O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



domingo, 3 de dezembro de 2023

Entrevista Júnior Muzilli (Salário Mínimo)

 

2112. Treze anos é o tempo que separa Simplesmente Rock do novo álbum que a banda está gravando. Porque esse espaço de tempo tão longo?

Júnior. Eu voltei à banda em maio de 2009. Após lançar o Simplesmente Rock fizemos muitas apresentações calcadas no novo álbum, Em 2012 comecei a escrever algumas idéias para o próximo trabalho. Apresentei ao grupo e começamos a lapidar a parte melódica. Achávamos que daria para lançar por volta de 2015 ou 16. Nesse meio tempo, trocamos o baterista, saiu o Marcelo Koruja e entrou o Marcelo Campos e apareceram oportunidades de gravar singles: Fatos Reais/ Transas da Noite/ Vale o que tem/ Tempo. Em 2020 tivemos a saída do China, daí veio a pandemia para complicar. Tivemos que reformular o time, além do que para uma banda com longa estrada não é fácil juntar 5 cabeças para uma empreitada dessas. O nível de exigência sempre é muito alto internamente e de cada 10 esboços, as vezes só se aprova uns 2 ou 3. É muito trabalho e em algum momento nem todos estavam com o mesmo objetivo.

2112. ... vocês chegaram a compor material para um terceiro álbum?

Júnior. Na verdade, esse próximo trabalho será nosso terceiro. Por ordem cronológica: Tirando a coletânea SP Metal I (1984), Beijo Fatal (1987) Simplesmente Rock (2010) e agora o novo. Temos bastante material composto conforme falei, desde 2012 e boa parte escrita durante o período de pandemia. Esperamos que seja do agrado de nossa legião de fãs.

2112. Em 2020 China deixa a banda e você retorna após uma breve saída em 1990 e nós fãs ficamos apreensivos sobre o futuro da banda. Em algum momento vocês pensaram em encerrar carreira?

Júnior. Nunca sequer cogitamos essa possibilidade como banda, pelo menos até o momento rsrs. Claro que um dia isso irá ocorrer, afinal todos envelhecemos. O que possivelmente houve é algum membro ter esse pensamento individual de encerrar a própria carreira ou se dedicar a outros projetos.

2112. Ano que vem o SP Metal I completa 40 anos... quais lembranças você tem das gravações?

Júnior. A gente era uma banda de tocar ao vivo, jamais imaginamos gravar um disco. Quando surgiu o convite do Luiz Calanca (Baratos Afins), ficamos muito felizes mas também apreensivos, afinal nunca havíamos pisado num estúdio. Tudo era mágico, até o cheiro do lugar. Pedi uma Gibson Les Paul emprestada e fomos de cabeça num campo totalmente desconhecido. Gravamos a guitarra distorcida ligada em linha, por isso que o som parece um monte de abelhas rsrs. As dificuldades foram superadas pela vontade de registrar 2 das músicas que mais agitavam nos shows.

2112. A coletânea foi um sucesso de vendas alavancando a agenda de shows da banda por todo o país. Por que o Beijo Fatal levou três longos anos para ser lançado?

Júnior. Quando gravamos a coletânea éramos um quarteto (eu na guitarra, China nos vocais, Magoo no baixo e Beá na bateria). Em 1986 tivemos a saída do Beá e do Magoo substituídos pelo Nardis (bateria) e Oswaldo Thomas (baixo). Daí adicionamos mais uma guitarra (Arthur Crom) o que deixou a massa sonora muito mais pesada. Assim, escrevi as músicas pensando em guitarras "gêmeas" e foi muito fácil a integração dos novos parceiros que ajudaram muito com os arranjos. Daí em 87 já tínhamos pronta a nova "bolacha"

2112. A versão em cd trouxe cinco faixas bônus todas compostas por Micka Mickaelis, do Santuário/Extravaganza. Essas gravações são sobras de estúdio ou foram gravadas especialmente para esse lançamento?

