Depois do batera Dinho Leme mais um mutante aporta sua
caravela em nosso porto. Desta vez é o tecladista Luciano Alves que participou do álbum Ao Vivo
e nos conta uma pouco da sua longa e interessante carreira.
2112. Você começou seus
estudos de piano aos sete anos e aos treze já era diretor musical de peças
teatrais. Foi tudo muito rápido, não?
Luciano. Pensando bem, foi
sim. Aos doze anos comecei a tocar profissionalmente em conjuntos e logo passei
a tocar em peças de teatro sendo que em algumas fiz a direção musical. Mas isso
se deve ao fato de ter começado estudando piano clássico aos sete. Foi o
clássico que me deu técnica e conhecimento para encarar os trabalhos tão cedo.
Sem o estudo diário de piano e de teoria musical eu não teria adquirido
conhecimento geral e ouvido musical suficientes para entender como se faz
arranjos e como se conduz uma banda. Foi o Eduardo Dussek que me ofereceu o
primeiro trabalho para tocar e cuidar da direção musical no teatro.
2112. Qual o músico, compositor ou
banda em particular te influenciou no desejo de ser músico ou foi um conjunto
de várias influências?
Luciano. Foram muitas
influências tanto no âmbito da música clássica quanto da popular. Eu estudava
clássico (Beethoven, Bach, Debussy etc.) mas, com doze ou treze anos era
impossível ficar alheio aos movimentos da música popular (Beatles, Stones,
Beach Boys). Considero minhas maiores influências os mestres Chopin, Bach,
Rachmaninoff, Yes, Keith Emerson, Hendrix, Janis Joplin, Oscar Peterson, Chick
Corea, McCoy Tyner etc.). Em especial, uma banda virou minha cabeça: Emerson,
Lake & Palmer. Fui fazer um som com a banda Vímana quando eu tinha uns 16
anos e o Lulú Santos me apresentou o disco Tarkus. Fiquei mudo! A partir daquele
momento decidi o que ia fazer durante toda minha vida.
2112. Na sua família tem
mais músicos?
Luciano. Não. Mas meus pais
escutavam clássico diariamente. Foram eles que me colocaram para estudar piano.
Eu ainda não havia nem aprendido multiplicação e divisão na escola. Logo, para
que eu entendesse os valores das figuras rítmicas, minha mãe assistia as aulas
de teoria junto comigo e me explicava tudo novamente ao chegar em casa, usando
feijões e palitos. A dedicação dela foi o que me ajudou a entrar no Curso de
Teoria Musical da UFRJ (Escola Nacional de Música) aos onze ou doze anos. Ao
terminar o curso de três anos, eu queria emendar no curso de Licenciatura, mas
a escola não deixou porque eu era muito novo. Então, criei a minha primeira
apostila de teoria e meu primeiro método de piano e passei a dar aulas
particulares para amigos e colegas da escola. Por incrível que pareça, estas
apostilas que fiz na adolescência acabaram servindo como base para os meus nove
livros de música que estão no mercado atualmente, através da Editora Irmãos
Vitale.
2112. Apesar dos estudos
de piano clássico logo você aderiu ao uso dos sintetizadores o que o levou a
estudar e a se graduar em eletro-acústica e computação. O uso do instrumento
mudou a sua visão como músico? Essa sua decisão tem alguma conexão com o movimento progressivo?
Luciano. Enquanto eu estudava
clássico, ao mesmo tempo ouvia Emerson, Lake & Palmer, Yes, Genesis, Herbie
Hancock e Chick Corea. Todos usavam, no mínimo, um sintetizador Mini Moog. Foi
nesta época que aderi aos sintetizadores. E, realmente, o Mini Moog foi o
instrumento que promoveu uma grande guinada na minha carreira. Passei a usar
instrumentos eletrônicos (sintetizadores, órgão, piano elétrico etc.) nas
bandas em que eu tocava na época. Logo, em vez de fazer o curso científico,
optei em fazer o curso técnico de eletrônica que também envolvia as matérias de
computação. Não somente aprendi a montar rádio e televisão como, também,
reparar meus teclados quando davam problema. Juntando o conhecimento de música
clássica com o uso de instrumentos eletrônicos, automaticamente ingressei no
universo da música progressiva.
2112. Nesse período você
chegou a participar de alguma banda e como surgiu o convite para você ocupar a
vaga do Arnaldo nos Mutantes?
