O Brasil é um dos países mais rico em
diversidade musical do planeta Terra. Basta visitar seus estados, suas cidades,
seu folclore, seus festivais espalhados por todo o canto do país que veremos a
rica herança que possuímos. É uma pena que a grande mídia perdida nos vícios banais
do imediatismos não divulgue toda essa riqueza. Mas enquanto houver cabeças
pensantes teremos bandas bacanas como o Jazzmine. Leia a entrevista e veja se
estou errado!
2112. Podemos
iniciar nossa conversa falando um pouco sobre o surgimento da banda, pode ser?
Jefferson.
Claro! A banda surgiu em 2014 quando nós três trabalhávamos na academia de
música BSB Musical. Já nos conhecíamos de outros trabalhos, mas convivendo
diariamente na escola, as idéias fluíram mais fácil. Assim, o Alan fez o
convite ao Luís para montar o projeto autoral ao mesmo tempo em que chamei o
Luís para fazermos um trabalho de duo (baixo e guitarra). Acabou que montamos o
Jazzmine com a proposta de fazer música instrumental autoral e que nós nos
identificássemos com a sonoridade da banda.
2112. Vocês
estudaram na Escola de Música de Brasília o que significa que tiveram acesso a
uma grande variedade de ritmos. Isso de certa maneira ajudou na rica
musicalidade do Jazzmine?
Jefferson.
Com certeza! Primeiro, porque foi lá na Escola de Música que nós
conhecemos e a Escola possibilita que pratiquemos vários gêneros músicas de
forma bem aprofundada além de nos ajudar a se aprofundar musicalmente nos
gêneros que mais gostamos. Então a Escola de Música tem sim participação
fundamental na nossa formação musical e consequentemente na forma como o
Jazzmine faz música.
2112. Quais
bandas ou instrumentistas mais influenciam vocês?
Jefferson.
Milton Nascimento, Gilberto Gil, Led Zeppelin, Pat Metheny, Arthur
Maia, Cama de Gato, Hiromi Uehara, Jamiroquai, Metallica, Charles Mingus.
Luis: Ricardo
Silveira, Mike Stern, Robben Ford, Luciano Magno, Lenine. Além dos citados
acima
Alan. Dave
Weckl, Dave Matthews Band, Spyro Gyro, Dream Theater, Rush, Tears for Fears,
Ivan Lins.
2112. Ainda
em 2014 vocês compõem o material que faria parte do primeiro EP de vocês.
Enfim, todos na banda colaboram com composições?
Jefferson.
Sim. A gente compõe em trio mesmo. Reunimos-nos duas vezes por
semana e passamos a manhã ensaiando e compondo. Quase tudo parte de uma
sugestão e um de nós três. Alguns compassos de uma melodia, algo rítmico ou uma
cadência harmônica e aí nós vamos elaborando.
Quando
temos alguma ideia em casa normalmente gravamos o áudio, ou um vídeo e enviamos
no grupo do whatsapp e aí todo mundo já vai pensando e na sequência. Quando a
gente chega pra ensaiar juntamos todas as idéias, criamos coisas novas juntas e
transformamos tudo em música.
2112. É
muito comum entre bandas de jazz criar a maioria de suas músicas a partir de
jams ou mesmo durante os ensaios. Isto também acontece com vocês?
Jefferson.
Normalmente criamos tudo durante os ensaios. São raras as
composições já virem prontas por parte de apenas um de nós. Normalmente a gente
amarra as sugestões musicais que surgem e criamos uma música dos três. Do
jazzmine.
2112. Em
pouco tempo vocês lançaram o EP Three Songs Album. Poderiam comentar um pouco
sobre as gravações?
Jefferson.
O primeiro EP fazia parte do projeto inicial da banda. Compor
algumas músicas, gravar em estúdio e fazer alguns vídeos. Foi o que fizemos.
Compomos Casa de marimbondo, Viagem Brasil e Madness and tango e fomos para o
estúdio gravar.
Foi
uma gravação em estúdio (Feedback, com o Valério Xavier), mas foi ao vivo. Todo
mundo tocando ao mesmo tempo. Chegamos lá na sexta a noite, montamos tudo,
passamos todo o som, a monitoração, a captura e aí, quando estávamos super
confortáveis para gravar, fomos pra casa descansar e dormir. Voltamos no sábado
super motivados e passamos o dia gravando. Foi muito legal. O resultado final
foi ótimo. Musicalmente e tecnicamente o disco ficou incrível. Para fechar com
chave de ouro, a Luda Lima, fez uma arte maravilhosa para a capa. Só orgulho.