Júnior. Eu estava fora da banda nesse período. Aliás ninguém dessa formação atual participou desse projeto.

2112. A banda sempre foi extremamente popular com shows lotados e fãs super fiéis. Nunca houve projetos de lançar um "ao vivo", não?

Júnior. O que temos "ao vivo" é o show no "Brasil Heavy Metal" Um dos maiores festivais com bandas brazucas. A vontade de fazer um "ao vivo" exclusivo sempre existiu, afinal a energia do público em nossos shows sempre foi um diferencial admirável. Infelizmente nunca conseguimos uma captação adequada capaz de gerar um álbum ao vivo. O que existe por aí é muito fã que filma de celular mesmo e coloca na internet. Temos planos, após o novo álbum de trabalhar essa questão sim, para mostrar a energia que rola nos nossos shows.

2112. ... mas existe gravações de qualidade dessa época arquivada?

Júnior. Infelizmente, muita coisa foi perdida.

2112. Beijo Fatal e Simplesmente Rock são clássicos absolutos do metal brazuca. Alguma novidade além do hard metal tradicional da banda?

Júnior. Esse próximo álbum vem muito pesado, com muita energia, mas sempre com o DNA que acompanha a banda nesses longos 43 anos. Vem muito metal clássico, Hard-Heavy e quem sabe uma balada. Vamos ter surpresas! Ah e sempre cantado em português.

2112. Quem integra a banda atualmente? Você é o único membro da formação original?

Júnior. Sim eu sou o único membro original, mas da formação "clássica" da banda mas temos o Marcelo Campos (bateria) e Daniel Beretta (guitarras). Apresentaremos nosso novo vocal numa estratégia de marketing que envolve parceiros, patrocinadores muito em breve. Estamos pensando em lançar uma das músicas até fevereiro.

2112. As composições do novo álbum são todas inéditas ou tem material não aproveitado do último álbum gravado por vocês?

Júnior. Estamos trabalhando em 8 músicas totalmente inéditas, um clássico da década de 80 nunca antes gravado e uma surpresa.


2112. O que você poderia nos adiantar das gravações? Falta muito para finalizar o trabalho?

Júnior. 4 músicas já gravamos as baterias então penso que as outras 6 baterias finalizamos até final do ano. Daí é colocar as guitarras base, depois gravamos os solos até mais ou menos fevereiro. O baixo e as vozes estão previstos para meados de março. Aí vem a parte mais demorada: edição, mixagem e masterização, assim esperamos o lançamento por volta de Junho 2024.


2112. Quem está produzindo?

Júnior. Estamos sendo produzidos pelo Rodrigo Oliveira (Korzus) e a gravação nos estúdios Dharma


2112. O trabalho já tem título definido?

Júnior. Com certeza será o nome de uma das músicas, mas ainda não definimos. 


2112. O álbum a início será lançado apenas nas plataformas digitais ou saíra também em formato físico?

Júnior. Certamente nas plataformas digitais, com uma capinha legal e tudo. Quanto ao material físico estamos em negociação com algumas empresas interessadas na prensagem e distribuição,

2112. Qual o telefone/e-mail para contratar os shows da banda?

Júnior. Nosso site: bandasalariominimo.com.br e nas mídias sociais: www.youtube.com/user/Bsalariominimo/ www.instagram.com/salariominimo/ www.facebook.com/bandasalariominimo. Telefone para contato de Shows (11) 99976 20 11

2112. Obrigado pela entrevista... o microfone é seu!

Júnior. Eu que agradeço a oportunidade do Blog 2112, e também aos nossos fãs que, assim como nós, estamos ansiosos por esse novo material, além do que sentimos muita saudade dos shows ao vivo, afinal acreditamos que é no palco onde reside nossa maior força. Esperamos que nossa legião de fãs receba nosso novo vocalista de braços abertos, assim como todo novo line-up, afinal o show tem que continuar. Forte abraço!