Luciano. Aos dezessete anos
eu estava tocando com a banda Flor de Lotus que fazia um rock progressivo
light. Chegamos a fazer vários shows no Rio e em São Paulo. Ensaiávamos perto
da casa onde ensaiava o Veludo Elétrico que tinha na guitarra, o Paul de
Castro. Quem entrou nos Mutantes logo após o Arnaldo, foi o Túlio Mourão. E eu
entrei no lugar do Túlio. Quando ele e o Antônio Pedro (baixista) saíram dos
Mutantes, entrou o Paul de Castro, que era guitarrista do Veludo Elétrico, para
tocar baixo nos Mutantes. Eu e Paul costumávamos tocar juntos em jam sessions
de rock no Rio. Assim, o Paul me indicou para os Mutantes. E, foi amor à
primeira vista! Eu, Rui Motta, Sergio Dias e Paul de Castro fizemos dois
ensaios e nos demos muito bem! Os Mutantes já tinham o órgão Hammond e um Mini
Moog. E eu entrei com meu piano acústico de armário, um piano elétrico Fender
Rhodes, um sintetizador Mini Korg e um Strings Honner.
2112. Você sofreu algum tipo
de hostilização por parte dos fãs do Arnaldo como aconteceu com Patrick Moraz
no Yes?
Luciano. Não lembro de
ninguém na plateia ter gritado pelo Arnaldo. Fui muito bem recebido tanto pela
banda quanto pelos fãs e a imprensa. Inclusive, durante anos fui eleito o
melhor tecladista de rock pelas revistas especializadas. Veja bem, eu tinha 19
anos quando comecei a fazer os primeiros shows com a banda. No mínimo, as
pessoas me respeitavam pela audácia e coragem!
2112. Pedro Só no texto do
encarte do cd o enaltece como uma grande aquisição para a banda: "Para os
teclados foi selecionado outro mineiro de técnica apuradíssima, Luciano
Alves." Como o Sérgio tomou conhecimento do seu trabalho? Vocês já se
conheciam antes?
Luciano. A técnica vinha do
estudo do piano clássico. Isto, para mim, sempre foi um ponto de apoio. Ainda
atualmente estudo, no mínimo, três hora de piano por dia. Eu não conhecia o
Sergio pessoalmente, mas conhecia todo o repertório dos Mutantes. Já havia
visto shows de todas as formações da banda. Sabia cada nota que iam tocar. Foi
justamente o Paul de Castro (baixista) que falou de mim para o Sergio. E, a
afinidade desta formação ficou muito clara logo que começamos a ensaiar, a
compor e a nos apresentarmos juntos. Nos primeiros anos, ninguém precisava
falar para o outro: toca assim ou assado. A música simplesmente fluía em altas
esferas.
2112. As performances dos
Mutantes ainda hoje são lembradas por fãs e admiradores do rock progressivo
como mágicas. Qual era a reação das pessoas?
Luciano. Os shows tinham um
astral especial. Uma aura iluminada. Éramos irmãos. Quando entrávamos no palco,
era o maior frenesi. Aos poucos o público ia se acalmando e entrando na viagem
da banda. Dávamos para a plateia músicas para dançar, para pular e, principalmente,
para viajar. Realmente, era um clima de comunhão total. Todos iam para casa
satisfeitos e saciados.
2112. Mas vocês tinham uma
grande aparelhagem de som, jogos de iluminação, instrumentos de ponta que de
uma certa maneira ajudava no resultado final, não é?
Luciano. Com certeza! Todos
da banda eram muito exigentes com as questões da infraestrutura dos shows. O
que adiantaria levar um piano acústico para os shows se o público não pudesse
ouvi-lo perfeitamente? Para quê cinco teclados de altíssima qualidade, se o
mixer não tivesse a capacidade de reproduzi-los com perfeição? O que adiantaria
fazer um tremendo solo se o músico não estivesse bem iluminado? Uma das coisas
que mais me surpreendia no Sergio Dias era o seu nível de exigência em relação
ao equipamento. Na realidade, aprendi muito sobre infraestrutura de show com
ele. Juntos, fomos a Londres escolher os amplificadores e os alto-falantes para
o PA após termos nos reunido com o projetista da JBL em Milão. O Sergio não
conhecia teoria musical nem havia estudado música academicamente, mas percebia
facilmente quando um hum de 60 ciclos aparecia para perturbar. Além disso,
sempre foi um dos maiores guitarristas do país.
2112. Os Mutantes vivenciou todo
aquele período crítico da repressão quando as bandas eram obrigadas a mudar o
conteúdo das letras, tinham shows cancelados, ensaios invadidos pela
polícia/exército, equipamentos quebrados ou apreendidos... Enfim, como vocês
faziam para contornar todas essas situações?
Luciano. Neste ponto, realmente
era um período muito ruim, muito anti-musical. Rita Lee dançou. Gilberto Gil
dançou. Os pais ficavam com medo de deixar os filhos irem aos shows pois sempre
havia batida policial no final. Cheguei a ter o piano acústico totalmente
revistado após um show em SP. Constantemente éramos ameaçados de receber
visitas indesejadas no sítio onde ensaiávamos. Não havia o que fazer. Eles é
que mandavam. Vivíamos inseguros e paranoicos. Por isso fomos para a Itália. E,
o pior é que, mesmo lá, fomos “visitados” em casa para um interrogatório
informal dias após tocarmos no Parco Sempione, em Milão.
