A Picanha de Chernobyl é sem sombra de dúvidas uma das
melhores bandas surgidas nos últimos tempos no cenário do rock brazuca. São
mais de dez anos de estrada, quatro grandes álbuns de estúdio e milhares de
shows (inclusive no exterior!). Para quem conhece parabéns e para quem
desconhece corra atrás.
2112. Este ano a banda completa dez
anos de estrada e quatro álbuns maravilhosos
na bagagem: Picanha de Chernobyl, O Velho e o Bar, O Conto, a Selva e o Fim e o
mais recente Sobrevive. Qual o balanço que vocês fazem desse tempo?
Matheus Mendes. Muito obrigado pelo espaço, primeiramente! É uma boa pergunta. É tão complexo para uma banda que teve tantos integrantes como nós, já passou por muitos formatos e cada disco tem sido, durante esses dez anos de estrada, muito diferentes entre si - claro, sempre manteve praticamente o mesmo estilo. Rock brasileiro.
2112. Sobrevive saiu recentemente com
grande apoio dos fãs da banda, não é?
Leonardo Ratão. É um disco que conseguimos com o apoio do público da Picanha de Chernobill, através de uma campanha inesquecível de financiamento coletivo em que viabilizamos todos os custos de produção. Foi demais. Ultrapassou a meta que estabelecemos!
Chico Rigo. Nós mesmos. Sempre tivemos essa
vontade, esse sonho de gravarmos um disco por nós mesmos, em uma imersão. Foram
mais de uma semana de produção e captação e a mixagem foi a que demorou mais,
digamos uns 5 meses. O disco foi concebido em uma fazenda no interior de São
Paulo, em Itu, a Fazenda Rosário, que pertence a um grande parceiro nosso de
rua.
2112. É interessante que ao invés do tradicional disco ao vivo vocês optaram por um trabalho de estúdio para comemorar os dez anos da banda.
Matheus Mendes. Já lançamos três discos ao vivo
e a galera acaba querendo mesmo um álbum de músicas inéditas.
2112. Vocês lançaram algum single antecedendo a chegada do novo álbum?
Leonardo Ratão. Lançamos três singles que acreditamos que fossem representantes do álbum, de certa forma. E para o Sobrevive, Hey Você!. São Muitos Que Se Vão e Não Sou de Esperar são faixas que não são tão longas e podem representar a obra antes do público escutar por inteiro.
2112. A Picanha tem uma grande
performance ao vivo o que sem dúvida daria um grande registro em dvd. Vocês tem
algum projeto nessa área?
Chico Rigo. Não temos nada em vista no quesito DVD ou esse tipo de material por agora, pois estamos produzindo videoclipes para o Sobrevive. Seria incrível gravar um show e produzir em formato físico. É uma boa idéia!
2112. Nos arquivos da banda existe gravações dos shows realizados nos palcos europeus? Existe a possibilidade desse material ser lançado algum dia?
Matheus Mendes. Lançamos recentemente um ao vivo em Bonn, na Alemanha que está disponível no nosso canal do YouTube, é só acessar. Temos uma edição de disco ao vivo da segunda turnê, do ano passado, já disponível nos shows e também, a segunda edição em fase de produção, com shows da tunê deste ano!
2112. Vocês pretendem investir mais
nessa área? Como foi a recepção da banda nos palcos europeus?
Leonardo Ratão. Sempre foi muito boa e aberta.
Neste ano, fizemos a terceira tour européia, já com o disco Sobrevive nas mãos
e voltaremos para produzir o LP desse mesmo, ano que vem. Sempre é um bom
investimento ser uma banda estrangeira em algum lugar do mundo, principalmente
se é uma banda brasileira. Os gringos amam o Brasil, as pessoas daqui e
valorizam demais a nossa música e a nossa arte em geral. O nosso plano, desde o
começo, era criar laços para todo o ano voltar. Está cada vez mais preenchido
de amigos, cada vez mais prazeroso e viável. Vale muito à pena investir em
outras culturas, até porque somos uma banda que se apresenta nas ruas e isso,
lá fora, é um assunto muito valorizado.
2112. Uma das maiores barreiras para
uma banda brasileira conquistar o mercado externo é a questão da linguística.
Existe projeto de lançar algum álbum em inglês?
Chico Rigo. Acho que não é de muito o nosso estilo. É uma língua bonita, mas o português é a nossa praia. Já gravamos algumas coisas mistas com inglês como em Come Back ou Oh Be My Baby, My Baby Blue, mas sempre foi uma coisa qualquer, sem qualquer tipo de protagonismo. E a música não tem fronteiras, assim como existem músicas de todas as línguas. Quem não gosta de ouvir uma música em francês? É bonito também!
