O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



quinta-feira, 19 de outubro de 2023

40 anos SP Metal: Luiz Carlos Calanca (Parte I)

Ano que vem o SP Metal I faz quarenta anos de lançado e aproveitando o momento conversei com o genial Calanca idealizador do projeto que resultou em dois álbuns seminais que mudou para sempre a cara do cenário do rock brasileiro. O papo completo segue abaixo...           

2112. A princípio apenas o Stress (Stress 1982) e o Karisma (Sweet Revenge 1983) tinham álbuns lançados no mercado brasileiro de heavy metal. O que te impulsionou a lançar os dois históricos álbuns SP Metal I & II numa época que o estilo não tinha ainda voz definida. O que mais pesou na sua decisão?

Calanca. Quando abri a Baratos Afins em 1978, conheci o Mala Velha, Rock da Mortalha e a Patrulha do Espaço, que considero as três primeiras bandas do Brasil a flertar com o Heavy Metal. O S.P. Metal volume I foi lançado em 1984 seis anos depois e foi o décimo terceiro álbum da gravadora Baratos Afins. E me lembro perfeitamente que o Karisma surgiu simultaneamente com o lançamento do S.P. Metal I em 1984 e quando fizemos o S.P.Metal Volume II já era 1985 e no mesmo ano estávamos lançando o quinto álbum da Patrulha do Espaço que era o Patrulha 85.  Éramos talvez ainda a única produtora independente nesse seguimento e claro, recebíamos muitas fitas k7 com gravações, as chamadas ‘Demo Tapes’ então a decisão para a escolha foi muito natural e obviamente as bandas escolhidas foram as que estavam realmente mais próximas da cena daquele momento. E até ai nunca tinha ouvido falar de Stress.

2112.  O interessante é que os dois álbuns davam uma ampla visão do que estava acontecendo no cenário ao incluir desde o hard rock ao metal mais clássico. Que critério você utilizou na hora de escolher as bandas?

Calanca. Naquele período eu estava envolvido com a produção da Praça do Rock e geralmente os contemplados para tocar eram exatamente as bandas mais envolvidas na cena. Nessas reuniões para definir a programação ou eram feitas na Baratos Afins ou no Jornal do Cambuci que eram os idealizadores da praça. Obviamente as programações da Praça do Rock foi para mim um laboratório de onde eu pude triar, essas bandas para compor a ideia do disco que era mostrar cada banda representando um seguimento dentro das vertentes do Heavy Rock. 

2112. Sabemos que os selos independentes trabalham com o orçamento no osso levando em conta que um bom estúdio, produção gráfica, prensagem etc não é nada barato. O investimento valeu a pena?

Calanca. Exatamente isso, nosso orçamento era curto e foi por isso mesmo que surgiu a ideia da coletânea que seria possível contemplar quatro bandas em um único disco. Claro que o projeto não foi um sucesso para os padrões de época. Não sei se valeu a pena, se for colocar na ponta do lápis, nada teria valido a pena, afinal quem sempre sustentou o Selo Baratos Afins foi a loja Baratos Afins e nunca foi o contrário. O selo por si só não se sustentaria.

2112. ... porque o projeto não teve continuação? O cenário depois do lançamento desses dois álbuns esquentou a cena como o surgimento de várias bandas ou você já tinha outros projetos em vista?

Calanca. Até então não existia nenhuma outra gravadora que dava atenção a este segmento, nesse período ainda gravei os discos do Centúrias, “Última Noite e Ninja”, A Chave do Sol, Harppia, Platina, Cherokee (que foi o embrião do Dr. Sin)... aí veio o Rock In Rio e a cena realmente começou a crescer, consequentemente surgiram muitas outras  gravadoras (ainda bem!, eu não iria dar conta de tudo aquilo mesmo!) surgiram também muitas outras bandas e lançamentos, inclusive algumas dessas gravadoras contratavam artistas que já tinham passado pelo meu selo.

2112.  Na época ficou alguma banda de fora que você queria gravar mas que não deu para incluir?

Calanca. Sim, o Cérbero. As apresentações da banda eram fodas! Talvez a mais velha banda da cena, eles tocavam numa velocidade impressionante e num volume tão alto que fazia o Sepultura soar como uma orquestra sinfônica. Entre o projeto de seleção e a realização do disco se passaram algum tempo e eles estavam de viagem marcada para o exterior e desistiram do projeto e eu os substitui pela banda Korzus.

2112. A início o projeto era mesmo o lançamento de uma coletânea ou você tinha em mente um álbum para cada banda

Calanca. Nunca tinha pensado em coletânea até então eu só tinha feito álbuns cheios, mas como tinha muitas bandas envolvidas na cena, a coletânea foi a saída para contemplar mais bandas com o mesmo dinheiro.  