Obs.: Todas as fotos foram retiradas do Facebook do entrevistado.  

domingo, 12 de novembro de 2023

Entrevista 40 Anos SP Metal: Nico Bloise & Zé "Heavy" Luiz (Final)

Na primeira parte conversei com Calanca, o idealizador Projeto SP Metal, na segunda com integrantes das bandas e agora para finalizar é a vez da parte técnica com Nico Bloise e Zé "Heavy" Luiz.

2112. SP Metal I está prestes a completar quarenta anos de lançado. Qual a visão de vocês do álbum após todos esses anos?

Nico. Humildemente somos ícones do Metal em São Paulo. Gravamos todos os dois discos e outros como Golpe de Estado, Patrulha do Espaço, Chave do Sol, Harppia, Centúrias etc. O SP Metal é a porta de entrada das bandas com estilos e sons diferenciados de garotos com maior tesão em gravar suas primeiras faixas, ouço com maior orgulho.

Zé. Foi uma grande porta de entrada para a música pesada. Existia uma certa repulsa do mercado quanto aos ditos “barulhentos" e o SP Metal mostrou que havia muito mais atrás dessa máscara.

2112. Apesar do Stress e do Karisma serem os pioneiros com seus álbuns... a meu ver foi os dois volumes do SP Metal quem escancarou as portas para toda uma geração de headbangers, não é?

Nico. Sim como acabei de falar várias outras bandas tiveram oportunidade depois desse grande evento.

Zé. Stress e Karisma tem meu respeito, mas naquela época e num país de dimensões continentais, o núcleo artístico ficava entre Rio e São Paulo literalmente. A cena metal paulista começava a ficar mais forte. Claro que haviam grandes bandas fora deste circuito. Sepultura é um bom exemplo.

2112. ... de repente havia bandas, estúdios, shows, bares, festivais, zines, revistas, lojas de discos, roupas e instrumentos para tudo quanto era lado. Foi um momento de grande efervescência, não?

Nico. Imaginem esses garotos que tocavam em suas garagens e ensaios terem a oportunidade de gravar em um estúdio de grande porte como era o estúdio Vice Versa e serem lançados pela selo Baratos Afins com toda a estrutura que o Luiz Calanca lhes dava.

Zé. Acompanhar o crescimento da cena, ver as bandas tocando juntas e se ajudando foi muito bacana. Lembrando que ainda não havia acontecido o Rock in Rio.

2112. Não esquecendo que o interesse dos gringos pelos dois álbuns garantiu grande credibilidade ao projeto. Isso surpreendeu vocês?

Nico. Modéstia à parte o Luiz Calanca já era o cara que sabia mexer e com seu conhecimento entre pessoas de divilgação fez o melhor trabalho nessas etapa.

2112. Nico, o que o Calanca conversou com você sobre o projeto SP Metal?

Nico. O Luiz Calanca sempre foi muito exigente como produtor por isso está mas eu, ele e o Zé fizemos o melhor trabalho de equipe que já vi, um monstro.

2112. ... quais são as suas memórias das gravações?

Nico. Cara os garotos, suas ansiedades, suas ideias e seus tesões em estar gravando num estúdio sem nunca ter entrado em um, chegavam com seus instrumentos e nos ouviam com a maior atenção e eu só queria mais era ser o quinto integrante da banda, dando dicas e procurando aquilo de melhor em cada um deles, era um estado de êxtase.

2112. A cabine de gravação deveria ser a maior festa, não? ... quais são as memórias das gravações que mais te marcou?

Nico. As passagens de som, você ria muito com tanta besteira que se falava e as amizades que construímos durante essas gravações.

2112. Zé, derrepente você é transportado do seu quarto para dentro de um estúdio para auxiliar na gravação de um dos maiores álbuns de heavy metal de todos os tempos. O que isso mudou na sua vida?

