O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



quinta-feira, 14 de março de 2019

Entrevista Cozinha dos Infernos


Um dos melhores prazeres deste mundo é comer, não é? Imagine dois grandes músicos enfurnados numa cozinha dos infernos preparando receitas sonoras suculentas para você desgustar em shows de lamber os beiços. Eis aí o que resultou do bate papo entre uma receita e outra...   
2112. A Cozinha dos Infernos surgiu após a sua “saída” dos Centúrias. Como foi essa história?
Ravache. Carlão, vou fazer uma correção na cronologia dos fatos. O que ocorreu e inclusive foi fator determinante para que eu tivesse a iniciativa de iniciar a dupla foi exatamente a morosidade e inatividade do Centúrias. Iniciei a dupla com o Julio (baterista do Centúrias), ainda nós estando nessa banda. Passado um tempo, o Julio “desencanou de tocar”, como afirmou repetidas vezes. Ainda esperei um bom tempo na esperança que ele “reencanasse” (rsrsrsrsrs) mas não houve “encanamento” nenhum. Comuniquei a ele a vontade de continuar com a Cozinha dos Infernos, ao que ele concordou. A partir daí, no início de 2018, a intuição me levou a fazer a proposta para o Migdiablo, uma vez que se a Cozinha é dos Infernos, nenhum baterista melhor que o Migdiablo (rsrsrsrs) e digo com todas as letras: não consigo imaginar um músico mais perfeito que o Mig para me ajudar a preparar essas refeições suculentas.
2112. Você tem noção dos motivos da sua dispensa da banda?
Ravache. Sinceramente não. Fui comunicado através do Whatsapp que os outros membros da banda a estariam reativando. Imagine um amigo de mais de 30 anos te dando um “chega pra lá” por whatsapp. Nem pra conversar cara a cara. Uma verdadeira cachorrada 😉.
2112. A criação do C.d.I. foi um processo bem rápido. De uma certa maneira você tinha urgência em voltar a tocar?
Ravache. Vou ser bem franco com você, Carlão. Já estou velho e tenho a saúde controlada por medicamentos. Não tenho mais paciência pra frescuras e simplesmente quero tocar o máximo possível, utilizar a expertise que adquiri durante a vida, quero deixar alguma marca, alguma lembrança boa depois que for pra outra dimensão. Costumo dizer que a Cozinha dos Infernos nasceu de uma hemorragia criativa. Num único sábado à tarde compus sete das músicas que tocamos. A partir desse material que foi dada a largada para os trabalhos.
2112. Vocês são apenas baixo e bateria... mas alguém já cobrou ou mesmo questionou vocês sobre a não inclusão de uma guitarra vista pela maioria como sendo o próprio símbolo do rock?  
Ravache. Sim. É muito comum que alguém me pergunte isso antes de ouvir alguma das músicas. Mas aí que está o lance, o que eu acho ser o diferencial que me faz acreditar no que fazemos. Em primeiro lugar acho importante mostrar a quem não tem muito conhecimento sobre música, a importância da cozinha, ou seja, bateria e contrabaixo em uma banda. No mínimo implantamos alguma dúvida na moçada... Quanto a guitarra, te digo que o papel dela é suprido pelos pedais que utilizo e reproduzem uma gama de frequências que transmitem a sensação de tê-la junto com o contrabaixo. Aliás, aqui cabe uma observação: o intuito da Cozinha dos Infernos não é demonstrar virtuosismo, com solos e “fritações”. Fazemos música para ser ouvida sem grandes pretensões. Por divertimento mesmo. Parece que tem dado certo...
2112. Particularmente acho importante essa “descentralização” pois Little Richards e Jerry Lee Lewis tinham o piano como instrumentos de ataque e nunca fizeram feio, não é?
Ravache. Bom, você citou dois gênios da música, dois músicos excepcionais que definiram diretrizes para o Rock’n’Roll se utilizando do piano. Acho que você deu um exemplo sensacional. No nosso caso, cumpre esclarecer que não somos pioneiros nessa formação baixo/bateria. Um exemplo bem evidente é a banda inglesa Royal Blood, que faz um trabalho notável nesse sentido. Mesmo assim, a Cozinha dos Infernos não é uma tentativa de cópia deles. Temos nossa própria linguagem e característica.
Migdiablo. E tem um detalhe... garanto que já ouvi bandas com 5 caras que não tem o mesmo peso que nós 2... hahahaha
2112. O próprio Mark Sandman ao formar o seu grupo Morphine provou ser possível fazer rock sem incluir guitarra...
Ravache. Sim, Carlão. Às vezes me perguntam o motivo de eu ter escolhido o contrabaixo e digo que um músico tem uma habilidade mecânica que vem da repetição de movimentos no instrumento, a técnica, e uma habilidade intelectual/sentimental, que é a música que se forma entre os neurônios e é passada para o corpo e o instrumento. Tocar um ou outro instrumento é uma questão de oportunidade, mas nada impede que se toque outro ou vários outros. Só depende da vontade de fazê-lo. Morphine, como você citou, fez um trabalho magnífico, mas talvez não chamasse tanto a atenção se tivesse guitarra na formação.
