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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Entrevista Tiago Araripe

 

Compositor e músico cearense que ao se aventurar em São Paulo lançou dois singles, participou da banda Papa Poluição e lançou um dos álbuns mais cultuados dos últimos tempos: Cabelos de Sansão. Essas e muitas outras histórias bacanas Tiago nos conta no decorrer dessa entrevista. 

2112. Por que você levou tanto tempo para lançar o sucessor de Cabelos de Sansão? O que você fez nesse hiato de trinta e um anos que separa os dois álbuns?

Tiago. Entrei na publicidade, pra dar melhores condições de vida à minha família, que havia crescido. Publicidade é uma atividade muito dinâmica e me absorveu muito. Claro, eu continuava compondo e escrevendo, mas fiquei afastado de palcos e discos, salvo pequenos shows aqui e ali, principalmente após o relançamento de Cabelos de Sansão. Fiz muitos jingles publicitários nesse período, e quando entrava em estúdio era pra acompanhar a produção dos jingles. Assim conheci alguns artistas e músicos, o que foi muito bom.

2112. Zeca Baleiro foi peça fundamental na sua volta aos estúdios, não é? Como foi o encontro entre vocês? Como surgiu a ideia da gravação do álbum?

Tiago. Ao resgatar Cabelos de Sansão e relançar o bolachão de vinil em formato CD, Zeca Baleiro criou um movimento de revalorização do meu trabalho. Isso reacendeu em mim aquela chama que motivou minha entrada no mundo da música. Nós nos conhecemos em Fortaleza. Zeca havia perguntado por mim a uns amigos jornalistas, que me deram a notícia. Poucos dias depois, recebi uma chamada telefônica dele. Estava de férias com a esposa, percorrendo o litoral cearense. Tivemos um encontro onde, tendo como elo de ligação o LP do Cabelos, descobrimos muitas afinidades. Nos tornamos amigos e parceiros. Anos depois, já morando outra vez no Recife (vivera na cidade quando estudante), tive o projeto do meu segundo álbum, Baião de Nós, aprovado por um edital de cultura do Governo de Pernambuco. Naturalmente, pensei em Zeca pra produzir o CD comigo. Ele veio com Fernando Nunes, baixista da sua banda, e fizemos parte das gravações no Recife, com profissionais locais, e parte em São Paulo, onde outros de seus músicos participaram. E onde minha filha Clarissa Araripe e uma amiga gravaram os vocais.

2112. Assim como o Baleiro, existe toda uma nova geração que está redescobrindo artistas como você.  Isso te surpreende?

Tiago. Considero isso um processo decorrente das novas formas de distribuir e consumir música. Discos como Cabelos de Sansão, ao serem distribuídos por streaming, chegam não só a pessoas de outras gerações, mas de outros países. Ou seja, as possibilidades são as mais inesperadas, e o inesperado é sempre uma boa surpresa.

2112. Baião de Nós dá continuidade as idéias desenvolvidas em Cabelos de Sansão ou você resolveu experimentar outras texturas musicais?

Tiago. Tive a felicidade de contar com o Lira Paulistana no suporte à realização de Cabelos de Sansão. Quando mostrei, no papel, o projeto do disco ao produtor musical e um dos sócios do Lira, Wilson Souto Júnior, estávamos sentados num banco da praça Benedito Calixto, onde se localizavam o teatro de porão e o prédio administrativo do Lira Paulistana. Era véspera do meu aniversário, e, depois de um longo namoro e noivado com o Lira, aquilo era como um pedido de casamento. Itamar Assumpção já anunciara que, depois do seu famoso Beleléu, o próximo LP do Lira teria que ser “o de Tiago Araripe”. Eu estava ali pra fazer cumprir a profecia (risos). Wilson leu tudo com atenção, depois me encarou e disse: “Não vai ser fácil.” Não foi. A ideia era que cada música tivesse uma identidade própria, de acordo com proposta da respectiva letra. Pra chegar a esse objetivo, arregimentamos um total de 36 músicos, incluindo artistas convidados como Itamar Assumpção, Tetê Espíndola e Vânia Bastos. Foram mais de 300 horas de estúdio, com muita experimentação sonora. O Lira investiu muito no disco, que foi masterizado em Nova York, algo até então inédito para os padrões alternativos. Já no caso de Baião de Nós, até pela limitação de orçamento, tivemos uma equipe mais compacta. O que se manteve do espírito do primeiro álbum, e essa é uma característica minha, é a liberdade de trabalhar com diversos gêneros musicais, de não ter pudor de misturá-los, tendo sempre a ideia da composição como eixo primordial. Além disso, passados tantos anos depois de Cabelos, a tecnologia era outra e, claro, isso contribuiu pra definir uma sonoridade e uma estética diferentes. 

