O blues foi e sempre será a grande matriz que alimenta todas as diretrizes da música universal. Seja no tom confessional de suas letras como nos seus riffs cortantes. Oriundo da Bahia o Mr. John é um digno representante desta vertente que encanta gerações e gerações e que agora chega as páginas deste blog.
2112. Quando você foi iniciado no blues?
M.J.B. Nos anos 80, época
da minha adolescência não tinha um rumo e nem gosto musical que me atraia
tanto. Chegava do colégio e sempre passava na “Sessão da Tarde” filmes do Elvis
Presley, e a trilha sonora me despertou curiosidade, principalmente nas músicas
voltadas ao blues. Mas só no final de 1986 que conheci um grande músico e amigo
Marlon Villa, um super guitarrista e cantor que já tinha uma vasta bagagem do
gênero, foi ai que falei: é isso que quero tocar.
2112. Suas influências vem
de Freddie King, B.B. King, T-Bone Walker e Muddy Walters. E da nova geração do
blues quem você ouve? Hendrix, Vaughan, Mick Taylor, Alvin Lee, Clapton...
M.J.B. Sim, todos esses que
citou foram fundamentais pra que o amor ao blues crescesse a cada dia. Como
percebeu minha influência é voltada mais ao blues tradicional, por mais que a
linguagem de certos artistas descambe pro jazz, rock, country etc etc, acho que
tenho a visão mais roots, digamos assim. Quanto a nova geração escuto de tudo,
não tenho aquela coisa de ser tão purista no que escuto no dia a dia.
2112. Entre os zilhões de
álbuns que você já ouviu e que por um motivo te marcou profundamente?
M.J.B. Ah! Freddie King foi
o primeiro camarada que mexeu comigo, essas coisas não tem muita explicação,
mas lembro que depois de ouvir Muddy Waters, B.B. King e outros que eram os
mais badalados no estilo da época, Freddie King tinha algo diferente, tanto no
fraseado da guitarra quanto na voz, pura energia, enfim. Havia um programa de
blues na rádio Brasil 2000 FM (Blues as Sextas-Feiras) do Luis Fernando Vitral
(Brother Bill) que sempre ouvia e gravava o programa em fita K7 foi quando
rolou o CD inteiro “Live in Antibes” (França), aquilo me deixou fascinado e não
parei mais de escutar e pesquisar. De tantos artistas sensacionais, ficar
escutando somente um durante certo tempo marca bastante, amei, gostei, me
entusiasmei, sei lá.
Mr. John Blues Combo
2112. Tenho comigo que o
blues tem as letras mais confessionais e sinceras da história juntamente por
partir de experiências próprias ou comunitárias como as works songs. Qual a sua
opinião?
M.J.B. São letras simplórias
que falam do cotidiano das pessoas e histórias, que na maioria das vezes são
verídicas, relata muito sofrimento e dor, seja no amor ou fatos de sua vida,
todos que conhecem o bom e velho blues já sabe, mas vai além disso, fatos da
vida de certos artistas se tornaram canções eternizadas. Isso é maravilhoso, faz
o feeling se aflorar, precisa mais?
2112. Entre 1987/89 você atuou como baixista na Power Trio Revolution Blues. A banda fazia apenas releituras de clássicos do blues ou também tinha material autoral?
2112. Entre 1987/89 você atuou como baixista na Power Trio Revolution Blues. A banda fazia apenas releituras de clássicos do blues ou também tinha material autoral?
M.J.B. Clássicos do
blues era o que rolava muito, como éramos jovens, cada um vinha com uma
novidade pra mostrar e se exibir hahaha. Eu adorava “Highway” Freddie King,
Marlon tudo de Muddy Waters e Wagner o baterista já curtia Stevie Ray
Vaughan e blues alternativos. Música própria mesmo só rolou uma “Revolucion
Blues” que era o nome da banda e com uma letra que falava na revolução do
blues, não me lembro bem a letra.
