Binda é uma lenda do rock brasileiro, participou de inúmeras bandas destacando o Casa das Máquinas com quem gravou seus dois primeiros álbuns: Casa das Máquinas e Lar de Maravilhas. E por coincidência essa postagem coincide com o novo lançamento da banda, o single Horizonte (ver nota oficial abaixo).
2112. Tomei conhecimento do músico Binda depois de ouvir os dois primeiros álbuns do Casa das Máquinas. Qual é a sua formação musical?
Binda. Minha formação veio do violão clássico, tocava músicas do Tarrega, Napoleon Corte, João Pernambuco, Bach etc.
2112. Binda, como o rock'n'roll entrou na sua vida? Quem foram os seus primeiros ídolos?
Binda. O Rock entrou na minha vida no começo dos anos 60. Gostava muito dos Stones e Beatles e os menos famosos como o Grassroots etc. Os guitarristas que mais me influenciaram foram Keith Richard, Chuck Berry e Jan Akkerman.
2112. Você aprendeu a tocar sozinho?
Binda. Comecei estudando violão aos 8 anos e meio de idade daí ouvi um cara que foi meu professor tocando música clássica e pronto, foi o empurrão que faltava.
2112. Antes do Casa das Máquinas quais bandas você participou?
Binda. Toquei em várias bandas, The Shines minha primeira, os Terríveis, Som Beat, The Jordans, Os Incríveis etc.
2112. Você poderia falar um pouco sobre o The Shines e Os Terríveis que são as bandas menos conhecidas do seu público.
Binda. O The Shines foi uma banda formada quando eu era teenager com amigos do bairro onde eu morava com minha família... a Vila Maria, foi lá que tudo começou pra mim.
2112. Em 1965 surge o Som Beat que foi descoberto pelo guitarrista Gato dos The Jet Black's tocando nas docas de Santos. Como foi esse encontro?
Binda. Não me lembro dessa história do Gato, nós fomos para Santos por ter a chance de tocar todo dia, ganhar uma grana e deixar o Som Beat bem afiado e firme, tivemos a ajuda sim de um dinamarquês Stig Madsen que morava em SP e nos empresariava e nos abastecia com tudo que acontecia na cena europeia do rock’n'roll em tempo real. Tivemos uma outra pessoa importantíssima na vida do Som Beat que foi o Sossego, um cara maravilhoso e muito competente, técnico em amplificação que nos fornecia os equipamentos mais modernos e produziu nosso disco.
2112. A banda é logo acolhida pelo tropicalismo que mudou radicalmente os rumos da música popular brasileira. O que o movimento representou para você
Binda. Nunca fui muito da mídia e nunca prestei muita atenção em movimento algum, pra mim tudo era música mais nada e eu estava no meio disso tudo era o que importava.
2112. Em 1967 é lançado o único trabalho da banda o compacto simples contendo as músicas Sou Tímido Assim (tradução de Listen People dos Herman's Hermits) e My Generation do The Who. Ele chegou a ter uma boa execução nas rádios?
Binda. Não, pouquíssimas rádios tocavam nosso trabalho pelo menos uma vez por ano kkkkkkkkk.
2112. Binda a releitura de My Generation ficou sensacional... som garageiro de primeira qualidade. Como é que vocês tinham acesso a esses materiais numa época que poucos discos foram lançados no Brasil.
Binda. ... foi através do meu amigo Stig Madsen que citei antes. ele que nos mostrava o que a Europa estava fazendo na música, ele era considerado o quinto membro do Som Beat. Tem matéria de jornal da época falando do Som Beat e citando o Stig.
Binda. Faz muito tempo isso e desculpe não me lembro de tudo, só me lembro de andar pelo morro do Pinto no Rio de Janeiro com o Nichollas como protetor kkkkkkk.
2112. Reza a lenda que existe um álbum gravado por vocês no Estúdio Scatena com diversas covers assim como uma demo com Nobody But Me (The Human Beinz) e Come On Up (The Uniques) produzida pelo radialista Carlos Alberto Sossego. Esse material realmente existe? Porque nunca foi lançado?
