O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



terça-feira, 8 de setembro de 2020

Entrevista 2112 no Divã

A primeira vez que tomei conhecimento do Blog 2112 foi através de uma postagem da banda Korzus num grupo aqui em Portugal. E desde então tenho acompanhado o empenho do Carlos na divulgação do rock brasileiro. Esta entrevista conta um pouco do dia a dia deste "camarada" e também da sua luta a frente deste grande blog.

J. Mello. Porquê você resistiu em conceder a entrevista?

Carlos. Primeiramente agradeço o interesse de vocês portugueses e também dos outros países pelo material do blog. É muito bacana saber que a cultura brasileira é apreciada em outros países. A palavra certa não seria bem "resistência", o problema é que eu não gosto de exposição, entendeu? Quem me conhece sabe o quanto fico desconfortável com esse tipo de coisa. Mas posso dizer que foi um prazer.

J. Mello. Qual o balanço que você faz desses quatro anos a frente do 2112?

Carlos. Acredito que dentro do possível fiz um trabalho honesto, decente. Não sou auto crítico, mas recebo muitas mensagens positivas de várias partes do mundo e do Brasil. Foi com muita luta que cheguei até aqui... nada veio de graça. Não posso deixar de mencionar a ajuda de gente bacana como a cantora Tibet, da banda AJNA que me colocou no grupo "Quem Sabe Faz Autoral" onde conheci pessoas que não só apoiam como divulgam meu trabalho. E junto ao grupo uma multidão de artistas e anônimos que divulgam os links das entrevistas e exposições. Isso é muito bacana. Tive muita sorte.

J. Mello. E sobre a história do turista americano que você me contou? 

Carlos. Então, uma pessoa entrou em contato dizendo que um amigo americano estava de férias no Brasil e ao tomar conhecimento do blog praticamente o obrigou a traduzir todo o material e os levou consigo para os EUA. Confesso que fiquei com pena desse pobre rapaz.

J. Mello. E ele mencionou quais foram as entrevistas?

Carlos. Som Nosso de Cada Dia, Terreno Baldio, Violeta de Outono, Made In Brazil, Kim Kehl, Dinho Leme etc.

J. Mello. Você tem idéia da projeção ou da influência do seu blog?

Carlos. Nunca parei para analisar... apenas leio o que mandam para mim e depois as deleto. Não me deixo seduzir por palavras pois isso inflama o ego e azeda tudo. Aí deixa de ser divertido...

J. Mello. E como é a aceitação do blog na sua cidade?

Carlos. Não existe uma aceitação.

J. Mello. ... e isso te incomoda?

Carlos. Nem um pouco. Sempre soube que seria assim. Não sou popular entre os que ouvem rock "in my city."

J. Mello. Fale do início das atividades do blog.

Carlos. O que poucos sabem é que o 2112 começou como um blog que disponibilizava links de bootlegs. Cheguei a postar material do Led Zeppelin, do The Who, dos Rolling Stones, Mutantes... mas depois resolvi usá-lo apenas para divulgar o rock brasileiro.

J. Mello. Mas você já fez algumas entrevistas internacionais, não é?

Carlos. Foram apenas três. Ficou mais a título de experiência. Mas não descarto um retorno pois está muito complicado trabalhar com algumas bandas brasileiras.

J. Mello. Como assim?

Carlos. As pessoas querem tudo de mão beijada, não querem trabalhar, correr atrás. E quem leva a sério o seu ofício seja ele qual for tem que suar sangue ou tirar leite de pedra. As mídias sociais estão aí para ajudar e não para fazer milagres, entendeu? Ando muito desanimado...

J. Mello. Como você monta as entrevistas?

Carlos. Leio os releases e procuro informações no Facebook, site/blog e Instagram do entrevistado. Feito isso monto o esboço e depois faço uma triagem do que será aproveitado e o que será deletado.

J. Mello. Você tem idéia de quantas pessoas já entrevistou?

Carlos. Não sei exatamente quantos... acredito que em torno de uns duzentos e poucos.

J. Mello. E como é feita a seleção de quem será  entrevistado? 

Carlos. Não existe um parâmetro seletivo... levo em conta a trajetória do músico/banda, sua música e sua atitude como artista. Quando se trata de bandas novas procuro ouvir sua música, assisto vídeos se tiver e visito suas redes sociais. Outras vezes deixo meu lado fã falar mais alto como foi com a Tibet, Oswaldo Vecchione, Beto Guedes, Violeta de Outono, Korzus, China Lee etc.

J. Mello. Como você trabalha suas idéias?

Carlos. Sempre tenho um pedaço de papel, uma caderneta ou mesmo meu celular por perto para anotar as idéias que vão surgindo no decorrer do dia. Em casa leio tudo e analiso o que vou usar. Muitas dessas idéias vão parar em flyers, perguntas de entrevistas, textos etc.

J. Mello. Você mencionou que gosta de fazer as postagens de madrugada, porque?

Carlos. O silêncio da madrugada ajuda muito na hora de postar. Enquanto a cidade dorme... eu trabalho. E quando ela acorda a mesa já está posta. Aí é só sentar e degustar.

2112. Além das entrevistas você faz um importante trabalho de resgate da memória do rock brasileiro através de suas exposições virtuais. Como surgiu a idéia?

