2112. Primeiramente como nasceu David Sue?
David: Veio da necessidade de me distanciar de uma burrada que fiz em 2018. Na época eu era muito orgulhoso e achava que podia fazer qualquer coisa sozinho, mesmo tendo zero conhecimento do assunto... Em 2018 compus uma música romântica chamada “Anjo Bom” e fiz tudo, da produção musical à capa. Por eu não fazer a menor ideia de como gravar uma música, o resultado ficou lamentável... Nada dá certo logo de primeira, tem sempre algo que escapa. Eu poderia ter pedido ajuda, mas lancei nos streamings com o nome “Mathy Cuelbas”. Um ano depois comecei a mudar minha mentalidade e queria fazer algo que tivesse qualidade, então para recomeçar criei um outro nome para me distanciar desse passado obscuro.
2112. O seu primeiro contato com a música aconteceu aos sete anos e desde então ela tem servido de refúgio para você lidar com o autismo, a depressão e a bipolaridade. David, que bandas ou estilo musical te ajudou nesse processo de cura?
David: Olha, nessa época meus maiores amigos eram a Legião Urbana e os Beatles... Eles, principalmente Legião, serviram de abrigo nesse período tempestuoso que passei.
2112. Entre os álbuns gravados por Bowie e Selah quais te influenciou mais? Algum em especial?
David: No caso do Bowie não teve um álbum em específico e sim a capacidade de transitar por qualquer estilo sem perder a própria personalidade... Essa qualidade de ser um camaleão é algo que almejo pra mim até hoje... Pra mim liberdade, autenticidade, paixão e criatividade são o que fazem um artista de verdade. Já a Selah Sue o primeiro álbum dela (também chamado Selah Sue) me impactou bastante tanto pela sonoridade quanto pelo timbre da voz.
2112. Particularmente gosto muito dos álbuns Low, Heroes e Lodger da sua fase alemã que inclusive serviu de base para o movimento pop, tecnopop, new wave entre outros que surgiriam posteriormente. Qual a sua fase predileta do camaleão?
David: Em questão de sonoridade gosto muito do álbum Station To Station e do próprio Heroes... Visualmente acho incrível a androgenia da fase Ziggy Stardust, além daquelas roupas malucas.
2112. Você chegou a assisti-lo no Rock In Rio?
David: Não, infelizmente só fui explorar mais a obra do Bowie quando ele já havia falecido... Na verdade foi assim com diversos artistas que amo, tipo o Chris Cornell, cuja obra só fui conhecer após sua morte trágica.
2112. O que mais te influencia na hora de compor?David: Os momentos de dor e solidão que experienciei na minha adolescência me influenciam até hoje, mesmo que indiretamente... Estar apaixonado é outra coisa que sempre me ajudou na produtividade... Cheguei a escrever 12 músicas num período de 7 meses para uma única pessoa (em 3 idiomas diferentes).
2112. Você compõe muito?
David: Tem um amigo meu que disse que sou “uma máquina” quando tentamos compor juntos. Eu não consigo ficar muito tempo sem compor músicas, eu começo a ficar incomodado... Tem vezes que não tenho muita inspiração, mas todo mês vai ter pelo menos uma canção nova. Apesar de ter tentado compor com esse meu amigo (e outras pessoas) percebi que não levo muito jeito pra trabalhar em grupo, já que eu acabo monopolizando tudo... Querendo ou não, aquele meu lado individualista de querer fazer as coisas sozinho ainda se faz presente quando é pra compor músicas, e pior que nem é egoísmo nesse caso, as ideias fluem mais quando estou só eu e o violão.
2112. Goodbye To Pariah é seu primeiro álbum solo. Quem produziu e quem participou das gravações?
David: Todos os meus lançamentos foram produzidos pelo meu professor de canto, Fabiano. No EP, meu trabalho de estreia, ele tocou praticamente todos os instrumentos e fez grande parte dos arranjos.