2112. Ao Vivo é um dos
raros álbuns gravado ao vivo na história do rock usando apenas material
inédito. Como foi que surgiu essa ideia?
Luciano. Tínhamos contrato com a Som
Livre para fazer um LP que seria, a princípio, duplo. Todos da banda compunham.
Logo, tínhamos bastante material para registrar. Tínhamos a consciência de que
a banda crescia muito ao vivo. Os ensaios eram legais, mas era nos shows que
explodíamos, junto com a plateia. Então, a ideia era registrar o que fazíamos
de melhor, contando com a energia e a participação do público.
2112. Você poderia contar
como foi o processo de pré-produção e gravação do álbum?
Luciano. Não houve muita
pré-produção pois já vínhamos tocando o mesmo repertório nos shows pelo Brasil.
A gravação foi realizada diretamente para um gravador Revox de dois canais. Dá
para acreditar? Foram dezenas de fontes sonoras indo para um mixer de 32 canais
(se não me engano) e, a saída estéreo do mixer indo para a entrada estéreo do
gravador. Muito simples! Para falar a verdade, nem ficamos preocupados com o
fato de estarmos gravando. Apenas tocamos o set list normal que estávamos
acostumados. Quem teve que se virar para mixar tudo foi o engenheiro de som e
produtor do disco Peninha (Pena Schmitd).
2112. Álbuns com gravação
100% ao vivo somente em bootlegs. O Ao Vivo teve muito overdubs em estúdio?
Luciano. O “Ao Vivo” foi no
mesmo conceito de bootleg. A única diferença é que o equipamento de gravação,
embora só com dois canais, tinha muita qualidade em termos de captação de todo
o espectro sonoro e das dinâmicas. Não teve overdubs pois todo o material
musical foi gravado em fita de 3 1/4’. Valeu o que tocamos ao vivo.
2112. Soube que vocês
ficaram insatisfeitos com a produção de Pena Schmitd que cortou vários solos e
trechos das músicas para deixar tudo mais curto e comercial. Até onde isso é
verdadeiro?
Luciano. Por um lado, o
Peninha fez milagre como engenheiro de mixagem do show e do disco. Por outro,
como produtor, houve o famoso corte de trechos das músicas... O Peninha foi
crucificado, e ainda é, por isso. Acontece que o disco que ia ser duplo passou
para único. Este é um ponto meio obscuro: não sei se a ordem veio do produtor
geral do disco ou de alguém mais de cima. Mas sei que não foi o Peninha que
decidiu sozinho que o disco seria único e com cortes. Fomos para o estúdio
ouvir o resultado da gravação e, é claro, não entendemos nada quando ouvimos as
músicas cheias de cortes. Cheguei a sugerir que seria melhor tiramos algumas
músicas do disco (para fazer um só) do que incluir todas com aqueles cortes.
Mas, como eu era o garoto da banda (com uns 20 anos), acho que minha opinião
não valeu muito e a maioria resolveu deixar como estava mesmo. No final, mesmo
insatisfeitos, tivemos que aceitar.
2112. Você lembra quais músicas
sofreram mais com esses cortes?
Luciano. Não lembro
exatamente quais músicas, mas quase todas sofreram cortes principalmente nas
introduções e nos solos.
2112. Houve alguma
tentativa de acordo entre vocês e gravadora para tentar reverter toda essa
situação?
Luciano. Pelo que lembro foi
tudo decidido lá em cima. De qualquer forma, não havia o que fazer pois a Som
Livre não queria mais lançar um duplo e a maioria não queria tirar músicas do
disco. Por outro lado, poderíamos rearranjar as músicas e gravar tudo no tempo
de um LP só, mas a Som Livre não bancaria outra gravação ao vivo. Situação sem
solução...
2112. O progressivo de uma
certa maneira sofreu um golpe violento com o surgimento do movimento punk que
trouxe de volta músicas mais curtas e toscas que as sutilezas instrumentais do
prog. Não seria esse um dos motivos dos cortes nas músicas?
Luciano. O movimento punk
acabou com a música. A partir daí, qualquer coisa valia. Mas não foi o que
influenciou a decisão a favor dos cortes. O motivo real é que, mesmo com os
cortes, o “Ao Vivo” ainda soava rock progressivo do bom.
2112. Bandas como o Yes,
ELP, Genesis, Rush, Pink Floyd etc. que eram pontas de lança do movimento
tiveram que se readaptar aos novos tempos. Deve ter sido um período muito
difícil para vocês músicos, não?