2112. Você poderia falar um pouco sobre as gravações? Quem produziu e fez os arranjos?

Tiago. Como falei, a produção de Baião de Nós foi assinada por Zeca Baleiro e por mim. Entrei na ficha como produtor a pedido dele, porque a ideia original era que ele produzisse sozinho. Mas ele insistiu em me incluir, por alguns movimentos prévios que eu já havia sido feito. Quanto aos arranjos, ficaram distribuídos entre Fernando Nunes e Tuco Marconi, da banda de Zeca, e Juliano Holanda. Há também um arranjo do cearense Ítalo Almeida, arranjos coletivos e arranjos de metais escritos por Ivan do Espírito Santo.

2112. A sua história começou no final dos anos 60 com você estudando Arquitetura. Você chegou a concluir o curso ou largou tudo pela música?

Tiago. Larguei Arquitetura na metade do curso. Descobri que não tinha habilidade pra desenho, o que, juntamente com a luta para acompanhar as aulas de Cálculo Estrutural, me dificultava consideravelmente a vida universitária. Além disso, queria mudar pra São Paulo e estudar numa escola de música que Tom Zé mantinha lá. Fiz a mudança, mas soube que a escola já não existia. No entanto, me aproximei de Tom Zé e cheguei a fazer diversos shows com ele em São Paulo, durante cerca de um ano. Gravamos, inclusive, um single em vinil, em 1974, com as faixas Conto de Fraldas (Tom Zé) e Teu Coração Bate, o Meu Apanha (Tiago Araripe-Décio Pignatari). Aliás, essas duas músicas são exemplares do fenômeno de revitalização gerado pelas plataformas de streaming. Desde que foram disponibilizadas online, os números de plays não param de crescer - e incluem ouvintes de diversas partes do mundo. Quem fez o arranjo das duas faixas foi o Guilherme Arantes, então um músico apenas conhecido no circuito dos estúdios de São Paulo. 

2112. Em 1972 você montou Nuvem 33, grupo que unia músicos, artistas performáticos e atores no show Armação com composições de sua autoria. Como eram realizados esses espetáculos? Qual era a reação das plateias?

Tiago. Na realidade, Armação foi uma peça de teatro para a qual compus 12 canções. Durante a temporada de estreia no Teatro do Parque, em Recife, tínhamos uma banda formada especificamente para aquilo e executávamos as músicas ao vivo, entre um esquete e outro da peça. Animados com o resultado, fizemos em seguida, com aquele núcleo musical inicial, o Nuvem 33 - um coletivo que além de música incluía teatro e artes visuais. Nossa primeira apresentação foi com o show Retreta Eletrônica, no mesmo Teatro do Parque, que ficou lotadíssimo. Robertinho do Recife, recém-chegado dos Estados Unidos, tocou dois números - em um deles, pôs todo o público a dançar numa imensa roda de ciranda que circundou as laterais das cadeiras do teatro. Do Nuvem 33 fizeram parte nomes como Otávio Bzzz, o guitarrista Carneirinho, um baixista chamado João de Deus e o baterista Israel, que depois viria a colaborar com o Ave Sangria e com Alceu Valença, quando então adotou o nome de Israel Cabeça de Semente. Mas também tivemos outras formações, inclusive acústica. Outro personagem marcante do grupo é o Lula Wanderley, um dos atores de Armação e grande artista plástico – era quem fazia os cartazes do grupo. Hoje ele mora no Rio, onde é psiquiatra (trabalhou com Nise da Silveira) e faz vídeos conceituais, como o de uma partida de futebol em que retirou a bola - o que lhe valeu até prêmio. Ele também conviveu com Lígia Clark e foi curador de uma exposição dela numa das bienais de arte de São Paulo. Mais um momento de destaque do Nuvem 33 foi a nossa participação na I Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém, onde anualmente se encenava (antes da pandemia, diga-se) o espetáculo da Paixão de Cristo. O palco do evento, espécie de Woodstock tupiniquim, foi o palácio de Pôncio Pilatos.

