Sinto
um orgulho muito grande ao entrevistar músicos ou bandas das primeiras gerações
do rock que ainda mostram gás em shows e gravações. Tony Babalu é sem sombra de
dúvidas um dos guitarristas mais importantes da história do rock brazuca. Quem conhece
a sua história ou já ouviu os álbuns Live Sessions I & II concordará com o
que eu estou dizendo. Leia esta histórica entrevista e tire suas próprias
conclusões...
2112. Primeiramente
preciso dizer que está sendo um prazer imenso entrevistar um dos maiores
guitarristas deste país. Parabéns pela sua contribuição ao rock’n’roll
brazuca...
Tony
Babalu. Obrigado, o prazer de ser entrevistado pelo 2112 é
também muito grande!
2112. É verdade que
antes de participar do Made In Brazil você tinha uma banda chamada Aço? Fale um
pouco da sua história.
Tony
Babalu.
O Aço foi minha primeira banda
profissional, um power trio de hard rock com o Rolando Castello Junior
(Patrulha do Espaço) na batera e o Beto Montenegro no baixo, com eventual
participação de Luiz Chagas (Isca de Polícia) em alguns shows. A banda não
tinha repertório autoral, tocávamos Who, Zeppelin, Grand Funk, Steppenwolf,
Purple e outros grupos da época.
2112. Existe algum
registro desse período?
Tony
Babalu. Infelizmente não há nenhum áudio, apenas
pouquíssimas fotos e um flyer. Éramos muito garotos e ninguém tinha a menor
ideia do quanto o registro desses momentos seria importante no futuro. Além
disso, filmar, fotografar e gravar eram atividades muito caras (e raras)
naquele tempo.
Banda Aço (1973)
2112. Você é de uma
época de grandes bandas e grandes músicos não que o cenário atual não tenha
revelado nada de bacana... mas os anos 60/70 foram mágicos em sua essência.
Quais bandas ou músicos em particular despertou em você o desejo de ser músico?
Tony
Babalu. Beatles, Stones, Who, Animals, Cream, Traffic,
Beck, Page, os dois Winter, Santana, Winwood, Mayall... Muita gente nos
anos 60, e nos 70 Steely Dan, ZZ Top,
AC/DC, etc. A lista de bandas é infindável, e a de músicos, idem... Mas se for
para destacar alguém em termos de influência na decisão de ser guitarrista,
esse alguém foi Jimi Hendrix e seu solo matador em Woodstock.
2112. Como surgiu o
convite para participar do Made In Brazil?
Tony
Babalu. O Made estava precisando de um guitarrista para
gravar o primeiro disco, o Oswaldo e o Celso foram assistir ao show do Aço em
um espaço no Bixiga e me fizeram o convite ao final da apresentação. Isso
ocorreu no fim de 1973, e o Made já era referência na época, estando um patamar
acima das outras bandas ao encarar a música de forma profissional, como meio de
ganhar a vida. A partir desse momento também comecei a levar a sério essa
possibilidade.
2112. Pessoalmente
considero o primeiro álbum da banda o maior clássico do rock brazuca. Ele é
perfeito em todos os sentidos... uma porrada sonora que te vira de ponta
cabeça. Quais lembranças você tem das gravações?
Tony
Babalu.
Lembro que foram mais de 100 horas de
gravação, muito pelo fato de os técnicos e produtores da RCA não estarem habituados
a lidar com uma banda de rock, mas no final conseguimos fazer prevalecer as
regulagens e timbragens dos discos importados que estávamos acostumados a
ouvir, não sem algumas discussões e atritos, o que era natural que ocorresse.
Uma conquista importante e pioneira nesse disco são os naipes de metais soando
como nos discos dos Stones, com frases de puro rock and roll, um conceito novo
e de difícil assimilação para uma gravadora tradicional e engessada por regras
até então não questionadas.
Made In Brazil (1976)
2112. Você e o
Celso faziam uma dupla em completa sintonia comparada apenas ao trabalho
desenvolvido na época por Mick Taylor e Keith Richards nos Rolling Stones e
mais tarde a dupla Malcolm e Angus Young do AC/DC. Como vocês trabalhavam os
solos?