Migdiablo. Inclusive a música Buena do Morphine eu acho sensacional!! E não consigo imaginar uma guitarra ali...
2112. Futuramente vocês pretendem incluir guitarra, teclados, vocal ou seguirão como dupla mesmo?
Ravache. A resposta é... Não. (rsrsrsrs) Não faria sentido uma cozinha com outros instrumentos. A possibilidade (e isso vai depender da repercussão do público) é de incluirmos vocal feito por nós mesmos, só que as composições atuais não comportam voz. Teríamos que compor novas canções, daí sim, dimensionadas para caber a voz.
O que aventamos como outra possibilidade é o seguinte: um artista qualquer que queira desenvolver um trabalho próprio e precise de uma cozinha, não custa nada conversar conosco... “Fulano de Tal e a Cozinha dos Infernos”.
Migdiablo. Como disse o Ravache, no máximo música com voz, cantadas por nós mesmos... afinal a Cozinha é Infernal!!!!
2112. No Spotify, Deezer e YouTube já existe cinco músicas gravadas com o baterista anterior. Qual foi a repercussão obtida com este material?
Ravache. Como era esperado, a repercussão foi tímida, em consonância com a promoção que foi feita. Essa timidez se explica pelo fato de o baterista anterior ter desistido de tocar... Agora, com as novas gravações que estão em vias de ser liberadas, pretendemos atacar a divulgação com muito mais vigor.
2112. Achei o som bem pesado numa mistura bem equilibrada de rock setentista com pegadas de metal. Muito bacana mesmo...
Ravache. Obrigado, Carlão. O intuito é exatamente esse que você comentou. Na verdade, não temos compromisso com um único estilo. As músicas transitam desde o Rock, o Boogie, o Jazz, a Surf Music... aquilo que der na telha. A coisa soa pesada mesmo, porque somos dois “carcamanos” (rsrsrsrs) mas existem momentos de variação dinâmica bem instigantes.
2112. Que músicos ou bandas são suas maiores influências?
Ravache. Bom, nasci em 1961, então eu peguei a época das bandas setentistas, principalmente o Rock Progressivo, por quem eu tenho paixão absoluta. Meu primeiro baixo data de 1976. Nos anos 80 fui arregimentado pelo Heavy Metal (bandas Harppia e Centurias) e essa mistura de estilos, Metal e Prog, da minha parte, descambou nas linhas de baixo da Cozinha dos Infernos.
2112. A sua técnica de tocar baixo lembra os lendários Geezy Butler, Chris Squire, Geddy Lee, Jack Bruce, John Entwistle etc. Você tem uma pegada bem forte...
Ravache. Carlão, assim você me deixa emocionado. Esses deuses do baixo são minha influência primordial. Agradeço profundamente por você tê-los citado!!!
2112. E você Migdiablo, quais são suas influências?
Migdiablo. Cara, Vinnie Paul, Gene Hoglan, que inclusive está fazendo um trabalho maravilhoso no Testament, Bill Ward, Igor Cavalera, Jean Dolabella com quem aprendi muuuito!!!, obviamente John Bonham... Mas ultimamente tenho ouvido muito jazz e caras como Buddy Rich, Jo Jones, Cuca Teixeira e meu mestre da baqueta Wagner Vasconcelos do Hammond Grooves, entre outras feras.
2112. O que é mais importante no ponto de vista de vocês: a técnica ou o feeling?
Ravache. O trabalho da Cozinha dos Infernos é autoral instrumental, porém, como eu já havia comentado, não estamos lá para mostrar virtuosismo. Estou para dizer que, da minha parte, sou 70% feeling e 30% técnica. O que você acha, Mig?
Migdiablo. Acho que uma mistura dos 2, como somos apenas 2 temos que nos completar de alguma maneira para não ficar “espaços vazios “ nas músicas... Então as vezes exige uma certa técnica para completar esses espaços. Mas definitivamente o feeling e o tempo todo.
2112. Voltando ao material gravado porque ele não foi lançado em cd? As músicas são ótimas e mereciam um registro a sua altura...
Ravache. O material antigo teve algumas poucas cópias lançadas em CD caseiro. Caseiro meeesmo (rsrsrsrs), inclusive eu mandei fazer um carimbo com o logo da Cozinha para marcar os CDs. Eles foram usados para divulgação, mas pouquíssimos deles existem por aí.
2112. Existe alguma chance desse material vir à tona algum dia? Os fãs com certeza vão cobrar isso de vocês...
Ravache. Você diz os CDs caseiros? Acho que não são mais representativos do que somos. O foco é olhar pra frente e produzir um trabalho de qualidade.
Migdiablo. Com certeza Ravache!!! Agora é olhar pra frente e fazer tudo isso do melhor jeito possível.
2112. Vocês estão em estúdio dando os últimos retoques no novo material gravado ano passado que inclui inclusive duas regravações do material lançado anteriormente. Como foram as gravações?
Ravache. Foram oito horas de gravação para seis faixas. Só falta finalizar a mixagem e a masterização.
