ana insistia em lançar o disco com uma pompa além da lógica, "no Teatro Municipal" (como ela dizia querer). Ana se recusava tocar em palcos pequenos. Por conta disso, NUNCA FIZEMOS NENHUM SHOW, NUNCA TOCAMOS EM RADIOS e TVs, NUNCA saímos no jornal ou revistas, nunca demos uma entrevista. Moracy ficou desacreditado na possibilidade de trabalhar conosco, porque Ana achava que nunca estava pronta para os palcos e mídia, além de querer lançar o disco como uma ópera no municipal. E Moracy resolveu descartar o projeto de produção conosco. Cancelou nosso contrato (com razão), também a prensagem do disco e sobraram apenas 300 cópias promocionais que foram dadas de presente aos lojistas da cidade como refugo de fábrica. A ampla maioria das cópias que você vê por ai são piratas.
2112. Que álbuns brasileiros desse período você classificaria como sendo revolucionários?
Chico Lobo. Terreno Baldio, Som Nosso de Cada Dia, Secos & Molhados, Mutantes, O Terço, Ave Sangria, Recordando Vale das Maçãs... Todos estes fariam parte do movimento da nova música brasileira que frutificou também com o projeto Lira Paulista com Arrigo, Itamar, Rumo, Premê, Língua na década de 80.
2112. Muitas foram as bandas, músicos, atores, escritores, produtores e compositores que tiveram problemas com a ditadura que na época ditava o que podia e o que não podia fazer" ou "pensar". Vocês chegaram a ter algum tipo de problemas com a censura?
Chico Lobo. Nunca tivemos problemas por dois motivos. Primeiro é que a banda sequer nasceu de fato para a mídia. Quanto ao nome do disco NASCIMENTO, um ótimo disco, mas deveria ter sido chamado de "aborto", pois foi morto antes de nascer. Segundo é que a banda tinha na sua ideologia não se misturar com a política dos poderes terrenos, senão a cultura esotérica e a religiosidade da época. Por outro lado, a pouco tempo atrás eu recebi a visita de um tal de Ricardo (de Curitiba) que me disse que tinha uma produtora cinematográfica em Nova York e que trabalhava com cinema publicitário. Ele marcou uma entrevista comigo e veio até meu estúdio com sua equipe e equipamentos de cinema e fez comigo uma longa entrevista sobre a banda e o disco. No final da entrevista eu perguntei a ele da finalidade da entrevista, e ele me disse que teria a ideia de fazer um filme longa metragem dramatizado com atores para cinema, cujo tema era contar a inusitada história de uma banda que sequer nasceu e depois de 40 anos de esquecimento ressurge das cinzas com sucesso na internet. Segundo ele me disse, era um projeto a longo prazo, pois deveria vender a ideia a patrocinadores e outros parceiros cinematográficos para concretizar o filme. Sou formado em cinema, e sei que esses projetos de produção são super demorados mesmo. Desde então ele sumiu e não me deu mais contato. Pelo o que eu entendi, ele conheceu o Perfume na internet em Nova York e se interessou pelo fato inusitado da história que ele já vinha levantando nas suas pesquisas.
2112. Vários shows eram interrompidos, cancelados, músicos presos para serem interrogados, torturados e até deportados do país, equipamentos confiscados, letras censuradas etc. Era difícil manter a sanidade em meio a todo esse caos político e social?
Chico Lobo. Com certeza para qualquer trabalho artístico que alcançasse relevância, menos para nós que éramos ilustres desconhecidos.
2112. O nome "Nascimento" era o título original do álbum ou foi quem o copiou que o batizou com esse nome?
Chico Lobo. Nascimento era o nome original do álbum e também da música carro chefe que deveria ser divulgada na mídia. A capa do disco foi desenhada por um amigo da banda, o artista plástico Lair Miranda que fez o design de presente para nós por ser fã da banda desde os ensaios que frequentava.