Zé. Eu era assistente de estúdio e sempre que eu podia, colocava um disco pra me fazer companhia durante as montagens e períodos de limpeza do estúdio. Éramos uma grande equipe. Dar suporte ao Nico e às bandas, ver o sonho deles se realizando... foi mágico!!

2112. O que isso serviu de aprendizado para você?

Zé. Como assistente, eu assimilava informações sobre como gravar, que microfone usar e de que maneira e aplicava em gravações de discos independentes. Foi a nossa escola. Havia pouca informação e acabávamos aprendendo com os mais velhos. Existia a maneira acadêmica de se fazer e também a da Tentativa e erro, onde eu procurava novas sonoridades e adaptava algumas técnicas de gravação ao meu modo

2112. ... corredor cheio de músicos entusiasmados, pouco tempo para gravar, arrumação e afinação de instrumentos, o entra e sai de bandas no estúdio etc. Como foi colocar ordem no recinto? A adrenalina chegou a 100%?

Nico. Tentamos fazer dos momentos o mínimo de estresse, o Luiz Calanca deixava-nos muito à vontade pois sabia que eram garotos com a adrenalina lá em cima querendo gravar seu primeiro disco impecável.

2112. Além do entusiasmo os músicos deveriam estar bastantes anciosos e nervosos. Era como perder a virgindade, não é?

Nico. Olha alguns sim mas outros muito seguros do que estavam fazendo.

2112. Com o tempo cronometrado como foi gravar/mixar num espaço de tempo tão curto? Quais foram os maiores desafios técnicos enfrentados durante as gravações?

Nico. Bom primeiro que era uma máquina MCI de oito Canais tínhamos as vezes que gravar as bases reduzir para poder gravar solos e vozes fora prestar atenção em afinação e qualidade das tomadas de som, com o tempo íamos administrando com o Luiz Calanca ao lado e o seu ok.

2112. Com apenas dois dias para gravar e mixar todo o material vocês com certeza trabalharam duro para fechar o trabalho. Ao ouvir as fitas com o material pronto o que acharam do resultado final?

Nico. Simplesmente trabalhamos e fizemos o melhor que daria nesse tempo. O resultado para mim e acho que para as bandas dentro do possível foi satisfatório e com o Luiz Calanca finalizando.

2112. E qual foi a reação do Calanca e das bandas?

Nico. Nós curtimos muito e aprendemos muito uns com os outros era muito satisfatório ver as audições e as caras do músicos e do Calanca.

2112. Se no primeiro você auxiliou, no segundo pilotou a mesa de gravação. Porque Nico Bloise não produziu o segundo álbum? O que aconteceu entre a gravação de um álbum para o outro?

Zé. Tá aí uma pergunta que não quer calar... Foi por opção do Calanca. Talvez ele tenha visto algo diferente neste moleque atrevido. Pra mim foi uma honra e uma ótima oportunidade de colocar em prática tudo que eu assimilei dos meus mestres.

2112. Quem te auxiliou nas gravações?

Zé. No SP Metal 2 eu trabalhei quase que sozinho... o estúdio tinha uma demanda muito alta de projetos de jingles e trilhas para comerciais que tomava o tempo dos técnicos. Lembrando que eu era assistente de estúdio durante o dia e gravava nas noites. Era insano!!!

2112. Na sua opinião... que erros cometidos na gravação do primeiro álbum serviu de experiência no segundo?

Zé. Não vejo erros, mas inexperiência seguida de uma vontade louca de fazer acontecer. Não tínhamos a tecnologia, o processo de gravar em 8 canais é complicado por que se grava quase tudo ao vivo. A mixagem do SP 2 eu fiz no estúdio de 16 canais, na calada da noite e sem contar pra ninguém, pra não gerar custo.

2112. Calanca mencionou um fato bem interessante: "... apagamos por descuido o finalzinho da gravação do Santuário e gastamos um tempo enorme para colar um ruído de arena de um show do Kiss para mascarar a falha, mas acabou ficando bom." O que você lembra desse episódio?