Migdiablo. Oito horas maravilhosas na cia de pessoas ótimas!!!
2112. Quem produziu o trabalho?
Ravache. Nós gravamos no mesmo estúdio onde ensaiamos, o Papiris, na Vila Leopoldina, SP, pelas mãos do Caio Monfort e do Fernando Bricola.
Migdiablo. Que alias...o Caio já é um grande parceiro meu de outras gravações!!! Competência ímpar!!!
2112. O resultado final ficou como vocês queriam?
Ravache. Fiquei bem satisfeito com o resultado, porque conseguimos uma sonoridade pesada, envolvente, porém realista. Sem efeitos em exagero para que possamos reproduzir ao vivo. Praticamente uma gravação orgânica.
Migdiablo. Olha... pra quem ouviu as antigas gravações da banda, vai se surpreender de uma forma extremamente positiva!!! As músicas estão ficando pesadas!!!!
2112. O que os fãs e os amantes do bom rock podem esperar do material?
Ravache. Nossa proposta é e sempre será a diversão acima de tudo. Inclusive a temática da culinária permite manter distância de assuntos polêmicos. Apesar de que até na culinária está dando pra brigar hoje em dia... (rsrsrsrs). O que você acha, Mig? Vamos tomar cuidado com o cardápio?
Migdiablo. Cardápio sempre bem cuidado. Já diz o ditado...não confie num chef magro... hahahaha
2112. Esse material terá lançamento físico ou será lançado apenas no formato digital?
Ravache. Estou tendo umas idéias, Carlão, mas uma coisa é certa. O lançamento digital, em toda e qualquer plataforma possível e imaginável vai ocorrer, sim. Agora, quanto a material físico, como falei, estou tendo umas idéias...
Migdiablo. Acho que, dependendo da receptividade, podemos ter certeza de lançar material físico rapidamente.
2112. E a parte gráfica já está pronta? Dá para adiantar alguma coisa?
Ravache. Ainda não. Mas será algo que gira em torno da culinária, do inferno em si, se possível com bom humor envolvido.
Migdiablo. Aaaaaaa... com Bom humor culinário!!!!
2112. Já escolheram o título?
Ravache. A primeira gravação levou o título de “Demo dos Infernos”. Esta agora... teria que ter um título chamativo... Alguma sugestão, Mig?
Migdiablo.  Olha... ainda não pensei mas garanto que vou sentar, tomar uma caixa de cerveja e ter uma ótima epifania!!!
2112. Haverá lançamento de singles?
Ravache. Lançaremos todas as faixas juntas. Estamos pretendendo também produzir pelo menos dois vídeos. Já temos umas ideias bacanas em mente.
Migdiablo.  Lançaremos as 6 de uma vez. Temos músicas prontas e se a recepção for boa faremos um novo álbum logo.
2112. Como é o seu processo de composição de vocês?
Ravache. Quanto ao material já pronto, quando começamos a ensaiar, no início do ano passado, eu passava por whatsapp para o Mig, ele ouvia, decorava e no ensaio já saía tocando. Acreditem... ele não precisa tirar música em casa com o instrumento... Eu nunca tinha visto alguém com essa capacidade... Estamos atualmente trabalhando em um tema deliciosamente pegajoso que o Mig passou e logo estará finalizado. É assim que trabalhamos. Com total colaboração, tudo muito fluido e aproveitando ideias e habilidades que não cabiam em outras bandas que participamos, por conta delas terem estilo fixo.
Migdiablo. E tb tem um detalhe... Fazemos as músicas sem rótulos. Jazz, blues, Metal, Boogie... o que vier na cabeça é o que manda.
2112. Vocês já têm uma data prevista para o lançamento?
Ravache. A data será o momento imediatamente posterior ao recebimento das gravações finalizadas (rsrsrsrs). Em breve... Em breve...
Migdiablo. Espero que no máximo até o mês que vem.
2112. Para terminar me diz uma coisa: quais os ingredientes para se ter uma “Cozinha dos Infernos”?
Ravache. São ingredientes muito fáceis de se obter. Tesão pela Música, determinação, uma pitada de ousadia...
Migdiablo. Eu diria coragem para fazer uma coisa diferente do que a galera por aí faz e a irmandade que temos entre nós que é oque da tesão nesse duo maravilhoso.
2112. ... enfim o microfone é de vocês!
Ravache. Sinto-me honrado e agradecido por poder bater esse papo agradável contigo, Carlão, e todos os leitores clientes deste seleto restaurante que leva o nome de Blog 2112 (rsrsrsrs). Espero retornar muito em breve para dar a boa notícia dos nossos quitutes prontos e servidos sobre a mesa para ser degustados e que sejam de agrado de todos, porque esta é uma refeição que produzimos com todo o carinho. O que você acha, Chef Migdiablo?
Migdiablo. Prazer inenarrável de estar por aqui batendo esse papo sensacional!!! E agradecer também as pessoas que tem-nos apoiado e que continuem a curtir nossos quitutes saborosos!!!!
Fiquem em contato conosco...

Crédito das fotos: Heloísa Ravache, MP Fotos e arquivo pessoais.
Próxima entrevista

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