Não é maracutaia... mas estamos fechando o ciclo de entrevistas deste
ano com outro nome vindo do sul. O Trio é formado por dois brasileiros e
um argentino que fazem um sonzaço calcado nas sonoridades dos anos 70.
Já lançaram um ótimo EP e em breve estarão lançando o segundo petardo.
2112. Primeiramente me digam de onde
foi que vocês tiraram um nome tão foda como esse? Cara, mais psicodélico
impossível...
Landy. Quando decidimos armar a banda...
logicamente não tínhamos até esse momento composições próprias e começamos como
uma banda de covers para poder entrar no circuito das bandas e abrir mercado de
trabalho. Mas como no Brasil predomina as bandas de covers... e como eu
sempre digo, fazem uma salada de frutas ao misturar um monte bandas e
estilos...então falei, temos que fazer a diferença vamos pegar duas bandas de
rock dos quais gostamos e vamos a fazer um tributo. Lógico que Beatles não ia
escolher pois eu já estava enjoado... Então falei em contrapartida Rolling
Stones e Creedence Clearwater Revival por que são bandas que nós três gostamos
muito. Os guris toparam a idéia mas não tínhamos um nome. Falei
meninos como vamos nos chamar? Zebú falou Stones Waters e de momento Paulo
falou... por que não Stoned Waters (e dizer que Paulo que deu esse toque
psicodélico ao nome). Pronto fechou o bolo!!!
2112. O Stoned Water surgiu antes ou
depois que você entrou para Os Garotos da Rua? Qual é a história da banda?
Rodrigo. A banda surgiu paralelo as
atividades com os Garotos da Rua. O Landy havia saído da Star Beetles e eu e
Paulo estávamos com nosso power trio FireBall parado. Então resolvemos iniciar
um novo projeto que inicialmente era para fazer especial Creedence e Rolling
Stones mas a vontade de tocar músicas próprias veio e tornou-se a principal
atividade.
Landy. Na realidade minha primeira intenção
era montar uma banda com o Doctor Paulo Franzmann, o pai de Paulo. Ele é um dos
pioneros do rock'n'roll chapecoense... um dinossauro do rock. Ele nos anos 60
tinha uma banda de rock que foi a primeira banda formada na cidade. A formação
da banda iria ser o Dr. Franzmann na guitarra e voz, Paulo em baixo, Zebu nos
teclados e eu na bateria. O nosso estilo seria algo como a Jovem Guarda. Mas
esta anedota fica para outra história.
2112. A banda além de você conta com mais
dois ex membros dos Garotos da Rua na formação: Paulo (baixo e voz) e Zebu
Knight Rider (guitarra e voz). E Landy nosso hermano argentino como entrou nessa
história? Ele ainda mantém o Star Beetles na ativa?
Rodrigo. A Star Beetles está na atividade com
novos integrantes. Sobre o Landy nos conhecemos num show há alguns anos atrás e
viramos amigos.
Landy. No final de fevereiro de 2018
deixei de trabalhar com o Star Beetles (2009/2018) e depois de um tempo fiz uma
proposta aos guris para fazer uma banda com eles que naquele momento estavam
fazendo parte dos Garotos da Rua. Começamos a fazer alguns shows e ao mesmo
tempo os guris estavam tocando com os Garotos da Rua. Foi um começo difícil.
Nesses momentos eu que fazia o trabalho de fechar as datas do Stoned e
daí eu tinha que perguntar: "Estou por fechar uma data tal dia... vocês
tem show.? Era difícil organizar as agendas de ambas bandas para que não batesse
as datas. Mas sempre achávamos um jeito de organizar e cumprir os compromissos.
Assim foram os primeiros. Logo os guris deixaram os Garotos (essa parte da
história vai ser melhor explicada por eles) e foi aí que a Stoned Water começou
a tomar forma como banda.
2112. As influências do Stoned Water vem
de bandas setentistas como o Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath... Como é
trabalhar essas influências para produzir algo que não seja associado
diretamente a essas bandas?
Rodrigo. Sempre gostamos de tocar essas
bandas, mas não de fazer cover e sim tocar com a nossa identidade. Então fica
fácil de compor, pois acontece ao natural, as influências nem sempre estão
presentes nas melodias, mas são eles os pilares da nossa formação musical.
Landy. Como você disse Purple, Zeppelin,
Sabbath são nossas maiores referências entre as outras bandas. Mas só tomamos
as influências na hora de compor as músicas. O que faz a diferença é que também
agregamos nosso toque de personalidade a nossas composições. Então eu acho
que isso dá a nossas músicas e ao nosso som um toque de autenticidade. Então as
pessoas ao escutar o nosso disco podem falar por exemplo: aahhh tal música da
Stoned tem um ar de Purple mas nunca vão falar essa música da Stoned é
igual a tal música do Purple. Acho que deu para entender a idéia ou ficou um
pouco complicado a minha explicação?
