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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Entrevista Carlos Coppos (Peso)

 

A banda Peso durou pouco tempo, o suficiente para gravar um único álbum e entrar para a história do rock brasileiro como uma das bandas mais viscerais ao vivo. Quem conhece o clássico Em Busca do Tempo Perdido e assistiu aos seus shows sabe do que estou falando. Conversei com o baixista Carlos Coppos que revelou informações bem interessantes.   

2112. Como foi que você conheceu o pessoal do Peso?

Carlos. Já conhecia o Geraldo D'Árbilly e o Constant. Toquei muito tempo com o Zé’ da Gaita que fez uma participação na gaita (harmônica) no vinil da Banda. Eu e Geraldo tocávamos na Banda Euforia, com o Raymond Piper, um cantor americano. Fomos trabalhar no Dancin” Days do Shopping da Gávea, acompanhando as Frenéticas. Ficamos lá por uns dois ou três meses, quando o Luiz Carlos contatou o Geraldo pra refazer o Peso. Daí saíram do Euforia, Geraldo, eu e o Leca. Chamamos o Mario Cabralia e o Serginho, teclados e guitarra respectivamente e formamos o Peso.

2112. Você assistiu a apresentação da banda no VII Festival Internacional da Canção defendendo a música O Pente? Se lembra da reação do público?

Carlos. Sim, mas não lembro direito da reação do público.

2112. Engraçado é que a temática da letra O Pente passou totalmente despercebida da censura: "Sem dar bandeira nem bobeira, bem tranquilo, eu fumei meu plá / E disse, pente, pente, pente/ Pra poder fechar." Isso apenas prova que não havia uma coerência de quem as analisava, não é?

Carlos. Na verdade, a ditadura militar não estava muito interessada nas bandas de rock, pois nos consideravam um bando de malucos e as letras praticamente não tinham cunho político, como na MPB, então não nos perturbavam.

2112. Luiz Carlos tinha uma presença incrível de palco além do seu vozeirão rouco. Acredito que tanto ele como o próprio Peso foram injustiçados na história do rock brasileiro.

Carlos. Não creio que injustiçados, porém naquela época a mídia pouco divulgava rock no Brasil, era um lance muito underground e a banda muito recatada, como o Luiz, meio avessos a sucesso, mas no palco nos transformávamos e fazíamos apresentações excelentes.

2112. Se formos falar de bandas, vocalistas e músicos "made in brazuca" injustiçados teremos uma lista bem longa, não é?

Carlos. Pois é, não sei se é isso, injustiçados, mas tinham bandas muito boas que não aconteceram. Como disse o rock era muito underground naquela época. Pouca mídia.

2112. A apresentação da banda no Hollywood Rock foi tão fulgurante como um cometa em rota de colisão e foi sem sombras de dúvida a melhor performance do festival. Rock’n’roll no talo...

Carlos. Foi muito boa realmente. Mas tiveram outras também muito boas, como as que fizemos no MAM e no Magnatas, por exemplo.

2112. Esses vídeos talvez sejam os únicos registros existentes da banda ao vivo, não é?

Carlos. Sim, tenho fotos, mas vídeo não.

2112. Na época foi lançado um álbum com registros do festival mas que segundo especialistas tratava-se de um embuste contendo gravações de estúdio com acréscimo de aplausos. Você sabe me informar se essa informação tem respaldo?

Carlos. Não tocava na banda na época, pois entrei depois do festival, e não posso afirmar.

2112. Em que ano você entrou para a banda?

Carlos. Meados de 1976.

2112. O álbum Em Busca do Tempo Perdido é simplesmente genial uma obra prima do rock'n'roll que se gravado em inglês teria tido outro rumo.

Carlos. Com certeza, muito bom mesmo, pra época.

2112. O Peso praticamente inaugurou a vertente do rock pesado no Brasil. Não havia bandas como eles e o interessante é que a cada dia que passa o álbum é mais e mais cultuado...

Carlos. A diferença era o som realmente pesado que fazíamos e a voz do Luiz que era especial. As composições e arranjos também muito bons. Ensaiávamos muito.

2112. Apesar dos shows sempre ovacionados a vendagem não teve o resultado esperado. Você acha que isso de uma certa maneira minou o futuro da banda?

Carlos. Não, pode ter contribuído, mas foram vários outros motivos.

2112. O envolvimento da banda com drogas também ajudou a acelerar o fim da banda, não é?

Carlos. Não creio. Tiveram vários motivos que levaram ao fim da banda no seu auge.

2112. A última notícia que tive é que o Luiz estava em Pernambuco sob os cuidados do seu filho. Isso procede?

Carlos. Sim, ele mora com o filho. Tenho notícias sempre.

2112. Mesmo com a saída de alguns integrantes a banda se manteve unida por um tempo. Havia projetos de gravar um novo álbum?

Carlos. Haviam vários projetos, mas de gravar imediatamente, não.

2112. Você ainda mantém contato com os ex-integrantes da banda?

Carlos. Não, da minha época só tenho conhecimento do Geraldo e do Luiz Carlos, os outros perdi o contato. O Leca e o Mario Cabralia já faleceram.

2112. Em algum momento a banda tentou retomar a carreira para shows e gravações?

Carlos. Depois que acabou, fizemos um show A Volta do Peso, no Circo Voador, com o Luiz, eu, o Charles Chalegre na batera, Zé Flavio na guitarra e Julinho Villani no teclado. Casa cheia, foi filmado, mas não encontro esse vídeo feito em VHS. O Jamari Franca elogiou muito na coluna dele.

2112. Soube que em breve será lançado um documentário sobre a banda. Você participou dele?

Carlos. Não, e não conheço ninguém que tenha visto ou participado. Usaram uma foto nossa, tentei contato com eles, em vão…

2112. ... o microfone é seu!

Carlos. O Peso foi sem dúvida uma das maiores bandas de rock do Brasil. Toquei na segunda formação da banda, a mais longa de todas, e tínhamos uma legião de seguidores e fãs. O show do Cine Bruni em Copacabana também foi antológico, mas o do MAM superou todas as expectativas de público. O Magnatas também, foram sucessos absolutos. Lancei um livro com minha biografia “MINHA VIDA ON THE ROCKS" (nome da banda que toco e produzo há muitos anos, especializada em festas e eventos com 4 cds gravados) com muitas histórias das inúmeras bandas que toquei e o PESO não poderia ficar de fora. Falo do rock no Rio de Janeiro nos anos 60 e 70, esquecidos em todas as biografias do rock que li, que só retratam a partir dos anos 80. Nos anos 70, tinham vários clubes com shows de rock no Rio. Além das famosas domingueiras no Monte Líbano, Caiçaras, Boliche de Copacabana, os Clubes Radar, Olympico, etc. Muita história nunca contada.


Obs.: Não consegui identificar os nomes dos autores das fotos. Qualquer informação envie para o meu e-mail (furia2112@gmail.com) que eu possa dar os devidos créditos.

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