O grupo surgiu em 1986 em Sorocaba, interior de São Paulo e lançou
apenas dois álbuns: O Ápice e Hard Macumba e acabou. Mas a banda com o passar
dos anos está mais viva do que nunca e o álbum O Ápice cada vez mais
cultuado.
2112. O Ápice este ano completa trinta e um
anos e cada vez mais vem despertando o interesse de uma nova geração que
praticamente esgotou o seu relançamento em cd. Como vocês explicam isso?
Tudo foi feito espontaneamente, sem pensar muito,
mas desde o início o VZ buscava romper paradigmas e fazer músicas legais sem
repetir fórmulas usuais. As letras poéticas e oníricas já cantavam a
transformação que buscávamos. Não tínhamos muito dinheiro e os improvisos,
principalmente na bateria e percussão de lata, gerou junto com a barulheira das
guitarras e a pulsação e efeitos do baixo uma sonoridade que não ficou datada
na linha de tempo. Os meios digitais contribuíram para ampliação do
conhecimento da nossa música. Basicamente O Ápice tem músicas boas com a marca
registrada VZ, num diálogo punk-rock com Brasil.
2112. O álbum apesar de
ser genial amargou no ostracismo por vários anos. Isso faz lembrar bandas
seminais como Os Mutantes, Harry, Fellini, Peso, DeFalla etc que só tiveram o
devido reconhecimento com o passar do tempo. Isso magoa vocês?
Tem diferenças grandes, os Mutantes por exemplo
gravaram com as estrelas da MPB e cantavam em festivais na TV; o DeFalla
tocava na 89 FM na época. O Vzyadoq Moe não, a gente era das garagens e porões
mesmo. Mas, era exatamente isso que procurávamos. Então, não tem mágoa nenhuma.
Demos muitos shows de 1988 até 1993, interior de São Paulo, Rio de Janeiro,
Curitiba, Londrina, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, entre muitos. Fomos até
convidados para tocar no New Music Seminar em Nova Iorque, EUA; que não pudemos
ir por falta de grana mesmo. Gravamos pela Wop Bop, um selo que todos os discos
publicados são seminais e importantes. Gravamos em coletâneas brasileiras e
gringas super legais como: Enquanto Isso... Sanguinho Novo, No Wave, Colt 45. O
Ápice foi relançado em CD e agora está nas plataformas streamings. A gente não
tem mágoa não, nos divertimos forte.
2112. A crítica quando não
entende o som de uma banda ela rotula e me lembro que vocês ganharam vários
deles: pós-punk, gótico, samba, kraustrock, experimental, industrial... Como
vocês definem o som do Vzyadoq Moe?
Olha, a coisa mais legal é que a crítica gostava do
VZ, Sonia Maia, Bia Abramo, Celso Pucci (o querido Minhoca) escreveram textos
muito legais e delicados. Outros eram um show de desencontros, falavam entre
uma coisa dark e gótica, industrial e experimental. Pensamos que o texto do
Mario César de Carvalho para a Folha de SP foi o que chegou mais perto. O som
do Vzyadoq Moe é dadaísta por princípio e existencialista por formulação
artística, ele é a junção de 5 caras que queriam fazer algo novo, é o VZ nada
mais.
2112. Como surgiu a
parceria entre vocês e o selo Wop Bop?
A história do Vzyadoq Moe não seria a mesma sem a
presença do Will Baptista, também de Sorocaba, que pegou as fitinhas cassete
demo da banda e saiu por São Paulo apresentando para um monte de gente legal.
Nessa ele cruzou com o Antonio e o René da Wop Bop, daí o resto é história. O
Will foi quem nos levou para São Paulo, onde tocamos realmente bastante, muito
mais que Sorocaba onde demos uns 3 shows. Ele também nos apresentou na Bizz,
que deu muita matéria legal com a gente. A Wop Bop foi super legal conosco,
acertando as coisas todas de direitos e grana direitinho, ajudou a tentar
promover, mas a gente era muito estranho.
2112. Quais lembranças
vocês tem das gravações do álbum? A gravação foi realizada numa única sessão?
O Ápice foi gravado nos antigos Estúdios Eldorado
no centro de São Paulo. Um estúdio já antigo para época, todo analógico
gravando em fitas de 1 polegada. O produtor foi o José Augusto Lemos, que
emprestou seus samples e a veia digital para a bolacha. Tinha um gente boa que
aparece na foto da capa do encarte, mas que esquecemos o nome. A Marcinha
Montserrat apoio e participou também. Foi bem legal, gravamos as baterias e
baixos em primeiro, depois as guitarras, por último os vocais. No dia da
gravação dos vocais ninguém da banda pode ficar, deram um conhaque e deixaram o
Fausto Marthe à vontade para cantar suas poesias. Não tínhamos instrumentos
profissionais então o José Augusto emprestou uma guitarra e o Angelo
Pastorello, que era baixista do Violeta de Outono, emprestou o baixo dele, de
quebra virou o fotógrafo oficial do álbum. Assim, colaborativamente fomos
gravando. Foi complicado para achar a sonoridade, mas finalmente saiu o LP e
fomos para os shows.