Tony
Babalu. O Celso sempre foi um grande compositor
de riffs de guitarra, todos com poucas notas e que grudam no ouvido por serem
facilmente assimiláveis, o que é muito difícil de se fazer e raro em
guitarristas brasileiros. "Doce", "Vou Te Virar de Ponta
Cabeça" e várias outras são exemplos desse talento, que poderia ser mais
reconhecido ao invés de velocidade e outros parâmetros duvidosos que fazem a
cabeça da garotada. Quanto aos solos, no primeiro disco eu ainda não solava, o
que só passou a acontecer a partir de "Não Transo Mais", no álbum
"Jack, O Estripador". Dividíamos as bases, tomando o cuidado de não
tocar na mesma região ao mesmo tempo e ouvíamos os mesmos discos, o que nesses
casos é essencial para dar certo.
2112. Você compôs
Intupitou o Trânsito uma linda balada que se destaca em meio aos muitos rockões
do álbum O que mais o inspira na hora de compor?
Tony
Babalu.
Tenho especial carinho por essa música,
pois além de ser minha primeira composição a ser gravada, é a única em que
tenho os dois irmãos Vecchione como parceiros... Inspiração, em meu caso, tem a
ver com estado de espírito: se estou emocionalmente envolvido com alguém ou com
algo, posso de repente pegar a guitarra ou o violão e sair tocando um tema
novo, que geralmente começa como um groove ou riff sem compromisso. Na maior
parte das vezes esqueço minutos depois, mas quando sinto que é forte e que pode
virar uma música completa, registro e volto a ele mais tarde... Daí em diante é
um processo longo, mas esse é o começo.
Quarto Crescente (1981)
2112. Não podemos
de mencionar a participação do Cornélius que fez um belo trabalho vocal na
música...
Tony
Babalu. Não só nessa música como no disco inteiro. Saudoso
Cornélius, com sua voz rasgada e cortante, um dos maiores cantores de rock de
todos os tempos, e não só do Brasil. Infelizmente, sua carreira foi curta e
meteórica, como tantos outros talentos que nunca deixaram o underground.
2112.Nos álbuns Massacre
e Paulicéia Desvairada você participou com um número bem maior de composições.
Você sempre compõem muito?
Tony
Babalu.
Foi uma época em que estive muito
próximo ao Oswaldo, que vivia em uma casa no Sumaré que era o ponto de encontro
de músicos e roqueiros em geral. As noites eram verdadeiras festas, as pessoas
estavam na flor da idade e o assunto era música, discos, instrumentos,
cenários, shows, roupas, filmes, artes em geral, e sempre sem hora para acabar.
Em uma atmosfera dessas, compor era algo natural, e assim saiu o repertório do
"Massacre", depois acrescido de algumas baladas e rocks dando origem
ao "Paulicéia".
2112. Você se
lembra dos reais motivos que levou a censura a impedir o lançamento do álbum
Massacre? O que eles alegaram? Você lembra de quais músicas foram vetadas?
Tony
Babalu. O que incomodava os censores era o conceito da capa
e do cenário do show, baseado em um tanque de guerra. Era uma época em que, por
conta das restrições à liberdade, o simbolismo e as metáforas eram alguns dos
poucos meios de expressão. O Made incorporava o conflito de gerações e
incomodava pela linguagem, pela forma de se vestir, pela atitude rock and roll,
pela juventude associada à resistência e pela irreverência que o grupo
personificava. Os censores nunca diziam os motivos claramente, desconfio que
sequer sabiam explicar o que vetavam, e chegamos a fazer um show inteiro para 4
ou 5 deles liberarem a temporada de lançamento de "Jack, O
Estripador" no hoje extinto Teatro Aquarius, na Rua Rui Barbosa, no
Bixiga. Algumas músicas tiveram modificações drásticas para serem liberadas,
por exemplo, "A primeira vez sempre dói mais" virou "A primeira
vez eu senti demais" (na música "A Primeira Vez que Você me
Deixou"), e "Eu só quero é chupar o seu sorvete" foi gravada
como "Eu só quero é tomar um sorvete" (em "Quando a Primavera
Chegar")... Mas nos shows as letras eram as originais.