2112. O cenário tem visto uma
revitalização da sonoridade 60/70 com o retorno inclusive de várias classics
bands aos palcos e o surgimento de novas bandas influenciadas por essas
sonoridades. O que vocês tem ouvido de interessante?
Rodrigo. Olha sinceramente eu sou enterrado
nos anos 70, mas a última grande nova banda que ouvi e curti foi o Audioslave,
também acho legal o Kings of Leon, especialmente nas canções com pegada mais
country, com uso de slides nas guitarras.
Landy. Eu, nada... ou quase nada. Como eu
sempre digo para os guris sou da velha escola de músicos. Eu nasci nos anos
70... gosto muito do velho de rock'n'roll 50, 60 e 70. Gosto muito de jazz e de
estilos mais antigos. Posso dizer que não gosto de quase nada dos anos 80... me
parece tudo muito bizarro a estetica e a imagem das bandas e também pelo uso de
baterias eletronicas entre outras coisas. O pior de tudo e que quase todas as
bandas que eu gosto tiveram seu começo nos anos 80... e acho que nem eles mesmo
gostaram pois logo nos anos 90 começaram todos a voltarem as suas
raízes.
2112. O blog tenta dentro do possível
apresentar bandas com trabalho bacana caso da StringBreaker &
Stuffbreakers, Flores do Fogo, Stranhos Azuis, Picanha de Chernobyl, Centro da
Terra, Amargo Malte, Cozinha dos Infernos, Impéria, Kurandeiros etc. E no sul o
que vocês tem ouvido de interessante mas que ainda não chegou ainda aos
ouvidos do público?
Rodrigo. No sul temos bandas como General
Bonimores, Variantes... de resto prefiro as clássicas TNT, Cascavelletes,
Bebeco Garcia (Garotos da Rua).
Landy. Stoned Water... ajajajajaj!!!! Mas
estamos fazendo bastante barulho no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Tudo
passo a passo e ao seu devido tempo. Estamos chegando aos ouvidos de todo
mundo. Estamos trabalhando muito duro para isso acontecer. E das bandas que
você mencionou Picanha de Chernobyl é uma baita banda!!!!
2112. Um problema que na minha opinião tem
atrofiado o desenvolvimento da cena é o pensamento provinciano de que nossas
bandas são inferiores às do mercado gringo... Isso fode tudo, não é?
Rodrigo. Realmente isso nos intriga, mas
creio que somos moldados pelas rádios abertas que em grande parte tocam som
gringo, isso acaba por deixar de fomentar nosso mercado interno. O rock
argentino cresceu muito com a Guerra das Malvinas, pois era proibido tocar música
em inglês nas rádios, ali surgiram excelentes músicas e músicos. Destaco Pappo,
Reloj.
2112. Vejo que as diferenças que existem
entre o mercado interno e o externo é o grau de cumplicidade do público para
com as bandas, lugares mais decentes para tocar, melhores cachês e selos que apoiem
a cena independente.
Rodrigo. Aqui no sul conseguimos ter uma
agenda boa de shows, mas somos quase que uma exceção, veja que estamos em
novembro e temos shows agendados até outubro de 2020. Mas isso acontece com muita
luta e dedicação. Temos muitos lugares legais pra tocar aqui. Na nossa cidade
Chapecó temos uns 5 picos pra shows. Em geral somos muito gratos por estar e
conseguir trabalhar na região sul do país.
2112. Mas saindo desse âmbito a Stoned
Water já tem um ótimo álbum lançado: o Vol. I. Falem um pouco sobre como foram
as gravações?
Landy. Muito Obrigado! No momento que
entramos no estúdio a metodologia de trabalho me fez lembrar muito a o trabalho
que faziam os Beatles no estúdio com George Martin. Nós só tínhamos feito
algumas demos caseiros para ter uma idéia de como ia a ficar as estruturas
das músicas. Essa demo foi mostrada para nosso produtor e grande amigo
Clayton Chiesa (ex tecladista do Garotos da Rua). Podemos dizer que ele foi
nosso George Martin, ele é o quarto Stone Water... a perna que faltava na
cadeira. A partir daí com a ajuda do Clayton começamos a trabalhar as músicas
ajustando detalhes e as outras músicas foram criadas no estúdio ao vivo. As
baterias gravadas no estúdio ficaram diferentes das da demo pois fiz bastante
improvisações.
Rodrigo. Temos um produtor musical muito
capaz e talentoso, ele soube tirar de cada um o seu melhor. Desde a execução, a
timbragem é muito gratificante trabalhar com um verdadeiro produtor musical.
2112. Gostei muito de Cavalo Perdedor,
Escondo o rosto na fumaça, Você não sai da minha cama, Meias verdades, Preto, o
gato e em especial Eu voltei pra ficar um blues arrastado muito foda. Parabéns
pelo resultado final.