2112. Já em 1974 você lançou dois compactos (hoje conhecidos por singles). O primeiro em parceria com Tom Zé que trazia a sua música “Teu coração bate, o meu apanha"; e o segundo já solo com "Sodoma e Gomorra"; e "Os 3 Monges". Esses dois projetos tiveram boa aceitação nas rádios?

Tiago. Já falei um pouco do compacto com Tom Zé. A música Conto de Fraldas tocou nas rádios. Lembro de uma visita que fizemos a uma rádio de Santos, onde ele foi confundido com Raul Seixas por algumas fãs que vieram lhe pedir autógrafo. Viajei dias seguidos pelo interior de São Paulo com um divulgador da Odeon, percorrendo emissoras de rádio e participando de shows, por ocasião do lançamento de Sodoma e Gomorra. Em algumas cidades, a música tocou bem. Mas não o suficiente pra dar sustentação ao meu trabalho fonográfico.

2112. Você e Tom Zé eram amigos e parceiros?

Tiago. Sim, criamos uma relação de amizade. Mas, curiosamente, não chegamos a compor juntos. Ele gravou uma das canções de Baião de Nós (A Quantas Anda Você?) no CD Viralata na Via Láctea. Fiquei honrado com isso, pois Tom Zé tem um trabalho autoral notável e não costuma gravar outros compositores.

2112. Aproveitando o momento, como era a cena em Recife nessa época? Havia muitas bandas, festivais...

Tiago. Os principais nomes, como Alceu Valença e Geraldo Azevedo, tinham mudado pro Rio. Na época, pra acontecer na música o artista tinha que estar no eixo Rio-São Paulo. Mas havia na cena recifense artistas interessantes como o saudoso Flaviola, Aristides Guimarães e o Laboratório de Sons Estranhos, e o Tamarineira Village (que depois mudaria o nome pra Ave Sangria). Conheci também Lula Côrtes, quando era casado com Katia Mesel, e então pintava quadros. É o que lembro no momento.

2112. No ano seguinte você participa do "Festival Abertura" da Rede Globo com a música Drácula. Nessa época você já estava morando em São Paulo?

Tiago. Estava em São Paulo, sim. Na realidade, a sequência em que o Festival Abertura se situa é esta: vim do Crato, Ceará, minha cidade natal, morei cinco anos no Recife, de onde saí na segunda metade de 1972 - e onde aconteceram as apresentações musicais na capital pernambucana, no início da década. Depois, vivi 23 anos em São Paulo, onde vieram o trabalho com Tom Zé, a participação no Abertura, o Papa Poluição, Lira Paulistana, Cabelos de Sansão...). Em seguida, vivi 13 anos em Fortaleza, 9 de volta ao Recife e estou em Portugal há três anos. Taí a sequência completa (risos.)

2112. A sua participação gerou o seu primeiro videoclipe apresentado no Fantástico. A repercussão foi boa? Abriu portas para você?

Tiago. O melhor foi, num tempo de vacas muito magras, me render um cachê que tive que batalhar muito pra receber. Mas também foi a partir do Abertura, em que Penna e Paulinho participaram com a canção Muzenza, que decidimos formar o Papa Poluição.