2112. A gravadora detentora dos fonogramas originais nunca entrou em contato com vocês para tentar reverter o caso e o lançar legalmente no mercado?
Chico Lobo. Claro que não. Esse disco sequer fez parte do catálogo da Chantecler. Legalmente esse disco nunca existiu. Foi apenas uma experiência artística que sequer vingou além das 300 cópias prensadas como pré-lançamento (que nem existiu na época). A gravadora Chantecler foi vendida e revendida a outras empresas estrangeiras que sequer teve notícia desse disco que por pouco não foi derretido suas raras cópias pra virar matéria prima. Aliás, foi uma sorte a Chantecler ter dado de presente de Natal essas cópias aos lojistas de disco, senão, jamais o mundo conheceria hoje essa obra de arte. Muita sorte.
2112. Você ao menos tem idéia de quem bancou o lançamento do álbum pirata em ambos os formatos?
Chico Lobo. Eu não faço nem ideia. Eu apenas parabenizo quem teve a iniciativa que ao menos fez perdurar essa obra para futuras gerações. Mas, aceito de bom coração quem o fez me presentear com um exemplar de cada formato. Mas quem me disse que haviam feito cópias foi meu amigo Luiz Calanca da loja BARATOS AFINS da Galeria do Rock.
2112. Essa história me fez lembrar dos dois álbuns que a banda A Chave teve lançados nessas mesmas condições. Bom para os fãs, mas prejuízo para os músicos...
Chico. Sim, isso acontece muito. As facilidades tecnológicas de hoje favorecem muitos casos de pirataria. Eu particularmente não ligo muito pra isso. Veja o caso do cantor Ventania que dá autógrafos em discos piratas, mas agradece quem o ajuda na divulgação de seu trabalho. O músico de talento vive de shows. Quem mais ganha com discos oficiais são as gravadoras. Para o artista fica tão pouco diante do arrecadado que as vezes nem compensa quando a obra teve pouca vendagem. A pirataria compensa na divulgação e na popularidade que dá ao artista pra ele fazer show e ganhar de verdade.
2112. Comercialmente falando você se sente lesado ou isso hoje não importa?
Chico Lobo. Pra mim, não. Eu não vivo disso. Sou produtor e hoje eu boto os outros nos palcos. Faço vídeos, trabalho com artistas de renome e talento. Eu não vivo de minhas antigas composições. Para mim o que fiz no passado foi uma escola pra ajudar quem produzo hoje.
2112. Certa vez um produtor brasileiro mencionou que era comum nos anos 60/70 gravadoras apagarem fitas para serem usadas novamente em outras gravações. Imagine quanto material bacana e importante não se perdeu nessas ações. Você sabe dizer se a master original do Perfume Azul do Sol ainda existe?
Chico Lobo. Apesar do trabalho do Perfume ser reconhecido hoje como um clássico do movimento ALKIMIA dos anos 70, naquela época, mas situações que a banda terminou (antes de estreiar), com toda certeza acredito que nem cinzas das matrizes deve existir mais, ou com certeza o estúdio deve ter gravado alguma brega popularesca por cima. Aliás o disco foi gravado no Estúdio Reunidos S.A. o qual foi apenas alugado para fazer a gravação, e nada tem a ver com a gravadora Chantecler.
