Uma das
coisas que mais gosto de fazer é visitar páginas de bandas dos mais variados
estilos para conhecer outros sons além dos que costumo ouvir. E numa dessas
“visitas” dei de cara com a Gear e seu rock eletro-acústico cheio de poesia...
Um som para se ouvir tranquilo para não perder nenhum detalhe de uma verdadeira
tapeçaria musical. É com muito orgulho que apresento a vocês a banda Gear!
2112.
Primeiramente me explica uma coisa... como um gaúcho, um carioca, um paraense e
um amazonense se encontram em pleno coração da Amazônia e formam uma banda?
Alexandre.
Parceiro, isso é sorte! (risos). Mas faz um certo tempo que nós paramos de
acreditar em coincidências... Todos nós chegamos em Santarém por motivos
diferentes, mas o amor pela música e a vontade de construir um trabalho próprio
nos uniu... Hoje somos amigos que têm uma banda em comum...
2112. Como
vocês se conheceram?
Alexandre. Eu já
tinha uma banda em comum com o Diego (Batera). Ele por sua vez é amigo de infância
do Rubinho (Baixo), que sempre curtia nossas composições. Minha esposa é amiga
da esposa do Bruno (Percussão), e sempre me falava “Você tem que assistir o
Bruno tocar! Ele vai incrementar muito o som de vocês!” Dito e feito! Hoje
somos quatro caras que veem a música do mesmo jeito...
2112. É
interessante ver a fusão de várias culturas musicais regionais ajudando na
criação de uma nova experiência sonora. Como vocês trabalham todas essas
informações sem perder a identidade e a particularidade de cada um?
Alexandre. Eu
gosto de pensar que isso é mais fruto do trabalho de ouvir música, do que
propriamente tocar... Cada um trouxe sua identidade meio que formada para a
banda: O Diego veio de uma escola Heavy Metal, porém tocava em bandas dos mais
diferentes gêneros. O Bruno é Ogam, e isso traz uma série de elementos
percussivos tribais que deixa o som bem peculiar... O Rubinho toca grunge, mas
o primeiro instrumento dele foi o Charango (Instrumento boliviano), em
Parintins. Então a gente tem muita coisa regional no nosso som! Às vezes a
gente se reúne e ao invés de ensaiar fica escutando e procurando músicas
novas... Enfim... É um eterno aprendizado.
2112. E onde
é que o folk entra nessa história? Todos ouvem?
Alexandre. O folk
é talvez o gênero mais abrangente do mundo... (risos). O que é o folk? A gente
adora Bob Dylan, Geraldo Azevedo, Nilson Chaves..., mas se você procurar pelo
trabalho do Gonzagão em sites internacionais, verá que muitos deles o
classificam como “Brazilian Folk”! Almir Sater é Folk também? Enfim... Nós
escutamos todos estes artistas maravilhosos! Além das toadas de Boi bumbá que
adoramos todos! Aqui na banda somos todos torcedores do boi azul (Caprichoso)
rsrsrs.
2112. Tantas
informações numa única banda deve gerar grandes experiências sonoras... e
também muitas discussões. Quais são as influências de vocês?
Alexandre. Sim,
muitas! Principalmente quando temos a oportunidade de conversar com outros
artistas, de assisti-los! Além dos artistas que citamos na pergunta anterior, podemos
citar 14 Bis, O Terço, Boca Livre, Creedence, Beatles, Radiohead, Arraial do
Pavulagem, Cat Stevens, Eduardo Dias, Nato Aguiar, Maria Lídia... São tantos...
2112. E na
hora da criação das músicas e das letras como é o processo de composição de
vocês? Todos contribuem?
Alexandre. Recentemente a gente vêm distribuindo mais as tarefas
de escrever letras! Todos gostam de escrever... AS melodias e os ritmos têm
participação de todos, inclusive do Renan Pereira, que produziu nosso primeiro
álbum.
2112. O Brasil
é um país rico de lendas e costumes que tem servido de material para muitos
compositores e poetas. Vocês também se utilizam desse rico acervo cultural nas
composições de vocês?
Alexandre. Demais!