2112. Temos aqui uma ótima cena mas falta toda uma infraestrutura em termos de público/patrocínios/lugar para tocar etc. Na opinião de vocês o que falta para o mercado interno acontecer?
Matheus Mendes. Estamos cada vez mais perdendo
coisas fundamentais no nosso país, com o governo de um boçal. O Brasil é um
país de cultura rica, mas não há a valorização merecida para o que é orgânico,
cultural, educativo - sempre as fórmulas, o entretenimento em excesso e a venda
rápida em massa para o povo. Existe uma gama de bandas fantásticas que não
estão nas primeiras paradas, existem milhares de artistas que estão produzindo
muito nesses tempos de caos que se estabeleceram por culpa dessa corja que está
destruindo tudo, por onde passa.
Leonardo Ratão. Foi uma das coisas mais
importantes que aconteceram na história da banda. Quando ainda morávamos em
Porto Alegre, fomos, com a banda Os Vespas, para um congresso que se chamava
Fora do Eixo, onde vários artistas e produtores se encontravam. Foi muito bom,
conhecemos muitas pessoas queridas que, até hoje, temos contato no meio
musical. Logo depois, fizemos uma turnê pelo estado de SP, ambas as bandas, e
foi inesquecível. Aí, então, decidimos vir em definitivo.
2112. Foi dificil a adaptação na terra da garoa? Como foram os primeiros tempos?
Chico Rigo. Foram cheios de vontade e de amizade. De começo, alugamos um apartamento no Edifício Planalto, na rua Maria Paula, centro de São Paulo - a porta ficava aberta, todo mundo entrava - e mais parecia com um programa de televisão, onde não se sabia quem seria o próximo a passar pela porta de entrada. Muita música, muitas composições, muita pizza e muita gente. Essa fase foi responsável por grande parte das músicas que compomos no disco "O Conto, A Selva e O Fim".
Matheus Mendes. Boa pergunta - nenhum dos dois, eu diria! Acho que aqui
em São Paulo tem muitas características trazidas de quem vem de fora do estado.
Aqui nós conhecemos muito do que é o nosso país, da política às gírias, dos
costumes também. Enfim, sentimos que somos gaúchos paulistas, mas acima de
tudo, somos artistas brasileiros.
2112. O Sul, na minha opinião, tem uma das maiores e melhores diversidades musicais do planeta. Cara, quantas bandas e discos fodas. É uma puta cena, não?
Leonardo Ratão. Dos anos 60 aos 90, o Rio Grande de Sul teve uma efervescência musical e audiovisual intensa. Ainda é regado à exímios artistas de todos os campos, não só da cena musical. Nos dias de hoje, podemos ter uma boa ideia do que foi e do que continua sendo a linha que o nosso estado segue culturalmente. A falta de incentivo e de espaços também influenciaram muitas bandas a desaparecer, mesmo que outras conseguiram se manter. É assim em todo o país, penso - mas o sul equivale a qualquer estado brasileiro, todos ricos de expressões e segmentos diferentes, ritmos e melodias.
2112. Apesar de estarem morando em Sampa vocês acompanham toda a movimentação que acontece na cena gaúcha? O que vocês tem ouvido de interessante?
Chico Rigo. Acompanhamos sempre e volta e
meia, estamos lá nos apresentando também.
2112. Sempre ouço falar que os fãs
do sul além de fiéis são muito família. Isso cria vínculos profundos entre a
banda e o seu público, não é?
Matheus Mendes. Acho que não é só lá, temos isso aqui também. As pessoas acolhem a nós em qualquer lugar.
2112. Foi depois de uma apresentação
na tv que vocês foram convidados a se apresentarem no Rock In Rio. Qual
foi a sensação de tocar para uma platéia maior que a de costume?
Leonardo Ratão. Foi mágico, com certeza. Muita gente se conectou, conheceu a banda e tivemos uma melhora de público, também. Gostaríamos que fosse assim sempre, só palcão - mas não é só isso que existe, palcos pequenos também são um mistério que, muitas vezes, superam a alegoria e a imensidão de um público gigante.
2112. Quais as melhores lembranças que
vocês tem do festival e do próprio show da banda?