2112. Como você soube da existência dos bootlegs?
Chico Lobo. Eu trabalho com produção de conteúdo artístico, videografico, e gosto muito de revirar a internet a procura de coisas impossíveis para ver se acho algo inusitado ou perdido. Depois da chegada da internet, passei a procurar pessoas amigas do passado. Esse tempo todo já achei coisas que eu nem podia imaginar. Entre pessoas e fatos, encontrei notícias de Edgar Ferreira, grande amigo meu já falecido (compositor nordestino) gravado por Paralamas do Sucesso e Caetano Velloso entre muitos outros. Foi nesse embalo que coloquei na busca o nome de todas as bandas que eu toquei para ver se alguém escreveu algo histórico sobre a biografia delas, foi quando achei no YouTube várias músicas do Perfume postadas por diferentes pessoas. Isso a uns 6 anos atrás. Achei também vários blogs contando retalhos da nossa história somente com dados escritos na contra capa do disco ou pareceres da crítica sobre as músicas. Isso antes de piratearem o disco original que alguém deve ter encontrado em algum sebo. Óbvio que meu nome não aparece nesses relatos, assim como não aparece também o nome nem as fotos de todos os demais músicos que fizeram parte da banda. Por exemplo: Alguém sabe me dizer quem eram os verdadeiros músicos dos Secos & Molhados? Eu sei. São todos meus amigos até hoje. Na época era comum se esconder a identidade de quem realmente tocava nas bandas e evidenciar apenas os artistas da linha de frente para marcar publicitariamente na mídia.
2112. Vocês chegaram a fazer shows?
Chico Lobo. Nunca fizemos shows, nunca tocamos em rádio, nunca tiramos uma foto com todos juntos, nunca demos entrevistas.
2112. Então posso me considerar um privilegiado por estar contando em primeira mão a história detalhada da banda.
Chico Lobo. Muita coisa que contei aqui, eu não contei pra ninguém ainda, mas ainda tem muito da convivência com o pessoal, nossos papos filosóficos e alguns detalhes que não se publicam. A banda tinha um sonho de ser liderança num gênero que estava despontando na época. Nós tínhamos consciência que o que estávamos fazendo era novo e iria não só revolucionar a música, mas também a "consciência cósmica" daquela geração. Mas, não foi em vão. Outras bandas vieram e fizeram algo paralelo, mas não igual. Não é a toa que passado mais de 40 anos, a sua música ressurge mais viva do que nunca, num passe de mágica após virar uma Fênix nas linguagens digitais da internet, criando legiões de fãs virtuais aqui no Brasil e em muitos países do mundo. Eu acho tudo isso uma homenagem aos que se foram e deixaram esse legado a futuras gerações.
2112. Naquela época era muito difícil para uma banda iniciante conseguir contrato com alguma gravadora. Muito das vezes era lançado compactos que serviam de testes para a gravação de um possível futuro álbum. Como surgiu a oportunidade para vocês gravarem?
Chico Lobo. Pois é foi tudo facilitado para nós. Gravadora, contrato na Globo que nunca se cumpriu, no entanto jogamos tudo para o alto, graças ao porte da produção que Ana desejava. A banda não tinha problemas com dinheiro. A Ana era dona da banda, do equipamento e do prédio. Ela trouxe todos os componentes pra morar no prédio, ainda bancava mercado para todos. O trabalho da turma era tocar pra ela cantar as músicas do Bemvindo. Ana também tinha seu próprio estilista de roupas e figurinos, o grande Francisco Kokoth, ator, diretor, figurinista, maquiador e autor o qual na época também morava num dos apartamentos do prédio de Ana.
2112. Toda gravadora sobrevive do retorno das vendas para se manter. Rolou algum tipo de pressão por parte da gravadora no contrato assinados por vocês?
Chico Lobo. Nunca vendemos um só disco. Os 300 exemplares originais que estão nos sebos e colecionadores por vai foram distribuídos de brinde naquele Natal de 74 para os lojistas do centro. O resto que se vê no mercado são todos piratas.
2112. Perguntei isso levando em conta que apesar do álbum ser maravilhoso não havia nenhuma música com cara de "hit" para tocar nas rádios. Você acha que isso de alguma maneira pesou para vocês não terem tido a chance de gravar um segundo álbum por exemplo?