Zé. Eu me lembro dessa situação de outra maneira (memória curta). Eu sempre penso nisso como o povo ovacionando o rei Spartacus. Funcionou!!

2112. ...outra lembrança foi sobre o guitarrista do Centúrias que já fora da banda não queria abrir mão de registrar a sua participação. Como foi resolvida a questão?

Zé. ... disso eu realmente não me lembro!

2112. Que lembranças ou histórias pitorescas você guarda das sessões de gravações dos dois álbuns? ... devia ser a maior farra, não?

Zé. Era um mundo novo, o clima era leve mesmo com o tempo corrido. Fiz grandes amigos que mantenho até hoje. Ainda faço parte da equipe do Korzus e mixei o álbum duplo do Santuário.

2112. Ouvindo os álbuns hoje o que você manteria, o que mudaria ou deixaria tudo como está para preservar a magia da época?

Zé. Fizemos o melhor que poderíamos fazer. Hoje em dia tudo mudou, ficou mais fácil gravar. Naquela época a gente fazia piada de um futuro estúdio que coubesse na palma da mão. Virou realidade. É parte da história e sinto orgulho do resultado.

2112. China mencionou que muitos preferem a gravação original de Delírio Estelar a regravação incluída no segundo álbum da banda: "Aliás Delírio nós regravamos no Simplesmente Rock com dois bumbos, guitarras mais pesadas (...). Só que você acredita que mesmo com toda a estrutura existe pessoas que gostam daquela forma como foi concebido no SP Metal (...)." Ambos os álbuns se tornaram atemporais, verdadeiros ícones do estilo. O interessante é que mesmo após todos esses anos eles não perderam o seu poder de fogo, não é?

Zé. A arte tem dessas coisas: uma vez lançada, se eterniza.

2112. ... uma pena que o projeto não seguiu adiante com outros volume. Seria bem interessante, não?

Zé. O projeto evoluiu para os EPs em 45RPM. Atualmente Eu acho que a mágica acontece bem debaixo dos nossos narizes com a facilidade de conhecer bandas novas nas plataformas de streaming.

2112. Você além de produtor, também é músico... como você divide o seu tempo?

Zé. Eu continuo mixando alguns trabalhos escolhidos a dedo e eu deixei os grandes estúdios para viver na estrada mixando shows. Já fui baterista... aposentei faz algum tempo.

2112. Muito obrigado pela entrevista... o microfone é de vocês!

Nico. Quarenta anos se passaram e com muito orgulho temos esses registros, agradeço a Baratos Afins por me dar a oportunidade de ter gravado esses e vários disco por eles, deixo aqui meu profundo respeito ao Luiz Calanca e ao José Heavy Luiz o maior engenheiro de rock do Brasil e se quer do mundo. Deixo aqui minhas homenagens. Obrigado!

Zé. Tanto tempo passou e a chama ainda está acesa. Viva o Metal Nacional e todos que fazem parte desta história. Obrigado pelo espaço. Nos vemos pela estrada.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Entrevista Marcos Cordeiro

2112. Há trinta anos você está "live on the road" com passagem por diversas bandas. Como você resumiria esse tempo de aprendizado na sua vida?

Marcos. Eu diria que foi um período muito gratificante, o sonho de ser músico, tocar guitarra e fazer parte de bandas é uma das melhores experiências que se pode ter, apesar das dificuldades em se fazer música no Brasil. Toquei em grupos de blues, rock, rockabilly, bandas covers e trabalhos autorais, eu diria que nas bandas covers eu aprendi, me diverti, e nos trabalhos autorais eu me desenvolvi, criar é realmente a experiência mais prazerosa. 

2112. ... o interessante é que ao tocar em diferentes segmentos musicais você amplia seus horizontes como músico, não é?