Artigo de Luxo (1981)
2112.
... isso
de uma certa maneira deve ter dado uma abalada na banda, não é?
Tony
Babalu. Se não chegou a abalar, certamente prejudicou
os projetos e atrasou os lançamentos, mudando a história e a carreira do grupo
em sua melhor fase.
2112. O que levou
você a sair da banda?
Tony
Babalu. Na verdade, eu
só fui integrante do Made in Brazil durante um curto período, o das gravações
do primeiro disco, e não saí, fui tirado da banda pelo empresário da época, que
alegou ter sido “uma decisão de gravadora” (RCA Victor). A partir daí, e por
opção minha, decidi participar apenas como convidado, o que me deu liberdade
para fazer outros trabalhos e explorar outras vertentes e escolas musicais.
2112. Tão logo saiu
do M.I.B. você entrou no Quarto Crescente que infelizmente lançou apenas um
álbum. A banda produzia um rock’n’roll bem interessante e que na minha opinião
tivesse o material sido mais trabalhado poderia ter dado a banda um outro rumo,
não é?
Tony
Babalu.
Concordo, Carlos, o Quarto Crescente
poderia ter ido mais longe, faltava disciplina e sobrava carisma naquela banda,
que chegou a tocar bastante em algumas FMs de São Paulo, em uma época em que as
mesmas ditavam o que seria ou não sucesso (e sem jabá, o que era raríssimo). Só
que esse período foi curto e faltou alguém com visão de mercado, que tivesse a
percepção do que estava acontecendo e de qual rumo teríamos de tomar, e aí
perdemos o bonde da história. Faltou empresário, resumindo. Mas de resto,
fizemos programas de TV como o do Chacrinha, o do Fausto Silva (ainda na
Bandeirantes, "Perdidos na Noite") e vários outros, além de muitos
programas de rádio. Uma das músicas, "Bicicleta", foi quase um hit de
verão, embora só na capital. Uma pena não ter ido adiante, tenho saudades do
Percy e do Horácio, que partiram cedo demais.
Bem Nascidos e Mal Criados (1995)
2112. Em 1980 você
participa do festival MPB 80 com a música Cidade Louca posteriormente
registrada em um single com a banda Artigo de Luxo. Porque essa banda também
não vingou ou o single era apenas um projeto?
Tony
Babalu. Você acertou, a banda era um projeto de folk rock e
ficou por um momento conhecida ao classificar uma música ("Cidade
Louca") sem apoio de gravadoras no Festival MPB 80, da Globo, em 1980.
Gravamos um compacto simples pela Tapecar, uma gravadora do RJ, e durante um
tempo a música tocou em algumas rádios FMs com programação cultural alternativa
de SP, como USP, Cultura e Eldorado. Mas, quando estávamos prontos para gravar
o primeiro LP, a gravadora abriu falência (!), e aí ficou difícil. Essas coisas
acontecem e constituem a regra do jogo, as exceções na verdade estão entre os
que conseguem chegar ao sucesso, efêmero ou não, e isso não acontece apenas na
música, acontece nas artes em geral. O Artigo de Luxo foi mais um dos vários
grupos que bateram na trave.
2112. No
ano seguinte você estava de volta ao M.I.B. e até a sua segunda saída
participou de outros álbuns importantes da banda. O que motivou o seu retorno a
banda?
Tony
Babalu. Na verdade eu nunca fiquei distante do Made in
Brazil, exceto na segunda metade dos anos 80. Da discografia da banda só não
participei do ao vivo “In Blues” (1992), e gravei na íntegra os quatro
primeiros pela gravadora RCA.
2112. A sua ligação
com o M.I.B. parecer algo muito mais forte que apenas a música, não é?
Tony
Babalu.
Certamente a minha amizade com os
irmãos Vecchione transcende a música, tanto é que compus para eles
"Vecchione Brothers", uma das faixas de meu primeiro disco solo,
"Live Sessions at Mosh" (2014). Moramos no mesmo bairro desde a infância,
lutamos pelos mesmos ideais, gostamos das mesmas coisas e só não torcemos para
o mesmo time porque ambos são corintianos roxos e o mundo não é perfeito, mas
de resto são meus amigos-irmãos, com ou sem música. Mas com ela mais ainda,
claro.
