O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Entrevista Antonio Pedro Fortuna

 
Um papo exclusivo com Antonio Pedro Fortuna, um dos maiores baixistas da história do rock brasileiro. Ele já tocou nos Mutantes (onde gravou o clássico Tudo Foi Feito Pelo Sol), Raul Seixas, Lobão, Unziôtro (grupo que contava com Arnaldo Baptista e Lulu Santos na sua formação), Blitz etc.

2112. Muitos conhecem você apenas dos Mutantes e da Blitz mas a sua folha de bons serviços prestados ao rock e a MPB é bem extensa. Fale um pouco sobre o início da sua carreira.

Antônio Pedro. Comecei tocando violão aos 12 anos. Já era fã do rock do Elvis, Little Richards etc. Aos 14 ganhei uma guitarra e montei uma banda pra tocar nas festinhas dos amigos. Influenciado pelo Paul McCartney optei pelo contrabaixo. 

2112. Quem mais te inspirou no desejo de se tornar músico?

Antônio Pedro. Na época fui influenciado pelas bandas inglesas e americanas. Depois fui curtindo outros gêneros.

2112. Aos 15 anos você entra para Os Mesmos que fazia apenas covers. Era uma banda de garagem ou vocês chegaram a participar das famosas domingueiras nos clubes? 

Antônio Pedro. Os Mesmos tocava nas domingueiras e durou uns 2 anos.

2112. Entre Os Mesmos e a sua entrada no Veludo Elétrico você chegou a tocar em outras bandas?

Antônio Pedro. Entrei numa fase autoral e participei das bandas Luzes da Cidade, Íris e A Fenda.

2112. E quem fazia parte dessas bandas?

Antônio Pedro. No Luzes da Cidade: Eu, Palinho Guitarra e PC Rangel, no Íris: Eu, Paulinho Guitarra, Zé Maurício e PC Rangel e na Fenda: Eu, Hugo Braule, Mauro Senise e Cid Freitas.  

2112. Quando você entrou para o Veludo Elétrico?

Antônio Pedro. Entrei para o Veludo Elétrico em 73, quando voltei de Londres.

2112. Além de você, Rui Motta e Túlio Mourão quem mais fazia parte da banda e que tipo de música que vocês faziam?

Antônio Pedro. Além do Tulio e do Rui, tinha Lulu Santos e Paul de Castro. O repertório era autoral progressivo.

2112. Após a sua ida para os Mutantes o Veludo Elétrico passou por reformulações e passou a se chamar apenas Veludo um dos ícones do prog rock mundial.

Antônio Pedro. Quando o Veludo Elétrico acabou o Paul começou a fazer o Veludo. Cheguei a ensaiar com ele, mas acabei indo para os Mutantes.

2112. Existe gravações de ensaios ou demos do Veludo Elétrico? 

Antônio Pedro. Que eu saiba não existe gravação do Veludo Elétrico.

2112. Como surgiu o convite para participar dos Mutantes? 

Antônio Pedro. Tulio e Rui já tinham ido pros Mutantes. Eu também já tinha ido a São Paulo assistir os ensaios da banda. Quando vieram pro Rio e Liminha resolveu sair foi a oportunidade perfeita.

2112. Quando você chegou o material do novo álbum já estava em andamento?

Antônio Pedro. Algumas músicas estavam adiantadas, mas participei dos arranjos de outras. Também ajudei na escolha das músicas para o disco.

2112. "Tudo foi feito pelo sol" se tornou um dos álbuns ícones da história do prog mundial. O que você lembra do período das gravações?

Antônio Pedro. Gravamos no melhor estúdio do Rio, mas tínhamos que fazer tudo em poucas sessões. Resolvemos montar todo o equipamento no estúdio e gravar a banda tocando ao vivo.

2112. O texto incluído na capa do cd afirma que o álbum foi gravado ao vivo sob inspiração de LSD. Sabe dizer se material sofreu algum tipo de overdub ou tudo ficou como foi gravado. 

Antônio Pedro. Alguns membros da banda usaram um pouquinho. O disco teve pouquíssimos overdubs.

2112. Os arranjos eram comunitários?

Antônio Pedro. Sim, comunitários.

2112. É verdade que o álbum seria batizado com outro nome?  

Antônio Pedro. Não, o nome do disco estava definido.

2112. Ao entrevistar Luciano Alves ele mencionou que um reporter italiano disse ao Sérgio que Carl Palmer mencionou que tanto ele como Emerson e Lake ouviam Mutantes para se inspirar. Você sabia disso?

Antônio Pedro. Não soube nada sobre esse detalhe.

2112. A edição em cd trouxe como bônus Cavaleiros Negros, Tudo Bem e Balada do Amigo lançadas num raro single em 1976. Você sabe dizer se existe material inédito guardado ou tudo que foi gravado está no álbum? 

Antônio Pedro. Da minha época tudo que foi gravado profissionalmente, foi lançado.