2112. Logo o Papa Poluição é formado com você, Paulinho da Costa, José Luiz Penna, Beto Carrera, Bill Soares e Xico Carlos. Como foi que tudo aconteceu?

Tiago. Eu, Penna, Paulinho e Xico já vínhamos trabalhando juntos com Tom Zé, no período em que dividi palcos com ele. Então somamos o Beto Carrera e Bill Soares (anos depois substituído por Cid Campos) e pronto. Estava formado o Papa Poluição.

2112. A banda como muitas na época se apresentava no circuito universitário e palcos da cidade. Vocês viviam apenas dos shows ou tinham trabalhos alternativos?

Tiago. Penna e eu vivíamos para a banda, batalhando shows, programas de rádio e TV, dialogando com gravadoras, abrindo caminho. Os outros tinham trabalhos alternativos. Paulinho, por exemplo, fazia jingles publicitários. Aliás, o maior cachê do grupo não veio de shows ou discos: veio de um jingle que fizemos para lançar o gravador Aiko, da Evadin. O jingle, composto e interpretado pelo Papa Poluição, fez muito sucesso e possibilitou a compra de uma kombi, que batizamos de Sofia e com a qual carregávamos equipamentos, ideias e sonhos. A música dizia (risos): “Ah, deixe o pensamento voar | Ligue o coração e deixe a vida correr | Gravador Aiko | Aiko | Vai gravando os bons momentos | Pra você | Aiko | Sempre se descobre uma maneira nova de usar | Gravador Aiko!” A gente dava um duro danado pra tentar furar o cerco das rádios e, quando entrava nas emissoras, o que estava tocando mesmo era aquele jingle (risos.)

2112. Uma curiosidade: a banda foi formada em São Paulo, mas os músicos eram todos nordestinos sendo dois baianos (Paulinho e Zé Luís) e três cearenses (você, Bill e Chico). Vocês já se conheciam?

Tiago. Penna, Paulinho, Chico e eu já nos conhecíamos há muito anos, desde quando os dois primeiros passaram uma temporada no Crato integrando um grupo de teatro. A gente se definia com uma banda transnordestina. Bill Soares é pernambucano e artista plástico (foi quem fez o desenho que ilustra o compacto duplo do Papa Poluição lançado pela Chantecler), mas Beto e Cid Campos são paulistas. E Penna, apesar de crescer em Salvador, nasceu no Rio Grande do Norte...

2112. Como você classifica o estilo musical da banda?

Tiago. Nós fazíamos fusões de rock com ritmos nordestino, em performances movimentadas e divertidas no palco, aproveitando a experiência de José Luiz Penna como ator (ele participou, durante muito tempo, da formação original do musical Hair. Quando a peça foi encenada em Recife, no Teatro do Parque - olha o teatro aí de novo - eu morava no vizinho Hotel do Parque e ia assistir o espetáculo todas as noites. Depois, nas conversas com Penna num barzinho em frente, ele me incentivava muito a mudar pra São Paulo). 

2112. O cenário 60/70 ficou marcado pelas ótimas bandas e também pela intervenção do regime militar que proibia vários tipos de letras, interrompia shows e ensaios, prendia músicos, atores etc. Vocês chegaram a ter algum tipo de problemas com eles?

Tiago. Tivemos alguns incidentes, sim, mas sem maior expressão. O mais constrangedor era submeter as letras das músicas à censura. Houve situações em que tivemos que mudar algumas letras por exigência dos censores.

2112. A banda produziu a trilha sonora do filme Mulher do Cangaço. Como surgiu o convite?

Tiago. Zé Luiz e Hermano Penna, o diretor - também do Crato - são primos. Hermano acompanhava e gostava do trabalho do Papa Poluição. Depois desse belo documentário, ele nos convidou pra fazer a música do seu premiado longa-metragem Sargento Getúlio, com Lima Duarte no papel-título. Gosto muito do resultado da trilha do Sargento, já com Cid Campos no baixo e arranjos de cobertura escritos pelo maestro Mauro Giorgetti.