Luciano. Pior do que a
invasão punk foi a da discoteca. De repente nos vimos em uma situação muito
estranha onde teríamos que retroceder como músicos para sermos ouvidos. Ainda
bem que tinha e ainda tem um público que não abre mão do rock de qualidade. Até
na Itália, passamos por uma situação bizarra: fomos chamados para gravar um
disco em um estúdio que estava inaugurando em Milão. Começamos a gravar nossas
últimas composições e o resultado estava bem legal. De repente, quando o
repertório já estava bem andado, o produtor pediu para regravarmos algumas das
nossas músicas com ritmo de discoteca. Quase matamos o cara!
2112. Você tem
conhecimento dos bootlegs Ao Vivo em Londrina (1975) e Ao Vivo em Ribeirão
Preto (1978)? O som não é lá essas coisas mas é audível além de serem verdadeiras
raridades para nós fãs da banda.
Luciano. Tenho o de Ribeirão
que foi o nosso último show. Como você bem disse, o som é ruim, mas a emoção da
banda está toda lá. Embora não estivéssemos nos dando tão bem – talvez já não
fossemos tão irmãos, palco é palco, Mutantes é Mutantes!
2112. A Som Livre quando
mencionou relançamento do álbum pensei que ela fosse disponibilizar o show
completo. Mas ao invés disso apenas incluiu uma versão chinfrim de Cidadão da
Terra como bônus. Será que parte desse material se perdeu ou no seu ponto de
vista não houve mesmo interesse da gravadora em retrabalhar o material?
Luciano. Muitas vezes me
perguntei se a Som Livre fez uma cópia de todo o material da gravação do “Ao
Vivo”. A partir de um backup, poderíamos relançar o “Ao Vivo” na íntegra, sem
cortes. Se tiverem editado a partir da fita original, sem um backup, já era!
Mas, muitos anos já se foram... Não sei se algum produtor tomaria a iniciativa
deste projeto.
2112. Quando você resolveu
ficar na Itália Os Mutantes já havia acabado ou você resolveu sair antes? O
clima na banda era muito tenso? O que o Sérgio alegou quando anunciou o fim da
banda?
Luciano. Saí dos Mutantes na
Itália pois estávamos discordando sobre shows e repertório. Eu, como músico,
gostaria de estar me apresentando mais com a banda. O Paul de Castro também.
Mas o Sergio e o Rui preferiam só tocar se os shows tivessem a mega-estrutura
que estávamos acostumados. Por outro lado, após tantos meses lá, mudei muito
minha cabeça, a forma de compor, a forma de ser. Eu não queria ficar tão preso
ao rock apenas. Até passei a apresentar uns programas de música brasileira em
uma rádio de Milão. Eu tocava discos de Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti,
Quinteto Armorial, Milton Nascimento, Banda de Pífanos de Caruaru, Gilberto
Gil, Rita Lee, Villa-Lobos. Ou seja, meu horizonte se expandiu muito ao
conhecer a história do Brasil, fora do Brasil. De repente ficou muito clara
toda a questão do golpe de 1964. Eles voltaram para o Brasil, mas eu fiquei
ainda alguns meses em Milão, pois eu já havia me “demitido” da banda. Quando
voltei para o Brasil, o Paul de Castro também havia acabado de sair e o Sergio
perguntou se eu toparia fazer mais uns shows. Então fizemos mais uma leva em SP
e depois paramos. Nesta formação entraram o Fernando Gamma no baixo e a cantora
Bettina Graziani nos vocais. O clima da banda não era tenso. Não havia razões
para brigas. Apenas a afinidade não era mais a mesma. Eu precisava expandir
minha carreira e tocar mais minhas composições. E, estas não seriam com os
Mutantes pois os gêneros musicais tornaram-se incompatíveis. Nesta época eu
estava mais para o jazz-fusion e instrumental brasileiro. Em uma reunião, o
Sergio disse que deveríamos parar pois já não estávamos com a mesma vontade de
tocar juntos... E, a sugestão foi acatada por todos imediatamente. De certa
forma, todos se sentiram aliviados.
2112. Durante esse período
de vivência na Itália você trabalhou como músico, produtor e arranjador?
Luciano. Trabalhei sim, em
discos de artistas italianos que queriam o algo mais da música brasileira. Na
época, fiz gravações distribuindo os instrumentos do arranjo para diversos
sintetizadores e teclados eletrônicos, gravando em máquinas analógicas de 24
canais.
2112. O que mais te
impulsionou a voltar para o Brasil?
Luciano. O frio. Chegando em
novembro, a temperatura despencou e a neve começou a cair. Também, senti que
havia completado uma jornada incrível de aprendizado e estava satisfeito com
todas as experiências que havia vivido aos, apenas, 21 anos de idade. Éramos
nove pessoas morando em uma casa de dois andares. Muitas festas, gente do mundo
inteiro passando por lá, muitos artistas e músicos, muito som rolando... Alguns
amigos italianos falavam que eu iria me arrepender de voltar para o Brasil.
Mas, afinal, acho que eles estavam errados. Um tempo após chegar no Brasil,
engrenei como tecladista e arranjador do Pepeu Gomes. Fiquei uns 12 anos com
Pepeu e Baby. Gravei quase todos os discos deles. Eu me identificava muito com
aquela mistura de música brasileira com rock. E, novamente, dei sorte de tocar
com outro grande guitarrista!
2112. Em 1989 você lançou
Quartzo seu primeiro solo e também o primeiro disco no Brasil a fazer uso de
softwares em estúdio. Como foi essa experiência?
Luciano. A partir de 1984,
com o advento de MIDI, passei a usar softwares de sequenciamento musical. No
Brasil isto era novidade. Aos poucos fui compondo e arranjando as músicas do
meu primeiro álbum solo diretamente para um software de sequenciamento rodando
no primeiro computador pessoal lançado: o Apple II. Mas nesta época eu estava
tocando, gravando e viajando muito com diversos artistas da MPB. Só consegui
parar para gravar o meu trabalho em 1989. As bases foram todas programadas para
serem tocadas via software. Mas para que o disco não ficasse muito mecânico,
chamei diversos músicos amigos para participar das faixas, durante a gravação.
Muitos instrumentos acabaram sendo gravados em tempo real, analogicamente.
Desta forma, consegui um bom equilíbrio entre máquina e humano. O resultado
ficou um techno-pop-brazuca humanizado. E acho que isto contribuiu para que o
repertório fosse muito utilizado em diversos programas de TV da Globo e de
outras emissoras tais como: Globo Esporte, Vídeo Show, Faustão, Especiais da
Manchete etc.
2112. No álbum você
utiliza elementos rítmicos brasileiros misturado com o techno. Você ouve todo
tipo de música?
Luciano. Realmente ouço os
mais variados tipos de música desde a infância. Sempre procurei manter a mente
aberta para absorver todos os tipos de influências contanto que fossem de boa
qualidade. Comecei no piano clássico. Depois passei pelo rock, MPB, jazz, blues
etc. Toco repertórios variados de todos estes gêneros musicais. Tenho coleções
de partituras que posso usar para tocar, a qualquer momento, do clássico ao
jazz. Prefiro não ficar preso a um determinado estilo. E, no final das contas,
isto ajuda muito pois quando preciso compor trilhas sonoras, fico à vontade
para enveredar por qualquer gênero.
2112. Entre as músicas gravadas tem
alguma que foi usada no período que você esteve nos Mutantes?
Luciano. No Quartzo gravei um
repertório bem diferente da época dos Mutantes. O repertório é bem anos 1980.
Minha formação dos Mutantes terminou no final da década de 1970. Preferi
trilhar um caminho bem diferente na carreira solo.
2112. Você sabe dizer se o Mautner
ouviu ou mesmo tomou conhecimento da sua versão para o clássico dele Maracatu
Atômico?
Luciano. Realmente não lembro se ele
chegou a ouvir ou se falei com ele sobre minha versão bem carregada de
teclados. Eu costumava ir na casa dele para tocarmos e chegamos a esboçar
algumas parcerias. Pode ser que eu tenha comentado, mas não tenho certeza.
2112. Baobá tem um estilo mais pop com
influências do jazz e também de ritmos afro-brasileiros que hoje seria
facilmente catalogado como world music. Como você trabalha suas influências?
Luciano. Comecei a idealizar este CD
logo após um show que fiz com o Pepeu no Festival de Montreux na Suíça. Na
mesma noite, teve o show do Youssou N'Dour,
cantor senegalês que se apresentou com muita percussão e banda completa que
tinha um ótimo tecladista. O show dele me impressionou muito por causa da
mistura da música pop com os ritmos africanos. Após o show fui conversar com o
tecladista e ele me passou uma lista de CDs nos quais eu poderia pesquisar os
ritmos africanos que eles exploravam. Quando cheguei no Brasil, a primeira
coisa que fiz foi ligar a tecladaria e começar a compor. Para a gravação do CD,
chamei diversos percussionistas incluindo o Chacal que virou percussionista do
Paul Simon. O resultado é bem como você mencionou: uma mistura de jazz com pop e
ritmos afro-brasileiros. E, esta era exatamente a minha meta neste trabalho.
Este é um CD que vende muitas faixas pela Internet para os consumidores da
world music.
2112. Soube que além do bom desempenho
do álbum você concorreu na categoria de melhor arranjador no VII Prêmio Sharp.
Luciano. Exatamente. Acho que minha
pesquisa e dedicação neste CD acabaram dando frutos pois fui para o Teatro
Municipal de smoking para concorrer no Prêmio Sharp de Música como melhor
arranjador. Não ganhei o primeiro lugar, mas foi uma ótima experiência.
2112. Em Mosaico você voltou a utilizar instrumentos acústicos como o piano Steinway. Foi uma volta às suas raízes?
2112. Em Mosaico você voltou a utilizar instrumentos acústicos como o piano Steinway. Foi uma volta às suas raízes?
Luciano. Com certeza. Gravei este disco
tocando somente piano de cauda. Nenhum teclado. Foi um grande desafio pois tive
que voltar a praticar piano quatro horas por dia. Passei seis meses compondo
músicas específicas para alguns estados do Brasil. Depois passei mais seis
meses estudando essas músicas. Escrevi as partituras no computador nota por
nota para facilitar na hora de gravar. De tanto estudar as músicas, acabei
gravando tudo de cor. As músicas têm uma temática um tanto clássica, mas os
ritmos são integralmente brasileiros. Mosaico é o meu retorno ao piano acústico
sendo que na gravação do CD chamei vários músicos para fazer as melodias e os
improvisos junto comigo. Já que as músicas eram dedicadas aos estados
brasileiros, chamei alguns percussionistas para fazer as levadas
características de cada estado homenageado.
2112. Olhando sua discografia vemos que
você não é o tipo de músico que se apega a uma determinada vertente musical e a
explora a exaustão. Brasil Today é a prova do que estou falando quando você explorou
a musicalidade de dez estados brasileiros para criar uma verdadeira tapeçaria
sonora. Como surgiu essa idéia?
Luciano. Tanto no Mosaico quanto no
Brazil Today, a temática é bem brasileira. Mas deixe-me explicar a diferença
entre estes dois projetos. Para começar, estes dois CDs foram feitos logo um
após o outro. O Mosaico é um CD artístico/autoral, que saiu pela Gravadora
Velas, onde mostro 10 composições minhas para 10 estados brasileiros. Compus
tudo no piano e o trabalho é totalmente acústico. Já o Brazil Today possui 12
composições minhas também com temática brasileira, mas foi gravado com muitos
sintetizadores misturados com bastante percussão acústica. Este é um CD
comercial de trilhas que foi encomendado pela Gravadora alemã Sonoton Records a
qual lança CDs para serem utilizados na sonorização de mídias visuais (filmes,
programas de TV etc.). As faixas são usadas em programas de TV do mundo
inteiro, do Brasil ao Japão. Se eu tivesse ficado preso só ao clássico ou só ao
rock, não teria tido a oportunidade de produzir projetos como o Mosaico e o
Brazil Today.
2112. A nossa música (inclusive o
rock) poderia ser bem mais rica e influente se as bandas explorassem mais o
nosso folclore e sua musicalidade. Apenas Raul Seixas, Quinteto Violado, Novos
Baianos, Chico Science, Mutantes, você etc. ousaram trilhar esse caminho. Qual
a sua visão da cena hoje e quais bandas você destacaria com um trabalho
interessante?
Luciano.Realmente nosso país é muito rico musicalmente, mas parece que nossos novos
artistas não estão muito ligados em difundir a nossa cultura. Na Tropicália,
tivemos uma boa mistura da cultura brasileira com a música estrangeira e até a
clássica (não podemos esquecer dos arranjos do maestro Rogério Duprat). Depois,
a própria bossa-nova agregou a harmonia do jazz ao ritmo do samba, tocado de
uma forma bem leve, intimista. Das bandas dos anos 1980, devemos também
ressaltar ainda, os Paralamas que misturaram temáticas brasileiras com o ska,
rock e reggae. Vi um show deles em Montreux onde o repertório foi bem diferente
do que eles tocam aqui. Temos, ainda, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti que
sempre nos brindam com trabalhos essencialmente brasileiros, misturados com o
jazz. Em relação às novas bandas, no momento, o cenário não é dos melhores.
Tenho percebido que elas estão muito preocupadas em ser moderninhas e aí fazem
aquela mistura pobre de funk com música eletrônica... Falta harmonia. Faltam
solos. E para piorar, cantam muito em falsete pois agora é moda. Para salvar a
situação, de vez em quando aparece uma nova banda de rock verdadeiro. Estas,
pelo menos são mais fiéis e não apelam para modismos. Estas sim, poderiam
misturar um pouco de levadas brasileiras, principalmente do Nordeste.
2112. Eu espero um dia ouvir um álbum
com as músicas do Cartola vertidas para o blues. Vejo que o samba de raiz e o
blues tem uma profunda afinidade. Seria um projeto interessante, não é?
Luciano. É uma boa ideia. As Rosas não
Falam daria um belo blues. Bastaria passar a subdivisão de quatro semicolcheias
para três colcheias e teríamos uma bela levada de blues. A afinidade realmente
existe pois, afinal, o blues e o samba (dança da umbigada ou samba) são
manifestações originadas pelos escravos que vieram da África. A única diferença
é que os escravos levados para os EUA eram de regiões diferentes dos trazidos
para o Brasil.
