Uma das vozes do cultuado grupo vocal Os Caçulas carinhosamente concedeu ao 2112 esta entrevista. Grato pela sua generosidade!
2112. Yara, você começou a cantar aos dez anos em programas de rádios. Fale um pouco sobre o começo da sua carreira.
Yara. Meus Pais me levaram para cantar num dos programas infantis que havia na rádio Tupi: Clube do Papai Noel. Também cantei em outros programas na rádio América e rádio Nacional. Os finais de semana eram bem corridos!
2112. Na época que você começou os ritmos predominantes eram o bolero, samba canção, sambas, marchinhas de carnaval, serestas etc. Quem era seus ídolos?
Yara. Sim, cantava bolero, samba-canção um pouco de rock. Gostava de Ângela Maria, Maysa, Elizeth Cardoso, Lana Bittencourt, Cely Campelo e outras maravilhosas também. Dos cantores Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Sergio Murillo… ahhh, tantos excelentes!
2112. As mulheres naquela época eram preparadas para serem professoras, funcionárias públicas ou donas de casa. Seus pais sempre te apoiraram na sua decisão de se tornar cantora?
Yara. Meus Pais sempre incentivaram-me, estavam presentes. O estudo caminhava paralelo.
2112. E como surgiu Os Caçulas da Bossa?
Yara. Foi no programa da rádio Tupi, Clube do Papai Noel. O maestro Francisco Dorci, acompanhava ao piano todas as crianças que participavam do programa. Um dia ele resolveu fazer um sexteto e nos reuniu: Yara, Vera, Gilberto, Alvinho, Dalva e Marinalva. Nosso repertório era baseado na MPB, então fomos batizados de Os Caçulas da Bossa. Dalva e Marinalva depois de um curto tempo saíram.
2112. O nome do grupo indica que vocês estavam inseridos no movimento da Bossa Nova. Existe gravações desse período?
Yara. Não gravamos como Os Caculas da Bossa, mas participamos de vários programas como: O Fino da Bossa, Show em Simonal, Bossaudade… Depois, já como Os Caçulas, gravamos um samba: Maria de Sidney Miller, participante da I Bienal do Samba.
2112. Quanto tempo durou Os Caçulas da Bossa e o que levou vocês a abreviarem o nome do grupo?
Yara. Cantamos como Caçulas da Bossa creio, uns 4 anos.
Depois fomos contratados pela gravadora RCA Victor e como éramos jovens
adolescentes foi tirado o da Bossa para mudar nosso repertório para o pop.
2112. Em 1968 já como Os Caçulas o
grupo assina contrato com a RCA Victor e grava o primeiro álbum. Que lembranças
você guarda das gravações?
Yara. Assinamos contrato e lançamos o primeiro compacto simples em 1967. De um lado A volta do Pic Nic e do outro Flor Maior. Essa música Roberto Carlos defendeu num festival e nunca gravou, a única gravação é nossa. Já A volta do Pic Nic, depois que lançamos Vanderlei Cardoso em seguida gravou também. Em 1968 gravamos A Chuva que Cai que foi nosso primeiro sucesso! Logo em seguida vieram outros.
2112. Na questão do repertório vocês tiveram liberdade para escolher ou a gravadora deu algumas dicas?
Yara. A gravadora nos apresentava as músicas, algumas não eram do nosso agrado, então refutávamos!
2112. Naquele período era comum gravar versões de sucessos internacionais nos álbuns ou compactos para garantir as vendas. Vocês trilharam esse caminho ou o material gravado é todo autoral?
Yara. À época era comum gravar versões, muitas vezes as originiais nem eram conhecidas no Brasil. Isso não tinha nada a ver com garantir vendas. Trabalhávamos muiiiito para que as músicas fossem tocadas e entrassem na programação das rádios. Chamava-se “caitituar o disco”. Íamos em todos os programas de rádio, participávamos de programas em várias cidades do Brasil. Gravamos muitas músicas de compositores nossos, inéditas!
2112. O grupo produzia uma música bem refinada com belos arranjos vocais e instrumentais. O que vocês ouviam na época?
Yara. Tivemos o privilégio de aprender a vocalizar com o maestro Francisco Dorci, à época da nossa formação como grupo. Depois fomos aprimorando com os arranjos maravilhosos de grandes nomes que gravaram conosco. Ouvíamos muita música de excelente qualidade, mas não sei lhe dizer se houve influência de algum grupo. Éramos intuitivos, ao ouvir a melodia já começávamos a vocalizar.
