Mais uma entrevista de peso e desta vez é com a banda VersOver que tem mais
de vinte anos de estrada, muitas lutas vencidas, muitas histórias para contar e
muitos riffs para incendiar a sua mente. Nesta exclusiva os integrantes da
banda contam um pouco da sua história e os novos projetos que estão por
vir...
2112. Vocês estão na estrada desde 1997...
portanto já são 21 anos de batalhas num cenário cada vez mais competitivo. Na
sua opinião o cenário do metal melhorou desde o surgimento da banda?
Gustavo
Carmo. Em alguns aspectos, entendo que sim. Hoje é muito mais fácil compor e
gravar do que há anos atrás. As tecnologias permitem isso e nosso novo disco,
Hell’s Inc. é prova. Em outros aspectos também tem mais lixo sendo produzido,
já que a barreira de entrada é grana para comprar tecnologia, mas não se compra
talento.
2112. Luto muito para que as pessoas deem mais
valor às nossas bandas. O que mais me irrita neste mecanismo todo é ver o
próprio banger brasileiro tratar o produto interno como inferior ao produzido
pelos gringos. Isso é uma falsa realidade e uma total falta de respeito para
com nossas bandas...
Rodrigo
Carmo. A grama do vizinho é sempre mais verde… Isso vem desde Sepultura e
Angra, que foram aclamados no exterior antes de o serem no Brasil. No nosso
caso sempre tivemos mais respostas de qualidade do que quantidade, o que nos
permitiu ter a banda apenas como hobby e não como sustento. Tirando alguns
muito poucos exemplos, viver de heavy metal no Brasil é virtualmente
impossível.
2112. A prova de que temos grandes bandas foi o
“ataque de pelanca” do Cronos/Venom que diante do massacre sonoro das meninas
do Nervosa mandou encerrar o show antes da hora. Quer algo mais real do que
isso?
Leandro
Moreira. Até o Manowar já fez esse tipo de sacanagem no passado, quando bandas
novas “ameaçam” as bandas mais estabelecidas. Isso é uma pena, pois demonstra
um mindset rígido, enquanto hoje temos uma abundância de oportunidades… Estou
certo de que o pessoal da banda Nervosa vai acabar se beneficiando no final das
contas, pela exposição que esse tipo de treta dá.
2112. A VersOver surgiu num período em que o
grunge dominava as paradas de sucessos e dividia espaço com o heavy metal na
questão de música pesada. Foi difícil demarcar território?
Mauricio
Magaldi. Nosso estilo sempre foi muito “de nicho”, então talvez nunca tenhamos
precisado “marcar território”. Todos nós crescemos ouvindo diversos estilos, e
ser contemporâneo do grunge acabou também influenciando como escrevemos as
letras.
2112. Vocês devem ter muito o que contar...
Poderia falar um pouco da história da banda?
Mauricio. Começamos nossas
atividades em 1997, Gustavo, Rodrigo, eu e um outro baixista, o Parmito. Logo
gravamos uma primeira demo-tape, Endurance. Empolgados com os diversos
shows no ano seguinte, e com um novo baixista, Fernando Borges, compusemos e
gravamos o nosso primeiro full length, Love, Hate & everything in
Between. Esse play foi o primeiro CD lançado pela Die Hard Records, e nos
colocou no radar da cena de metal brasileira. Ainda com a Die Hard fizemos
parte da coletânea Hamlet e do álbum em homenagem à banda portuguesa
Tarântula, e continuamos a tocar em diversos lugares, entre festivais e shows próprios.