2112. Como
surgiu o interesse do selo sueco, Record Union em lançar o trabalho de vocês?
Jefferson.
Na verdade nós fizemos uma pesquisa bem extensa sobre todos os
distribuidores digitais que encontramos no mercado. Verificamos os contratos, a
forma de trabalho, a distribuição dos royalties e o alcance deles. A Record
Union a primeira vista era bem pequena. Ainda mais se comparar com a CdBaby por
exemplo. Mas tinham as melhores ofertas de royalties, um bom alcance, prazos
bem curtos e um atendimento para lá de personalizado mesmo estando bem longe da
gente. E o fato deles serem suecos me motivou uma vez que morei lá por uma
temporada.
Entramos
em contato com eles, aprendemos como tudo funcionava e em poucas semanas tinha
gente até no Iran ouvindo o Jazzmine.
2112. Casa
de Marimbondo, Madness And Tango e Viagem Brasil foram disponibilizadas em
várias plataformas de compartilhamento na internet. Mas sempre acontece de
vazar material e ser distribuído gratuitamente em algum site? Vocês são contra
ou a favor?
Jefferson.
Eu acredito que música deve ser compartilhada, ouvida. Claro que o
direito intelectual deve ser respeitado e pago e se alguém estiver tendo lucro
com sua obra de arte esse alguém deve pagar os royalties, mas não tenho a
preocupação de sair atrás de pequenos blogs e pequenas rádios para cobrar
nenhum direito e eu mesmo disponibilizo gratuitamente as músicas onde acho
interessante disponibilizar.
Mas
esse assunto é extenso e profundo. Merece uma conversa apenas sobre ele pois,
vamos ter que falar sobre YouTube, Spotify, Deezer que todos sabemos que não
são transparentes na distribuição dos direitos dos artistas e são quem
realmente lucram com a venda de música pela internet.
2112. O
trabalho acabou fazendo sucesso em várias partes do mundo como EUA, Japão,
Israel, Bélgica, Camboja, Egito, França, China, Havaí, Irã, Belize... Além do
próprio Brazil. Este sucesso surpreendeu vocês de alguma maneira?
Jefferson.
Sim. Não esperávamos obter tantos seguidores e em tantas partes
diferentes do planeta.
2112. A boa
aceitação do EP levou vocês a tocarem no exterior?
Jefferson.
Ainda não. Mas vamos chegar lá. Estamos trabalhando forte na construção
de uma rede de contatos e conhecendo as pessoas que fazem os espetáculos
acontecerem. Acredito que seja uma questão de tempo.
2112. Havia
material inédito para compor o restante da setlist ou vocês incluiram algumas
releituras?
Jefferson.
Quando gravamos o Three Songs Album, nós tinhamos mais uma música
pronta (The wind) e um arranjo da música Lôro (Egberto Gismonti). Logo que o EP
ficou pronto e começamos sua distribuição, seguimos para a segunda etapa do
projeto que era montar o show “A tale of no one’s savior” que agora virou o
disco. Compomos mais algumas músicas, acrescentamos o arranjo de I want you
(The Beatles) e fizemos o show. Outras músicas foram compostas para finalizar o
disco, mas já vinhamos tocas várias das músicas que hoje fazem parte do álbum
“A Tale Of No One’s Savior”.
2112. Recentemente
vocês lançaram o álbum A Tale Of No One’s Savior que inclui um tema central
onde as músicas estão interligadas entre si o que nos remete diretamente às
Árias de Óperas, ao Jazz, ao Rock Progressivo que popularizou o estilo nos anos
70 e ao próprio rock quando a banda The Who lançou Tommy com enorme sucesso no
final dos anos 60. O que levou vocês a lançarem um álbum conceitual?
Jefferson.
Essa é a natureza do Jazzmine. A gente sempre quer contar uma
história com cada música que criamos. Sempre foi assim, desde o inicio.
Quando
o Alan nos apresentou a letra de “Inner Emancipation”, o conceito do álbum
ficou claro, para nós três, e aí as músicas começaram a se encaixar. As ideias
para a parte gráfica do disco começaram a surgir e aí tudo se amarrou.
2112. Como
foi o processo criativo do material? A história é baseada em fatos reais ou é
apenas uma obra fictícia?