2112. Vocês gravaram apenas dois singles, mas deixaram o nome da banda registrado para sempre na história do rock brasileiro. Quais suas melhores lembranças desse período?

Tiago. A garra com que fazíamos tudo: ensaios exaustivos, batalha pra abrir espaço, montagem de shows autorais todos os anos, as muitas parcerias com José Luiz Penna, as performances no palco, as situações engraçadas e/ou bizarras que aconteciam nos bastidores das apresentações ou nos contatos com radialistas, produtores de discos e executivos de gravadoras. Mas destaco, entre os momentos mais marcantes, a realização da trilha do Sargento Getúlio em tempo recorde e a excursão que fizemos ao Nordeste em 1978, com apresentações em Salvador, Fortaleza, interior do Ceará (Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha) e Aracaju. Estávamos, então, muito afiados. Houve também uma série de show que abrimos para Belchior no circuito Sesc de São Paulo, sempre lotados. Foi muito legal a convivência com Bel, que resultou na parceria dele com Penna na música “Conversação a Respeito de John”, que fez muito sucesso. A música, aliás, já existia e era um dos hits do Papa Poluição. Belchior gostou, substituiu dois versos, adequando a letra aos tempos atuais, e fez a canção acontecer.

2112. É interessante que ainda hoje as pessoas procuram pelos discos de vocês, postam fotos, falam sobre a banda... Isso de uma certa maneira envaidece você?

Tiago. Pra ser sincero, não. Apesar de, aos 70 anos, ter mais passado que futuro, tenho procurado olhar mais pra frente do que pra trás, compondo novas canções e pensando em novos projetos. Mas é sempre bom saber que algo que fizemos em algum lugar no passado tem o reconhecimento do público.

2112. Vocês ainda mantêm contato entre si? Já houve alguma tentativa em retornar com a banda ou mesmo relançar o material da banda?

Tiago. Alguns meses antes da pandemia, tivemos a triste notícia do falecimento do Paulinho, que assinava com o nome de Paulo Costta um trabalho de qualidade, tendo como ponto de partida a reverência ao legado de João Gilberto e da Bossa Nova. Curiosamente, depois que o Papa Poluição se dissolveu, passei a compor com ele, quando então morava em Toulousse, na França. Em Baião de Nós, há três parcerias nossas. Temos outras canções inéditas, das quais gosto muito e espero um dia gravar. Falo de vez em quando com Penna em ligações pelo zap (esta semana ele me ligou) e tenho contatos eventuais com Bill, Chico, Beto e Cid. Chegamos a fazer um show do Papa Poluição no Sesc Pompeia depois que a banda havia sido desfeita. Tivemos também o convite de Belchior para fazer um álbum na CBS, mas, depois de cinco anos de tanta luta, nenhum de nós se animou com a ideia de refazer o grupo por causa disso. Tenho muita vontade de que as músicas do grupo sejam disponibilizadas nas plataformas digitais. Pra isso, precisamos de um herói que possa contatar as gravadoras e editoras pra obter as autorizações e fazer a distribuição.

2112. Com o fim da banda você lança o hoje cultuado Cabelos de Sansão. O material gravado foi composto especialmente para o álbum ou ainda são composições do tempo do Papa Poluição que não deu para ser usado na banda?

Tiago. Tem composições da época do Papa Poluição e também de depois. Existia muito material acumulado, de onde selecionei as canções que viriam a compor o disco.

2112. O selo Lira Paulistana foi quem lançou o álbum. Tiago, me diz uma coisa: você teve total autonomia na criação e gravação como escolha do produtor, dos músicos de estúdio, do arranjador etc. Enfim, você sempre a frente do projeto como um todo?

Tiago. Sim, tive total autonomia. E a alegria de ter grandes colaboradores, como Wilson Souto Júnior na produção musical e Felipe Vagner na realização de alguns arranjos de cordas e metais, bem como na arregimentação dos músicos. Sou muito criterioso na escolha das pessoas que trabalham comigo e costumo dar espaço para que contribuam criativamente do processo, de acordo com certas diretrizes conceituais, digamos assim.