2112. Você tocou algum instrumento ou apenas cantou?
David: No EP toquei a linha de baixo de Evil Messiah, fiz umas frases de guitarra na intro de Songbird e fiz o primeiro solo de guitarra na já citada Evil Messiah (com uma inspiração nada sutil de Little Wing, do meu ídolo Hendrix). Em 2021 lancei um single sobre a pandemia chamada “Ladders To Love” onde, além da faixa-título, tem uma versão voz e violão da mesma música em que estou fazendo essas duas funções. Um ano depois, no meu primeiro álbum, queria participar mais e gravei todas as linhas de baixo, além de ter feito o solo de guitarra em War Horses e Little Monster e tive mais ideias de arranjo também... No EP eu cheguei a dar ideia de um ou outro arranjo, porém nada muito expressivo.
2112. E como foi a experiência de gravar suas próprias composições? Você mesmo quem fez os arranjos?
David: Foi superlegal ver as demos toscas que gravo no meu celular ganhando vida. Já em relação aos arranjos, eu fui aprendendo com o tempo, apesar de ter dado algumas ideias eu ficava frustrado de não contribuir tanto quanto eu gostaria. Eu não sou do tipo que sabe o que quer logo de cara, tenho que descobrir sozinho enquanto gravo. Desde 2018 eu venho me aperfeiçoando em produzir músicas, já que meu grande sonho é produzir um álbum que eu tenha feito tudo, assim como meu produtor faz na carreira musical dele... Algo que tenha a minha cara (eu sinto falta disso em algumas músicas minhas). O arranjo faz toda diferença na música... Eu compus todas, mas os arranjos são em sua maioria do Fabiano e acaba tendo muito mais a cara dele do que a minha, às vezes. Na época do Pariah comecei a fazer os arranjos no meu home studio, na raça... Porém meu produtor rejeitou, talvez por ainda faltar alguma coisa. Hoje em dia já tenho capacidade de fazer arranjos interessantes. Tenho algumas músicas guardadas em que fiz tudo (produção, arranjo, composição). Não vejo a hora de lançá-las!
2112. O álbum é a fusão de suas várias influências suas ou segue mais direcionado para um único estilo musical?
David: O Pariah é uma mistura de Beatles e (principalmente) hard rock dos anos 70, que são justamente minhas grandes influências. Eu aprendi a compor ouvindo Beatles... Esse ano compus uma bossa nova e até ali tinha influência dos garotos de Liverpool.
2112. David, antes de gravar Goodbye to Pariah você participou de alguma banda?
David: Sim. Aos 17 anos fundei um power trio com dois moleques de 13 anos. Na época eu queria montar uma banda e disse pro meu produtor, que respondeu: meu filho toca guitarra e o amigo dele toca bateria. Batizamos a banda de Soldado Azul, por conta de um poema que escrevi aos 15 anos. Estamos juntos até hoje...
David: Sim. O curioso é que não era para eu ter lançado tantos singles... Depois do Candle In The Dark já viria o álbum, chamado Other Faces. O problema é que vivemos num mundo em que as pessoas não têm mais paciência para ouvir um álbum inteiro, então, para aproveitar as músicas, eu e meu produtor tomamos a iniciativa de lançar as faixas do álbum como single. O problema é que fica muita coisa pra divulgar e eu sou super preguiçoso, então estou terminando umas quatro musiquinhas e depois (finalmente) será lançado esse álbum! Sério, ele começou a ser idealizado lá em 2022... Foi o extremo oposto do Pariah. Meu primeiro álbum foi feito às pressas, começamos a gravar em meados de outubro de 2021 e eu comecei a apressar meu produtor para o álbum sair no meu aniversário (18 de fevereiro). Talvez Other Faces saia esse ano (assim espero).
2112. O que mudou na sua carreira após participar do programa Caldeirão do Mion?
David: Por incrível que parece não mudou muita coisa... Os seguidores aumentaram em níveis absurdos, mas oportunidades de shows não teve nada e de publi só umas poucas que nem valiam à pena. É que, se for ver, a tv aberta perdeu o impacto que tinha antes... Se eu fosse na Globo há 20 anos atrás, tenho certeza aconteceriam muito mais coisas legais na minha carreira.
2112. Você cantou Baba O´Riley, um dos grandes clássicos do The Who uma das minhas bandas prediletas. Qual foi a reação das pessoas?
David: Depois que passou o programa recebi alguns comentários de pessoas felizes e ao mesmo tempo surpresas por verem alguém cantando rock das antigas na tv aberta. Até mesmo um funcionário da Globo veio me abordar todo feliz antes de eu entrar pra cantar: quando ouvi que alguém iria cantar The Who aqui nem acreditei, sou fã dessa banda.