2112. A primeira banda
acaba sempre servindo de laboratório para o músico se aperfeiçoar aprendendo
novas técnicas, a compor, arranjar etc. Com você também foi assim?
M.J.B. Com certeza, como
falei todos queriam se exibir e mostrar algo que chama-se atenção, isso fez com
que tivéssemos mais empenho, as vezes rolava um laboratório interessante e umas
merdas também.
Calibre 12 Blues Band (1990)
2112. O que mais te marcou durante esse tempo na Power
Trio e o que levou a sair da banda?
M.J.B. A primeira banda de
blues que fiz parte, o entusiasmo e o amor que tenho até hoje pelo blues, dou
graças a esse começo. O que marcou mesmo foi os fins de semana no pátio da
escola Dr. Alberto Badra (Vila das Belezas), onde rolava os ensaios e sempre
curiosos iam ver a bagunça, o clubinho tava montado, amigos que até hoje
não esqueco. As apresentações da banda foram pouquíssimas, creio que desmotivou
todos um pouco, e cada um seguiu seu caminho, não rolou aquela história “a
banda acabou” bla bla bla.
2112. O que te levou a se
mudar para São Paulo?
M.J.B. Nasci numa cidade pequena
da Bahia, “Olindina”. Meu velho pai cuidava do pequeno pedaço de terra do meu
avô que se intitulava “Fazenda Cana Vieira”, onde tinha algumas cabeças de
gado,cabra, galinha... etc, etc, essas coisas da roça, além de ser o sanfoneiro
da região mais popular “Jonga”. Amigo de um seresteiro que passou por lá certa
vez chamado Noca do Acordeon decidiu vir para São Paulo tentar a vida, a
princípio trabalhando como cozinheiro e tentando a vida de artista, é assunto
pra outra entrevistas essa história. Foi assim.
2112. Como surgiu o convite
para você participar da lendária Calibre 12 uma das bandas pioneiras do cenário
blues paulistano.
M.J.B. Depois de dar uma
pausa na “Revolucion Blues” fui ver o show da Calibre 12 (1989) no extinto bar
Persona no Bixiga, onde rolava blues, jazz de altíssima qualidade, sai de lá
com brilho nos olhos com a performance da banda e principalmente do guitarrista
Fábio Siri que parecia entrar em transe quando atuava nos solos, um puta
feeling pra resumir. Fiquei com aquele show na cabeça e comecei a ir onde se
apresentavam. Num desses shows no também extinto “Blue Note” troquei algumas
palavras com o Siri e peguei seu telefone já com a idéia de estudar guitarra,
passou algum tempo e no começo de 1990 liguei para iniciar minhas aulas, aula
por sinal inesquecível, detalhes pra outra conversa, enfim, perguntei da banda
quando comentou que estava parada por falta de baixista, reagi logo dizendo que
tinha um baixo e curtia blues pacas, ficou quieto e não me disse nada, achei
normal diante de um aprendiz de guitarra a atitude. Finalizando a aula com um
bate papo sobre guitarristas de blues e tudo mais, me disse: traz o baixo na
próxima aula... uhoooo fiquei bem feliz só de poder levar o instrumento e fazer
um som com ele. Creio que peguei mais no baixo aquela semana do que nos dias
habituais hahaha. Chega o dia da aula e já nem penso mais na aula de guitarra,
queria mesmo era ta no meio da bagunça fazendo um som com aquele cara, acabando
a aula perguntou se não tava afim de fazer um som com ele... opa!!!!! Não
excitei!!!! Claro!!!!!! Uhooooo. A triste notícia é que a banda tava se
desfazendo com a saída do vocalista (Carlito), e em seguida o baterista Luis
Kruc teria desanimado também. Restou o Luis Fernando (gaitista) e o Siri da
formação original, não queriam acabar a banda, foi quando sugeri chamar o
baterista Sidney Lélis (Cidão) com quem tinha amizade no bairro onde morava e
de ter feito algumas sessions com a “Revolucion Blues”. A história foi
aumentando com shows, festas, viagens e deu no que deu, ficou pra história e
faz parte da cena blues brasileira.