Chico Lobo. Não... A história como se mostra é outra. Houve uma banda de apartamento que virou banda de estúdio que morreu antes do lançamento. Aliás, depois que Moracy rompeu com a gente, ele abortou o projeto da TV e foi cuidar exclusivamente dos Secos & Molhados. Na nossa banda foi cada um pro seu lado. O Pedro foi pro Som Nosso de Cada Dia. O Jean e o Gil voltaram pra Bahia. A Ana e o Benvindo se separaram. Eu fui montar outra banda, a Pedra do Sol e depois fui para a banda Voz do Brasil. Nós do Perfume ficamos mais de 40 anos sem saber um do outro. Derrepente alguém copiou o disco na internet e de alguns anos para cá o disco NASCIMENTO está fazendo sucesso nas redes como uma "fenix renascida"
2112. Sobre o Pedro tive a honra de entrevistá-lo antes da sua morte e ele me informou que o Som Nosso de Cada Dia existia desde 1971. Ele tocava em ambas as bandas ao mesmo tempo? Pergunto isso pois o Snegs foi gravado e lançado praticante na mesma época do Perfume Azul do Sol, certo?
Chico Lobo. Exatamente. Pedro Baldanza, Manito e Pedrinho batera já vinham em laboratório desde 71. Pedro Baldanza não era músico efetivo da banda. Ele chegou junto para gravar e se preciso tocar nos shows. Mas ele e Marcinha chegaram a morar no apto 4 do prédio da Ana enquanto durou os ensaios e gravação. No dia que Moracy dispensou o Perfume da produção, Pedro e Marcinha na mesma hora foram embora (não sei pra onde). Nossa, tenho muita saudade do Pedrão... era um grande músico... aliás, todos do Som Nosso de Cada Dia. Na verdade, enquanto Pedrão ensaiava conosco ele gravava com sua banda (Som Nosso). Muitos anos depois o Manito se aproximou de minha outra banda Voz do Brasil e fez umas participações conosco.
2112. Sabe me dizer se o Pedro levou algum material composto em pareceria com vocês para o repertório do Som Nosso?
Chico Lobo. Não. Pode ser que ele tenha levado a ideia, o felling, mas Pedrão tinha seu próprio som.
2112. A sua morte deixou um vácuo. Foi uma grande perda. Ele foi um verdadeiro gentleman...
Chico Lobo. Sem dúvida. Pedrão foi um músico por excelência, criativo, ético, dedicado, sério. Um artista que deveria ter sido muito mais reconhecido em vida. Deixa exemplo, trabalhos e muita saudade.
2112. Você tem ideia da repercussão que o álbum causou na época?
Chico Lobo. Na época nem se falou nele... foi coisa de laboratório fechado. Sem lançamento, sem promoção, sem distribuição ou divulgação o disco passou em brancas nuvens naquela época. Passado mais de 40 anos, hoje tem gente do cinema me procurando pra fazer um filme dramatizado contanto a história de uma banda abortada que ressurge depois de 40 anos de poeira esquecida.
2112. Mas existe a possibilidade de ao menos fazer um documentário sobre a curta história da banda e a gravação do álbum? Seria um projeto interessante, não?
Chico Lobo. Pois é, eu acredito que sim. Mas quem poderia hoje contar sobre a banda? Sobrou eu... e a responsabilidade fica muito pesada. Eu trabalho com vídeo em arte e documentação, mas nada sobrou daquele tempo além do som do disco e sua capa. Não existe nenhum documento, nenhuma matéria de imprensa da época, nem fotos, nem filmes, nada. Fica muito difícil uma documentação mais aprofundada. Tenho a promessa do Ricardo fazer um filme dramatizado com atores, mas até hoje é apenas um projeto e uma promessa... e não sei se isso ainda pode vingar... nos dias de hoje as carências são outras. A não ser que alguém tope a tarefa.
2112. Na sua opinião as chances do grupo hoje seriam maiores do que naquela época?
Chico Lobo. Muito relativo. Pode ser que não, pode ser que sim. Hoje estaríamos diluídos no meio de milhares de outras bandas que tem nas redes, mas a inventividade utilizada nas composições faria sucesso na classe musical especializada, entre críticos e mestres em música.
2112. Sinto que uma parte da nova geração não leva a sério o quesito treino, ensaios ou mesmo sair do "só gosto disso" para pesquisar novos sons e assim criar novas sonoridades...
