2112. ... pouco ou quase nada encontrei sobre o início de sua carreira pré-Barão Vermelho. O que você fazia antes de entrar na banda?
Fernando. A primeira banda que eu toquei se chamava 402, era uma banda punk, formada com amigos, tocamos numa danceteria chamada Dancin’Meyer, num festival punk, que teve a abertura dos Paralamas do Sucesso, antes de eles terem o primeiro álbum gravado. O Hebert, até hoje, me chama de Fernandinho 402!!!rsss
2112. Existe registros dessas bandas seja no formato físico ou disponíveis nas plataformas digitais?
Fernando. Que eu saiba, não saiu nada do Páginas Amarelas nas plataformas digitais.
2112. Você é autodidata?
Fernando. Aprendi os primeiros acordes com o meu irmão André Luiz, e por muito tempo fui autodidata, aprendendo e trocando informações com amigos. Basicamente posso me considerar 95% autodidata. O Zé da Gaita me convidou para fazer parte, “como baixista”, de um projeto chamado Zé Who, só com músicas do The Who. Ele sabia que eu era fã da banda e sabia tocar algumas músicas. A banda era ele na guitarra e vocal, eu no baixo, e na guitarra e bateria, nada mais e nada menos que, Roberto Frejat e Guto Goffi. Ensaiamos no Western Club, no Humaita, e ali já criamos uma amizade bacana. O show foi no Circo voador, em janeiro de 1983. Eu comecei a tocar ‘mais’ profissionalmente com o Zé da Gaita, roqueiro carioca, que eu conheci através do Mauricio Valadares, do Ronca Ronca. Fiquei um tempo tocando com o Zé, que me apresentou para o baixista Ricardo Trajano, eles eram amigos a anos e tocavam juntos. O Trajano tocava como o compositor e tecladista, Clovis Neto, que tinha um trabalho pop/jazzeado e suas músicas já tocavam na Rádio Fluminense. Ele me convidou para tocar na banda do Clovis e eu fui, fiquei por volta de um ano tocando com eles. O Clovis recebeu um convite para gravar um EP pela gravadora Polygram, e fomos gravar, saiu com o nome de Páginas Amarelas. Logo em seguida eu fui convidado para ir trabalhar com o Barão.
2112. Fernando como surgiu o convite para acompanhar o Barão em turnês e gravações? Vocês já se conheciam?
Fernando. Em 1985, quando o Cazuza saiu da banda e o Frejat assumiu os vocais do Barão, eles precisaram de um guitarrista a mais para os shows. Foi aí que o Guto se lembrou de mim, e eles me convidaram para trabalhar com a banda.
2112. Em 1989 você e o Peninha (in memoriam) são efetivados como membros oficiais. Essa mudança mudou a sua visão sobre a banda? Afinal fazer parte do todo é bem diferente de ser músico contrato, não?
Fernando. Eu e o Peninha já estávamos tocando ao vivo com a banda desde 1985, e em 1988, gravamos o álbum Carnaval inteiro com o Barão. Já éramos uma unidade sonora juntos, mesmo não sendo integrantes da banda. Quando o Dé saiu da banda, e o DADI foi convidado para ser integrante, eu e Peninha fomos convidados para sermos integrantes também. As mudanças foram mais na parte de construção musical, na imagem da banda, agora estávamos nas fotos, como banda. Não em gerenciamento de escritório, e sim na parte lúdica da coisa.
2112. Entre os álbuns gravados pelo banda com a sua participação quais são os seus preferidos?
Fernando. Barão ao vivo, Na calada da noite, Carne crua e Barão 40.
2112. ... existe um solo em particular que você se orgulha de ter gravado?
Fernando. Adoro o meu solo em “Um índio”, releitura do Caetano Veloso, que saiu no “Álbum” de 1996.
2112. Você poderia falar um pouco sobre "Fernando Magalhães" seu primeiro álbum solo lançado em 2007? Ele também é instrumental como o Rock It?
Fernando. Quando o Barão teve a sua primeira parada em 2001, eu fui tocar com amigos, Blitz, Gabriel o pensador, Vinny… produzi o primeiro álbum dos Detonautas e resolvi gravar um álbum com vários riffs e composições que eu tinha guardados no armário. Comecei o álbum produzindo algumas faixas com o meu amigo e baterista do Blues Etílicos (na época), Pedro Strasser. Nesta época eu estava tocando com o Vinny, e fiquei muito amigo do seu baixista e produtor Roberto Lly, que era baixista do Herva Doce. O Roberto, além de ser um grande baixista, ele era um baita produtor e engenheiro de áudio. Mostrei alguma coisa para ele que eu tinha já gravado e ele comprou de fazer o álbum todo.
2112. Quem participou das gravações? Você mesmo compôs o material?
Fernando. No álbum além do Pedro Strasser, tocam, o tecladista Sérgio Villarim, os baixistas Leonel, Vagner (do Dr.Silvana) e o próprio Roberto Lly. 70% deste álbum eram riffs inacabados, idéias que não tinha ainda onde colocá-las. Finalizei muitas coisas bacanas neste álbum. As composições são minhas, algumas com parcerias com Roberto Lly, Pedro Strasser, um amigo Marcos Mattos, Frejat e Mauro Santa Cecília.
2112. Entre o primeiro álbum e Rock It existe uma lacuna de sete anos. A agenda do Barão para shows/gravações eram muito intensas a ponto de não dar tempo para você trabalhar material solo ou você não tinha pressa para lançar um novo álbum?