Zona Blues (2004)
2112. Soube que a banda
fazia muitos shows em bares, pubs, festivais, projetos de rua... A banda era
bem popular, não?
M.J.B. Se tornou bastante
popular mesmo, João Hashish amigo e produtor da banda armava muitos eventos na
cidade e estados do Brasil, por exemplo o Festival de Lavras até hoje é
inesquecível, mas também não tinha tantos grupos na cidade de São Paulo, se
resumia em três que mais atuava: Expresso 2222 do bluesman Paulo Meyer,
Blue Jeans do super guitarrista Alan, o primeiro guitarrista brasileiro que vi,
escutei e presenciei tocar Stevie Ray Vaughan à risca, e foram surgindo vários
grupos e artistas, 3 Em Blues, Banda Cara de Pau, Orquestra Paulista de Soul,
Blues For Sale, Blues Connection, Ventura Blues Band, Dr Felgood Blues Combo,
Companhia Paulista de Blues, Spirit Blues,Urublues, Blue Trip, Black Dog Blues
Band, Mr Mojo Blues Band e assim cresceu a cena blues paulistana, tem assunto
de bandas até os dias de hoje. Espero não ter esquecido alguma banda que fez parte
desse começo... presenciei vários shows em meados dos anos 90, ficou difícil
lembrar todas.
2112. Durante o Nescafé
Blues Festival em 1996 vocês recepcionaram os artistas do evento como
participou de uma jam session junto a lendas com Luther Allison, Pinetop
Perkins, Jeff Healley, Eric Burdon, Derek Trucks etc. Isso é uma experiência
única, não é?
M.J.B. Ahhhh!! sim. É outra
atmosfera, linguagem, afinal a cultura não é nossa, e ver esses caras do lado e
dividir o palco não tem preço. “RESSALTANDO” que nesse festival não fiz parte
da banda, apenas participei das memoráveis noites de Jam no Hotel Transamérica.
2112. Existe gravação desta
jam?
M.J.B. Deve existir sim, mas
eu particulamente não tenho nem vídeo e nem áudio, existe fotos e matéria em
jornal, revista. Falar em revista antes da Blues’n’Jazz a revista chamava-se
Black & Blues que cobria todos os acontecimentos do gênero na época, sem
palavras pra agradecer o grande colega e jornalista Helton Ribeiro.
Programa Talentos Record News (09/03/2016)
2112. Apesar das
performances incendiárias a Calibre 12 acabou em 1998. O que de fato aconteceu?
Vocês chegaram a gravar algum material?
M.J.B. Tinha shows abeça,
época fantástica pra banda, porém da formação original só ficou o Fábio Siri,
eu mesmo sai duas vezes por um período curto, brigava com os integrantes das
outras formações, sei lá, grandes músicos mas não curto esse papo de fazer pose
de Pop Star num gênero respeitado porém muito ingrato em certos aspectos.
Gravações em áudio tem um CD com 12 músicas (1993) que não foi lançado pelo
fato do Luis Fernando (gaitista/vocalista) ter saído e vídeos tem vários
publicados no Youtube e um monte engavetado ..logo mais alguém publica. Belas
canções com letras em português compostas pelo Fábio Siri, Luis Fernando,
Sérgio Campiani, algumas no meu canal do YouTube Mr John Mr John https://www.youtube.com/channel/UCTcV9G1E7r0mZjgsCRmsf9g?view_as=subscriber
2112. Logo você funda o Instituto Música Blues & Jazz ministrando aulas de guitarra e contrabaixo além de integrar a banda do gaitista Fernando Naylor. Como você conciliava a sua agenda?
2112. Logo você funda o Instituto Música Blues & Jazz ministrando aulas de guitarra e contrabaixo além de integrar a banda do gaitista Fernando Naylor. Como você conciliava a sua agenda?