2112. Cavaleiros Negros e Tudo Bem tem participação sua nas composições. Você tinha mais material mas que não foi aproveitado? 

Antônio Pedro. Tinha outras músicas sim. Algumas estão numa gravação de um show no Teatro Tereza Raquel RJ, que está com o Rui.

2112. Os Mutantes tinha uma aparelhagem de respeito para os padrões da época, não é?

Antônio Pedro. Sim, tinha o melhor equipamento do Brasil.

2112. Os bootlegs Ao Vivo em Londrina e Ribeirão Preto apesar do som não ser perfeito deixou registrado o quão delirantes eram os shows da banda. Qual a melhor recordação que você guarda desse período?   

Antônio Pedro. As melhores recordações são do sítio em Itaipava RJ, onde moramos em comunidade por 2 anos e onde a gente ensaiava até 4 da manhã sem incomodar os vizinhos rs!

2112. Tudo foi feito pelo sol atingiu a marca de quase trinta mil cópias vendidas. Isso surpreendeu vocês? 

Antônio Pedro. Sim, foi um recorde em termos de rock brasileiro.

2112. O mais interessante é que o estilo de música da banda não era nada radiofônico. A Som Livre também deve ter se surpreendido com os números levando em conta que 90% de seus produtos eram voltados para trilhas de novelas.  

Antônio Pedro. A música “O contrário de nada é nada” tinha um perfil mais radiofônico. A Som Livre quis investir no segmento acreditando no potencial da banda e deu tudo certo.

2112. Essa formação é considerada uma das melhores da banda mas que incrivelmente durou apenas um único álbum. O que de fato causou a separação de vocês? 

Antônio Pedro. A gente trabalhava muito e ganhava pouco, seja por conta de empresários mal intencionados ou por investir muito em equipamentos. Quando saímos do sítio não tinha recursos para alugar um apto.

2112. Para muitos críticos a banda não passava de um mero Yes tupiniquim. A própria Rita Lee mencionou algo em torno disso em entrevistas após ser "saída" da banda. Qual a sua opinião acerca disso?

Antônio Pedro. Alguns críticos tinham essa postura. O fato é que o disco se manteve em catálogo e é cultuado por novas gerações. Andamos nos reunindo ultimamente e a resposta do público foi emocionante.

2112. A banda excursionou por todo o Brasil com destaques para os shows antológicos no Teatro Bandeirantes-SP e no Teatro Tereza Raquel-RJ. Você sabe dizer se existe gravações desses shows arquivados? 

Antônio Pedro. Rui tem um show completo no Tereza Raquel.

2112. Após sua saída dos Mutantes você passou a tocar com vários medalhões da MPB como Tim Maia, Raul Seixas, Gilberto Gil etc.

Antônio Pedro. Gravei um disco com o Tim e toquei um tempo com Raul. Depois comecei uma parceria com Lulu Santos. Com Gil apenas participei de um especial de TV, já na época da Blitz.

2112. Num breve intervalo você, Lulu Santos e Arnaldo Baptista criam o Unziôtru. Como foi que tudo aconteceu?

Antônio Pedro. Arnaldo veio morar no Rio e me procurou. Ele sugeriu que juntássemos as forças, eu, Lulu e ele, num novo projeto.

2112. A banda fez alguns poucos shows e logo Arnoldo retorna para São Paulo e o projeto acaba sem deixar um único registro. O que ocasiou o fim da banda e que tipo de som vocês faziam?

Antônio Pedro. Era a mistura do Pop Rock do Arnaldo com um estilo Black Carioca que eu e Lulu desenvolvíamos.

 2112. Vocês nem ao menos registraram algum desses shows?

 Antônio Pedro. Não que eu saiba. Algumas músicas foram aproveitadas depois em discos solos. 

2112. Você continuou trabalhando com o Lulu, Lobão, Marina e depois foi para a Blitz a convite do próprio Lobão, não é? 

Antônio Pedro. Continuei com Lulu depois do Unziotru, entramos numa fase meio New Wave e convidamos Lobão para o trio. Fizemos shows bem legais no Rio, SP e outras cidades. Lobão também tocava com Marina e me chamou para temporadas de lançamento no Rio e SP.

2112. A Blitz causou furor no cenário com os dois primeiros álbuns que promoveu uma sucessão incrível de sucessos que invadiram as rádios e ainda hoje encanta as pessoas. Vocês esperavam um retorno tão rápido assim?

Antônio Pedro. Nessa época conheci o Ricardo Barreto. Ele e Lobão me convidaram para os shows que a Blitz faria na inauguração do Circo Voador, no Arpoador-RJ. A banda causou um grande impacto nos shows do Circo. Estávamos todos dando o melhor e a receita funcionou.    

2112. O sucesso da Blitz acabou por abrir as portas para bandas como Legião Urbana, RPM, Engenheiros do Havaí, Titãs, Ultraje a Rigor etc que tomaram as paradas e as rádios de assalto com álbuns que se tornaram também verdadeiros clássicos do rock brasileiro. 