Turma do rock'n'roll
2112. Achei super
interessante a sua participação no álbum MPblues do guitarrista Duca Belintani.
Vocês são amigos?
Tony
Babalu. O Duca é um bluesman genuíno, e além de guitarrista
é também produtor, compositor, cantor e mais recentemente, até escritor
("Kid Vinil - Um Herói do Brasil"). Tocamos juntos no Bem Nascidos e
Mal Criados e o vejo menos do que gostaria... É um dos raros exemplos de
personalidade e dedicação à música autoral, à guitarra e sobretudo ao blues,
área em que sabe tudo. Quando nos cruzamos, falamos de tudo, não falta assunto
e a diversão é garantida.
2112. Você
contribuiu com duas belas peças no álbum: Tão Down e Bonnie. Elas foram
compostas especialmente para o projeto?
Tony
Babalu. Apenas "Bonnie", "Tão Down" já
existia como parte do repertório do Bem Nascidos...
2112. Em 1989 você
fundou a banda funk “Bem Nascidos e Mal Criados” que obteve grande êxito no
cenário de São Paulo. Vocês
chegaram a gravar algum material?
Tony
Babalu.
Infelizmente não, e isso se deve em
parte pelo Bem Nascidos (1988-1992) ter existido em um dos piores momentos da
indústria fonográfica, que compreende o período da transição do formato vinil
para CD. As gravadoras estavam digitalizando os catálogos e quase não investiam
em discos de inéditas, projetos ou bandas novas. Além disso, o repertório era
de difícil assimilação, quase progressivo, distante dos padrões comerciais das
FMs que ainda ditavam o que vendia no mercado. Mas ao vivo funcionava, e muito.
2112. Você além de
músico também é produtor, compositor, arranjador... Como consegue fazer tantas
coisas e ainda fazer shows, gravar seus discos e ter tempo para você mesmo?
Tony
Babalu.
Nunca parei para pensar nisso, mas acho
que não tem como ser diferente para quem quer sobreviver de música em um país
como o nosso, com tantos problemas agudos e urgentes a serem resolvidos, que
fazem a cultura e o lazer não serem considerados como prioridade quando a
geladeira está vazia. E ela está a cada dia mais vazia. Sobre o dia a dia,
mesmo com tudo isso que você citou, ainda acho que poderia trabalhar mais...
2112. Já deu
vontade de lugar tudo e fugir para o Himalaia?
Tony
Babalu. Não para o Himalaia, que é muito frio e perigoso,
mas para a Ilha de Páscoa, no Pacífico Sul, sim, algumas vezes. Acho que é
assim para todos, afinal somos humanos e não escapamos desses momentos de
querer estar sozinhos em um lugar distante e solitário, por diferentes motivos,
tais como excesso de trabalho ou de responsabilidade, estresse da cidade grande
e outros, positivos ou não. Faz parte da rotina essa necessidade periódica que
sentimos de “fugir da realidade”, e temos de nos habituar a lidar com isso de
forma racional e equilibrada.
2112. Depois
de participar de diversas bandas você lança enfim seu primeiro trabalho solo
“Balada da Noite” em 2003 onde executou e programou todos os instrumentos. Como
foram as gravações em estúdio?
Tony
Babalu.
"Balada na Noite" foi gravado
em casa, em um porta estúdio digital de 6 canais, e começou
despretensiosamente, sem a intenção de se tornar um álbum, o que acabou
acontecendo naturalmente, conforme os temas se encorparam. A ideia inicial era
registrar os arranjos e depois passar para a banda, mas as coisas tomaram outro
rumo e decidi lançar apenas na internet, o que na época ainda era uma aposta.
2112. A experiência
de trabalhar praticamente só em estúdio deve ter sido bem estranho para você
visto que sempre esteve envolvido com bandas. Você sentiu falta de toda a
movimentação em estúdio?
Tony
Babalu. Sim e não, sou viciado em estúdios com e sem banda,
se pudesse moraria em um deles. Mas como disse acima, o "Balada" foi
feito em casa e sem a intenção de ser finalizado, o que acabou acontecendo.