2112. Me digam uma coisa:
Como foi gravar com aquela bateria construída a partir de sucatas e objetos não
convencionais? Tento imaginar a cara do produtor e do técnico de estúdio diante
de uma situação inusitada como essa ou você usaram uma batera convencional?
Realmente a bateria de sucata da primeira fase da banda
era bem complicada no quesito acertar o som. Tanto em shows como no estúdio
umas latas brilham mais que as outras, os microfones estavam preparados para
som das peles. No fim, tratavam como se fosse o som de pratos, mas não era,
soava mais seco. Mas o resultado final é sempre instigante, especialmente nas
músicas Desejo em Chamas e Não Há Morte, onde a lata se sobressai e confere um
tempero único para as canções.
2112. Lembro que havia uma
grande expectativa em torno da banda e do próprio álbum. O que deu errado?
Porque O Ápice não vingou?
Como O Ápice não vingou? Você está nos
entrevistando exatamente por causa dele. Precisamos desmontar essa cultura da
personalidade, não queríamos fama, queríamos romper horizontes, então
entendemos que deu tudo certo. Estamos tocando direto nos playlists por aí...
2112. Como o público
reagia nos shows visto que o som de vocês era bem mais ousado, pesado e
experimental que bandas como RPM, Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Zero etc?
Nos shows o VZ realmente se completava. Sempre
tocamos cenografados, com roupinha especialmente desenhada para os shows, o
Morto (Fausto Marthe) cantava com os figurinos mais radicais, e a gente
ensaiava bastante e tocava direitinho. Tinha uma trupe que acompanhava, viajava
junto, ajudava na montagem, cenografia, tudo. E tinha público em todos shows.
Agora no começo a metade do público vaiava legal. Tinha gente na plateia que
gritava: - Chega! Ai que a gente encompridava ainda mais o show. Nosso circuito
era alternativo: Espaço Retrô, Cais, Der Temple, Mambembe, e outras biqueiras.
Mas, em todos eles voltamos para tocar inúmeras vezes. Tocamos também no Sesc
Pompeia, Projeto SP, Centro Cultural SP, entre outros lugares bacanas também. O
show foi ficando cada vez mais pesado e já era bem hardcore na última formação
como quarteto na época da música do clip Rompantes de Fúria. Mas, o som da
época era bem mais pesado, agora parece que a maioria está mais para Belle e
Sebastian.
2112. Na opinião de vocês
o atual cenário está melhor ou pior do que quando vocês surgiram?
O cenário independente sempre se renova e apresenta
novas possibilidades. A gente foi muito feliz com a banda, mas achar que era
melhor antes não confere. O que entendemos em nosso momento no final dos 80 e
início dos 90, principalmente nos 80 a busca era por diferenciação, hoje está
mais para aceitação.
2112. Outro diferencial no
som da Vzyadoq Moe era as letras de Fausto Marthe com influências do dadaísmo e
do impressionismo Alemão...
As letras representam muito para o VZ, pois delas
saiam a construção sonora. Sempre uma microfonia vinha com os versos do Fausto:
As trincas nas paredes; os desencantos puxando o tapete da rotina e da mesmice
para trazer o incauto ouvinte para o abismo. Vzyadoq Moe não existe sem as letras
que conduzem os climas e as texturas musicais.
2112. Orlak disse certa
vez numa entrevista que: "Mercenárias estão acima dos outros, mas o
Vzyadoq Moe está acima de tudo." Esse pensamento ainda persiste?
As Mercenárias foram a razão de existir da banda,
cujo impacto do show delas em Sorocaba provocou um cataclismo que virou o VZ.
Nosso primeiro show em São Paulo foi abrindo para elas, depois tocamos várias
vezes juntos. Até ensaiamos junto algumas vezes em Sorocaba e São Paulo. Os 3
Hombres também vinham direto ensaiar com a gente em Sorocaba. Era uma
comunidade roqueira dos independentes. A gente falava isso porque buscávamos o
ápice das coisas.
2112. Outra afirmação
interessante: "Tem muita gente que acha que banda nacional não
presta." Luto com meu blog para tentar mudar essa visão equivocada. Qual a
visão de vocês hoje acerca da atual cena?
Sempre vão haver bandas novas e boas. A história do
rock e punk brasileiros é linda, temos bandas de expressão mundial com a
chancela do Brasil. É uma afirmação pra lá de colonizada essa. Eu vejo é muita
banda gringa ruim mesmo, mas que não param de tocar nos playlists por ai
empurrados pela indústria musical.
2112. A primeira vez que
ouvi falar da banda foi na extinta Revista Bizz que trouxe um breve histórico e
uma resenha do álbum O Ápice e depois não soube de mais nada. Anos mais tarde
descobri a existência do álbum Rádio Macumba e também do fim da banda. O que
aconteceu nesse meio tempo e o que mais motivou o retorno da banda?