Binda. ... esse material existe sim eu tinha uma cópia dele mas desapareceu, fizemos também uma gravação ao vivo dentro de um estúdio, levamos algumas pessoas pra dar o ambiente de club, uma idéia do Stig mas esse trabalho também desapareceu como por encanto.
2112. Após o lançamento do compacto você viaja para a Itália, certo?
Binda. Eu fui com o Sossego e fiz um teste na RCA Victor, eles queriam que eu ficasse por lá mas eu não quis sair do Brasil... talvez por medo .
2112. Na volta vocês passam a acompanhar a cantora Gal Costa em shows, gravações e no Programa Divino e Maravilhoso junto a Caetano, Gil, Os Mutantes, Jorge Ben etc. Foi uma época muito profícua, não é?
Binda. Fizemos 3 meses de show com a Gal e o Jards Macalé, tocávamos todos os dias menos as segundas, foram 3 meses, um em SP, um em Belo Horizonte e outro mês em Porto Alegre. Tenho esse cartaz guardado.
2112. A banda que ficou conhecida como o Yardbirds paulistano logo encerraria carreira. O que houve?
Binda. Dinheiro my brother, o que mais pode destruir uma banda?
2112. Infelizmente a nova geração só tem acesso a música de vocês através de duas vias: nos leilões onde o single é vendido a peso de ouro ou através de blogs/sites que disponibilizam links para baixar que foi o meu caso.
Binda. É assim mesmo, infelizmente.
2112. Logo você passou a fazer parte da nova formação dos Incríveis com quem chegou a gravar varios compactos e dois lps entre os anos de 1971/72. Qual a melhor recordação que você tem dessa época?
Binda. Gravei com os Incríveis mas a melhor recordação que um músico pode ter são os shows, o palco era o lugar onde eu me encontrava, é um momento único, mais que no estúdio de gravação. O palco tem começo e tem fim, isso é divino.
2112. Em 1973 Netinho transforma Os Incríveis em Os Novos Incríveis e sai em turnê pelo país. Mas ao assinar com a Som Livre a banda passa a se chamar Casa das Máquinas. Você lembra dos motivos que levou Netinho a mudar o nome da banda?
Binda. Queríamos nos afastar do nome Os Incríveis, estávamos escolhendo o nome pra banda quando nosso empresário Fernando Rocha falou Casa das Máquinas e como por encanto todos nós falamos: " É esse o nome acabou a procura ". E assim nasceu o nome Casa das Máquinas.
2112. Sempre admirei a mutação musical que a banda produzia de álbum para álbum. O primeiro Casa das Máquinas é rock'n'roll com influências glitter, Lar de Maravilhas é prog e Casa de Rock é uma mistura de rock com hard. O porquê dessas mudanças?
Binda. As mudanças de estilos vieram da nossa vontade e das jam que a gente fazia no nosso estúdio de ensaio.
2112. Vocês tinham total liberdade para criar em estúdio?
Binda. Sim, total.
2112. E o contrato com a Som Livre como surgiu?
Binda. O lance da Som Livre foi o Netinho que armou.
2112. O Casa das Máquinas é uma das maiores instituições roqueiras do país. Lançou três álbuns clássicos, tem um séquito fiel de fãs espalhados por todo o país além de ser citado como influência por diversas bandas. Isso deve ser motivo de orgulho para você que ajudou a construir parte dessa história, não é?
Binda. Sempre tive orgulho do que eu fazia e tudo que era motivo de amor e respeito pelos nossos fãs, sempre tratando com carinho quem gostava da minha música.
2112. O que te levou a sair da banda?
Binda. O que me levou a sair da banda foi vontade de mudar, pegar uma outra estrada ver o que acontece... nunca brigamos, todos entenderam. Saí deixando amigos.