Alan. Na
verdade toda a ideia vem de reflexões e observações da realidade e pegamos isso
para fazer uma história que enriquecesse o trabalho instrumental e que ao mesmo
tempo evidenciasse as nossas influências. Dentro desse contexto buscamos criar
com uma versatilidade de estilos explorando desde as influências brasileiras,
africanas até cubanas e árabes. A parte gráfica também compõe a obra reforçando
o tema. Tivemos a ideia de colocar imagens que impactasse mas que ao mesmo
tempo incitasse a reflexão.
2112. A
musicalidade de vocês tem como base o jazz, a inclusão do elementos do rock e
da música brasileira em particular a nordestina deve ter deixado o som além de
requintado, exuberante em sua essência. A mutação constante é um fato na banda?
Luís. O rock
é o estilo responsável pela nossa musicalidade. Começamos a tocar ouvindo rock,
e ainda fazemos trabalhos dentro desse gênero musical. Nossa conexão com o jazz
vem da improvisação, que diferente do rock onde há solos imortais e imutáveis
(Imagine Sweet child o mine sem o solo, impossível) nós improvisamos todas as
vezes que tocamos, não apenas os solos, mas os temas tb são reinterpretados,
essa é a nossa natureza jazzística. Somos brasileiros, roqueiros, com a
intenção e cabeça de jazzistas essa mistura resulta no Jazzmine.
2112. Tudo
isso me faz lembrar de nomes como Miles Davis, David Bowie, Madonna e mesmo o
Led Zeppelin que viviam em constante mutação a procura de novas sonoridades. É
isso o que torna a música rica, não?
Luís. Sim!
Esses artistas sempre se reinventaram e o mais surpreendente que apesar de
todas as mudanças eles continuam com suas personalidades musicais bem
consolidadas. Gostamos de pensar assim, dentro da sonoridade do Jazzmine
podemos fazer tudo sem deixar de ser o Jazzmine.
2112. Vocês
estão sempre estudando novas sonoridades?
Luís. Sempre
buscamos nos aperfeiçoar, sempre buscamos melhorar como músicos com novas
técnicas e novas sonoridades.
2112.
Alguma vez vocês já pensaram em incluir ruídos eletrônicos ou elementos dessa
natureza? Acho que seria interessante... ou vocês preferem um som mais puro?
Luís. Quem
assistir nosso show saberá. Kkkk não queremos estragar a surpresa, então
compareçam aos nossos shows.
2112. Nas
viagens da banda vocês procuram conhecer os ritmos locais?
Alan. Brevemente,
quando estivermos na estrada mais intensamente vai ser um grande prazer
aprender mais e enriquecer a música do Jazzmine.
2112. O que
vocês ouvem em casa?
Alan. Eu
ouço varias coisas tipo: Chicago, Eliane Elias, Jamiroquai, Dream Theater.
Jefferson. Estou
ouvindo muito Milton Nascimento ultimamente. E acabado ouvindo o resto dos
caras do Clube da Esquina. A Esperanza Spalding e a Hiromi Ueraha estão sempre
na minha playlist. E o Led Zeppelin é lei.
Luís. Sempre
escuto minhas influências para fins de estudo e apreciação, ultimamente tenho
escutado Queen, Mike Stern, Ricardo Silveira, Emily Remler.
2112. Vocês
acompanham o que acontece no mercado musical? O que vocês tem escutado de
interessante?
Alan. Eu
particularmente não tenho acompanhado... Mas já tiveram vezes que por acaso
escutei algo interessante... o que tenho escutado são as coisas que tenho me
envolvido nos trabalhos da noite.
Jefferson. Eu
tenho curtido Esperanza Spalding, Hiromi Ueraha, Avishai Colen, Snarky Puppy.
Luís. Gosto
de toda a produção que o Lenine faz sempre o acompanho. Gosto de ir assistir,
quando tenho tempo, artistas de Brasília
2112. Quais
os projetos para este ano?
Luís. Em
2018 estamos focados na divulgação do nosso álbum, internamente também estamos
começando a reunir informações, conceitos, temas, para o próximo álbum, mas
2018 estamos focados em tocar e divulgar ao máximo “A tale of no one’s savior”.
2112. O
microfone é de vocês...
Jazzmine.
Sejam receptivos ao trabalho das bandas e artistas independentes,
tentem apoiar e valorizar porque é muito importante para quem está começando.
Quem sabe aquele artista que você conheceu no início não se torna um grande
ícone da música mundial.
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