Não gosto de rótulos ou
barreiras musicais... sou um ouvinte de música e por conta disso ouço o que eu
quero e não o que as pessoas esperam que eu ouça. Não me deixo “seduzir” por
preconceitos que venham me bitolar em qualquer tipo de situação. E este duo de
jazz com toques de brasilidade é simplesmente maravilhoso... É música para se
ouvir tomando um bom vinho acompanhado de pessoas especiais. Aqui vence a
música e o que melhor... no tom certo!
2112. Primeiramente
é um prazer estar entrevistando vocês do Duo Instrumental e dizer que poucas
foram as bandas que já no primeiro trabalho apresentou um material tão
relevante musicalmente. Para começar que peço que me digam como vocês se
conheceram e como surgiu a idéia de formar o Duo Instrumental?
Giliade
Lima. Em primeiro lugar quero agradecer
o interesse pelo nosso trabalho, e parabenizar a iniciativa. Conheci o Gilson
através de um professor de violão que tivemos em com comum Enéas Resende. O Duo
surgiu devido a nossa necessidade de estudarmos alguns temas, e na época
paralelo a isso eu tocava em um trio e o Gilson em um quarteto o meu trio
acabou e o quarteto do Gilson também daí ficou o Duo rsrsrsrsr !!!
2112. Conheci o
trabalho do Duo Instrumental através de um vídeo e devo dizer que me apaixonei
de imediato. Um som refinado misturando jazz com samba e que de imediato me
lembrou de dois grandes nomes do estilo: George Benson e a banda Black Rio. O
que vocês ouvem?
Gilson
Oliveira. Nossa isso é complicado de responder, primeiro
porque é muito de momento, tem época que escuto muito violão, tem época que já
são os guitarristas em outro momento pinta os pianistas e saxofonistas,
nossa música é linda, citando alguns nomes porque não dá pra falar todos, Arismar
do Espirito Santo, Yamandu Costa, Robertinho Silva, João Donato, Mauro Senise, Cristovão
Bastos e outros. Os músicos de fora do Brasil tem o George Benson, Birele
Lagrene, Charlie Parker, Oscar Peterson, Miles Davis e outros, a lista e grande
rssss
Giliade
Lima. Arismar do Espírito Santo, Toninho Horta, Leonardo Amuedo, Michel Leme,
Leny Andrade, Robertinho Silva, Miles Davis a lista é grande ouço de tudo um
pouco, muitas cantoras, sons novos e antigas!
2112. O samba
está no DNA da banda mas confesso que não gosto de pagode mas de samba de raiz
como Cartola, Paulinho da Viola, A Velha Guarda da Mangueira... E vocês?
Gilson
Oliveira. Gostaria de deixar claro que não tenho nada
contra alguns estilos musicais e pura e simplesmente uma questão de gosto, mais
eu prefiro as músicas mais antigas, de uma época em que se tinha uma
preocupação com as letras, harmonias e melodias, hoje não se vê mais isso, foi
criado uma música na qual a única preocupação e o mercado financeiro, a cultura
perdeu muito com isso. Mais nós vamos em frente, existem pessoas sedentas por
essa música a moda antiga, o público está ai, aquela turma que lotava os
ginásios pra assistir aos festivais continuam ai, só temos que resgatar esse público
novamente.
Giliade
Lima. Gosto de alguns sambas antigos, e
sobre o pagode alguns rsrsrsr.
2112. Como vocês
trabalham a brasilidade do samba com o jazz sem se tornar uma caricatura de
samba + jazz? A Bossa Nova já havia trilhado esse caminho com muita propriedade
mas com o tempo foi perdendo terreno para outros estilos mais imediatistas...
Gilson
Oliveira. De uma forma espontânea, no tipo de som que nós
fazemos o prêmio é conseguir criar na hora uma novidade, um caminho harmônico
diferente ou uma condução rítmica que nos surpreenda, a busca é pelo novo, mais
sempre respeitando tudo que já foi feito de bom em nossa música.
Giliade
Lima. Na verdade não rotulamos a nossa música temos uma liberdade em relação a
isso e as vezes soa mais jazzístico as vezes mais brazuca depende do clima e do
momento nossa essência é brasileira claro.
2112. É difícil
separar o fã do músico?
Gilson
Oliveira. Eu não consigo separar rsssss, no show que
fizemos com o Arismar do Espírito Santo eu não dormi na noite que antecedeu ao
show, literalmente colei as placas rsss é um presente que não tem preço você
poder dividir o palco com uma pessoa que tanto me influenciou e influencia, pra
mim ele e o mestre, meu guru musical.