Antônio Pedro. Pois é, arrombamos as portas das gravadoras para as outras bandas. O diferencial era que tínhamos já a experiência dos anos 70 e nosso som não era calcado nas bandas inglesas que ditavam a moda.

2112. Não esquecendo de mencionar a antológica apresentação de vocês no Rock In Rio que levou o público ao total delírio. Porque vocês nunca lançaram o registro do show em disco ou dvd?

Antônio Pedro. Porque as gravações, salvas algumas exceções, foram feitas de modo amador.  

2112. Muitos na época não entenderam o porque da não inclusão da música Cruel Cruel Ezquizofrenético Blues no primeiro álbum da banda. O que realmente aconteceu?

Antônio Pedro. Houve problema com a censura e a gravadora achou que seria uma jogada de marketing arranhar o disco. Eu achei uma bobagem.

2112. Mas a EMI na época ao menos tentou recorrer antes de rabiscar todos as cópias do álbum? 

Antônio Pedro. Recorreu, mas não esperou.  

2112. Nessa época eu trabalhava numa loja de disco e lembro que a música foi lançada posteriormente num single. O que a censura alegou?

Antônio Pedro. Algumas músicas tinham palavrões e chegamos a alterar as letras. Nessa tinha um puta que pariu.

2112. O que levou Lobão sair da banda?

Antônio Pedro. Lobão tinha um trabalho praticamente pronto. Algumas músicas do seu primeiro disco eram tocadas nos show da Blitz no circo. Um amigo dele se prontificou a custear o disco e, com ajuda de músicos próximos, gravou as músicas. Eu gravei a metade e sou parceiro em O Homem Baile.

2112. A meu ver o sucesso da Blitz veio das letras irreverentes e descontraídas, o visual despojado e os próprios shows que dava ao público o que eles mais queriam... pura diversão! 

Antônio Pedro. Sim, os shows eram uma festa, puro entretenimento. Cenários, figurinos, coreografias, humor e música pra pular brasileira rs.

2112. Após idas e vindas da banda você saiu por volta de 1999. Hoje você trabalha apenas como compositor. O show bussines te cansou?

Antônio Pedro. A banda terminou oficialmente em 86. Em 94 houve uma reunião, sem a Fernanda, para o que seria a gravação de um disco ao vivo. O encontro acabou se estendendo por 3 anos. Até que alguns membros inventaram de gravar um disco nos EUA. O projeto se revelou ser uma roubada e eu e Ricardo Barreto resolvemos sair da banda em 97. Marcia Bulcão saiu um pouco antes. Me mudei do Rio e parei de frequentar o meio musical. Fiz um pequeno estúdio na casa da praia e reúno alguns amigos para tocar e eventualmente alguma apresentação em lugares pequenos.

2112. Fale um pouco sobre o retorno dos Mutantes após trinta anos do lançamento do álbum Tudo Foi Feito Pelo Sol? Como surgiu essa oportunidade? Vocês sempre se mantinham em contato? 

Antônio Pedro. Eu tinha algum contato com o Rui. Depois de quase 30 anos reencontrei o Sergio no Orkut. Ele perguntou sobre os outros e convidou para um som no seu estúdio em SP. Falei com o Rui que fez contato com o Tulio em BH. Combinamos e em 2006 tivemos dois encontros. Mas aí veio o convite para um encontro da Tropicália em Londres e Sergio acabou por reativar a formação inicial com Arnaldo e Dinho. Até que em 2012 houve um convite do Festival Psicodália em SC para um show do TFFPS. Foi muito emocionante, o público (4 mil pessoas) cantou junto todas as músicas. Em 2013 foi a vez de BH, com o mesmo sucesso e depois 2 shows em SP, com casa lotada e muita emoção. Sergio mora nos USA e isso atrapalha um pouco, mas espero fazer mais shows com essa galera.

2112. A idéia inicial era apenas curtir o encontro ou vocês tinham idéia de fazer uma tour, gravar novos álbuns, manter a banda... Enfim o que vocês tinham em mente?

Antônio Pedro. Existe um projeto para um disco, andamos conversando, mas a pandemia atrapalhou.

2112. Nos ensaios surgiram novas composições? 

Antônio Pedro. Hoje em dia as pessoas costumam compor pela internet. Eu sou da velha guarda e prefiro ensaiar e compor ao vivo. Tenho algumas inéditas e espero uma oportunidade.

2112. ... o microfone é seu!

Antônio Pedro. Carlos Antonio foi um prazer responder suas indagações. Um abraço e vamos nessa!!

 
Obs.: As fotos utilizadas nessa entrevista foram retiradas do Facebook do artista, dos arquivos da Mais Rock e apenas o nome da fotógrafa Beta Klein. Quem tiver alguma informação sobre os demais enviem para o meu e-mail: furia2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.

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