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quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Entrevista Duck Strada

Uma voz, um violão, a mensagem... assim se traduz em 90% o músico, compositor e produtor Duck Strada. Conhecido por suas apresentações intimistas é um dos pontos centrais da atual resistência artística em tempos sombrios como os que estamos vivendo.

2112. Podemos começar com você contando como surgiu o nosso Duck Strada?

Duck. É uma história interessante e verdadeira. Meu sobrenome é Duck e muitos amigos desde a época do colégio já me chamava assim. Sempre gostei de viajar, acampar, estar em contato com a natureza. Lá com meus 20 e poucos anos comecei a fazer artesanatos e sempre estava na estrada rodando para trabalhar. Isso durou uns 15 anos. Na época, um amigo meu, Marcos Cordeiro (o atual guitarrista que me acompanha) ia constantemente me procurar na minha casa e eu nunca estava. Minha mãe sempre dizia à ele que eu estava viajando. Tempos depois, ao encontrar o Marcos na porta de um pub ele me disse: - Caramba Duck, eu te procurei várias vezes e você nunca estava em casa... sempre viajando, você é o Duck Strada ! E foi nessa tacada de mestre do Marcos, que eu ganhei meu nome artístico.

2112. Você começou muito cedo na cena?

Duck. Sim, aos 14 anos já ensaiava com banda. Eu era baterista. Aos 15 fiz meu primeiro show na escola onde eu estudava.

2112. Praticamente são quase quarenta anos de apresentações pelos palcos do nosso país. Que resumo você faz da sua trajetória?

Duck. Se eu pudesse sintetizar esses quase 40 anos segurando essa bandeira da música, eu embrulharia num pacote com 2 etiquetas: Resistência e Luta. Nunca gostei de modismos, sempre fui rocker e sempre segui fazendo parte da contracultura, principalmente nesses meus anos como compositor, que foi a época mais hippie da minha vida.

2112. Mas a sua carreira de compositor começou a deslanchar no início dos anos 90, não é?

Duck. Isso. Tudo começou quando eu ganhei de uma namoradinha, uma revista BIZZ de letras traduzidas do Pink Floyd em 1990. Na verdade, Roger Waters foi o primeiro grande letrista que despertou verdadeiramente meu estilo de escrever letras e poemas. Costumo dizer que não precisei estudar Drummond, Oswald e Vinicius; estudei Waters! Até nisso fiquei fora do modismo; pois é natural e essencial tais leituras quando se quer ser poeta ou letrista. Mas eu sentia atração pelo rock progressivo e suas narrativas. Jethro, Yes, Floyd, Genesis tinham ótimas letras, dignas de fazer escola. Robert Plant também escrevia muito no Led. Anos depois ainda na década de 90, uma amiga minha, a Mônica Savioli (in memoriam), numa de nossas viagens me presenteou com 2 fitas cassetes, contendo músicas do pessoal de Minas e do Clube da Esquina, e de MPB em geral. Eu fiquei maluco com aquelas músicas, e Lô e Márcio Borges foram os que mais afetaram meu coração. Fiquei encantado com a voz do Lô cantando os versos do irmão, numa ode à amizade, à natureza e à beleza da vida. A partir desse período, floresceu meu lado MPB. Aquelas harmonias e letras bem elaboradas me inspiraram profundamente e me impulsionaram a compor compulsivamente, e a partir dessa década até hoje eu consegui juntar algumas dezenas de composições... se bem, que virando meus arquivos eu tenho coisas escritas desde 1984. Mas era apenas o embrião, nada demais.

2112. Antes de 1990 você fazia apenas releituras ou já incluía   algumas composições suas no meio...

Duck. Antes de 1990 eu era baterista de bandas autorais e incluíamos sempre alguns covers. A única composição minha na época, era um tema chamado TREM FANTASMA onde eu fazia meu solo de bateria. Algumas bandas legais que participei na década de 90 e que vale citar são: O Expresso do Além, Sunflower e O Mágico de Nós. Todas oriundas da Zona Leste.

2112. A pandemia ano passado deu uma freada brusca nos shows, nas gravações e em todo tipo de manifestações culturais. O que você tem feito nesse período de reclusão?

Duck. Em março de 2020 comecei a instalação do meu novo Home Studio, assim que terminei comecei a produzir. A pandemia e o isolamento inicial, me fizeram acelerar o processo de gravação dos últimos Singles que lancei, juntamente com a criação dos clipes. De lá pra cá, fiz algumas letras novas, compus 2 ou 3 músicas. Fiz mais 2 clipes novos que serão lançados sequencialmente nesse semestre como Singles. Também houve uma nova e primeira parceria num Blues-Protesto com Dito Branco, bem no início da pandemia.

2112. ... fez alguma live?

Duck. Optei em não fazer LIVES, por não ter tempo de estudar e montar um set de captação que ofereça uma qualidade satisfatória. Mas, penso em fazer um primeiro teste esse ano, talvez uma Live supresa, pra quem estiver on line na hora (coisa de maluco).