2112. Além do The Who que outras bandas são fortes influências no seu modo de cantar?
David: Cara, Led Zeppelin e Deep Purple (fase Gillan e fase Hughes/Coverdale) me influenciaram bastante... Chris Cornell também (principalmente no Soundgarden e Temple Of The Dog). Ah, e meu professor de canto/produtor Fabiano Negri… E se for parar para analisar, todas as minhas influências, quase tudo o que me atrai musicalmente tem raízes no blues. Em 2021, quando gravei meu primeiro cover em português, percebi uma forte influência do Renato Russo no meu jeito de cantar (em particular na impostação do grave). Até hoje, principalmente quando canto legião, as pessoas vivem comparando... Já li comentários dizendo que eu era o “novo Renato Russo”, acredita?
2112. Você curte apenas as “classic bands” ou está sempre aberto a novidades?
David: Amo as classic bands, mas também gosto de descobrir outros sons... Mesmo nas novidades, não consigo ser tão moderno. Preciso tirar algumas teias de aranha dos meus ouvidos.
2112. Que bandas novas atraiu a sua atenção?
David: Gosto de um power trio da indonésia chamado Gugun Blues Shelter, Rival Sons, Blues Pills... De nacional gosto muito da Lippo À Vapor e Rei Lagarto, vale super a pena conferir essas duas. Nenhum desses são muito recentes...
2112. Você conhece a Gypsy Tears, banda maneira de hard metal que lançou seu primeiro álbum recentemente?
David: Não conheço...
2112. Atualmente você faz parte da formação da Lippo á Vapor. Como surgiu o contato entre você e a banda?
David: Mais uma vez, Fabiano deu um empurrãozinho. Ele viu que uma banda de rock comandada por um guitarrista experiente estava precisando de vocalista e ele me indicou. Por coincidência, o baterista da banda fora aluno do Fabiano e já acompanhava meu conteúdo. Aí fui pesquisar sobre esse guitarrista, Lippo Baldassarini, e fiquei abismado de ver que ele já tocou com bandas que eu conhecia tipo Made In Brazil e Harppia... O Lippo entrou em contato comigo nas redes sociais e pronto, eu estava na banda. Aprendi muito (e inda estou aprendendo) com esse pessoal experiente: o Lippo tem 70 anos, o batera e o baixista tem o dobro da minha idade e eu, atualmente com 24 anos.
2112. Pelo que soube vocês estão com o álbum está praticamente pronto. Sabe informar se será lançado ainda este ano?
David: O álbum era para ser lançado esse ano, mas resolvemos adiar pro ano que vem para poder fazer algo mais organizado.
2112. David, o que as pessoas que curtem o seu trabalho e os da Lippo à Vapor podem esperar do material gravado?
David: Posso dizer que o álbum da Lippo com essa nova formação vai ser voltado, quase que exclusivamente, para o heavy metal em português... As fases anteriores deles iam muito mais para uma pegada mais hard rock, mas como eu tenho essa coisa meio operística da voz mais impostada, ficou uma onda muito mais metal. Gosto muito das músicas que estamos fazendo!
2112. Ele será lançado apenas nas plataformas digitais ou também terá lançamento físico?
David: Uns meses atrás eu e o Daniel (baterista) estávamos discutindo sobre isso... Ele disse que essa coisa de Cd não valia mais á pena hoje em dia. Ele deu a idéia de botar num pendrive ou algo assim... Vamos ver como vai ser isso. De qualquer forma foi acordado entre a gente que não vai ter cd.
2112. E como as pessoas fazem para adquirir o seu álbum solo?
David: Ah, está lá no mercado livre. As pessoas podem me mandar uma mensagem na DM do instagram ou no meu e-mail de contato (davidsuecontato@gmail.com).
2112. ... o microfone é seu!
David: Queria agradecer a oportunidade de estar concedendo esta entrevista e... Acho que vou vender meu peixe (risos): quem puder, siga no instagram as duas bandas que faço parte @lippoavapor e @osoldado_azul. Vocês podem estar ouvindo eu e a Lippo á Vapor no Spotify, é só digitar David Sue e Lippo à Vapor e escutar.
Obs.: Todas as fotos foram retiradas do arquivo do cantor/músico.
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