Chico Lobo. As novas tecnologias de produção deixaram tudo muito mastigado. Principalmente a partir do advento do MIDI, samplers e edições digitais, pouco se cria além de reeditar o que já foi criado. É como jogar "paciência" com um computador. É claro que ainda tem muita gente boa e nova no mercado, mas mesmo aqueles que ainda se pegam nos velhos métodos tradicionais, tem muita gente fazendo covers de velhas bandas ou reproduzindo antigas sonoridades que deram certo no mercado. Exemplo claro disso é a banda Greta Van Fleet que faz uma cola explícita do Led Zeppelin como muitas outras que hoje andam na cola dos velhos criadores do passado. Falta de criatividade? Não! É simplesmente a ordem do mercado que está mais preocupado em fazer lucro, como falei no começo de nossa conversa. E os artistas não fogem muito a essa regra de mercado.
2112. Mas voltando a banda... em estúdio vocês tinham total autonomia para gravar ou experimentar? Você poderia contar detalhes da gravação?
Chico Lobo. No estúdio foi tenso. Nem o coitado do técnico pode fazer em paz o trabalho dele. A Ana opinava em tudo, por isso que a mixagem ficou a desejar, embora as músicas fossem boas e o técnico também. Acho que faltou um pouco de liberdade para todos desenvolver mais sua parte. Daniel Salinas maestro, foi contratado por Moracy pra fazer os arranjos de metais. Ele fez o que a Ana deixou ele fazer. Tinha muitos outros arranjos em metais a serem gravados em várias músicas, mas Ana pediu para o técnico apagar essas trilhas para não parecer mais pop...
2112. Quanto tempo vocês gastaram para gravar o álbum?
Chico Lobo. 15 dias entre gravação e mixagem no Estúdio Reunidos que ficava no fim da avenida Rio Branco, esquina de casa.
2112. O material gravado está todo no álbum ou ficou alguma coisa de fora? Existem demos desse período?
Chico Lobo. Ficaram 2 músicas, as quais estou hoje remixando no meu estúdio, mas só vou soltar em tempo certo. Uma delas chamada Amazônia que tem uns versos que diz:
“Meu remo que afunda
Nas águas do rio
E as ondas leves leva
Minha alma para o mar.
Cachoeira, cabeleira
Leite de pedra.
Me prepare
para o tempo que virá.”
2112. Existe registros vídeográficos do Perfume Azul do Sol?
Chico Lobo. Nem foto, nem filme, nem recortes de jornais, nada. Aliás, por conta do projeto do Moracy, tudo deveria ficar em segredo pra hora certa de lançar a banda.
2112. Com o advento da internet fãs e bandas tem disponibilizado um rico acervo guardado por anos a fio em porões ou álbuns de época. Já pensou em fazer o mesmo com relação a banda para que nós fãs tenhamos acesso a esse raro material?
Chico Lobo. Tudo o que o Perfume tem são suas músicas, as quais estão todas disponibilizadas na internet. Mas, eu ficaria contente se visse alguma banda tocando essas músicas por aí.
2112. Que bandas ou músicos você gostaria de ouvir tocando as músicas da banda?
Chico Lobo. Sinceramente, eu não saberia dizer com precisão. Tem muita banda boa ainda no mercado (ou fora dele) que me agradaria ver tocando. Já vi um pessoal em vídeo tocando Perfume no YouTube e me agradou muito. Eu saberia apenas dizer nomes de músicos dos meus sonhos que eu juntaria pra fazer uma Jam pelo Perfume, entre eles: Debora Neves soprano lírica para cantar, Rodrigo Procknov violonista, Gerson Junior no saxofone, Willy Verdaguer dos Secos e Molhados, Edson Frank do Prisma, a Flautista Vera Pape, o guitarrista Iris Bosco, o baterista Gabriel Martini do Lomo Plateado, Magno Acime do Esquina Imaginária, a guitarrista Neila Abrahão, Aurio Escobar do Triângulo das Bermudas, Chico Pedro e Jara Arrais do Raices de América, Afonsinho Menino e Ademar Farinha do Mayombe, enfim... este seria o pessoal que realmente teria segurança em entregar esse repertório. Acho que com esse pessoal daria para regravar o disco inteiro com um time de primeira.