2112. Todos os músicos participantes dos dois álbuns já entrevistadas pelo blog foram unânimes ao afirmar a total liberdade que tiveram em estúdio e na escolha das músicas. Quais as melhores lembranças que você guarda das gravações?

Calanca. Quando lembro de alguma coisa, são sempre boas lembranças, não tínhamos tanto dinheiro assim para ficar rodando lâmpada com o relógio de estúdio correndo, foi tudo muito rápido e não chegou a estressar ninguém. Lembro do guitarrista do Centúrias que já estava fora da banda não queria abrir mão de não registra a gravação, estava brigado e bicudo com a banda e se isolou no aquário do estúdio e só falava comigo e com os outros membros da banda por microfone, deu um certo embaraço e acabou sendo substituído. Outra lembrança é que apagamos por descuido o finalzinho da gravação do Santuário e gastamos um tempo enorme para colar um ruído de arena de um show do Kiss para mascarar a falha, mas acabou ficando bom. A única coisa que me deu um chacoalhão mesmo foi no show de lançamento no Club Paineiras (um fracasso de público!) só tinha os músicos das oito bandas com suas namoradas mesmo assim todas as bandas tocaram com muito tesão uma para as outras.  

2112. ... existe registros fotográficos ou vídeo gráficos das sessões dos dois álbuns?

Calanca. Ninguém tinha uma câmera fotográfica nessa época, as fotos das capas dos discos foi um drama para selecionar a menos ruim de cada banda.

2112. Você tem idéia de quantos álbuns foram vendidos até hoje?

Calanca. Foram prensadas 8000 cópias dos dois volumes e ganhou a mundo. Chegamos enviar cópias para toda América, vários países da Europa e Japão. Ainda temos algumas poucas cópias disponíveis.

2112.  Das bandas participantes apenas o Centúrias teve outros lançamentos pela Baratos Afins. Pergunto isso levando em conta a popularidade do Korzus, do Salário Mínimo, Santuário, Vírus etc. O que houve?

Calanca. As que gravaram depois foram seduzidas por outros selos, mas acho que só o Korzus que foi para o selo DEVIL. Eu estava gravando o Beijo Fatal do Salário Mínimo mas ai veio a Lup Som, com uma proposta da China, eles queriam gravar Rosa de Hiroshima e transformar o China Lee num Ney Matogrosso, ai eu cai fora, e só vim a lançar o Salário Mínimo no formato CD muito tempo mais tarde. Fora os dois álbuns que gravei com o Centúrias por aqui.  As outras bandas envolvidas no projeto desistiram da carreira. Mais tarde o Vírus que estava a algum tempo longe dos palcos, decidiu gravar um cd independente e eu produzi o show de lançamento desse cd.  Esse show encerrou as atividades do SESC por conta de um outro Vírus, a “Covid 19”. Tão logo acabou o show as portas de todas as unidades do SESC foram lacradas e todos passaram a usar mascara por conta do contágio (tenebrosos tempos!). E só agora depois da pandemia é que o Santuário lançou o álbum deles e por pouco não saiu também pelo selo da gente. Nossas amizades continuam inabaladas, As popularidades das bandas só tem fortalecido nossos relacionamentos pessoais.  

2112.  Ambos os álbuns são cultuados até hoje inclusive no exterior. Como você explicaria isso trinta e nove depois?

Calanca. Eu acho que foi por conta da tosqueira, humildade, autenticidade e originalidade. Os gringos gostam muito disso!

2112.  O trabalho gráfico foi outro ponto inovador influenciando até hoje bandas na criação de suas logos e capas. Você tinha alguma coisa em mente ou o Flavio teve total liberdade na criação?

Calanca. Antes foi conversado o que se pretendia e o Flavio era um artista gráfico que estava envolvido diretamente com a gente, ele apresentou essa ideia e ficamos muito felizes com o resultado. Eu particularmente gosto muito da capa.

2112. O álbum teve lançamento no exterior? Em que países eles foram lançados?

Calanca. Na Finlandia! A princípio cheguei a denunciar o lançamento como pirataria, entrei em contato com os donos da gravadora SVART e acabamos nos entendendo. Me disseram que foram autorizados pelos membros da banda Força Macabra que pretendia fazer o lançamento. Mas as negociações não prosseguiram a ponto de formalizar oficialmente essa licença para eles, os cara da gravadora foram muito simpáticos e tudo acabou bem.

2112.  ... Calanca a palavra é sua! 

Calanca. Quero me desculpar se omiti ou deixei de citar alguma informação. Quero agradecer o carinho que cada um de vocês tem por esses álbuns que cruzou o atlântico para reverberar para outros povos tão distantes. E também agradecer a todos os músicos que dele participaram e que me depositaram toda esse confiança e respeito.

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  Em breve a segunda parte trazendo uma entrevista com membros das bandas participantes dos dois álbuns! 

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