2112. Você já tem alguns singles lançados: Bicho Solto, A Busca, Deixar Fluir, Psicodália, o Festival Paz e Amor; Fúria & Rock’n’Roll, Via Leste etc. Já pensou em juntar todo esse material com o acréscimo de algumas inéditas e lançar um álbum?

Duck. Com certeza farei um álbum. Acho os EP’s válidos, mas sou da época do vinil e prezo por um repertório que tenha começo, meio e fim. Não necessariamente um álbum conceitual, mas um repertório homogêneo, que converse entre si. Mas, as músicas que já estão selecionadas para esse futuro álbum não incluirão todos os singles que lancei ou serão lançados. Já tenho o repertório em mente. Inclui algumas novas e sim, algumas músicas que você citou. É porque tenho singles que já fizeram sua história na época, seria massificante para a obra divulgá-las novamente num CD, como foi o caso da Via Leste e da Psicodália. Prefiro deixá-las na internet como arquivo para quem ainda não conhece e tiver curiosidade de visitar meu canal do You Tube.

2112. Muitas músicas suas tem sido gravadas por muitos artistas independentes. A sua gaveta ainda esconde muitos cadernos com material inédito?

Duck. Tive a alegria de ser gravado não por muitos, mas por bons amigos que captaram a essência da música que faço. A primeira canção gravada foi Liberta Também, feita em parceria com a banda mineira Libertas Tamen. A banda O Mágico de Nós, idealizada por Fábio Ribeiro gravou a música A Cultura do Avesso II. Depois veio Via Leste (por Felipe Goulart), Bicho Solto e outra saindo do forno chamada O Livro na Estante (por O Vento Solar). Tenho uma feita com o Marcos Cordeiro (Se o Tempo Parar), que já gravei e falta lançar. Outras são composições recentes, com novos parceiros. Tenho uma música composta com Aurélio Pedro “A La Raul Seixas” chamada Cansado de Comer Capim, que é uma crítica social bem sarcástica, e serve bem para o atual momento que passa o Brasil. Além daquele Blues-Protesto (Políticos Hipócritas) com o Dito Branco que citei antes, e um Blues Rock com a Gigi Jardim chamado O Abraço Fatal. Tenho também uma linda balada composta com Max Madrassi (5 Sentidos). Todas essas serão gravadas no seu devido tempo. Agora, tem um parceiro que é meu irmão de estrada nos artesanatos, na vida e nas ideias. Ele é escritor e ufólogo, chama-se Cristiano Gonçalves. Lançarei futuramente um álbum, só com nossas parcerias compostas nesses anos de encontros e viagens trabalhando com arte. 

2112. Você mesmo se auto produz e ainda toca todos os instrumentos nas gravações. Acredito de que deva ser muito complicado para um um artista ver uma pessoa de fora dando palpites em sua criação, não é?

Duck. Hoje sou um cara mais aberto às sugestões. Novidades de arranjos são sempre bem vindas, mas no geral, até pelo fato da pandemia, costumo fechar o máximo de informação que a música precisa aqui no meu estúdio, aí posteriormente eu sentarei com os músicos recrutados para gravações mais definitivas e sim, de acordo com as boas ideias que possam surgir, serão adicionadas às canções.

2112. Em 2000 junto a alguns amigos você criou o Sarau do Brás. Como funciona esse projeto?

Duck. O Sarau do Brás (ou carinhosamente chamado Sarau da Amizade) foi um movimento cultural espontâneo, que surgiu entre um grupo de amigos que frequentavam o Bar do Zé, que por sinal foi quem idealizou o projeto. Músicos, poetas, trovadores, pessoal do teatro, artesões, velhos boêmios do Brás, todos juntos faziam o sarau acontecer em cada nova edição quinzenal por cerca de 5 anos. Entre apresentações musicais, leituras de poesias e trechos de livros, performances; a liberdade de expressão era a nossa principal bandeira. Ao término das atividades no Bar do Zé, fundamos com um pequeno grupo remanescente do Sarau do Brás, um novo sarau funcionando na COMGÁS, levando o mesmo nome e no mesmo formato alternativo, porém um pouco mais organizado. Isso seguiu-se por uns 2 anos e extinguiu-se de vez. Após o encerramento do sarau, não encontrei mais parte desses artistas do underground. Apenas o pessoal do O Vento Solar que eu convivo frequentemente.

2112. Os outros integrantes são provenientes de outras bandas ou tocam apenas nesse projeto?

Duck. Eu na atualidade sigo carreira solo, mas eventualmente conto com a participação do Marcos Cordeiro na guitarra, que também é compositor, mas de música instrumental. Ele prepara o trabalho dele e atua também como colaborador no meu trabalho nos arranjos, gravações e shows em duo.

2112. A set list deve ser bem variada. Que estilo de música vocês tocam?

Duck. Nosso repertório vem sendo apresentado com músicas autorais e algumas releituras de nossos heróis do rock nacional 70´s e MPB. Mas, o foco é o autoral. O estilo é mais um Folk Rock. Pra 2022 existe a ideia de formar um quarteto, somando baixo e bateria ao duo. 

2112. A música Psicodália acabou entrando na trilha sonora do documentário “Consciência em Transe” que registrou o festival do mesmo nome. O acontecido me fez lembrar da música Woodstock de Joni Mitchell...

Duck. Interessante essa analogia. Com certeza a Joni Mitchell pirou no festival feito eu aqui. Foi mágico como aconteceu tudo! Os primeiros versos da letra surgiram no meio da apresentação do Arnaldo Baptista, durante o Festival Psicodália de 2015. Ao fim do show, corri pra achar papel e caneta, mas simplesmente não existia em lugar nenhum, pois era tudo digital naquele lugar. Com muito custo consegui um pedaço de papelão no caixa, e uma caneta tirada de uma mochila qualquer e fiz a letra de primeira. Aí, depois de paquerar por horas a mina que fotografava os shows e o pessoal circulante, fiz amizade com ela e de quebra descobri que ela estava cobrindo o festival para produzir o documentário, e assim minha música foi selecionada entre tantas outras que foram enviadas à produtora. Não virou um hino como foi com a Mitchell; eu sinceramente esperava mais por parte dos organizadores do festival ... esperava que aproveitassem melhor a música como “propaganda” a eles mesmos, por levar o nome do festival e retratar na letra o astral daquilo tudo. Mas parece que eles não assistiram o documentário (risos).

2112. Em função da sua postura voz e violão no palco muitos o devem ver como um cantor/compositor folk. Você concorda ou a sua visão musical vai muito além dessa vertente musical?

Duck. Nosso amigo Luiz Domingues, identificou esse lance do folk singer em mim, num show que fiz abrindo para Os Kurandeiros, e eu me reconheci nesse perfil musical. Mas, muito do violão vem de acampamentos, rodas de fogueiras, da estrada mesmo; o violão como companhia. Anos depois virou meio de expressão das minhas letras ... mas meu universo musical e minhas inspirações vão um pouco mais adiante. Não gosto da ideia de me limitar à um gênero. Na minha concepção de arranjos, tem espaço para cítara e tablas indianas, orquestrações e distorções, todas convivendo em harmonia! Gosto muito de Classic Rock, Progressivo, Blues e Jazz, então isso pra mim soa natural de se produzir. Depende muito do que a música está pedindo. Mas, voltando a questão do voz e violão, isso vem muito da praticidade para se apresentar. Adquiri esse feeling no sarau e nas muitas viagens que fiz, tocando sozinho nos palcos dos litorais, cidades e nas montanhas do Rio e Minas.

2112. Em shows você também faz releituras de clássicos do rock?

Duck. Quando estou solo sim, faço releituras nacionais e internacionais do rock e da MPB.

2112. Como você trabalha a questão da releitura? Pergunto isso pois vejo muitos músicos tocando e cantando a risca as versões originais. Você acha isso correto ou você muda alguma coisa?

Duck. Acho legal respeitar o andamento da música que estou fazendo minha interpretação, em respeito à criação do autor e seu sentimento incorporado à composição da canção. Então prefiro trabalhar mais nos arranjos para dar a minha cara, ou da banda que estiver me acompanhando. Não curto muito alterar a estrutura da música e correr o risco de descaracterizá-la. Pra mim, Wish You Were Here sempre será uma balada, entende?

2112. Quais são os seus projetos pós-pandemia?

Duck. Para 2022 quero gravar o CD com 10 faixas e montar um quarteto para levar aos palcos o repertório autoral. Quero continuar produzindo minhas gravações e clipes o máximo que puder, lançando sempre como Singles. Junto à minha manager Cátia Rock, voltar a produzir edições do Festival Bolívia Rock e apoiá-la na linha de frente em sua produtora. Também, continuar escrevendo minha autobiografia que vive uma pausa no momento. Está chegando a hora de jogar todas as fichas... perdemos 2 anos com tristezas e opressão governamental, e quero fazer parte da reconstrução de uma cultura melhor pra esse país.

2112. Qual o seu e-mail/telefone para contratar seus shows?

Duck. Quem quiser me contratar pode mandar e-mail para: duckstrada@gmail.com ou boliviacatia.rock@hotmail.com e pelo Whatsapp 1199350-4202 (Duck) / 1194194-7712 (Cátia Rock)

2112. ... o microfone é seu!

Duck Quero agradecer a oportunidade dessa entrevista e dizer que: precisamos de mais entusiastas e experts feito você Carlos Retamero! É urgente para a saúde musical desse país, recrutar jornalistas, radialistas, DJ’s, youtubers e blogueiros que, saibam valorizar artistas e bandas independentes com maestria, inteligência e perseverança, assim como você o faz.  Dizer também que seguirei firme para deixar minha contribuição às futuras gerações, buscando sempre a alma e a poesia que a boa música merece ter por excelência. Serei Resistência Sempre !!! Um forte abraço do Duck.

 

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Obs.: As fotos utilizadas são de autoria de Bolívia & Catia Rock, Billy Albuquerque, Clarisse Lambert e Sebah de Assis... mas se tiver alguém que não citei por favor envie informações para meu e-mail: furia2112@gmail.com para que eu possa fazer as devidas correções.

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