M.J.B. Essa época me
dediquei mais a aulas e estudar guitarra, o fato de ser conhecido como baixista
sempre acompanhava os artistas mas sem compromisso. Fernando Naylor sabe muito
do estilo, foi e é sempre um aprendizado pra mim, é uma pena que não leva a
vida musical em primeiro plano, ta certíssimo diante da profissão que tem
(Neurologista). Um super gaitista, todo respeito.
2112. Conte um pouco sobre
a participação da banda na gravação da música A Gaita e a Sanfona do cantor Téo
Azevedo. Não deixa de ser curioso a junção de dois rítmos tão distintos. O que
você achou da experiência?
M.J.B. Atuava com a banda do
Dr Felgood Blues Combo (Fernando Naylor) e a sua amizade com Flávio Guimarães
proporcionou essa session. Vamos lá: com a vinda do gaitista Charlie
Musselwhite ao Brasil, onde a turnê passava por São Paulo, Charlie Musselwhite
encontrou um CD do Téo Azevedo numa dessas andanças (loja) e curtiu bastante,
rolou a idéia do Téo gravar uma mistura de blues e forró, no meio de tantos
elogios recebido pelo gringo Flávio Guimarães armou essa tur que facilitou o
contato com o Fernando Naylor. Lembro bem de estar no estúdio onde os Mamonas
Assassinas tinham gravado (sinistro) na Serra da Cantareira, depois de vários
takes até sair do jeito que o Téo queria, colocaram um agogô eletrônico, pois o
Cidão (Sidney Lélis) baterista não tinha levado e nem imaginava que iria usar.
A experiência foi demais, só não imaginava como seria a aceitação na época,
hoje em dia tá tudo junto e misturado na modernidade musical.
Coral Spiritual Blues
2112. O que mais te
influenciou a fundar a Zona Blues? Você ainda fazia parte da banda do Naylor?
M.J.B. O tédio... kkkkkk só
dava aula e saia as vezes pra tocar com alguns bons músicos do blues, a vontade
de tocar guitarra também deu um UP. O brother Marcio Halcksik (gaitista) esteve
presente nessa época que surgiu a idéia de armar um time. O bar do Fred em
Santo Amaro era o point pra passar noites com a gaita e o violão, com muito
blues claro...ahhhh tinha a sinuca também, éramos rivais hahaha, enquanto
trocávamos idéias de blues a sinuca era a distração. A banda do Fernando Naylor
como disse não era prioridade na vida dele e sim hob, ficou difícil assumir um
compromisso e me dispor. Voltando a história da Zona Blues, Marco Guto
(baixista) tínhamos sociedade no ”Instituto de Música Blues & Jazz”,
conheci o Ed Blues (cantor) através do baterista Osnir vendo o show da banda
“Boca de Valores”, uma puta voz rouca e negróide me chamou atenção e convidei
pra se integrar ao grupo, até então era só diversão, foi ficando sério e sugeri
o nome da banda Zona Sul Blues Band, o Ed com sua visão mais ampla me convenceu
de que ficaria muito rotulada e bairrista e sugeriu “Zona Blues”, baterista era
sempre um problema depois da saída do Osnir que tinha muitos shows com bandas
covers, Antony King filho do Mauricio Pedrosa (tecladista), Fernando Rappolli,
Fabio Pin, Luís Fernando, e finalmente Victor Busquets esse super baterista que
dispensa comentários, Mauricio Pedrosa foi o último que entrou no grupo e deu
outra cara pras músicas com sua experiência em atuações na banda Tutti-Fruti
(Rita Lee), Nuno Mindelis e outros.
2112. Durante uma
apresentação no Juke Joint o cantor americano J.J. Jackson subiu ao palco e deu
uma canja memorável. Isso é tipo de coisa que dinheiro nenhum paga, não é?
M.J.B. Momentos da vida que
faz a gente amar essa vida de músico, artista ou qualquer outra coisa do tipo,
e o saudoso J.J.Jackson era um show man conduzia não um show, mas um
espetáculo.