Giliade
Lima. É difícil separar... Impossivel!
2112. Como vocês
trabalham a questão da releitura tendo que criar uma versão própria, quase
intimista de uma música que para muitos é um clássico sem que soe uma
caricatura da própria música?
Gilson
Oliveira. Como eu disse, tentando nos surpreender, a
busca é que a música não perca sua identidade, mais ao mesmo tempo tentando
colocar nossa digital na interpretação, a maior identidade do musico está na
forma com que ele interpreta alguma coisa criada por outra pessoa e em outro
tempo, conseguindo colocar a sua visão sobre aquela obra.
Giliade
Lima. A música instrumental nos permite
isso com mais facilidade e por isso aproveitamos o momento cada show uma nova
idéia. Sem perder a essência.
2112. A música
instrumental sempre teve muitos adeptos no Brasil mas nunca obteve o espaço
merecido. Falo isso levando em conta que não achamos discos para comprar a não
ser procurando com seus próprios criadores como eu mesmo fiz com vocês. É
difícil trabalhar nessa área?
Gilson
Oliveira. É muito difícil, porque é muito desigual o
tratamento dado a alguns estilos musicais, uns tem a mídia na mão, outros tem
que bancar a sua gravação com recursos próprio, vender os cds no show e contar
com amigos como você pra poder divulgar o trabalho, mais aviso aos que torcem
contra... nós não vamos parar rsssssss.
Giliade
Lima. Sim é muito difícil a questão dos discos hoje é algo bem raro de achar
em lojas, apenas lojas especializadas e que são cada vez mais raras de
encontrar no entanto através da distribuição digital isso ficou mais
democrático, e as redes sócias ajudam muito para essa divulgação.
2112. O que mais
motiva vocês a insistirem neste circuito?
Gilson
Oliveira. A paixão pela música, e eu acredito nessa música.
Giliade
Lima. Quando fazemos o que amamos não há barreiras que nos impeça!
2112. Sabemos que
existe um circuito forte de música instrumental no Brasil com a edição de
muitos festivais, eventos em teatros, barzinhos mas que não atinge níveis
maiores de popularidade por falta de apoio da grande mídia. Isso é uma
realidade?
Gilson
Oliveira. O circuito não está tão grande assim mais não,
já tivemos época em que aqui na região tinha mais de 6 casas onde esse tipo de
música ocorria, hoje em dia temos umas 3, e estou falando de região, está bem
difícil, a mídia quer uma música de momento, uma música descartável, ai
sofremos muito porque a música que fazemos e atemporal, ela vai durar para
sempre.
Giliade Lima.
Sim é uma realidade, no entanto não devemos olhar para esse lado. Mas
sim procurarmos aumentar o nosso público e que a boa música chegue ao maior número
de pessoas possíveis.
2112. Parece que
o próprio público em sua maioria desconhece esse circuito, o que é uma pena não
é?
Giliade
Lima. Em parte sim, porém precisamos fazer a nossa parte, nós músicos também
precisamos divulgar agenda, festivais etc. E isso tem sido uma realidade nos
últimos anos.
Gilson
Oliveira. Tem muita gente que gosta e que curte, mais
não fica sabendo, assim todos perdem.
2112. Mas vejo
uma nova geração de bandas criando músicas que vão além dos famosos Top 10 da
vida... Eu mesmo tive a graça de entrevistar duas delas: Jazzmine e Silibrina.
Vocês conhecem?
Giliade
Lima. Não Conheço mas vou pesquisar!
2112. O primeiro
trabalho de vocês Bons Momentos traz releituras de compositores consagrados
como Toninho Horta, Michel Leme, Arismar do Espírito Santo... em meio a
trabalhos autorais. Como é o processo de criação de vocês?
Gilson
Oliveira. Não existe uma fórmula, vai muito do
momento, comigo é assim pinta uma ideia eu dou um jeito de gravar e depois
começo a trabalhar nela, e o que eu mais gosto é quando ela vai mudando é bom
demais você vê algo amadurecendo, e se criando.
Giliade
Lima. Sobre as releituras foi uma grande honra poder regravar composições
desses grandes e generosos músicos, mas nosso processo de composição é muito
natural de acordo com nossas experiências musicais.
2112. O que mais
inspira vocês na hora de compor?
Gilson
Oliveira. O contato com as pessoas, o ser humano ainda é
a maior e mais bela criação de Deus.
Giliade
Lima. Uma melodia, um momento especial por exemplo a música que fiz para minha
“Sara” assim que soube que seria pai a música surgiu na cabeça toquei e gravei
e enviei para minha esposa. Enfim diversos fatores.