Para gravar um CD autoral e lançar no mercado, contudo, acho indispensável uma
banda.
Tony Babalu & Luiz Calanca (Baratos Afins)
2112. Você chegou a
trabalhar esse material em shows?
Tony
Babalu. Fiz apenas uma temporada de shows em um bar de Jazz
em 2003, mas penso em um dia tirar algumas faixas com a banda e ver o que
acontece.
2112. Entre 2005 e
2007 você produziu os álbuns Noite Proibida de Marise Marra e o trabalho da
cantora Maga Liere. Como é estar do outro lado no comando de toda a situação?
Tony
Babalu. É muito bom também, gosto da adrenalina da
captação, da mix, da master, de todo processo de "achar o som" com o
técnico, de "domar" o artista quando necessário, etc. Nesses dois
trabalhos, tanto a Maga Lieri, com sua levada de black e soul music envenenada,
quanto a Marise Marra, com sua pegada de hard rock visceral, por serem artistas
completas e autênticas, tornaram fácil meu trabalho "do outro lado do
aquário". Não tive de fazer nenhum milagre, nem corrigir nada, o que é
muito raro hoje em dia.
2112. De
uma certa maneira você nunca está parado... Como foi a experiência de trabalhar
com a banda belga Mind Priority. Você chegou a gravar com eles ou apenas tocou
em shows?
Tony
Babalu. O Mind é de um grande amigo, o José Álvaro, e
sempre fico muito contente em participar dos shows quando ele vem ao Brasil
(ele mora na Bélgica há muitos anos). Trata-se de um som sofisticado e
elegante, uma espécie de fusion latino com pitadas de jazz, meio fora de minha
área de atuação e, por esse motivo, sempre um desafio estimulante. Tenho boas
recordações desses shows, e uma das melhores é ter tocado junto com um grande
amigo que se foi, o inesquecível Manito, em 2010, na música "Baianada",
cujo clipe está disponível no YouTube.
Tony Babalu & Kim Kehl
2112. Em 2014 você
cria o trio de rock instrumental Betagrooveband ao lado de Marina Abramowicz na
bateria e PV Ribeiro no baixo com o qual se apresenta em diversos espaços
culturais de São Paulo e região. Como tem sido a recepção? Pergunto isso
levando em conta que a música instrumental nunca teve o destaque merecido no
cenário brasileiro...
Tony
Babalu. A Betagrooveband foi, antes de mais nada, uma
curtição descompromissada, um retorno às origens, e acabou rendendo um
repertório que pretendo gravar em breve. O grupo surgiu espontaneamente e com a
proposta de ser um power trio genuíno de hard rock, mas durante os ensaios
abriu o leque para baladas e funks e recebeu um convite para participar das
comemorações dos 30 anos do Centro Cultural São Paulo, em 2012. Essa
apresentação acabou sendo a melhor e a última da brevíssima carreira do trio, e
está registrada em 3 vídeos no YouTube. Mas, ainda vou chamar a Marina e o PV
para levantarmos acampamento novamente qualquer hora.
2112. Pessoalmente
acredito que o dia que as pessoas verem a voz apenas como um instrumento a mais
no todo o cenário da música instrumental tomará outro rumo, não é?
Tony
Babalu. Respondendo tanto esta quanto a pergunta anterior,
acho que a música instrumental tem mais público do que aparenta, o que falta é
quem aposte nela nas camadas mais populares. Muitos a consideram elitista, e os
produtores relutam em trabalhar nesse segmento por medo de eventual prejuízo.
Por outro lado, projetos como o Instrumental Sesc Brasil demonstram claramente
esse equívoco, com shows sempre lotados às segundas-feiras no Teatro Anchieta,
em pleno centro de São Paulo, e apresentações muitas vezes de artistas pouco
conhecidos. Sobre a questão da voz como um instrumento a mais, acho que esse
dia não vai chegar tão cedo, o mercado não está formatado nem preparado para
isso.
2112. Acho
lastimável ver tantas bandas promissoras acabarem antes mesmo de mostrar todo o
seu potencial por falta de público ou por falta de espaços para tocar. O
circuito de música instrumental é realmente muito restrito?
Tony
Babalu. Sim, é restrito e muito dependente do desempenho de
músicos virtuosos, que não existem em número suficiente para alavancar um
crescimento expressivo de demanda por esse gênero musical. Pode ser, e assim
espero, que esse cenário mude algum dia, afinal o ceticismo não ajuda, mas não
vejo sinais dessa mudança a curto prazo.
Tony Babalu, Tony Campelo e esposa
2112. Você lançou
dois grandes álbuns instrumentais Live Sessions At Mosh I e II onde você exibe
todo o seu carisma e feeling... Como surgiu a idéia de gravar esses
álbuns?
Tony
Babalu. Eu já estava trabalhando no gênero instrumental há
algum tempo, e gravar os discos acabou sendo uma evolução natural, facilitada
pelo fato de ser amigo do Oswaldo Malagutti, dono do Mosh Studios, que por seu
pioneirismo e tradição sempre foi um sonho de consumo de muitos músicos, entre
os quais me incluo.
2112. Achei super
bacana da sua parte abrir mão do sistema digital tão em voga nos últimos anos
em favor do sistema analógico. O que mais ti impulsionou a tomar essa decisão?
Tony
Babalu. O Mosh estava justamente testando um novo aparelho
de gravação, o Clasp, que sincroniza a captação analógica em fitas de rolo com
o sistema digital Pro Tools, e isso caiu como uma luva para o projeto que eu
tinha, que era justamente o de registrar um álbum com os recursos e sonoridade
dos anos 70, incluindo as fases de mixagem e masterização. No Mosh, estas
etapas também foram realizadas com amplificadores e compressores valvulados,
pilotados por uma equipe de primeira linha identificada com o conceito dos
álbuns.
2112. Tudo soa
muito natural em ambos os álbuns... Vocês apenas montaram os instrumentos e
gravaram tudo ao vivo. Foi
preciso fazer overdubs ou tudo está como foi gravado?
Tony
Babalu. Não houve overdubs, o que foi captado está
integralmente no disco. Os takes
não aprovados foram imediatamente apagados de comum acordo entre os músicos, e
os aprovados também o foram por unanimidade. Ensaiamos já com esse propósito, e
pelo fato dos temas serem de longa duração e com improvisos diversos, as
interpretações sempre eram ligeiramente diferentes entre si, a partir dos
próprios ensaios... São dois discos realmente ao vivo e sem retoques, o que os
torna, até certo ponto, intimistas e exclusivos. A sonoridade natural a que
você se refere tem muito a ver com a aplicação radical do conceito “ao vivo”.
Tony Babalu & Sérgio Hinds
2112. Segundo Okky
De Souza você “é o mais completo guitarrista brasileiro, capaz de brilhar em
todos os gêneros ligados ao pop e de mergulhar fundo na herança inestimável dos
bluesmens que moldaram o som do final do século XX.” O que você
sente quando escuta um elogio desses?
Tony
Babalu. Sinceramente, não me vejo dessa forma,
mas fico satisfeito e orgulhoso quando sou elogiado. Por outro lado, sei de
meus limites e da existência de ótimos músicos que não têm espaço para mostrar
sua arte, e também dos que têm esse espaço e não são reconhecidos como
deveriam... Elogios podem lavar a alma e são sempre bem-vindos, mas é preciso
ter cuidado com eles.
2112. Quais
são os projetos para esse ano?
Tony
Babalu. Trabalhar em cima do lançamento do "Live
Sessions II", espero que bastante.
2112. Muitíssimo
obrigado por ter concedido pela entrevista e dizer que o microfone é seu...
Tony
Babalu. Eu que agradeço, Carlos, pelo espaço e pela
oportunidade de divulgar meu trabalho em um blog sério e bem conceituado como o
2112, e o parabenizo pela competência e dedicação que o mantêm nessa posição.
TONY BABALU
2112. Eu é que agradeço e aproveito para agradecer a Karen Holtz pelo envio de muita das fotos que ilustram a entrevista.
Flyer de 1973
Tony & banda (2016)
Capa do vinil Quarto Crescente (1981)
Made In Brazil
Tony Babalu & Lucinha Turnbull
Nenhum comentário:
Postar um comentário