Marcos. Sim, sem dúvida, cada novo trabalho é um desafio e um aprendizado. Eu trabalhei com vários amigos compositores, caras da minha geração como meu amigo Fabio Ribeiro. Eu gosto dos trabalhos autorais porque você tem liberdade de criar, é como uma página em branco esperando pra ser preenchida. Gostava muito de fazer arranjos de guitarra e solos para essas novas composições, e esses amigos sempre reconheceram meu trabalho por isso.

2112. Eu tenho o blues como referência... mas adoro explorar sonoridades étnicas além do jazz, soul, hard, psicodelismo, prog, música experimental etc. E você?

Marcos. Acho que também sou assim, gosto de ouvir música em geral, música boa, como quando você vai ao cinema e é surpreendido com uma música linda, de alguém que você nunca ouviu falar. Agora minhas influências como músico já não são tão abrangentes, rock anos 60 e 70 principalmente, blues, rockabilly e um pouco de jazz, gosto também da turma mineira, do pessoal do Clube Da Esquina.  Minha formação como guitarrista vem por esse caminho.

2112. ... dos grupos que participou existe registros disponíveis nas plataformas digitais?

Marcos. Há um trabalho antigo, do final da década de 90 do grupo Aerosilva. Participamos de muitos programas de TV nessa época, tivemos contato com gente da mídia, porém o grupo acabou não atingindo o grande público. No Aerosilva fiz parte do segundo álbum da banda. Esse trabalho foi produzido por Mauricio Nunes e Alexandre Fontanetti. Agora recentemente foi lançado o EP do amigo Duck Strada, participo na guitarra em duas faixas. Entre esses trabalhos houveram outras gravações porém nada disso está disponível na rede.

2112. Nessas idas e vindas entre uma banda e outra como surgiu a idealização do álbum "De Minas A Bangkok"? Você já tinha esse material pronto?

Marcos. Aconteceu de uma forma bem curiosa, a princípio não planejada.

Ao longo do tempo eu sempre colecionei algumas composições, normalmente temas instrumentais, de vez em quando surgiam essas ideias, eu desenvolvia e deixava guardado, não ligava muito pra essas músicas.  Um dia ao encontrar um amigo, Edson Machado, ele me disse que estava há pouco tempo com um equipamento de gravação em seu apartamento, e me convidou pra fazer uns testes, umas experiências, ele me disse que queria aprender a gravar. Marcamos um dia e apareci por lá, sem expectativas. Nessa primeira sessão gravei uma música que tinha composto há pouco tempo, chamada Cry Baby, fiz duas guitarras base, alguns arranjos e um tema solo seguido de um improviso. Foi rápido mas fiz tudo direitinho, como se faz uma gravação oficial pra um disco. Ao ouvir a faixa ficamos impressionados com o resultado, mesmo sem baixo e batera a música parecia pronta, talvez porque fiz várias camadas de guitarra, parecia que não precisava de mais nada, nesse momento pensei: “uau, a música é boa!” Daí marcamos uma segunda sessão, empolgado com a experiência de ouvir minha música gravada compus um segundo tema no período entre o primeiro e o segundo encontro. Fizemos esse novo tema na segunda gravação, novamente fiz todas as camadas de guitarra, caprichei nos timbres, e ao ouvir o resultado no fim da sessão quase cai de costas, essa segunda música tinha ficado ainda melhor que a primeira, foi aí que eu vi que realmente eu compunha coisas interessantes, eu precisei ouvir gravado para ter essa percepção... Daí resolvemos gravar esse álbum, produzimos juntos, e as músicas das duas primeiras sessões de gravação estão no disco, uma delas é o tema de abertura, chama-se “A Dança dos Pássaros”.

2112. As composições são todas suas ou você divide parceria com amigos ou membros da banda?

Marcos. As músicas são minhas, exceto a faixa “A Bicicleta e o Catavento”, que compus junto a cantora Marcela Maia.