2112. Ouvi um
depoimento de um músico certa vez que disse não ouvir nada durante o período
que está compondo e também durante as gravações para que nada externamente
influencie de maneira prejudicial a sua música. Vocês concordam com isso?
Gilson
Oliveira. Nunca rssss eu quero mais é poder receber
essas influências, engana se o músico que acha que está criando algo totalmente
novo hoje em dia. Nós somos fruto de tudo o que ouvimos e vivemos, e quanto
mais influência você recebe, maior o vocabulário e ideias na hora de compor, eu
busco uma música que se renove todo dia, que se mova como algo vivo que ela é.
Giliade
Lima. Cada musico, cada compositor tem sua particularidade e sua realidade não
concordo e nem discordo. A arte não é uma ciência exata e não existe formula ou
receita por isso é tão mágica e encantadora. O que funciona para uns pode não
funcionar para outros.
2112. A abertura
com Bons Momentos é fabulosa, abrindo o apetite para ouvir as outras músicas
que estão por vir... Realmente é um grande trabalho!
Gilson
Oliveira. Muito obrigado, esse cd foi um presente para
nossas vidas, foi a realização de um sonho
Giliade
Lima. Obrigado!
2112. Gostei
muito da releitura de Beijo Partido... Ficou linda! Toninho com certeza deve
ter ficado muito orgulhoso da versão de vocês. Parabéns!
Gilson
Oliveira. Nossa... mexer com clássicos já é um problema,
ainda mais de um músico que tanto nos influencia, as harmonias dele são únicas
e é dificílimo de se mexer, mas ficamos muito felizes com o resultado final,
foi uma forma de homenagear um dos maiores músicos do Brasil.
Giliade Lima. Obrigado, uma grande responsabilidade gravar uma música que tem mais de
40 gravações com músicos do mundo inteiro.
2112. É
complicado levar para dentro do estúdio o que se faz com total liberdade no
palco? Vocês gravaram tudo ao vivo ou seguiram as normas tradicionais do
estúdio em gravar os instrumentos em separados para depois mixá-los?
Gilson
Oliveira. Não, nós optamos por gravar da mesma forma que
tocamos ao vivo e juntos e na mesma sala, isso dificultou o trabalho do
técnico, mais o clima fica outro, tivemos a honra de ter como técnico um grande
amigo e super musico, que é o Gustavo Holanda do estúdio Casa Laranja, ele sabe
tudo e mais um pouco rssss
Giliade
Lima. Realmente reproduzir o que fazemos no palco com a mesma liberdade é
muito difícil, quando a luz de gravação acende vem o friozinho na barriga
rsrsrsrsr. Nosso processo de gravação foi ao vivo gravamos tudo ao mesmo tempo,
não houve quase que nenhuma mixagem basicamente o que rolou na gravação. O nosso
técnico de gravação Gustavo Holanda além de ser um grande amigo é um excelente
profissional nos deixou muito à vontade. Gravamos o disco todo em dois dias e
um terceiro dia para finalizar já mixando. Graças a Deus deu tudo certo
Gilson
Oliveira. A emoção foi a de saber que meu trabalho não
vai morrer, isso porque o Brasil já teve muitos músicos que morreram e não
deixaram nenhum registro de sua obra, o nosso disco eu sei que vai ficar.
Giliade
Lima. Inexplicável! A realização de um sonho! O cd chegou na minha casa dois dias
antes do lançamento, tudo conforme imaginamos a capa ficou linda arte gráfica
que também tudo foi feito pelo nosso amigo Gustavo Holanda enfim só agradecer a
Deus pelo momento.
2112. Vocês tem
um projeto muito bacana no Jazz Village Bistrô, em Penedo chamado de Duo
Instrumental Convida. Como surgiu essa idéia?
Giliade
Lima. A ideia surgiu do nosso sonho de tocar com músicos que admiramos e logo
que a Ideia foi apresentada a Marie proprietária da casa ela comprou a ideia e
completamos em Junho de 2018 4 anos de projeto que carinhosamente temos como
padrinho o ARISMAR DO ESPÍRITO SANTO que foi nosso primeiro convidado. Que
venham mais 05, 10, 20 anos ........
2112. Deve ser
muito emocionante tocar ao lado de grandes nomes da nossa música como
Robertinho Silva, Nivaldo Ornelas, Wagner Tiso, Pascoal Meireles, Mauro Senise,
Paulinho Trompete, Lena Horta, Baby do Brasil... Vocês gravam este material?