2112. Falando em releitura, em 2009 você lançou um álbum interpretando a obra do grande compositor Ernesto Nazareth. Como surgiu a ideia desse projeto?
2112. Falando em releitura, em 2009 você lançou um álbum interpretando a obra do grande compositor Ernesto Nazareth. Como surgiu a ideia desse projeto?
Luciano. Em 1999, após muitos anos
envolvido somente em shows e gravações de rock, jazz e MPB, resolvi retomar
meus estudos de piano clássico. Eu realmente estava com saudades de interpretar
as peças de Chopin, Beethoven, Bach, Debussy, Rachmaninoff etc. Então, passei
três anos estudando cinco horas por dia para retomar a técnica e reativar as
mais de cem peças que eu tinha no repertório. Durante mais alguns anos,
mergulhei nos 24 Estudos de Chopin e nos Prelúdios e Fugas de Bach até estar
com tudo na ponta dos dedos. Um dia, organizando minha coleção de partituras,
deparei com a pasta das obras de Nazareth. Como do Nazareth eu só tocava Odeon
e Apanhei-te Cavaquinho, resolvi tirar mais algumas músicas dele. E, o que era
admiração virou paixão! Tinha tudo a ver: era a união perfeita das melodias
chopinianas com os ritmos de origem africana (que eu tanto havia pesquisado
para compor para o CD Baobá e Mosaico) unidos à uma harmonização quase
jazzística. Então, preparei um repertório de onze músicas de Nazareth e deixei
tudo na ponta dos dedos para gravar o CD “Luciano Alves Interpreta Ernesto
Nazareth” para a gravadora Biscoito Fino, usando um piano Yamaha. Depois, em
2014, gravei novamente todas as músicas em um piano Steinway, em Nova York,
enquanto uma equipe filmava as gravações com três câmeras. E esta última, é a
versão do CD que está no YouTube. Enquanto isso, o CD da Biscoito Fino, gravado
no Brasil, continua vendendo normalmente.
2112. Sendo um álbum tributo o que te
levou a incluir a inédita Pipocando no disco?
Luciano. Compus o tango brasileiro
“Pipocando” em homenagem a Ernesto Nazareth em 2001 para apresentá-lo no
Festival Chorando No Rio, realizado na Sala Cecília Meireles no mesmo ano. A
gravação ao vivo desta música inclusive está no CD do festival. Como eu era
detentor único dos direitos autorais, resolvi inclui-la no meu CD dedicado a
Nazareth. Já que ela foi composta em homenagem a Nazareth, com uma levada no
estilo “Odeon”, ela cairia como uma luva para fechar o CD. No YouTube tem duas
versões dessa música: uma gravada no Festival Chorando no Rio e outra no
estúdio de NY.
2112. Que outros compositores você
gostaria de gravar?
Luciano. Atualmente estou preparando
diversos Prelúdios e Fugas de J. S. Bach do livro I e II. Acredito que vou
gravá-los até meados de 2020. Mas gostaria de fazer um segundo CD interpretando
Chopin. Depois, Tom Jobim, George Gershwin, uma seleção de standards de jazz...
E, mais no futuro, gostaria de dar continuidade ao projeto do CD Mosaico
compondo para os estados que não foram incluídos no primeiro CD.
2112. Em 2011 em conjunto com Bettina
Graziani é lançado Só o que a gente gosta apenas com clássicos do jazz e da
bossa nova. Como vocês escolheram as músicas?
Luciano. Quando comecei a conversar com
a Bettina sobre a ideia de fazermos um duo de voz e piano, para interpretar os
standards de jazz, blues e MPB dos quais mais gostássemos, uma coisa ficou clara:
teríamos que ralar muito para escolher o repertório. E, realmente não foi
fácil. Começamos ouvindo minha coleção de 3000 músicas chegamos a uma lista de
100 que gostaríamos de tocar ao vivo e gravar. Depois enxugamos para 40. Essas
40 músicas passaram a formar nosso repertório dos shows. Depois escolhemos as
12 mais relevantes e as incluímos no CD “Só o que a gente gosta” que foi
lançado pela gravadora Fina Flor. Mas ainda temos material gravado e mixado
para mais dois CDs que não sei exatamente quando vamos lançar. Esta é uma
produção relativamente simples pois é só de piano e voz. Gravamos tudo no
estúdio da minha escola de música CTMLA, no Rio de Janeiro. Eu ataco de
pianista, arranjador, improvisador, produtor fonográfico, engenheiro de
gravação, auxiliar de estúdio etc. e a Bettina interpreta com primor, as
canções escolhidas.