2112. O que levou vocês decretarem o fim da banda?
Chico Lobo. A banda acabou por decisão da Ana e Benvindo. Depois da perda dos contratos com Moracy e gravadora Chantecler, nós não tínhamos plano B. Talvez se Ana fosse um pouco mais flexível, mais o talento dela e do pessoal, hoje seríamos tão famosos quanto os Secos e Molhados, os quais estiveram conosco no começo de tudo no escritório do Moracy. Nós queríamos tocar, mostrar nossa música, mas Ana sempre achava que certos públicos não estavam "A sua altura" para ouví-la. Por isso, por mais convite que tivemos, nunca pudemos subir num palco.
2112. Mas a banda nunca tentou seguir sem ela?
Chico Lobo. Não. De maneira alguma. Ana era a dona da banda, dona das letras, "dona" do compositor, dona dos aparelhos, dona do estúdio, dona da ideia. Dona, dona, dona... e o disco "Nascimento" foi de fato um "aborto" da dona.
2112. Após o fim do Perfume Azul do Sol você ainda continuou trabalhando como músico ou abandonou de vez os palcos?
Chico Lobo. Sim. Montei a Pedra do Sol e A Voz do Brasil. Depois me dediquei ao cinema, rádio e hoje tenho uma produtora de vídeo.
2112. Você poderia falar um pouco mais sobre essa duas bandas?
Chico Lobo. Pedra do Sol era uma banda nascida no Bom Retiro por volta de 1975, formada por muitos amigos músicos daquele bairro, entre eles Sergio de Oliveira Malaka, José Luiz Adeve Cometa, José Pocai, Mario jackson, Oziel Gó, Elizete, eu e uma pá de outros amigos que conosco compunham músicas as quais nem mesmo nós saberíamos dizer que gênero que era. Um tipo de música brasileira com letras politicamente contundentes e uma pitada de tudo o que havia de brasilidade. Todos nós éramos muito jovens na época. Eu me lembro que essa banda participava muito de festivais musicais de escolas e éramos os "papa-taças"... tínhamos um vocal incrível em orfeon. Éramos pobres a ponto de não ter nem os próprios instrumentos, mas cantávamos e arranjávamos nossa música como ninguém, o que impressionava sobremaneira os jurados dos festivais. Voz do Brasil veio em meados da década de oitenta com o compositor Cometa, o guitarrista Edson Frank do grupo Prisma, Roberto Baldaconi no baixo, eu nos teclados, Branca de Neve na Bateria, Rita e Milange nos back vocais. Essa banda era mais madura, mais progressiva, mais quebradeira total, mais contundente... seguia um pouco a linha do Arrigo Barnabé, Frank Zappa. Passamos um ano ensaiando e gravando apenas quatro marcantes músicas. Depois eu sai da banda para tratar de outras atividades e a banda seguiu gravando mais com outro nome: Cozinha do Brasil.
2112. Essas bandas deixaram algum registro? Que tipo de som vocês faziam?
Chico Lobo. Sim, principalmente a Voz do Brasil que deixou várias gravações de estúdio, as quais vou subir com edição em vídeo clip nos próximos dias. As músicas Voz do Brasil, São Paulo By Loght, Manchetes e Ritms'and Blues.
2112. Em algum momento da história vocês pensaram retornar com o Perfume Azul do Sol para fazer alguns shows?
Chico Lobo. Nunca. Cada um foi pro seu lado. Eu tive contato com Bemvindo que se casou com uma amiga minha, gravou um single, voltou pra terra dele e por lá faleceu de cirrose hepática. Os demais membros simplesmente desapareceram. Foram tratar de suas vidas e suas carreiras, mas nunca tivemos notícia na época. Apenas a pouco tempo tivemos as tristes notícias do passamento deles... saudade.