Gilson
Oliveira. Alguns shows temos registro em vídeo, outros
só de fotos.
Giliade
Lima. A emoção é muito grande, além de uma responsabilidade enorme um
aprendizado maior ainda e além de tudo a generosidade imensurável de todos,
sendo que muitos dos nossos convidados se tornaram amigos! Não gravamos os
shows apenas algumas filmagens no celular afim de registro. O que temos são fotos
da produção da Casa.
2112. Dos músicos
que citei acima considero dois muito especiais: Robertinho Silva, Wagner Tiso e
Nivaldo Ornelas. Cara, são músicos impecáveis, não é?
Gilson
Oliveira. Robertinho já é da família, por um tempo
tivemos um trio com ele ou melhor acho que ainda temos rsssss, Wagner é um
mestre na arte dos arranjos, um gênio e Nivaldo esse só conhece as notas boas,
tudo que ele toca é lindo, fizemos outros shows com ele e é sempre um solo mais
bonito que o outro, o Brasil ainda está bem servido de músicos.
Giliade
Lima. Sem dúvida são grande nomes,
Wagner Tiso um excelente músico arranjador top, Nivaldo generosidade incrível
pois prova disso é que fizemos mais de um trabalho juntos. Robertinho Silva
conhecemos em 2012 e desde então se tornou um grande amigo já fizemos inúmeros
trabalhos mais de 20 shows pelo Brasil um músico extraordinário e um ser humano
ímpar.
2112. Outro
momento especial deve ter sido com a Lenny Andrade, uma das maiores vozes deste
planeta. Vocês além de talentosos são caras de muita sorte!
Gilson
Oliveira. Corrigindo uma resposta lá de cima, a Leny
também tirou meu sono rssssss, eu ficava pensando, gente é a Leny Andrade,
aquela das gravações com o Romero Lubambo, tô ferrado rssssss mas ela é um ser
humano diferente, ela tá em outro nível, a generosidade musical, a vontade
jogar pela música que ela tem te mostra porque ela está entre as maiores vozes
desse planeta. Pra mim a maior!
Giliade
Lima. Mais do que sorte! Só Deus pode nos proporcionar momentos como este. Nos
concedendo vida para apreciar e viver cada momento. Sem palavras
realização de um sonho! Uma palavra que resume a Leny... coração!
2112. Bons
Momentos será lançado no exterior?
Gilson
Oliveira. Então, vontade a gente tem, mais esbarramos
naquela questão do apoio, e muito difícil divulgar um trabalho no Brasil.
Giliade
Lima. Existem algumas possibilidades...
2112. E shows?
Existe a possibilidade de vocês tocarem no exterior?
Gilson
Oliveira. Estamos aí pra convites, nós queremos
trabalhar, levar nossa música onde as pessoas queiram ouvir, seja no Brasil ou
fora dele... é só chamar!
Giliade
Lima. Sim, temos amigos em diversos
países que curtem nosso trabalho estamos aguardando o momento certo.
2112. O que vocês
tem em mente para este ano?
Gilson
Oliveira. Tocar mais e mais rssss, tem muita gente
querendo conhecer outros estilos musicais, mais não conhece pois a mídia não
deixa, então nós vamos levar essa música onde as pessoa não tem esse acesso,
estamos criando um projeto que é de levar a música em lugares que sozinha ela
não chegaria, estamos tentando algumas parcerias, e já adiantando
convido empresários amigos que queiram fazer parte dessa empreitada que estamos
fazendo parcerias para esse projeto, se todos se unirem a gente consegue virar
esse jogo.
Giliade
Lima. Inicialmente a gravação do próximo CD só com músicas do Roberto
Menescal, mas estamos focados ainda na divulgação desse CD “Bons Momentos”
2112. Por último
quero agradecer a disponibilidade de vocês em me concederem esta entrevista. O
microfone é de vocês...
Gilson
Oliveira. Muito obrigado de coração pela oportunidade de
falar e expor um pouquinho da história e trajetória do Duo Instrumental e até o
próximo encontro, forte abraço.
Giliade Lima. Quero Agradecer Primeiro a Deus pelo talento musical, e por tudo que está
acontecendo nesse momento especial, a minha família, minha esposa Beatriz,
minha filha Sara, meus pais (Sr Genildo e D. Zélia) pelo apoio incondicional de
sempre aos meus irmãos ao meu irmão de Som Gilson Oliveira e a cada amigo que
curte o nosso trabalho e principalmente a você Carlos Antonio pela
oportunidade.
2112. Eu é que agradeço por este papo
agradável e desejar a vocês muito, muito sucesso!
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