2112. Você poderia falar um pouco sobre as gravações do De Minas A Bangkok?

Marcos.
A primeira parte da gravação do disco foi toda no apartamento do Edson, ele tem vizinhos muito pacientes, tivemos tardes de trabalho muito agradáveis e divertidas, sou muito grato ao Edson por isso. Gravamos assim todas as guitarras, baixos também. Na segunda etapa do projeto fui para bons estúdios para fazer a bateria e mixar, acabei refazendo algumas guitarras também, sou muito perfeccionista, como bom virginiano.

2112.. ...além de você, do Nilson e do Felipe houve a participação de outros músicos em estúdio?

Marcos. Primeiramente eu preciso agradecer a participação de Nilson Santos na bateria e Felipe Goulart no baixo, são músicos incríveis, sem eles dificilmente esse álbum teria a mesma consistência.  Fora isso contei com a participação de Cassiano Nogara no baixo, na faixa “Guitarras Tropicais.”

2112. Gosto muito do formato trio o que me lembrou de bandas lendárias como o Cream, Emerson, Lake & Palmer, Beck, Borgert & Appice, Motörhead, Triunvirat, ZZ Top, Rush etc. Mas você já pensou em incluir um tecladista na formação?

Marcos. Sim. Tenho essa ideia faz algum tempo, de contar com um tecladista, acho que ao vivo completaria bem a sonoridade que almejo. Agora o trio é legal né, além de simplificar a logística, ensaios e tudo mais, no trio todos tem que ser intensos o tempo todo, se entregar por completo, talvez por isso que esses trios que você citou se destacaram tanto, fora o “Experience”, do Hendrix, que transcendeu tudo que já havia sido feito na época, pra mim ele é o maior de todos.

2112. Vocês ainda estão em processo de divulgação do álbum ou já estão trabalhando material novo?

Marcos. O trabalho de divulgação do álbum ainda está muito no início, embora no show entram composições novas que provavelmente entrarão no segundo álbum, ainda não pensamos em gravar de novo.

2112. Nos shows vocês incluem apenas material autoral?

Marcos. Sim, só material autoral, embora tenho pensado em incluir uma música de Jeff Beck, outro cara totalmente anormal, fora da curva.

2112. Muito interessante vocês usarem elementos da música etérea do Cocteal Twins em "De Minas A Bangkok" Que outras curiosidades o ouvinte pode esperar? 

Marcos.  Eu gosto de ouvir a música e descobrir a que imagens mentais que ela me conduz; estradas, lugares, paisagens, De Minas A Bangkok me remete a essas imagens. A primeira vez que ouvi Cocteau Twins achei incrível aqueles climas viajantes das canções, pra mim aquilo era como uma viagem da alma, como que flutuando, há sensações que são difíceis de descrever.  No entanto não é uma banda que fez parte de minha formação musical, até porque conheci a banda um pouco depois, porém as coisas que você ouve e lhe causam um impacto acabam ficando em você de alguma forma, e isso passa a influenciar o que você faz daí pra frente, mesmo que essa influência não seja perceptível para o público em geral.

2112. ... e como está a aceitação do álbum? Além do formato CD ele também já está disponível nas plataformas?

Marcos. O álbum foi lançado pela distribuidora Cd Baby, ele está nas principais plataformas digitais. Já em relação à repercussão confesso que ainda estamos um pouco carentes de shows para sentir mais a reação do público. Trabalhar com música independente no Brasil é um desafio. 

2112. O mercado da música instrumental apesar de pouco divulgado em comparação a outros segmentos possui um público fiel que sempre consome os lançamentos/relançamentos e na maioria das vezes lota os shows, não é?