2112. Você teve acesso a este single?
Chico Lobo. Sim. Era um compacto simples independente com as músicas “O amor é mel” e “By By Problema”, músicas muito aquém daquelas obras primas que ele compôs no tempo do Perfume. Outro dia achei a venda no Mercado Livre. A capa desse disco compacto foi elaborada por Edson Frank da banda Voz do Brasil. Esse disco foi feito depois que ele tinha se separado de Ana e se casado com Rosangela Lopes, com a qual teve uma filha chamada Clarice.
2112. Hoje você trabalha como radialista e produtor cultural e videográfico. A atual cena te empolga? Sei que cada época tem suas peculiaridades... mas na sua opinião o que falta na cena de hoje e que sobrava no período dos anos 60/70?
Chico Lobo. Hoje falta bom senso. Hoje tem ótimos músicos reproduzindo o que já foi feito a 40, 50 anos atrás. A música se minimalizou a poucas e pobres notas sem melodia e sem harmonia. Hoje o que vale é a batida pra dançar a mesmice, ou retalhos do que já foi feito a décadas.
2112. Muitos hoje reclamam da falta de união entre as bandas e músicos. Na sua época também rolava muita rivalidade, vaidade e treta entre as bandas?
Chico Lobo. Muito pelo contrário. Como tudo era muito difícil pra fazer sozinho, as bandas se ajudavam umas com as outras pra organizar eventos e festivais. Era muito comum naquela época festivais inter-escolas anualmente. Hoje tem tudo na mão. Quem quiser pode gravar um disco em casa, e sozinho, até sem músicos participando. Isso ajudou, mas atrapalhou o processo social da produção da arte musical.
2112. Para fechar a entrevista: A Ana tinha uma voz linda que ainda hoje encanta quem ouve o disco. Você sabe informar se mesmo com o fim da banda ela continuou a cantar?
Chico. A Ana se fechou muito. Só cantava pra ela mesma ou nas rodas de amigos. Ela era classe média que vivia dos bens deixados de herança de avós. Tinha prédios de apartamentos, casas, terrenos e até uma fazenda em Goiás, herança do avô. Ela vendeu e gastou tudo o que tinha durante a vida. Nunca precisou trabalhar como funcionaria de ninguém. Viveu seus últimos dias num prédio que lhe restou no Bixiga, ainda por amparo de seu filho caçula, Rafael. O mais velho Luciano deve estar vivo em alguma clínica psiquiátrica por problemas de saúde. Claro que tenho saudades. Mas a porta se abre uma vez só para cada coisa que fazemos. Ou aproveitamos a chance, ou mudamos nosso caminho na vida. A vida de cada um da banda poderia ser diferente, mas não foi. Cada um teve sua vida e eu estou tendo a minha ainda com a possibilidade de contar ela aqui.
2112. ... o microfone é seu!
Chico Lobo. Dor de saudade mata, morena eu sei. Por onde você andou eu também já andei. Cheguei agora, sim senhora, e o que vi, não gostei. Porque roubaram o que eu trazia de presente pra você.
Francisco Antonio Pereira (Chico Lobo), 67 anos em 2020, paulistano, produtor cultural e videomaker, formado em cinema pela ECA/USP, ex músico do grupo PERFUME AZUL DO SOL, conta em seus relatos nessa entrevista sua visão sobre a história dessa banda e seu disco NASCIMENTO gravado em 1974. Disco este que não foi lançado, mas que décadas depois viralizou nas redes sociais com estranho sucesso tardio impulsionado pelas ferramentas digitais da modernidade da internet.
Obs.: As fotos foram todas retiradas do
Facebook do entrevistado e infelizmente não consegui identificar o nomes dos fotógrafos.
Portanto, se alguém tiver informações sobre isso entrem em contato pelo meu
e-mail: furia2112@gmail.com.
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