Rodrigo. Agradecemos muito, realmente
gostamos muito de ter gravado essas músicas, e temos muito prazer em tocá-las
ao vivo, mesmo as pessoas que nunca ouviram nosso trabalho, acabam curtindo no
primeiro contato nos shows.
Landy. Muito obrigado! Assim como você
falou Carlos nós também ficamos muito contentos pelo resultado final do nosso
disco. Uma coisa que os três concordam é que Vol. 1 é o melhor trabalho de
gravação que fizemos até o momento.
2112. Desafetos vem em duas versões:
português e espanhol e Lonely Man em inglês. Vocês pretendem investir nesses
dois mercados? Quais são os projetos nessa área?
Rodrigo. Certamente, temos feito turnês fora
do Brasil e achamos super válido ter algum material em inglês e espanhol
também, além do que algumas composições já nasceram em inglês a exemplo de
Lonely Man e Mont Sion que estarão no próximo CD.
Landy. A proposta desde o início foi
sempre que fosse uma banda internacional. No disco gravamos músicas em três
idiomas para abrir mercado mundial. Já fizemos nossa segunda turnê por Buenos
Aires, Argentina a qual tivemos grande aceitação e para 2020 já temos
propostas concretas para viajar para outros países.
2112. Em que pé estão as músicas do novo
álbum? Esse material já tem previsão de lançamento?
Landy. No momento temos apenas algumas
demos gravados das novas músicas. A previsão de lançamento será mesmo no
próximo ano.
Rodrigo. Acreditamos que em abril ou maio de
2020 já estejam prontas.
2112. Este novo material gravado segue as
propostas do primeiro trabalho ou vocês incluíram alguma novidade?
Rodrigo. Estamos trabalhando com a mesma
dinâmica do Vol. 1. Já tem música que nasceu em inglês, acredito ser a
continuidade do primeiro.
Landy. Eu achou que sim... continua com a
mesma proposta e estilo musical mas com algumas novidades. Mas isso é surpresa!
2112. Quem produziu os trabalhos?
Rodrigo. Clayton Chiesa, ele tem estúdio em
Pelotas RS, o Load Studio e já trabalhou com a gente nos Garotos da Rua e temos
nele um porto seguro, além de produtor ele coloca os pianos, Hammond's e tudo
que envolve teclas no trabalho.
2112. O novo álbum já tem nome ou ainda é
segredo?
Rodrigo. É provavel que se chame Vol 2... mas
tudo pode mudar.
2112. O Stoned Water já tem no currículo
de duas tours internacionais. Quais países vocês visitaram?
Rodrigo. Fizemos 2 tours na Argentina, a
primeira 4 shows, na segunda 5 shows, devemos voltar com o novo CD na mochila
pra lançar lá.
2112. A recepção/repercussão foi bacana? Muitas
bandas brasileiras tem conseguido êxito em pequenas tours pelo mundo. Parece
que o preconceito é só por aqui, não é?
Landy. A recepção e a repercussão foi
maravilhosa... é por isso que fizemos duas turnês pela Argentina no mesmo ano
uma no mês de maio e a outra foi no mês de setembro. Lá na Argentina sobretudo em
Buenos Aires se valoriza muito as bandas com música autoral, não é como aqui no
Brasil que se dá mais valor as bandas cover/tributo que as bandas de música
autorais (pelo menos é o que eu vejo e também por minha experiência de
trabalhar por muitos anos no Brasil com uma banda cover dos Beatles). Lá em
Buenos Aires por exemplo você a qualquer pub ou bar de rock e a banda que vai
estar tocando é de música autoral. Em nossos shows em Buenos Aires sempre
dividíamos as datas com outras bandas autorais e os shows eram bem curtos de 30
a 45 minutos no máximo bem diferente daqui que os shows são de 2:00hs/2:30hs
aproximadamente.
2112. Existe material gravado desses
shows?
Rodrigo. Existe um show completo que gravamos
no Mitos Argentinos, uma das casas mais conceituadas do meio artístico, fica em
San Telmo, o coração da Boemia de Buenos Aires. Em breve ele estará disponível
no YouTube.
2112. Qual o telefone/e-mail para
contratar o Stoned Water?
2112. ... o microfone é de vocês!
Rodrigo. Primeiramente um agradecimento
especial a você Carlos que mantém acesa a chama do Rock n Roll através do
Fúria 2112, e dizer que é de valor imenso esse trabalho desenvolvido com tanto
carinho e atenção por você. Gostamos muito das perguntas, de cara percebemos a
qualidade e que você realmente conhece o meio. Um grande abraço e obrigado.
Landy. Muito Obrigado meu amigo Carlos pela
entrevista e pela oportunidade que você está nos dando. Não só a nos mas a
todas as novas bandas difundindo o seus trabalhos e dando prioridade as músicas
autorais. Grande abraço!
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