2112. Esse show inclusive gerou um convite para que vocês participassem da primeira Virada Cultural de Tiradentes em 2005. Como foi o show?
2112. Esse show inclusive gerou um convite para que vocês participassem da primeira Virada Cultural de Tiradentes em 2005. Como foi o show?
M.J.B. Confesso que fiquei
apreensivo em ver o resultado, mas foi massa pra caramba, uma platéia
sensacional que participava e gritava aquelas palavras chavões que tem nos
shows de blues, o camarim era uma tenda cheia de frescura pra artista, só tomei
as cervejas mesmo. O J.J.Jackson deixava
todos a vontade, parecia que era o milésimo show juntos, era só o
primeiro, e no repertório só os clássicos. Um único número fez a capela “Wonder
Full Word”... dukaráleo.
Show Bourbon Street (com Robson Ferandes) (12/09/2006)
2112. Em 2005 é lançado o
cd The Basement Tapes gravado ao vivo nos estúdios da Rádio Kiss. Essa gravação
pertence a algum especial da rádio?
M.J.B. Participamos do
programa “The House of Blues” do ator e radialista Ricardo Corte Real que
conseguiu o espaço no estúdio da rádio, independente de fazer o programa com
ele. As sessions foram em dois finais de semana se não me engano, com alguns
convidados fazendo parte, infelizmente não saiu no CD todas as faixas onde Igor
Prado, Marcio Abdo,Luis Fernando Lisboa, Leandro Pó, Paulo Sagui fizeram parte.
Assunto pra quando tiver a oportunidade de falar com a turma da Zona Blues.
2112. A gravação foi
realizada num único take como se fosse uma apresentação da banda?
M.J.B. Foi tudo ao vivo,
algumas músicas saíram de primeira e foram registradas no CD outras foram mais
takes, enfim, era em pique de show a gravação mesmo.
2112. O material pelo visto
ficou muito bom a ponto de ser lançado oficialmente em cd. O que impulsionou vocês
a tomarem essa decisão?
Jam Blues (Feat. Lorenzo Thompson)
M.J.B. A idéia de gravar um
cd já havia amadurecido com o convívio que tínhamos na banda, a oportunidade
surgiu em ótima hora, sem motivos pra dizer não: um puta estúdio da Kiss FM,
todos animados com o trabalho, vários shows, era a hora.
2112. Em 2006 a Revista Blues'n'Jazz realiza uma noitada de blues e você dá início ao "Movimento Blues". Explica como ele funciona?
2112. Em 2006 a Revista Blues'n'Jazz realiza uma noitada de blues e você dá início ao "Movimento Blues". Explica como ele funciona?
M.J.B. Sim, uma bela noite
no Bourbon Street, casa lotada e vários convidados pra tão esperada Jam. As
festas da revista Blues’n’Jazz já era ponto de encontro de músicos e
admiradores do blues que ocorria uma vez por mês no Bourbon. Helton Ribeiro
mentor dessa façanha conseguia articular um grande público e músicos de
diversas partes do Brasil, agradeço até hoje por fazer parte dessa história, 12
de setembro de 2006 pra mim será inesquecível. Jam Sessions na cidade já rolava
a muito tempo, a idéia veio mesmo no final de 2006 depois dessa super festa com
o nome “Blues 100 Teto”, a princípio. O objetivo e pretensão era alcançar pelo
menos 100 casas, entre bares, pubs, algo relacionado a periferia e espaços que
aderissem o projeto. João de Simoni, grande publicitário e pai do meu querido
Gian Carlo, exímio aluno de guitarra foi fundamental pra concluir o nome do
projeto, pois tinha o nome “Blues Sem Teto” na cabeça com a intenção de
evidenciar a falta de espaço que o gênero estava sofrendo, me convenceu
em segundos com o nome “Blues 100 Teto”, já que queria pisar em pelo menos 100
lugares pra iniciar o movimento.Com a parceria da “Agenda Cultural da