2112. A sua ida para os EUA ocorreu após a sua saída da banda ou você ainda ficou aqui por algum tempo?
Binda. Vim para o USA em 95, estava tocando com o Zé Geraldo, estava tudo bem mas tive vontade de mudar só isso.
2112. Você chegou a participar de alguma banda ou participar de gravações em solo americano?
Binda. Tenho vários amigos músicos aqui no Tio San, tocamos e nos divertimos, mas nada sério.
2112. Já vi algumas postagens suas com guitarras desmontadas... Os timbres e as afinações de fábricas não te agradam?
Binda. Guitarras não são como acordeom ou gaita, a afinação da guitarras não vem de fábrica vem do músico. Mas guitarras defeituosas tem aos montes por aí, o ajuste a cada mudança de temperatura ou diferente tipos de corda é fundamental.
2112. Quantas guitarras você possui em seu arsenal e qual é a sua preferida?
Binda. Já tive várias guitarras na vida mas como músico pobre tinha que vender uma pra comprar outra. Hoje tenho 10. Gosto de todas mas minha Stratocaster que comprei em 89 é um tesouro.
2112. Atualmente você está aposentado ou ainda faz shows solos casuais de vez enquanto.
Binda. Não me apresento mais, mas se um dia decidir volto ao palco onde vivi minha vida inteira.
2112. Como músico... os EUA é a verdadeira terra da promissão como muitos querem ver?
Binda. Aqui nos USA tem mais guitarrista que barata kkkkk a competição é dura mas você ouve coisas fantásticas no metrô dentro do Projeto “Music Under New York”.
2112. Muitos dizem que a nossa cena é ruim se comparada aos americanos, ingleses, alemães etc. Qual a sua opinião em relação a esse assunto?
Binda. A diferença entre o Brasil e USA são os equipamentos, os técnicos e a língua que é quase universal... fora isso o Brasil não deve nada pra ninguém em termos de música e de músicos.
2112. Que conselhos daria a quem sonha formar uma banda, gravar álbuns, fazer shows... O que é real e o que é fantasia nesta estrada?
Binda. Meu conselho para os novos é a luta pelo que acredita e pé no chão.
2112. Depois de participar de várias bandas você nunca pensou em gravar um álbum solo?
Binda. Sou compositor e tenho dezenas de músicas e rascunhos no hard drive do meu studio, talvez um dia eu junte todas num balaio e jogo ao vento.
2112. A quanto tempo você não vem ao Brasil?
Binda. Vou ao Brasil regularmente a cada dois anos, amo minha família e amigos, não posso passar muito tempo sem vê-los.
2112. ... o microfone é seu!
Binda. Obrigado Carlos Antonio Dinunci pela oportunidade.
2112. Eu é que agradeço meu camarada.
Obs.: Todas as fotos foram retiradas do Facebook do entrevistado. Não consegui identificar nome de nenhum fotógrafo. Portanto, se alguém tiver alguma informação favor entrar em contato via e-mail: furia2112@gmail.com que farei as devidas correções.
Nota oficial
Casa das Máquinas: (NO AR): Horizonte está disponível em todas as plataformas digitais, ouça agora!
Repost Monstro Discos
#LançamentoMonstroHorizonte da Casa das Máquinas já brilha nas plataformas digitais! Saiu hoje mais um single inédito da clássica banda do rock nacional 70. Confira em todas as plataformas digitais!
Horizonte foi composta por Johnny Magrão que já havia gravado a música anos atrás, com a participação de Mario Testoni (Casa das Máquinas) nos teclados. Ao entrar no estúdio para gravar o novo disco, o tecladista lembrou da música e resolveu gravar com uma roupagem da Casa. Horizonte, então, ganhou um novo arranjo, totalmente progressivo e escrito por Testoni, com forte inspiração em Yes e Pink Floyd. A gravação conta ainda com a participação especial de Magrão, que declama um trecho da letra.
Ouça Horizonte: mais um clássico progressivo da Casa das Máquinas!
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