O Vzyadoq Moe teve 3 formações. A primeira, com
Peroba batera, Degas baixo, Fausto vocal, Marcelo e Jaksan guitarras. Depois
saiu o Jaksan e entrou o Fernandão nas guitarras. Já no início dos anos 90 o VZ
virou um quarteto com Peroba, Degas, Fausto e Marcelo. Nessa formação gravamos o
único clipe que fizemos para a MTV, o Rompantes de Fúria. Posteriormente no
meio dos anos 90 juntamos material gravado e não compilado e soltamos o Hard
Macumba, que está disponível no Spotify. Ainda temos outros fonogramas, poucos,
que ainda não soltamos. Em 2010, o VZ voltou para um show no Asteroid em
convite irrecusável de amigos da banda The Name, tem algumas músicas
disponíveis no youtube e soundcloud. Tem também no soundcloud algumas fitas
cassete com ensaios gravados. E tem tudo na nossa página (http://vzyadoqmoe.com.br/ ).
2112. Vejo que muitas
bandas perderam o senso de ousar, de experimentar por estarem presas aos vícios
mercadológicos. Isso fode tudo, não é?
Sim, querer agradar, ao invés de agredir, nem rock
e nem punk é, daí fode mesmo.
2112. Falem um pouco sobre
a criação e gravação do álbum Hard Macumba. Musicalmente o que torna diferente
de O Ápice?
O que diferencia O Ápice para nós são as músicas,
gostamos de todas, elas não se repetem em nenhum aspecto, ao contrário vão
provocando um turbilhão emocional. O Hard Macumba a invenção se sofistica ainda
mais porque tecnicamente dominávamos mais e tínhamos melhores instrumentos para
tocar. A coisa do Brasil é pronunciada, as letras crescem em formulações e
imagens ainda mais fortes e oníricas. Também, somos mais agressivos na execução
e formulação das músicas. Já na fase final como quarteto, enxugamos o som e
ficamos mais diretos.
2112. A repercussão desse
álbum foi melhor que O Ápice?
No Spotify tirando Redenção que é a mais pedida, as
demais músicas mais tocadas são do Hard Macumba. Esse álbum define e consolida
o VZ como banda e proposta musical particular.
2112. Vocês participaram
do disco tributo Sanguinho Novo em homenagem ao mutante Arnaldo Baptista. Como
surgiu o convite?
Bom a gente frequentava a panela roqueira da época,
tinha um apelo diferenciado, daí o Alex Antunes e o saudoso Miranda convidaram
a gente. Topamos mas ninguém nunca tinha ouvido o Arnaldo, corremos atrás do
prejuízo e decompusemos totalmente Bomba H Sobre SP. Mas, não tínhamos muito
haver com a proposta dele.
2112. Vocês descontruíram
toda a música dando a ela uma nova visão. Ficou foda!
Sim, como não colava com a gente a sonoridade
setentona do Arnaldo, partimos para re-criar e fazer da emoção dele, a nossa
emoção. A participação no Sanguinho Novo sem dúvida ajudou muito o conhecimento
do VZ.
2112. Outra participação
interesante foi em Enquanto Isso...? produzida por RH Jackson e Alex Antunes
com várias bandas indies brazucas. Foi nesta coletânea que vocês incluíram
Santa Brigda e The Cabinet cantada em inglês. Vocês pretendiam invadir o
mercado externo?
A gente tinha proposta de tocar na gringa e pensou
em fazer umas letras em inglês, mas não foi muito nossa praia. Paramos ai
mesmo. Mas, aproveitamos um espaço totalmente livre e autoral para experimentar
e apresentar novos caminhos.
2112. Assistindo aos clipes da banda eles tem uma edição rápida que lembra muito as produções do punk e do grunge... tudo muito urgente. Isso é intencional ou é o jeito da banda trabalhar?
Temos um clipe em toda nossa vida que é o Rompantes
de Fúria. Na época do VZ como quarteto a gente estava no auge do barulho e da
urgência. Sim, foi intencional e a direção do Gil Caserta e do Sérgio
Martinelli foi mestre em captar nossa essência. Gravamos no Anhangabaú no
centro de São Paulo num prédio centenário na esquina da São João com Prestes
Maia.
2112. Existe projeto de
lançar disco novo nos próximos meses? Como anda o processo de composição?
Não, talvez alguns fonogramas ainda não lançados
como Via Plastex e Rompantes de Fúria da fase quarteto que ainda não estão
online.
2112. Os álbuns O Ápice e
Hard Macumba terão novas reedições em cd/vinil ou serão disponibilizados nas
plataformas digitais? Quem sabe?!
2112. Qual o
telefone/e-mail de contato para shows?
Visitem nossa página www.vyzadoqmoe.com.br que lá você nos conecta. Aliás lá tem
muito material para ser encontrado. Também, em nossa Fanpage no
Facebook/VzyadoqMoe
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