Chico Rigo. O hotel em que ficamos. Lá,
ficamos no mesmo quarto, azucrinando, rindo alto, contando piadas e criando
apelidos. Estava rolando uma energia muito bacana naquele tempo, de renovação,
novo ciclo. Isso tudo influenciou no show. Foi incrível cada minuto dessa
viagem.
Matheus Mendes. Foi, sim. Acampamos todos
juntos, vimos muitos shows excelentes, fizemos um dos shows mais energéticos da
história da banda às 3h da manhã. Foi inesquecível!
2112. Como surgiu o Projeto
"Picanha na Rua" que já conta com mais de mil apresentações?
Leonardo Ratão. Foi uma questão de sobrevivência, de poder disseminar a banda. Tivemos esse ideal quando vimos a Mustache & os Apaches atuando bem na rua. Vislumbramos um futuro nas ruas para nós, também. E assim foi o que de melhor fizemos nos últimos anos - conhecemos muitas pessoas e aproveitamos demais cada momento, assim como muita gente nos conheceu e nos apoiou em todos esses anos de rua. Valeu a pena.
2112. Vocês já cobraram do Guiness o nome de vocês no Livro dos Records? Afinal vocês são como o Pelé do rock'n'roll, não é?
Chico Rigo. Ainda não, mas é uma boa idéia!
2112. Assistindo aos vídeos da banda
sempre tem a participação de alguma banda/músico como o Made In Brazil,
Johnatha Bastos, Bárbara Bivolt, Beto Bruno, Marcelo Gross, Lucas Caracik... É
importante manter esse vínculo sem esquecer que isso também ajuda a ampliar e a
diversificar o público.
Matheus Mendes. Importantíssimo ter essa noção de que todos andam juntos nessa caminhada artística.
2112. Como surgiu a idéia de criar o Festival Anhagabablues? Ele já teve quantas edições?
Leonardo Ratão. Quando morávamos em um prédio no Anhangabaú, tínhamos como vizinho o Lumineiro, da Mustache & Os Apaches. Além dele, haviam mais vários artistas e figuras que conviviam conosco, cada um em uma sala comercial - quase uma 'invasão' em um prédio comercial, onde todos eram acolhidos pelo Estúdio Lâmina. Nesse convívio, haviam momentos em que descíamos com os instrumentos, equipamentos, etc, para azucrinar geral e conseguir um troco. Bem em frente ao prédio em que morávamos. Essas jam sessions, em que participaram muitos parceiros e amigos, foi batizada de Anhangabablues, pelo querido Lumineiro. Aí, então, surgiu o festival logo depois, que conta com apenas duas edições e a terceira, dia 7 de dezembro desse ano. Já temos as bandas e estamos prestes a começar a divulgação!
Chico Rigo. Gostamos muito dos clássicos
estadunidenses e ingleses, é claro. Mas a música brasileira desses tempos estão
cravadas no nosso estilo de tocar e compor. Um pouco de tudo, de nacionalidades
e ritmos, mas tudo dessa época é um bom estudo para nós, pela proposta da
Picanha de Chernobill. Digo, também, que não se limita a essas duas décadas o
nosso interesse pela música. Realmente os 60 e 70 nos agrada muito, mas
atualmente tem tido artistas e bandas que nos encantaram e já inspiram nossas
canções também, como a Teko Porã, os Mustaches (antes citados), Monoclub, Joe
Silhueta, Molodoys, Murilo Sá, entre vários outros tão importantes
quanto.
2112. Achei super interessante vocês citarem no release da banda a influência da música brasileira de raiz no trabalho da banda. Vocês poderiam explicar melhor essa história?
Matheus Mendes. A pureza da música de raiz brasileira - que são vários segmentos - é incomparável. Do que temos registrado, é pouca coisa, mas é uma vida a se pesquisar. É tanta gente que contribuiu para arte que a busca nunca acaba. Talvez seja do que mais gostamos de ouvir atualmente.
2112. Olhando o cenário do rock hoje tem alguma coisa que empolgue vocês?
Leonardo Ratão. Todo mundo é roqueiro, na
verdade!
Matheus Mendes. Nosso email para contato é picanha.shows@gmail.com e telefone (11) 9 8484-2349!
2112. ... o microfone é de vocês!
Leonardo Ratão. Carlos querido, muito obrigado, de verdade, pelo espaço e pela entrevista! Ao 2112, sucesso sempre! Grande e fraterno abraço da Picanha de Chernobill.
Excelente banda, sonoridade e pegada! Parabéns rapaziada e tb ao blog furia2112 pelo apoio e incentivo as bandas do rock nacional.
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