Eu saí em 2001, logo depois da nossa aparição no “Programa do Jô”, e junto com
o novo batera, Daniel Roviriego, foi gravado o álbum House of Bones, com
letras do Adriano Villa, baseado em seu livro de terror, “A Casa de Ossos”,
também lançado pela Die Hard, em 2003. Rolaram shows com Angra, Edguy e Blaze
Bayley nessa época, o que foi uma ótima experiência. Após o lançamento do EP
Built Perspective, a banda encerrou as atividades em 2005. Num espasmo durante
2008, gravamos um show de reunião que acabou virando o CD/DVD ao vivo Live
Perspectives, com o Mauricio na batera e Fernando Borges no baixo, parando
novamente logo após esse lançamento. Gustavo e Rodrigo se juntaram com Leandro
Moreira na banda House of Bones e lançaram um EP com três músicas em 2012. Quem
tocou bateria nesse EP e em alguns shows no Brasil e nos EUA foi o Aquiles
Priester. A banda retomou atividades com a formação atual (Gustavo, Rodrigo,
Mauricio e Leandro) no final de 2014, quando começamos a escrever o que viria a
se tornar o disco Hell’s Inc., lançado de maneira independente em Outubro de
2017.
2112. O heavy metal sempre foi um movimento rico
na questão de variedade de bandas e de estilos: metal clássico, death, hard,
speed, thrash... Enfim, quais são as influências de vocês?
Gustavo. As mais óbvias são
Megadeth e Rush, mas cada um de nós tem influências diferentes. Mauricio é o
progueiro, bebe das fontes de Dream Theater, Fates Warning, Rush, e outros
medalhões do estilo. Rodrigo é metal na veia, com influências de Ozzy, Bruce
Dickinson, e Rob Halford. Leandro vai de Black Sabbath a Project46, e tudo no
meio. Eu vou desde Andrew York, violonista clássico, a Greg Howe e Tony
MacAlpine, John Petrucci e Joe Satriani.
2112. Vocês já tem três trabalhos gravados sendo o
último Hell’s Inc. Todos na banda compõem?
Rodrigo. O Gustavo é que
leva essa bandeira, abrindo espaço para sugestões e contribuições,
especialmente nos arranjos. Nas letras, o Maurício escreve e costuma dar o
direcionamento temático, mas no caso de Hell’s Inc. as contribuições foram
muitas e bastante intensas. Foi o disco mais colaborativo entre todos os que
fizemos até hoje.
2112. Vamos falar um pouco sobre o Hell’s Inc. que
foi gravado em três estúdio diferentes, composto à distância e mixado por Jesse
Vainio no Mofo Music da Finlândia. Conte um pouco dessa maratona metálica...
Mauricio. Temos alguns
vídeos no Facebook que mostram um pouco disso, acho que são bem interessantes e
até engraçados de ver. Como o Gustavo mora nos EUA, eu em São Paulo, Rodrigo e
Leandro em Bebedouro, coordenar o processo foi um desafio muito grande. Depois
de fazermos a pré-produção de modo digital e remoto, gravar precisou de
bastante coordenação. As bateras foram gravadas no nosso estúdio em Bebedouro,
o AR-15, durante os feriados de Natal e Ano Novo de 2015. Os baixos foram
gravados em 2016, no estúdio do Bruno Ladislau. Depois disso o Gustavo precisou
dar um tempo para filmar o DVD com o Aquiles, com as músicas do projeto
instrumental deles. Só então o Gustavo conseguiu dar foco e gravar as guitas no
estúdio dele em Seattle, o AK-47. Como queríamos lançar o disco ainda em 2017,
o Gustavo produziu os vocais remotamente desde Seattle, com o Rodrigo gravando
no estúdio em Bebedouro.
Uma vez que a produção foi concluída pudemos mandar
o material para o Jesse, que já tinha trabalhado com o Aquiles no disco do
Hangar, e com o Gustavo no DVD. É um cara extremamente positivo, e sabe muito
bem como dar o som que casa com o estilo de música. Foi uma parceria muito
legal trabalhar com ele. Gustavo e Rodrigo acompanharam in loco o processo com
o Jesse, e temos uma série de posts no Facebook da banda contando essa
história.
2112. A produção, orquestração e arranjos de
teclados ficou a cargo de Miro que já trabalhou com as bandas Angra, Rhapsody,
After Forever e Epica. Como foi trabalhar com ele?