Carlos. O Brasil é um país que não valoriza a sua memória. A maioria do material raro existente está nas mãos de fãs. Então resolvi investir nesse trabalho de resgate de músicos/bandas para que não caiam no completo ostracismo. E de tempos em tempos reposto os links para reforçar a dose da vacina. Eu tenho muito orgulho do que é produzido em terras brazillis.

J. Mello. E como você encontra tempo para divertir ou dar atenção para a sua família?

Carlos. A agenda é sempre cheia como deu para você ver... mas dá para cumprir todos os compromissos. Quem acompanha o blog sabe que no início era bem mais apertado. Eu fazia de oito a nove entrevistas no mês, agora passei para quatro e já pensando em passar para duas. É muito estressante...

J. Mello. Entre as entrevistas qual te marcou mais?

Carlos. Todas foram importantes mas a exposição de fotos Bolívia & Cátia Rock se tornou muito especial. Nunca disse isso antes mas a princípio a postagem seria pro Natal. Mas algo me dizia para abrir as postagens do mês com ela. Lembro que na época a Cátia me falou da alegria do Bolívia em ver tudo pronto... logo depois ele veio a falecer. Marcou muito!!

J. Mello. Você já teve problemas com alguma banda?

Carlos. Não propriamente com bandas... mas com pessoas que se vêem como verdadeiros superstars e ficam cheias de mi mi mi. Não trabalho com gente dessa natureza. Elas lustram mais o cérebro do que lutam pela sua arte.

J. Mello. Que conselhos daria a uma banda?

Carlos. Músicos entendam uma coisa: empresários nunca baterão a sua porta com contratos milionários ou mesmo pessoas querendo conhecer sua música. Isso é uma realidade. Você pode ser um ótimo instrumentista, um ótimo cantor ou compositor super foda... mas se você não lutar para provar isso de nada adianta. Tudo na vida envolve luta, persistência e humildade. Quem conhece a história do Black Sabbath sabe o quanto eles foram ignorados pela crítica por vários anos. Mas a persistência dos caras os fizeram chegar no topo porque eles acreditaram e lutaram pela sua música. É como diz um trecho da letra de um compositor brasileiro chamado Geraldo Vandré: "... quem sabe faz a hora, não espera acontecer."

J. Mello. Como divulgador de bandas a atual cena te anima?

Carlos. A vida é feita de ciclos e com a arte não é diferente. O underground brasileiro tem revelado bandas incríveis e músicos super talentosos. Mas o descaso ou falta de conhecimento dos profissionais da "cultura" não abrem o merecido espaço para eles. Isso acaba causando desânimo ou o fim prematuro do que poderia ser uma grande banda. É a nossa realidade.

J. Mello. O que mais te irrita?

Carlos. A maneira como o brasileiro encara nossas bandas frente às gringas. Imagine se o Deep Purple, o Led Zeppelin, Bob Dylan, Jimi Hendrix ou o Metallica fossem brasileiros... como eles seriam tratados? Teriam as mesmas regalias que recebem por serem bandas gringas? Sei que serei apedrejado mas os álbuns da Rainbow sem o Dio e o Graham Bonett é uma grande merda e quem está no comando é o lendário Ritchie Blackmore. E aí? Precisamos entender que banda foda, ruim e amadora tem em todo lugar.

J. Mello. O seu blog é bem eclético... ele reflete os seus gostos? O que você ouve em casa?

Carlos. Não gosto de “rótulos” pois a meu ver restringe a criatividade/evolução de um músico ou banda. Ouço com o mesmo prazer Miles Davis, Made In Brazil, Joy Division, Billie Hollyday, Kurandeiros, Litlle Richards, Led Zeppelin, Harry, Muddy Watters, Motörhead, Pink Floyd, Amargo Malte etc.

J. Mello. Quem você gostaria de entrevistar e por algum motivo ainda não conseguiu?

Carlos. Sérgio Hinds, Sérgio Carlini, Thomas Pappon, Tony Osanah, Celso Vecchione, Elza Soares etc. A lista é bem longa.

J. Mello. Elza Soares?

Carlos. Sim. Além da voz expecional, a sua história é mais rock'n'roll do que a de muitos roqueiros por aí. Daria um ótimo filme. Ela é foda.

J. Mello. Deixei essa por último... você já pensou em acabar com o blog alguma vez?

Carlos. Cara, já pensei nisso várias vezes. Mas amo o que faço. Mas chegará um dia terei que pendurar as chuteiras e ficar só na arquibancada apreciando a cena tomando um delicioso chopp de vinho com uma porção generosa de batata fritas.

J. Mello. Sério?

Carlos. Sim, tudo na vida tem princípio, meio e fim. Acredito que já estou no meio da jornada... Não digo que será hoje ou mês que vem mas preciso me preparar para isso, não é?  

J. Mello. Muitíssimo obrigado pela entrevista e para encerrrar parafraseando você... o microfone é seu, meu camarada!

Carlos. Boa. Músicos, não desanimem com o primeiro "não" que você levar. Acredite no seu potencial e lute por ele. Vou citar um músico que já entrevistei e que admiro muito: Lejão Sampaio. Ele está sempre visitando as rádios para promover seu álbum Clichê e em troca promove a logo/flyer das rádios em sua timeline. Isso é sabedoria, uma troca vantajosa para ambos os lados. Pensem nisso.

Quero esclarecer que esta entrevista foi montada a partir de bate papos no Menssenger e também via e-mail. A postagem não será editada apenas em Portugal (onde eu moro) mas também na Finlândia.”

J. Mello 

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