Periferia” comecei o projeto juntando poucos amigos do blues, cachê reduzido e
a vontade de levar o bom e velho blues a periferia era difícil sem a
colaboração dos artistas Top do momento, infelizmente o blues nacional não atinge
o povão, tornou-se elitizado. Seguindo a vida blues continuei as Jam, mas em
lugares que tinham melhores condições em receber os músicos com um suporte
financeiro, bons lugares, e poucas aparições na periferia ou bairros mais
humildes. O Ventania, bar em Moema rolava a Zona Blues e sempre com ilustres
convidados, Celso Sallim é um que não esqueço com suas aparições, que resultou
em Jams no bar “Carro de Bois” junto com Rodrigo Mantovani indicado ao prêmio
de melhor baixista de Chicago recentemente, mas foi em 2014 que tive a idéia de
mudar o nome para “Movimento Blues” com a visão mais ampla, afinal blues só pra
elite não vai mudar e nem acrescentar nada ao povão em relação a música negra
norte americana, no morro chega a Black Music, Funk, Soul, Reggae, Rap, cultura
de outra nação que o brasileiro curte e já conquistou seu espaço na periferia,
por menos que seja os admiradores. A falta de mostrar e levar pra comunidade o
que é o blues, faz com que a dificuldade se torne maior, não depende só de mim,
claro, é só a idéia que enfatizo a tempos e não desanimo. Páginas, blogs,
revistas, tv, rádio etc etc, ajuda, mas nada direcionado a comunidade,
independente das Fábricas de Cultura, Casas de Cultura ou algo assim, os
artistas poderiam mostrar um pouco da arte blues, histórias e suas vivências
com o gênero. É muito massa se apresentar em bons lugares com cachês dignos,
porém a cena não se fortalece como deveria e só lamentações, reclamações e
pretensões ilusórias.
2112. Vocês realizam shows,
festivais, encontros, jams... Tem algum endereço/e-mail para contato caso algum
músico ou banda se interesse?
M.J.B. Sim. Mais detalhes do
trabalho Mr John Blues Combo pelo e-mail mrjohn.blues@gmail.com na página https://www.facebook.com/MrJohn.Blues/?ref=bookmarks . A mais de dez anos o
brother Alexandre Zequi realiza a Jam Blues da cidade no Clandestino Estúdio,
pico massa na rua Augusta e sempre que posso me faço presente. A Escadaria do
Jazz dia 9 de novembro comemora os 5 anos do projeto e aproveitando o mês da
“Consciência Negra” com uma feira de “Afro Empreemdedores”, uma super produção
realizada por Luiz Tim Ernani que acontece todo segundo sábado do mês com jazz,
blues, soul, black music, hip hop e vertentes da música de hoje. Mr John Blues
Combo fazendo parte dessa festa com muito entusiasmo e feliz em ter projetos
que se sustentam a anos com tudo que precisamos pra fazer um bom espetáculo.
Jam Blues com Alexandre Zequi e Diego Basa
2112. Foi numa dessas jams
que você reuniu Robson Fernandes (gaita e voz), Adriano Grineberg (piano, órgão
e voz), Izal de Oliveira (contrabaixo) e Caio Dohogonne (bateria) para uma jam
resultando na criação do Movimento Blues, não é?
M.J.B. Como falei anteriormente
foi o passo que deu origem a idéia do “Movimento Blues”. Time intitulado de
“Dream Team do Blues” por Helton Ribeiro, cada um com seu trabalho, mas com o
objetivo de acender a fogueira no palco do Bourbon Street.
2112. No ano seguinte é
lançado Pela Paz com composições autorais em português. Como foram as gravações
e o processo de composição?
M.J.B. O cd “Pela Paz”
da banda Zona Blues eu já não fazia mais parte do grupo e foi lançado em 2017
com letras muito massa do cantor Ed Blues, assunto pra eles contarem em alguma
oportunidade.