Fernando. Tudo isso o que você falou.
2112. Uma curiosidade... você nunca tentou gravar cantando?
Fernando. Até agora, nunca me senti confiante em mim, confortável com a minha voz, para cantar. Eu adoro este álbum, é um dos poucos que eu gravei que o ouço e curto como ouvinte rsss.
2112. Rock It é um ótimo álbum para quem curte não apenas guitarras como dizem muitos fãs... mas também música instrumental de qualidade. Gosto de ouví-lo durante minhas caminhadas ou correndo de bike. É uma ótima trilha sonora...
Fernando. Também, já dei caminhadas ouvindo-o. Ele me emociona, adoro as músicas, os arranjos, o significado daquelas músicas. Impressionante, foram compostas num instante, mas representam algo enorme, atemporal, muito forte da minha vida. Ele é um álbum dedicado a minha adolescência, aos meus amigos de infância, e todas as descobertas que tivemos juntos. A capa do Humberto Barros é muito certeira, ele entendeu tudo e fez aquele desenho perfeito.
2112. Que músicos são influências diretas no seu jeito de tocar e compor?
Fernando. Como guitarrista, os meus heróis são guitarristas mais “comuns”, Keith Richards, Mick Taylor, Ron Wood, Pete Townshend, John e George, Luis Carlini, Edgard Scandurra, Hebert, Toni Belloto... É uma lista infinita. Falei de guitarristas, fora todos os baixista, bateristas, tecladistas…
2112. Existe um ou uns álbuns que foram fundamentais na sua formação como músico?
Fernando. Todos os dos Beatles, Stones, The Who… Let there be rock do AC/DC, London Calling do Clash, Jesus não tem dentes… dos Titãs, Harvest, Neil Young etc. Lista difícil!!!
2112. Entre a nova geração de guitarristas quais você citaria como revelação?
Fernando. Gosto muito do Mateus Asato, brasileiro que mora nos Estados Unidos. Muito talentoso, toca muito, toca bonito.
2112. Você curte solos com velocidade?
Fernando. Adoro Joe Satriani, Steve Stevens, Yngwie Malmsteen...
2112. Particularmente sou mais vintage curto mais Hendrix, Beck, Hélio Delmiro, Lanny Gordin, Clapton, Page, Luis Sérgio Carlini, Alvin Lee, Leslie West, Toninho Horta, Sérgio Dias, Buddy Guy, B.B. King etc. Valorizo mais o feeling que a velocidade... e você?
Fernando. Gosto, mas a minha escola é esta e todos estes que você citou, mas admiro os velozes e extremamente técnicos também. Mais como ouvinte, e não almejando chegar perto deles, não é o meu caminho ou possiblidade.
2112. Não que eu seja contra o uso de velocidade mas vim de uma época onde solos como o de Sérgio Carlini em Ovelha Negra fazia toda a diferença.
Fernando. Ovelha negra tem o solo mais simples e mais lindo de todos os tempos, na minha opinião. Me emociono profundamente e arrepio forte quando o ouço, até hoje. Música é isto, bater no coração e te levar para lugares maravilhosos. E este solo, junto com a magia da canção, que é maravilhosa, fazem isto, ao menos comigo. Eu mandei uma cópia do álbum para o meu amigo e herói Luís Carlini, e ele me falou: “- Pô meu, você não gravou um álbum instrumental, você apenas não cantou!” Pra mim foi o elogio máximo que eu podia receber.
2112. E como surgiu projeto do álbum Efeito Borboleta com Rodrigo Santos?
Fernando. Eu estava tocando com o Rodrigo, no seu trabalho solo, a muitos anos, ao vivo e gravando nos seus álbuns. Um dia nós conversamos e pensamos: “- Nunca fizemos um álbum juntos, vamos fazer!” Posso dizer que foi um trabalho extremamente prazeiroso de fazer, primeiro pela nossa amizade e segundo pela condição de estarmos tão ligados musicalmente pela estrada. Compomos o álbum em um ou dois meses. Muitas idéias o Rodrigo já tinha e eu algumas, finalizamos juntos tudo, e compomos várias do zero. Fomos para o estúdio com o baterista e nosso amigo querido, Lucas Frainer, e começamos a gravar. Humberto Barros gravou os teclados e é isto. Eu e o Rodrigo adoramos este álbum, sempre que nos encontramos falamos isto.
2112. E como foi a recepção do álbum afinal continha dois membros do Barão e a expectativa por parte dos fãs deve ter sido grande, não é?
Fernando. A recepção foi bacana, nada grandioso, não teve grande divulgação o álbum. Não o fizemos ao vivo. Acho que ele merece uma segunda rodada, com shows e divulgação rsss
2112. O material gráfico ficou lindo, parabéns pelo belo acabamento.
Fernando. Mais uma capa certeira do no nosso querido amigo Humberto Barros. Adoro a capa.
2112. O grupo Os Lenhadores com o Rodrigo veio antes ou depois do álbum? Que tipo de som vocês faziam? Os demais integrantes são músicos convidados ou tem formação fixa?
Fernando. Veio antes, era o Rodrigo, eu e o Kadu Menezes.
2112. Para esse ano existe projeto de um novo álbum solo?
Fernando. Talvez sim, estou com o armário cheio de riffs e músicas guardadas, uma hora vai tudo sair. Seja no Barão, solo...
2112. ... o microfone é seu!
Fernando. Muito obrigado pelo o carinho e interesse na minha vida musical. Amo a minha vida e minha carreira. É um prazer poder contar para vocês.
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