Rodrigo. O Miro é amigo das
antigas. Quando estávamos conversando sobre participar do projeto Hamlet
com a Die Hard, o Gustavo foi se apresentar em um um festival de violão
clássico na Alemanha e, depois de alguns emails e telefonemas do Mauricio - que
estava aqui no Brasil -, conseguiu dar um pulo em Wolfsburg na casa/estúdio do
Sascha Paeth, guitarrista da banda alemã Heaven’s Gate, com quem o Miro
trabalha. Desse encontro saiu a participação deles como engenheiros de mixagem
do projeto Hamlet, além de uma parceria conosco que dura até hoje.
2112. Ele deu muitas dicas?
Leandro. Ele e o Gustavo
trabalham como que por música HAHAHAHAHA são bem afinados no método de
colaboração, então rola uma parceria bem redonda entre eles.
2112. As letras abordam temas como a morte, a
injustiça, os conflitos interiores, e a cultura do estupro entre outros temas
ligados a nossa dura realidade. O que levou vocês abordarem esses temas?
Rodrigo. Essas letras
nasceram de temas levantados por diversos de nós, refletindo nossas realidades
particulares e opiniões e ideologias. No final das contas foi quase que uma
canalização dos nossos incômodos principais com as questões desse mundo
contemporâneo e quase que distópico que estamos vivendo. Tem muito pouca ficção
nos sentimentos que exprimimos nessas letras.
2112. Quais os destaques deste trabalho?
Gustavo. Entre nós não há
muito consenso, mas entre os fãs o feedback mais forte veio para Enemy, Howl In
Pain e curiosamente para Lady Death. Mas no geral foi bem variado. Todas as
músicas clicaram com alguém e o feedback foi bem equilibrado.
2112. A capa trouxe a assinatura do mestre Hugh
Syme que tem em seu currículo trabalhos com o Rush, Iron Maiden, Whitesnake,
Aerosmith, Megadeth, Dream Theater entre outros. Ele aceitou de imediato o
trabalho?
Mauricio. Não. Quando
entramos em contato com ele, a ideia era fazermos a capa com ele e o resto do
material com outro artista, por conta dos custos. A resposta dele foi bastante
“de negócios”, sem muito “calor”. Ele pediu para escutar as mixes e ler as
letras antes de decidir. Quando ele respondeu a coisa mudou bastante. Ele
praticamente fez uma resenha completa do disco! A gente chorou igual criança
grande… Seguramente foi um dos momentos mais recompensadores da nossa carreira
musical, especialmente porque o nome da banda, VersOver, o Gustavo “achou” no
encarte do Rush Counterparts, que o Hugh fez. Além disso ele quis fazer a arte
toda, o que acabou culminando em um encarte super rico, cheio de significado, e
que suporta cada uma das músicas e letras nesse álbum.
2112. Hell’s Inc. teve uma produção melhor que os
anteriores... Existe possibilidades dele ser lançado no exterior? Vocês já
receberam proposta de algum selo?
Leandro. Nesse momento
ainda não podemos divulgar, mas estamos trabalhando com algumas propostas.
2112. Quais são os projetos para este ano? Existe
a possibilidade de vocês fazerem alguns shows no exterior?
Gustavo. Estamos recebendo
um bom feedback do disco e também do novo clipe que fizemos para a música
Enemy. Esse clipe é o nosso primeiro em 20 anos de banda, e foi produzido pela
Foggy Filmes, do Juninho Carelli, tecladista da Noturnall, e pode ser visto em https://youtu.be/niIMgQXFt4U. Nossos planos
para o ano incluem alguns shows e, talvez, um clipe para alguma outra música de
Hell’s Inc.
2112. O microfone é de vocês...
Leandro. Obrigado Carlos,
pela oportunidade de falar aos teus leitores; agradecemos também nossos
parceiros de sempre, André e Fausto, da Die Hard Records, nossos fãs de longa
data, e a todos que for da sua família.
VersOver:
Gustavo
Carmo - guitarra
Rodrigo
- vocais
Leandro Moreira - baixo
Maurício Magaldi - bateria
Nenhum comentário:
Postar um comentário