2112. Você compõe tudo sozinho ou os demais integrantes da banda também contribuem?
2112. Você compõe tudo sozinho ou os demais integrantes da banda também contribuem?
M.J.B. As idéias de arranjos
geralmente são minhas, mas todos contribuem com suas idéias também, as letras
das músicas autorais são composições do brother Rodrigo Barrales com grande
influência do delta blues que transformei pro blues elétrico, e letras minhas
que estão em fase de gestação ainda.
Mr. John (Jam session no Carro de Bois)
2112. Como disse antes vejo
o blues como um movimento muito confecional. Você escreve suas letras a partir
de experiências próprias ou tudo que acontece em torno de você te influencia?
M.J.B. Na parte instrumental
tenho várias idéias e temas que se encaixam em determinadas letras, pra esse cd
o Barrales é quem está no comando, além de ter o domínio da língua, tem idéias
de letras que curto e trabalhamos as divisões da melodia aos poucos pra termos
um bom resultado.
2112. Você poderia contar
sobre o projeto "Música Pra Pular Blues Brasileira"?
M.J.B. “Música Pra Pular
Brasileira” é o projeto do colega Marcio Abdo com composições próprias em
português, letras marcantes e simples, fácil de gravar e cantar, refrões que
ficam na cabeça em instantes.
2112. Foi a partir desse
movimento que nasceu a Márcio Abdo Blues Band e o cd Plano B, não é?
M.J.B. Deixar claro que o
movimento ainda não se consolidou como deveria, há grupos que não se misturam e
não agregam outros, fatores financeiros, pessoais, e postura de alguns, vai
entender o ser humano. Enfim, o Marcio Abdo sempre fizemos Jam e guigs pra defender
uns trocados, e numa dessas Jam me convidou pra fazer parte da banda dele, um
baita gaitista de calibre internacional topei na hora, como tinha a luthearia
de gaita e queria estar atuando nos palcos também resolveu gravar uns vídeos
pra divulgar, ficou tão bacana que prensou a bolachinha (cd)...vou deixar o
link dessa entrevista do programa “Talentos” na Record News com as palavras
dele.
https://www.youtube.com/watch?v=Y-e2J0NjWvM&t=440s
https://www.youtube.com/watch?v=Y-e2J0NjWvM&t=440s
2112. Por quanto tempo você
participou da banda do Márcio e quando foi que você decidiu que era a hora de
sair para formar a sua própria banda?
M.J.B. Fiquei de 2015 até
2018. Não sai da banda, fui mandado embora por divergências com o baixista,
rolou um box e tudo mais, minha atitude não poderia esperar algo diferente. É
brother até hoje, sem ressentimentos, e o baixista se entendemos a pouco tempo
atrás.
Alessandro de Lima, Mr. John & Dom Paulinho Lima
2112. O blues tem avançado
terreno ao longo dos anos com o surgimento de bandas e instrumentistas notáveis
sem contar os muitos eventos dedicados ao estilo. Estamos num período bom, não
é?
M.J.B. Muito bom em se
tratando de músicos, em relação a espaços em São Paulo são poucos, muitas
bandas e artistas de primeira, complicado na cidade. O lado bom é o cenário
blues no Brasil, vários festivais, casas e bares com gringos sempre dando um UP
nos eventos.
2112. Você acompanha o
crescimento da cena de perto? O que você tem ouvido de interessante?
M.J.B. Acompanho bastante,
principalmente os jovens talentos. Guitarristas e gaitistas é o que mais tem
aparecido com propriedade, nomes como Diego Nicolay (gaita), Mauricio Miguel
(guita), Léo Duarte (guita), Enéias Ribeiro (gaita), Éric Gaúna (gaita e voz) a
banda Heartfellaz todos jovens fazendo um som de primeira e outros que não vi
ainda apenas acompanho nas redes sociais, prefiro presenciar o show desses
jovens ao vivo pra poder comentar algo ou até mesmo pegar dicas, sempre
aprendendo com eles.