Marcos. Há uns tempos atrás a música instrumental em nosso país ficava muito restrita à praia do Jazz e da música brasileira, há grandes instrumentistas nessa área, agora de uns anos pra cá começaram a surgir alguns grupos de rock fazendo música instrumental, como o grupo “Macaco Bong”, por exemplo, acho isso bacana, abre novas possibilidades, o público  de rock, blues e jazz é aberto a esse tipo de som, o problema é você conseguir chegar nos espaços para que esse público te conheça, o som instrumental é algo bem segmentado, o nicho do nicho, para chegar ao público primeiro você tem que chamar a atenção dos produtores culturais, é necessário que os produtores de show olhem um pouco pra fora da sua bolha, abrir oportunidade pra quem ainda não teve muita projeção, sem isso não surge o novo.

2112. ... sem contar os inúmeros festivais espalhados por todo o país. Isso contradiz os que dizem que não existe público para esse segmento musical, não é?

Marcos. Esses festivais acontecem em muitas cidades diferentes, me refiro aos festivais de música independente tá, não mainstream, acho que é muito legal, é importante para a criação de novas cenas musicais e tenho admiração pelas pessoas que tem a iniciativa de criar esses festivais. No entanto reitero a necessidade desses curadores olharem para o lançamento de novos artistas. Há grupos independentes que participam desses festivais que já tem décadas de carreira, e não tem problema, são artisticamente relevantes e importantes para atrair o público, porém não podemos deixar de pensar na renovação, às vezes o cara tem que se arriscar um pouco e trazer um grupo novo, ainda com pouca história.

2112. Exatamente. Mas qual é a sua visão de mercado hoje? O que melhorou e o que piorou nos últimos anos?

Marcos. Mudou totalmente com o avanço da tecnologia. Um lado bom é que a internet democratizou de certa forma, pois todos podem utilizá-la para divulgar seus trabalhos. No entanto aconteceu um fato curioso, quando começamos a curtir som, vou falar por mim, lá na década de 80, conhecíamos as bandas através do rádio, as vezes da tv e nos discos, através de amigos que às vezes te gravavam uma fitinha, ou seja você conhecia primeiro o som, a música, só depois você vinha a conhecer o artista. Hoje em dia é ao contrário... Com a massificação da internet e dos smartphones a imagem se tornou mais importante, a pessoa tem acesso a imagem do artista muitas vezes antes da música.

2112. ... uma coisa que mudou muito é como se ouve música nos dias atuais. Por onde os fãs de material físico?

Marcos. Hoje há mais formas de ouvir música e isso é bom, quanto mais se facilita o acesso a informação melhor. Já quanto aos fãs do material físico, como eu, eles sempre vão existir, hoje em menor quantidade, devido à facilidade de se ouvir música na internet, porém isso não destrói o nicho dos cds e vinis, é só você ir na Galeria do Rock em São Paulo e ver, tá todo mundo lá, porque ter as coisas que você gosta é um grande barato, eu particularmente sou fã do vinil, é o melhor som que há.

2112. Existe projetos para shows no exterior?

Marcos. Já pensei nessa possibilidade, porém estamos no início de um trabalho, ainda temos muito a fazer por aqui, no futuro quem sabe.

2112. Qual e-mail/telefone para contratar vocês e adquirir o cd?

Marcos. marcoscordeiro222@yahoo.com.br, fone : 11986314174 gostaria de passar meu canal do YouTube: @marcoscordeiro9698

2112. Obrigado pela entrevista... o microfone é seu!

Marcos. Eu que agradeço pela oportunidade. Gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho que você tem feito divulgando a cena rock nacional e a música independente de forma geral. Vivemos uma época muito complexa no mundo, muitas divisões e conflitos, precisamos cada vez mais da música e da arte de uma forma geral, acho que a arte genuína não está na grande mídia, no mainstream, não nos dias atuais. Quem tem os meios de ação na área cultural e nas mídias independentes tem a oportunidade de agir de forma a facilitar a chegada de gente nova e talentosa, como o que você faz através do blog 2112, muito obrigado!

Obs.: Todas as fotos são do arquivo pessoal do entrevistado.