2112. Uma coisa que me chama muito a
atenção é que você sempre se cercou de grandes músicos para gravar seus álbuns:
Pepeu Gomes, Fernando Gama, Paulo Moura, Oswaldinho... e mesmo Ruy Motta e
Sérgio Dias seus ex-companheiros nos Mutantes. Gravar com amigos dá mais
segurança?
Luciano. Não é questão de segurança.
Ocorre que quando chamo músicos para gravar, escolho os que tenho certeza que
vão dar conta do recado pois minhas composições não são muito fáceis. Além
disso, na hora do improviso, o cara tem que mandar bem!
2112. Sinto que ... plays Chopin tem
uma atmosfera toda especial. Além de ter sido todo gravado em Nova York
você utilizou um piano Steinway D Centennial Edition Concert Grand de 1881.
Luciano. Este é um CD iluminado. Tudo
deu certo. A escolha das peças foi bem meticulosa. O clima da gravação foi
ótimo lá no estúdio Louis Brown Records. O piano dele é um sonho de
instrumento: teclas pesadas, teclado muito bem equilibrado e a captação com
seis microfones não deixa nenhuma nuance de fora. Acabei gravando tudo em três
horas apenas pois eu já estava com o repertório na ponta dos dedos. Assim, o
resultado ficou como se fosse um recital. Depois, de volta ao Brasil, equalizei
os microfones, editei os vídeos de cada música e subi para o meu canal pessoal
do YouTube. Este CD, assim como os demais, é vendido pela CD Baby e as faixas
estão no Spotify.
2112. Você mencionou certa vez que
frequentemente recorre aos Estudos, Noturnos, Polonaises e Baladas do
compositor para manter a técnica e para reviver os sentimentos mais profundos
que somente as peças de Chopin proporcionava.
Luciano. Chopin é o compositor que mais
me emociona. Sua obra engloba todos os parâmetros (tools) da técnica pianística
e exige muito aprofundamento na interpretação. Em especial, as Baladas 1 e 4
são muito densas e proporcionam uma técnica bem apurada após anos estudando-as.
A forma que temos para manter a técnica é o estudo do repertório e dos
exercícios do clássico. Não há como um pianista evoluir tecnicamente tocando só
rock ou só jazz. É necessário ralar nos Estudos de Chopin, de Moszkowski,
estudos mecânicos variados etc.
2112. Neste cd você explora
intensamente as nuances de dinâmica, o legato, o pedal de sustain o que muito
valoriza a riqueza das melodias do compositor rock romântico.
Luciano. Chopin foi um grande
melodista. Mas, ao mesmo tempo, os seus arranjos são muito carregados de
acordes, contra-pontos, saltos de baixos, arpejos na mão esquerda etc. Para
tocar Chopin corretamente o pianista deve destacar sempre a melodia. Por mais
que estejam ocorrendo arranjos densos de acompanhamento, a melodia é o item
principal. O próprio Chopin anotou Cantabile em várias partituras. Por isso o
pianista deve estar sempre preocupado com o equilíbrio de volume entre as mãos
(melodia e acompanhamento). Realmente Chopin demanda muito aprofundamento na
interpretação das dinâmicas e das intensidades. O pedal de sustain é extremamente
importante e, muitas vezes, usamos a técnica de mezzo-pedale. Com uma boa
técnica, conseguimos fazer com que a música soe simples, mesmo que ela seja
muito difícil de executar.
2112. Uma mera curiosidade... você já
pensou em gravar um álbum com características sinfônicas voltadas para o prog?
Luciano. Já sim, mas nunca comecei a
colocar no papel, ou seja, no software. Com os recursos de gravação via áudio e
sequenciamento MIDI que possuo atualmente no estúdio, acho que faria 50 minutos
de música progressiva sinfônica em um ano de trabalho já incluindo as
composições, arranjos e orquestrações. Mas, cadê o tempo para isso? Estou muito
dedicado à escola de música e gravações com o piano acústico. Além disso, tenho
produzido cursos de piano online que demandam muito tempo para finalizar.
Atualmente estou com quatro cursos online na plataforma de ensino à distância
Udemy. Já lancei três cursos em português e um em inglês. Atualmente, tenho
mais de 10000 alunos online em mais de 70 países.
2112. Qual o telefone/e-mail para
contratar você para shows?
Luciano. O telefone é o da minha escola
de música CTMLA: (21)2226-1033. O e-mail comercial é:
contato@lucianoalves.com.br
2112. Muitíssimo obrigado pela entrevista, pela paciência em responder e ... o microfone é todo seu!
L Luciano. Eu é que agradeço a
oportunidade. Você me fez reviver minha carreira desde os idos dos anos 1970.
Esta foi uma ótima fase da minha vida e, a partir desta entrevista pude sentir
o gostinho daquela época. Foi um ótimo flash back. Desejo muito sucesso para o
seu blog e deixo aqui um forte abraço para todos os seus seguidores. Vida longa
para o 2112!
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