2112. O que você mais sente
falta nas bandas de hoje?
M.J.B. A maioria falta mojo,
linguagem, ás vezes comento com algum amigo quando vou em algum desses shows
que parece blues de academia, tudo muito certinho, timbre, a mecânica dos
improvisos reta, harmonia básica demais, resumindo não tem feeling, creio que
não arriscam soltar algo que não fique preso a regras, sabendo que existe 12
compassos pra contar a história com pontos, vírgulas e acentos. Agora a velha
guarda ta demais só evoluem, um que admiro é o guitar man Décio Caetano de
Curitiba, blues pra dedel, Igor Prado sem palavras, os irmãos Simi fodásticos,
meu parceiro Dan Marques da Mr Jonh Blues Combo sensacional e tem uma leva
ainda, assunto pra várias entrevistas.
Jam Session no Carro de Bois (Feat. Celso Salim, Everson Mira, Alamiro Sazueda e Mr. John)
2112. Apesar da abertura do
mercado com o advento das plataformas digitais o que mais dificulta manter uma
banda na ativa?
M.J.B. A ilusão de escolher
um gênero onde não existe POP STAR BLUES no planeta a ponto de lotar estádios e
achar que o fato de ser um grande músico vai ficar famoso ao extremo,
milionário ou coisa parecida, outros fatores como comportamento é bem fácil pra
mim, não rola dividir o palco com fulano, então sigo a minha trilha e o
camarada a dele. É quase loteria fazer parte de uma banda de blues que seja
duradoura hahaha.
2112. A banda tem algum
projeto para lançar um álbum ou mesmo um single ainda este ano?
M.J.B. Sim. Já estamos em
fase de gestação pro álbum.
2112. O que você pode adiantar nesse sentido?
2112. O que você pode adiantar nesse sentido?
M.J.B. Mr John Blues Combo
conta com meu parceiro Dan Marques (guitarra e voz), Fábio Pagotto (baixo) e
Pablo Marchatto (bateria). No momento temos músicas com letras em inglês e duas
instrumentais que estamos elaborando ainda, sendo que uma das faixas regida
pelo brother de longa data Dom Paulinho Lima e coordenação de Alessandro Lima,
letra do parceiro Rodrigo Barrales e arranjos Mr John. Participações de
convidados sensacionais como o gaitista Márcio Halcsik, Victor Busquets e Alex Campelo
(tecladista). Barrales pode falar um pouco das letras que curto que é
exatamente relatos da vida blues.
R.B. Minhas letras muitas
vezes são momentos, acontecimentos ou vivências, tentando sempre usar um inglês
simples e coloquial, como nos antigos blues da Fazenda, uma frase que leio, um
desenho que vejo e muita conversa de bar.
Abdo Blues Band (Sesc Belenzinho)
2112. Vocês já compuseram
algum material novo?
M.J.B. Sim. Oh Night é uma
que em breve estará nos shows com mais evidência, instrumentais é o que mais
fazemos, até pra servir de espécie de laboratório no momento. Canções com
letras como falei ao longo dos shows vamos colocando e acertando antes de sair
a bolacha.
2112. Para contratar a
Mister John Blues Combo qual o telefone/e-mail de vocês?
M.J.B. Na página Mr John
Blues Combo tem sempre novidades de nossa atuação shows, eventoshttps://www.facebook.com/MrJohn.Blues/?ref=bookmarks e-mail: mrjohn.blues@gmail.com Telefone (11) 9
8929-4434
2112. ... o microfone é
seu!
M.J.B. Só agradecer esse
espaço que você nos dá pra contar um pouco da história da gente, vida longa ao
bom e velho blues. O Blog 2112 é um dos poucos que leva informação de tudo que
rola de músicos e artistas brazuca com tanta determinação e sem custo. Show.
Eu e meu mestre Fábio Siri no Ventania Bar (Moema)
Nenhum comentário:
Postar um comentário