A gente fala sobre amor, sobre solidão, sobre crises existenciais, sobre
perda..., mas a mensagem final é tentar sair do “buraco” ... (risos). É
mostrar a que ouvem que você não está sozinho nessa barca..., mas respondendo a
sua pergunta, sim, a gente lê muito sobre lendas, mitos e histórias... Nosso
álbum tem a faixa White Feather, que é um breve conto sobre o poderoso Pena
Branca. Além disso, Santarém tem paisagens incríveis e isso é uma fonte de
inspiração ilimitada...
2112. Além
do material autoral vocês incluem releitura de clássicos do folk e do rock (em
formato acústico) nos shows da banda?
Alexandre. Sim!
Nossa versão preferida é a de Mercy Street, do Peter Gabriel, totalmente
acústica, com viola caipira e charango... Mas tem outras... El condor pasa,
High and dry (Radiohead)...
2112. Vamos
falar um pouco sobre o cd “Norte estrada”. Como ele foi idealizado e como foram
as gravações?
Alexandre. A
gente decidiu gravar em Agosto do ano passado. As gravações começaram em
setembro/2017 e foram até dezembro... Nós juntamos todas as músicas que já
apresentávamos nos shows e adicionamos mais duas, compostas durante as
gravações...
2112. Vocês
tiveram muito tempo em estúdio?
Alexandre. Na
verdade não... Nós tentamos ensaiar bastante antes de começar a gravar...
Trabalhamos muito na pré-produção, para otimizar o tempo em estúdio. Mesmo
assim, muita coisa mudou durante a gravação...
2112.
Levando em conta a rica musicalidade da Gear como vocês trabalham os arranjos
das músicas? Gira muita discussão nesta hora?
Alexandre. Sim,
todo mundo opina! E o legal é que ninguém fica melindrado... O consenso é
deixar o som ”Gearizado”, como nós chamamos (Risos)
2112. Vocês
já pensaram em utilizar no som da banda elementos elétricos como fez Bob
Dylan, CSNY, Neil Young entre outros ícones do folk?
Alexandre. Com
certeza! Nós inclusive usamos bastante! Na música moderna, uma coisa não irá
necessariamente apagar a outra...
2112. Pouco
ou nada se sabe sobre a cena roqueira amazônica. Infelizmente a mídia se
concentra sempre no eixo Rio/São Paulo... ou casos isolados como foi Brasília e
Rio Grande do Sul nos anos 80. A cena aí é muito forte? Quem vocês destacariam
como interessantes?
Alexandre. Carlos,
nós estamos na cena do norte, junto com uma série de bandas maravilhosas de
vários estados e vários gêneros musicais. A gente acredita muito no potencial
da “Rede Norte”, como gostamos de chamar a cena! Aqui existem trabalhos maravilhosos
como Nicotines (Manaus), Zona Tribal (Manaus/AM), Savana, Lady Violetta e
Professor Mandrágora (todas essas de Santarém/PA). Lívia Mendes, Superself e
Mágico de Nós (Belém/PA). Mas existem vários trabalhos de qualidade fantástica
por aqui!
2112. Por
estarem distante do eixo Rio/São Paulo onde a grande mídia se concentra existe
mais união entre as bandas?
Alexandre. Sim e
não... (Risos)...Acho que cena é meio igual em todo o lugar... Sempre existem
os que trabalham muito por ela, e os que... Bem... Deixa pra lá... (Risos).
2112. Vocês
têm muitos eventos como festivais e circuito de bares para se apresentarem?
Alexandre. Sim,
mas ultimamente nós temos filtrado um pouco... O barzinho sempre foi e sempre
será nossa escola! Mas a partir do momento em que assumimos ser uma banda
autoral, temos nos focado mais em eventos culturais, Festivais...
2112. E as
rádios ajudam na divulgação do material das bandas?
Alexandre. Alguns
radialistas são muito receptivos... Mas é difícil ter um programa de rádio
dedicado aos que ainda não estão no mainstream...
2112. Uma
curiosidade: como é fazer “gear” em pleno coração amazônico?
Alexandre. É
maravilhoso, irmão... Gostamos de acreditar que nossa “geada” não vem para
esfriar o coração das pessoas, mas sim para aplacar algumas dores e
principalmente: Para que as pessoas saiam do show se sentindo melhor do que
quando entraram...
2112.
Confesso que foi muito bacana entrevistar e saber um pouco mais sobre a música
da Gear. O microfone é de vocês...
Alexandre. Gratidão
pela oportunidade dessa entrevista irmão! Um abraço da Gear, e que a sua casa
seja onde a brisa te levar!!!
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