2112. Como foram as gravações?

Tiago. Movimentadíssimas. Foram um profundo mergulho em apneia. As sessões de gravação se estendiam pela madrugada e eu dormia pouquíssimo, pois tinha que acordar cedo para trabalhar como revisor de textos no parque gráfico da Editora Abril, na Marginal Tietê. Assim, ao chegar o momento de gravar a voz, estava fora de combate. Tivemos que paralisar as gravações durante um mês, pra que eu me recuperasse. Mas valeu cada instante.

2112. Ninguém entendeu o porquê do seu sumiço após o lançamento de um álbum maravilhoso como Cabelos de Sansão. A repercussão não foi o que você ou o selo Lira Paulistana esperava? O que de fato aconteceu?

Tiago. Aconteceu a soma de alguns fatores. Uma havia montado uma banda ótima, participamos de algumas apresentações com artistas do Lira Paulistana para grande públicos, mas chegou um momento em que não foi possível manter aqueles músicos, que eram muito requisitavam e tocavam com outros artistas. Eu vivia também um momento pessoal difícil, de grandes reformulações internas. Em suma, circunstâncias da vida. Nem sempre o que nos ocorre é como queremos, e sim como têm que ser. O protagonismo de nossa própria vida é uma conquista que, muitas vezes, vem no devido tempo. 

2112. ...aí você resolveu voltar para o Ceará? Mas você continuou trabalhando ainda como músico?

Tiago. Permaneci em São Paulo muitos anos, com diversas atividades profissionais. Houve um momento em que eu trabalhava em três lugares diferentes, de manhã, de tarde e de noite. Só mudei pra Fortaleza em 1995.

2112. Bendito seja o Zeca Baleiro que nos trouxe você de volta com sua música e poesia. Seja bem-vindo aos palcos e as gravações. Sucesso, meu camarada!

Tiago. Sim, tenho muita gratidão a Zeca Baleiro. Tanto que o novo álbum que lancei no final de junho, Terramarear, abre com uma parceria que fizemos recentemente: Você é um Oásis. Foi gravada à distância, devido ao isolamento sanitário, da mesma forma que diversas outras faixas do disco. Zeca gravou a voz dele em São Paulo e eu na vila onde moro em Portugal. A produção musical foi feita em Fortaleza, bem como toda a parte instrumental, mixagem e masterização. O disco tem 14 faixas e a participação de 37 músicos e artistas, inclusive Vânia Bastos, que canta comigo a canção Lugar ao Sol.

2112. Uma última pergunta... você acha que Cabelos de Sansão tem chances de vir a ser relançado?

Tiago. Espero que sim. Em 2022, Cabelos chegará aos 40 anos. Tenho algumas idéias pra marcar essa sua história de quatro décadas. Torço pra que haja condições de realizá-las.

2112. Qual o telefone/e-mail para a contratação de shows e aquisições de cds?

Tiago. Quem quiser adquirir Terramarear em mp3, com alta qualidade, é só entrar em contato comigo pelo e-mail tiagoararipe.pro@gmail.com . O disco vem acompanhado de um encarte em PDF com duas opções de visualização. A venda é muito simples, pode ser feita por meio de PIX ou transferência bancária e a entrega é imediata.

2112. ... o microfone é seu!

Tiago. Agradeço pelo bate-papo e pelo espaço, Carlos Antonio. E convido quem estiver acompanhando a gente a conhecer o meu trabalho nas plataformas de música. Os três álbuns de que falamos aqui estão todos online. E você pode escolher onde escutar clicando aqui: https://manylink.co/@TiagoAraripe. Saúde e um forte e musical abraço.

Obs.: As fotos utilizadas nessa entrevista foram todas retiradas do Facebook do músico e infelizmente não deu para identificar o nome dos fotógrafos. Quem tiver alguma informação favor enviar para o meu e-mail: furia2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.

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