2112. Devido a ótima repercussão de A Chuva Que Cai, A Volta Do Pic Nic e Vai Ser Triste nas rádios logo vocês passaram a participar dos concorridos programas de auditórios e festivais. Foi uma época mágica, não?
Yara. Foi uma época inesquecível! Tudo era muito bom, de excelente qualidade. Havia encantamento nos artistas, nos programas, nos fãs! Era ao mesmo tempo lúdico!
2112. E como era a relação de vocês com os fãs? Havia muito assédio?
Yara. Simmm, sempre tinha um grupo de fãs que nos acompanhava onde quer que fôssemos. Parecia que nos protegiam, impressionante o carinho.
2112. Porque o Gilberto saiu do grupo?
Yara. Gilberto resolveu fazer carreira solo, demorou um pouco, depois gravou com o nome de Gilberto Santamaria. Fez sucesso com música tema de novela. Ahhh era muito querido!
2112. Já com Mário nos vocais é lançado o compacto duplo com É Preciso Crer Nas Estrelas e o segundo álbum. "Prá Você" recebeu o disputado Troféu Chico Viola. Foi um ano bem agitado, não?
Yara. Pra Você também é um marco na carreira dos Caçulas. Até hoje é tocado em encontros de samba-rock, fui homenageada há um tempo numa festa de samba-rock e fiquei maravilhada como as pessoas de todas as idades cantam essa música. Pura alegria!
2112. Gostaria que você contasse sobre o episódio da música Catendê que vocês defendiam no Festival Internacional da Canção. Porque a música foi desclassificada?
Yara. Às vezes ainda penso sobre isso. Por que esperaram que chegássemos na finalíssima para desclassificarem a música? Ficamos sabendo antes de nos apresentarmos, foi impactante! Estávamos numa excelente classificação, a chance de ficarmos entre as três primeiras colocadas era gigante! Mas, segundo consta, a música havia sido apresentada antes pelos autores, num festival em Recife!
2112. Uma coisa bacana daquele período era o apoio que os artistas recebiam das revistas, dos jornais e dos fãs clubes que mantia os fãs sempre bem informados sobre cada passo de vocês. O que você mais sente falta hoje?
Yara. Outros tempos… hoje as mídias são outras, tudo é muito rápido e nem sempre verdadeiro. Não posso falar muito, só observo!
2112. Em 1970 o grupo pegou todos de surpresa ao encerrar atividades no auge da carreira. O que de fato aconteceu?
Yara. Foram tantas coisinhas… jovens com temperamentos e entendimentos diferentes, falta de alguém que conduzisse a carreira do grupo, comprometimento, maturidade… sofri muito…
2112. Você chegou a tentar carreira solo como fez a Lillian, a Silvinha Araújo, a Evinha entre outras cantoras?
Yara. Tinha contrato individual com a gravadora que impôs gravar um compacto simples com músicas que não eram do meu gosto, meu perfil. Gravei, não trabalhei o disco.
2112. Apesar do fim prematuro do grupo a música de vocês continou sendo cultuada ao longo dos anos a ponto do selo Baratos Afins relançar os dois álbuns do grupo em 2003. O grupo acabou mas ficou o legado, não é?
Yara. Ficamos um bom tempo sem nos ver, depois nos encontramos para algumas apresentações, eu, Vera e Alvinho. Aí bissextamente fazíamos um show, o último foi em 2014. Deixamos músicas de excelente qualidade, isso me traz felicidade!
2112. Após o relançamento dos álbuns houve alguma tentativa de retornar com o do grupo para shows e possíveis novas gravações?
Yara. Até pensamos nisso, ainda está no ar. Não sei se acontecerá … a dificuldade é física. Alvinho mora no interior…
2112. Vocês mantém contato uns com os outros?
Yara. Simmm, nos falamos sempre, somos amigos!
2112. Yara, o microfone é seu!
Yara. Carlos, muito agradecida pela lembrança carinhosa! São oportunidades como essa, que nos dão a certeza que trilhamos um caminho em que deixamos nossa marca, mesmo não sendo longo foi o melhor que pudemos!
Obs.: Todas as fotos foram retiradas do Facebook da cantora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário