O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Entrevista Ronaldo Rodrigues

2112. A pandemia tirou vocês músicos de circulação por mais de dois anos. Você no entanto aproveitou esse tempo para trabalhar diversos projetos. Vamos começar com você falando sobre o seu segundo álbum solo...

Ronaldo. Sou da opinião que o estúdio é o local em que a música acontece em sua plenitude; ali a música é registrada de forma perene, ali se constrói uma obra tal como um pintor pinta um quadro, um escritor redige seu livro, etc. Sempre gostei mais do estúdio do que do palco, e nunca fui um cara de fazer turnês e muitos shows seguidos. Então, a pandemia não afetou tanto esse lado de shows para mim - continuei trabalhando intensamente com a música. As bandas acabaram dando uma pausa nos encontros e ensaios, e essa sim foi a parte triste. Alguns dos meus colegas adoeceram, mas graças a Deus todos sobreviveram e estão bem. Houve uma certa coincidência da pandemia com a minha preparação para montar uma estrutura que me permitisse gravar com uma boa qualidade e o início mais intenso de meus trabalhos como músico de estúdio. Esse preparo todo ocorreu em 2019 e foi amplamente usado entre 2020 e 2021, quando eu comecei a conceber esse novo disco solo. Já tinha algumas idéias, mas trabalhei mais firmemente nelas no fim de 2020. Então, concebi o material pegando vários fragmentos de músicas que já existiam e dando continuidade a elas. Foi legal essa experiência de me "forçar" a terminar coisas começadas, porque alguns desses fragmentos eu já guardava nos meus arquivos há mais de 10 anos (!). Acho que apenas uma música do disco solo começou do zero nessa época; todas as outras músicas já tinham um ponto de partida criado, seja mais recentemente ou de mais tempo.

O meu primeiro álbum solo foi todo gravado com teclados; já para este novo trabalho eu quis fazer uma coisa completa, com bateria, baixo, guitarras. E assim foi - eu gravei todo o material dos teclados e fui convidando amigos e parceiros para a empreitada. Enviava os arquivos para esses parceiros, que gravavam suas partes e me mandavam. Foi feito tudo remotamente, bem ao sabor desses estranhos tempos pandêmicos. Escolhi convidados que eu sabia que entenderiam o conceito das músicas intuitivamente, sem precisar de muita explicação minha, já que isso por escrito e por ligação telefônica ficava bem difícil de ser feito. Ao todo, esse meu segundo disco solo teve 6 músicos convidados se revezando entre as guitarras e bateria. Os teclados e o baixo ficaram sob minha responsabilidade. Como se pode imaginar, esse processo todo levou bastante tempo para se concretizar, devido a agenda de cada um. Eu gravei a maioria das minhas partes em um período bastante atribulado, morando em uma residência provisória, com minha casa em reformas e minha esposa grávida da nossa primeira filha. Mas felizmente foi possível conciliar tudo, em um resultado que me deixou bastante satisfeito.  

2112. ... você gravou em casa mesmo?

Ronaldo: Sim. Como teclados são instrumentos eletrônicos e com possibilidade de comunicação com computadores, não há uma diferença muito significativa entre gravar teclados com um equipamento caseiro de pequeno porte e uma mega estrutura de estúdio. Além disso, tudo ocorreu nesses períodos mais críticos da pandemia, o que limitava muito os encontros presenciais.  

2112. O álbum tem a mesma dinâmica instrumental do anterior ou você reservou algumas surpresinhas para nós?

Ronaldo: É bem diferente, pelo fato de que no primeiro só haviam teclados e algumas percussões emuladas no teclado. Esse segundo trabalho é mais orgânico, porque tem bateria e guitarras. No aspecto musical, quando se faz música pensando em outros instrumentos o resultado é bem diferenciado de quando se trabalha com um único instrumento, especialmente porque deixei os convidados do disco bem à vontade para dar sua interpretação no arranjo. Por ter outros instrumentos, pude explorar outros estilos que só com teclados não funcionam, como o hard rock e o fusion/jazz-rock, além do rock progressivo/psicodélico, que é o terreno onde mais atuo.  

2112. Ele já foi batizado?

Ronaldo: Sim, se chamará Vol. II. Escolhi esse nome por duas razões: um nome que fosse facilmente identificado por pessoas de fora do Brasil e porque também faz referência ao meu disco favorito de todos os tempos (ainda que seja um disco com poucos teclados) - Led Zeppelin II.

2112. Você mesmo bancará o lançamento ou está em negociação com algum selo?

Ronaldo: A parte da gravação e elaboração da arte foi custeada por mim, mas a prensagem em CD e o lançamento serão feitos através da BeProg. Já tínhamos uma parceria bem frutuosa de vários anos; escrevi durante dois anos para o site da BeProg e eles registraram em áudio e vídeos vários dos shows que fiz de 2016 pra cá. Ainda pretendemos apresentar esse trabalho para parceiros fora do Brasil, na expectativa de conseguir algum relançamento e distribuição de maior alcance.  

2112. Dependendo da demanda desse segundo álbum existe a possibilidade do primeiro ser lançado comercialmente ou ser disponibilizado nas plataformas digitais?

Ronaldo: Existe essa possibilidade, contudo, fiz o primeiro álbum solo de uma forma um tanto despretensiosa, o que suponho que limite um pouco o alcance que ele possa ter. Mas essa possibilidade está, com certeza, no radar. 

2112. Você não tem receio de que ele seja pirateado por algum selo? Tenho visto várias bandas/músicos passarem sérios problemas com esse tipo de situação.

Ronaldo: Sinceramente não, ainda que reconheço que esse risco exista. Essa questão do pirateamento rende muito pano pra manga; não deixa de ser uma apropriação indevida de algo que não lhe pertence (e nós sabemos bem o nome desse pecado), mas por outro lado hoje estamos imersos em um mar de informação e conteúdo, em que o pirateamento acaba sendo até algo inócuo para alguém da escala de reconhecimento que eu tenho. Artistas de maior renome realmente precisam se preocupar legitimamente com isso, com vazamento de músicas, cópias não autorizadas, etc, mas no meu caso não vejo muito como isso poderia me trazer grandes prejuízos. Já lancei vários discos das minhas bandas (Caravela Escarlate e Arcpelago), de parceiros e como convidado; são mais de 15 álbuns de 2011 pra cá e até então nunca tive problemas (ou pelo menos nunca soube de nada do tipo). 

2112. Em breve também teremos o lançamento do novo álbum da Caravela Escarlate. Como foi compor, acertar arranjos, escolher repertório, gravações... afinal a maioria da população ficou reclusa em casa, não?

Ronaldo: No caso da Caravela Escarlate passamos o ano de 2019 ainda promovendo nosso segundo álbum que havia sido relançado no exterior (lançado originalmente em 2017 aqui no Brasil). Tínhamos até um plano sendo elaborado para uma mini-tour pela Europa em 2020, mas a pandemia acabou com qualquer resquício de idéia assim. Então, nós já tínhamos algumas idéias em tela para novas canções e os períodos de isolamento nos levaram a desenvolvê-las. O Jove David Paiva ia me munindo de composições e eu ia trabalhando firme nos arranjos, dando um palpite ou outro; quando tínhamos algo consolidado passávamos para o Elcio Cáfaro trabalhar a bateria. Cada um gravava sua parte e fomos fazendo a pré-produção do disco assim no início de 2021. Fomos ganhando experiência em gravações remotas até sentirmos confiança de gravarmos o álbum todo nesse formato. Gravei minhas partes no mesmo período que meu álbum solo (entre junho-julho/21), mas tanto meus colegas de banda quanto nosso engenheiro de som tiveram muitas questões particulares a tratar, o que levou esse processo todo a ser extremamente longo. Terminamos tudo relacionado à parte musical em abril/22, e aí levou mais algum tempo para preparar a arte do trabalho (que sairá em LP e CD). Enviamos tudo para a Karisma Records, na Noruega, em junho. Eles agora estão fazendo uma prensagem teste para planejar o lançamento. Esperamos de coração que seja lançado ainda esse ano, mas as fábricas de LPs e CDs estão demorando muito nas entregas (ainda por reflexos da pandemia) e a decisão cabe a eles. 

2112. O segundo álbum teve uma ótima repercussão por parte da crítica, dos fãs da banda e do público que curte rock. O que os fãs podem esperar do novo álbum?

Ronaldo: Esse nosso terceiro álbum, que se chamará simplesmente "III" aprofunda as experiências do anterior - rock progressivo na veia em formato trio, com muitas variações, músicas muito dinâmicas na qual demos tudo de nós. Tem aquela coisa mais "universal" do rock progressivo internacional, mas um ouvinte mais atento perceberá nosso sotaque brasileiro nas composições (além, claro, do álbum ser cantado em português). Acho que tá um trabalho bem consistente, no qual eu usei uma variedade muito grande de timbres de sintetizador, explorei uns sons diferentes do que usualmente vinha aplicando nos trabalhos anteriores. Usei mais piano acústico do que elétrico, muito órgão, mellotron e sintetizadores mil. 

2112. Vocês já estão agendando shows?

Ronaldo: Para a Caravela Escarlate ainda não; tínhamos a perspectiva de um show (com o Arcpelago junto) em São Paulo em maio, mas que foi cancelado. A agenda está condicionada a ter uma ideia do lançamento do novo álbum. Para meu trabalho solo, já fiz um show com o repertório do disco novo no tradicional Aldeia Rock Festival, que rolou abril em Casemiro de Abreu - RJ e o show de lançamento do álbum acontecerá no majestoso Teatro Municipal de Niterói no dia 1/10, na programação do 5º Carioca Prog Festival, que a BeProg está organizando.  

2112. Como você fará para "promover" o álbum solo, o da Caravela Escarlate e os demais projetos que contam com a sua participação?    

Ronaldo: Trabalho de formiguinha nas redes sociais, no boca-a-boca mesmo. Não conto com mídia, mas tento me inserir em tudo onde é possível aparecer. O ponto positivo de fazer parte de muitos projetos com muitas pessoas diferentes envolvidas é que acaba acontecendo muita divulgação "cruzada", porque um projeto acaba fazendo referência ao outro, por exemplo, na divulgação do meu trabalho solo acabo falando do Blue Rumble, do Arcpelago, da Caravela Escarlate, e vice-versa; meus colegas de banda quando falam dos nossos trabalhos também acabam atraindo audiência pro meu trabalho solo e assim vai. Felizmente, temos parceiros como o 2112 que nos ajudam a "botar a boca no trombone"; rádios online também são parceiros fundamentais nessa empreitada e comecei a inscrever meus trabalhos em concursos e premiações de músicos/álbuns. Ainda que não vença, não deixa de ser uma mídia a mais. Tudo conta nessa hora.   

2112. Há projetos ou mesmo convites para se apresentarem no exterior?

Ronaldo: Tenho ainda a pretensão de retomar a idéia de uma mini-tour na Europa, que foi abortada em 2020. Para 2023 é possível que eu passe uma temporada pequena de trabalho na Europa e, caso isso aconteça, tentarei conciliar algo do tipo. Convites ainda não rolaram. Mas como metade do Blue Rumble, meu projeto com músicos de fora do Brasil, está na Europa e nosso baterista está nos EUA, já temos ao menos um ponto de partida para começar a ver essas coisas. Quando o LP ficar pronto, esse panorama vai ficar mais claro do que será possível fazer. 

2112. Comente sobre os projetos/participações Blue Rumble, Orion's Epitaph, a parceria com o grande Amyr Cantúsio Jr., Lacrimal da Prognoise, Projeto Origens, Vale Hermético e o vídeo tributo ao Som Nosso de Cada Dia. Ronaldo, como foi participar de todos esses projetos sem perder o foco?

Ronaldo: Vou tentar ser sucinto e vou subdividir a resposta por tópicos.

Blue Rumble: é um projeto em que toco com músicos da Suíça, Luxemburgo e EUA, com caras que nunca encontrei pessoalmente e no qual tocamos um hard/blues-rock com fortes influências do Led Zeppelin e outros grandes nomes dos 60s-70s. A parceria remota deu tão certo que lançamos um compacto em setembro/20, um álbum completo em janeiro/22 em streaming (mas que já está no forno pra sair também em LP e CD, com apoio da Masque Records aqui no Brasil) e mais um single com duas músicas agora pra setembro. É uma parceria que muito me orgulha; fazia tempos que eu estava lidando só com prog e queria voltar a fazer algo mais rock n' roll. Os caras tocam demais e é um prazer fazer esse som. Pessoal pode encontrar nosso material no streaming e no Bandcamp.

Orion's Epitaph: outro projeto internacional, com dois músicos norte-americanos. Hard rock da pesada assim como o Blue Rumble, total influência dos 70s; só lançamos um compacto até agora, com duas músicas. Uma delas eu também escrevi letra e cantei, minha primeira experiência cantando em inglês. Está no streaming e vale a pena ser conferido, rock de primeira qualidade.

Amyr Cantúsio Jr. + Ronaldo Rodrigues: o Amyr é uma lenda dos teclados, um veterano, um visionário! Além de todos esses predicados, Amyr é meu conterrâneo (ambos nascemos em Campinas/SP) e eu o conheci há vários anos atrás por intermédio de um amigo em comum. Trocamos muitas figurinhas na ocasião e depois de algum tempo, mas a parceria musical começou a partir de um tributo que ele organizou, para que outros músicos fizessem releituras livres de músicas de seu repertório. Eu participei e ele gostou bastante do resultado; daí veio o convite pra um novo trabalho que ele estava compondo, com músicas homenageando a musicalidade do Chris Squire (baixista do Yes). O Amyr me deu carta branca para eu montar meus arranjos em cima das composições deles; para minha sorte, ele gostou de tudo que eu fiz. As músicas deles são muito instigantes, complexas, surpreendentes, cheias de mudanças, super progressivas... foi um desafio gravar algo à altura. O disco, chamado de Gates Of Delirium, foi lançado pelo Bandcamp (inclui a opção de downloads pagos para quem quiser) e no YouTube. Queremos lançar uma tiragem em CD, mas ainda não conseguimos viabilizar   

Prognoise: banda progressiva de Rondônia que me convidou para participar de duas músicas do novo disco deles, chamado Lacrimal, que saiu em streaming no ano passado e em CD no começo desse ano. Já conhecia e gostava do trabalho deles, eles fizeram releituras de músicas da Caravela Escarlate e do Arcpelago, o que me deixou extremamente lisonjeado! Foi uma satisfação enorme fazer parte do novo disco, me passaram duas músicas excelentes para eu gravar teclados. O disco está fantástico - quem é fã de progressivo brasileiro não pode deixar de conhecer e prestigiar!  

Projeto Origens: trabalho muito interessante do Alessandro Aru, lá de Alagoas, que sempre reúne ótimos músicos e faz um rock psicodélico muito bom. Já tinha trabalhado com ele numa faixa do segundo álbum do projeto, chamado Adaptação, em 2018; agora ele lançou um novo EP do qual participei de uma suíte toda trabalhada, longa, com muitas partes, chamada Prisma. 

Vale Hermético: outra galera boa do rock psicodélico, que são do interior de SP. O Rafael Garcia tinha uma outra banda, chamada Long Blue Trip, que gravou um single bem legal em 2020 que participei. O Vale Hermético é uma outra banda que ele tem, e continuamos a parceria; em 2021 lançaram um single chamado "País Sapiens", uma música cheia de groove em que participei tocando piano elétrico. Eles já estavam na pegada de trabalhar para um novo álbum completo e trabalhei em outras duas músicas além dessa; está ainda pra ser lançada e é um trabalho que promete; totalmente orientado para influências do rock sessentista. 

Vídeo tributo ao Som Nosso de Cada Dia: foi uma iniciativa minha, que deu um trabalhão pra ficar pronto, mas que valeu muito a pena! está no meu canal no YouTube. Um préstimo a esses heróis do rock progressivo brasileiro. 

2112. O importante é que nesses projetos você pode trabalhar em diversas esferas musicais que você curte e muita das suas vezes não encaixa no som da Caravela Escarlate e da sua carreira solo, não e?

Ronaldo: Com certeza! sempre falo pros meus amigos que sou um cara que não nasceu pra ter pouco disco! (rs) Hoje poderia estender o raciocínio pra dizer que não sou um cara que não nasceu pra ter pouca banda...rs. A verdade é que eu sou fissurado pelo rock dos anos 60-70 e como nessa época o rock era muito eclético, eu também adquiri essa ecleticidade. Outros estilos dessa época também tinham muitas intersecções com o rock (como o funk/soul, o jazz, a mpb, o folk) e aí vira tudo um barato só. Por consequência, eu gosto disso aí tudo que acaba não cabendo muito no pacote tradicional de bandas de rock progressivo como a Caravela ou o Arcpelago. Então, trabalhar como músico de estúdio tem sido sensacional pela possibilidade de tocar com uma variedade muito grande de pessoas e estilos dentro e fora do Brasil, e também ser desafiado a tocar coisas que não costumo ouvir. No meu trabalho solo costumo colocar no pacote coisas que não imagino sendo executados pelas minhas bandas; penso que é uma decisão natural para qualquer artista que concilie fazer parte de uma banda e ter um trabalho solo paralelamente. 

2112. Todos os trabalhos citados acima terão lançamentos físicos e shows de divulgação?

Ronaldo: Nem todos, infelizmente. A demanda por mídia física não é tão grande e os custos para fazer são ainda elevados, o que torna o risco de prejuízo alto. Mas, como sou colecionador de discos, gostaria que tudo tivesse em mídia física. Se dependesse só da minha vontade, assim seria. Shows também não serão possíveis com todos, porque em alguns casos existe uma distância física muito grande entre os envolvidos. Mas para meu trabalho solo, Caravela Escarlate, Arcpelago (estamos iniciando a preparação para um novo disco) e o Blue Rumble existe a pretensão de termos shows.  

2112. Você poderia comentar um pouco mais sobre o trabalho em parceria com o Amyr. Ele é um dos grandes músicos desse país e dono de uma discografia invejável. Como surgiu essa parceria?

Ronaldo: Como mencionei acima, nos conhecemos pelos idos de 2009-2010, por intermédio de um amigo em comum. Eu apresentava um programa em uma rádio web e um colega da rádio conhecia o Amyr; como o programa era dedicado ao rock progressivo, e esse amigo (Rubens Dantas) sugeriu que eu entrevistasse o Amyr. Foi uma ótima sugestão. Nos encontramos na casa do Rubens e batemos um longo papo, onde o Amyr me mostrou vários trabalhos de kraut-rock que eu não conhecia, também mostrei algumas coisas pra ele. Depois dali, só fomos nos reencontrar em 2017, quando ele tomou conhecimento do lançamento do segundo disco da Caravela Escarlate, que ele gostou bastante, e combinamos de nos encontrarmos em um sebo em Campinas (estava em uma visita familiar na ocasião) e trocarmos CDs; ele me presenteou com discos do Spectro, sua primeira banda. Depois, em 2021, ele lançou a idéia das releituras do seu repertório e eu peguei justamente uma música da época do Spectro para reler. Ele gostou bastante e nos aproximamos mais musicalmente até surgir a idéia, dele, do Gates of Delirium, álbum que gravamos juntos. Contribui apenas em algumas músicas; é um trabalho onde Amyr brilha (pra variar!) e mostra porquê é a referência que é, seja como compositor, arranjador e tecladista - um artista completo e vários passos à frente dos seus pares. 

2112. Vou contar aqui uma curiosidade: na época do lançamento do "Mar de Cristal" criei com o apoio do Amyr um fã clube da banda Alpha III. Durou apenas alguns anos e tinha um zine bem "primitivo" com fotos e informações. Acredito que o país não esteja preparado para a genialidade dele...

Ronaldo: Muito interessante, Carlos! realmente, a qualidade e a quantidade de coisas que o Amyr Cantúsio produz são de um nível muito elevado que o Brasil, onde a cultura do rock/música eletrônica/vanguarda não é tão forte (o que não é, por si só, uma coisa ruim se outras formas de boa música ocuparem esse lugar), não tem um público consistente capaz de assimilar. 

2112. Como surgiu o convite para participar do vídeo tributo ao Som Nosso de Cada Dia e qual música você regravou?

Ronaldo. A idéia partiu de mim e não visa(va) apenas o Som Nosso de Cada Dia, mas sim de prestar um tributo aos grandes heróis do estilo prog no Brasil. Então, eu tenho essa pretensão de, no futuro, fazer outros vídeos relendo obras dessa galera. Eu fiz parte da última formação do Módulo 1000 (com o Daniel Romani) e de uma formação paralela do Terço, que se reuniu apenas para tocar músicas mais obscuras do repertório deles. Então, já é um terreno que tenho alguma experiência prévia. Músicas como "Sinal da Paranóia" e "Bicho do Mato" já haviam sido coverizadas por diversas bandas (eu mesmo tive uma banda na época da faculdade que as tocava), preferi pegar a faixa "Som Nosso de Cada Dia" para essa empreitada. O desafio era enorme, porque a música é muito complexa, difícil mesmo de executar. Estudei o material por alguns meses; comecei em meados de setembro/20. Convidei um amigo meu para tocar a bateria na faixa, Diego Pereira. O Diego hoje é um excepcional baterista de jazz baseado em São Paulo, mas nossa amizade remonta justamente aos tempos em que tocávamos em uma banda cover - a mesma que mencionei que fazia cover de "Sinal da Paranóia". Eu sabia que ele era um cara capaz de dar conta do recado muito bem. E assim foi - ele executou a bateria com perfeição! Por outro lado, encarei o desafio de gravar também o baixo (emulado no teclado), o violão de 12 cordas e o vocais. Foi uma das coisas mais complicadas e trabalhosas em que me envolvi, mas a satisfação foi proporcional ao trabalho. O resultado pode ser conferido no YouTube (vou colocar o link no comentários). Virão outras, de outras bandas também!

2112. Pedrão é outro músico que faz muita falta em meio a tanta mediocridade musical que o cenário tem cuspido nas mídias, não é?

Ronaldo: Com certeza. Acho que músicos de técnica equivalente a do Pedrão até existem bastante por aí, mas com a visão musical e a ousadia dele poucos se atrevem a buscar/conseguir. Há muito músico repleto de técnica que se acomoda na leitura de partituras, acompanhando artistas que não valorizam o instrumental, servindo como "acompanhantes de luxo" e que não ousam ter um trabalho solo ou montar uma banda própria pra colocar o talento pra fora. Isso é irônico de constatar em um cenário onde gravar é relativamente simples e acessível, lançar ídem (ainda que as dificuldades para se promover e ganhar algum lugar ao sol sejam gigantes), e é literalmente possível praticar qualquer estilo que se deseje sem amarras de empresários/produtores.  

2112. Que bandas ou músicos tem chamado a sua atenção nos últimos tempos?

Ronaldo: Tento ser um cara bastante antenado no que tem rolado nos estilos que pratico. Acho que Wobbler, Gungfly e Jordsjo são grandes referências prog nos tempos atuais. Veteranos como Motorpsycho e Siena Root tem lançado discos ótimos recentemente; na Itália o movimento prog continua muito forte, sempre tem bons lançamentos prog vindos de lá. Uma banda estreante que gostei bastante é o Birth (EUA). Aqui no Brasil tem uma turma boa produzindo coisa nova, como o Ricardo Margadona em parceria com a Rebecca Riss (EUA), o próprio pessoal com quem tenho feito parcerias, o Pedro Salvador (Alagoas), a galera do Hammatrio (São Paulo), a turma do Cosmo Drah, Anxtron, Ultranova, muita gente boa. 

2112. Qual e-mail/telefone para entrar em contato com você/banda para shows, gravações ou aquisições de material de merchandising?

Ronaldo. Meu email é ronaldosrodrigues70@gmail.com e meu site (repleto de informação sobre o que ando fazendo) é www.ronaldorodrigues.com.br

Além do streaming, os trabalhos também estão no bandcamp: https://ronaldorodrigues.bandcamp.com/

O pre-order do meu novo disco solo pode ser feito através do email: rr@beprog.tv ou pela loja virtual da BeProg (https://beprog.tv/index.php/produto/rr_vol_ll/)

2112. ... o microfone é seu!

Ronaldo. Só agradecer de coração pelo espaço dado (novamente!) para eu falar um pouco sobre isso tudo e parabenizar (já tive oportunidade de fazer isso em outras ocasiões) o Furia 2112 pela qualidade do trabalho e principalmente pela perseverança em manter o canal ativo durante tantos anos. Isso são poucos que fazem. Valoroso demais a iniciativa. Já disse em outras ocasiões - quem pesquisar sobre o rock brasileiro das primeiras duas décadas dos anos 2000 daqui alguns anos com certeza vai achar no 2112 um manancial de conteúdo de primeira qualidade. Parabéns Carlos pelo 2112 - é uma preciosidade do nosso rock brasileiro. Aproveito pra agradecer todos meus parceiros músicos e os seguidores que me acompanham. Vida longa! 

 

Blue Rumble - Blue Rumble (álbum completo no Youtube):

Blue Rumble - Blue Rumble (Full Album 2022) - YouTube

Opera Diabolicus - Death on a Pale Horse (álbum completo no Youtube)

OPERA DIABOLICUS - Death on a Pale Horse (FULL ALBUM) 2021 - YouTube

Opera Diabolicus - Bring Out Your Dead (clipe):

OPERA DIABOLICUS - Bring Out Your Dead (official music video) 2021 - YouTube

Blind Horse - Patagonia (álbum completo no Youtube)

Blind Horse - Patagonia (Full Album 2017) - YouTube

Bamos Q Bânia - Eletrolux (clipe)

Eletrolux - Bâmos Q Bânia - YouTube

Tributo ao Som Nosso de Cada Dia (vídeo em colaboração com o baterista Diego Pereira):

Som Nosso de Cada Dia - Som Nosso de Cada Dia (colab video tribute) - YouTube

Nasrul Ekram - Gaslight (clipe)

Nasrul Ekram - Gaslight - [Music Video] - YouTube

Ricardo Margadona & Rebecca Riss - They Will Go On:

They Will Go On (Single Edit) - YouTube

Caravela Escarlate - ao vivo no Teatro Municipal de Niterói (2018)

CARAVELA ESCARLATE - "Caravela Escarlate" - YouTube

 

Discografia Oficial: 

01. Massahara - Massahara [2011]. Teclados, composições, letras, arranjos.

02. The Mothers - The Mothers [2012]. Teclados.

03. Barizon - Towards the Rising Sun [2014]. Teclados na faixa “Smoked Morning”.

04. Caravela Escarlate - Rascunho [2016]. Teclados, composições, arranjos. 

05. Arcpelago - Simbiose [2016]. Teclados, composições, arranjos, vocal, produção executiva.  

06. Caravela Escarlate - Caravela Escarlate [2017]. Teclados, composições,  arranjos, produção executiva.  

07. Blind Horse - Patagonia [2017]. Teclados. 

08. Gods & Punks - Into the Dunes of Doom [2017]. Teclados na faixa “The Encounter”.

09. Luiz Zamith - Introspecção [2018]. Teclados.

10. Projeto Origens - Adaptação [2018]. Teclados na faixa “Adaptação Pt. 2”

11. Sérgio Filho - Ponto de Partida [2018]. Teclados, arranjos, co-produção. 

12. Piah Mater - The Wandering Daughter [2018]. Teclados. 

13. Gods & Punks - And the Celestial Ascension [2019]. Teclados na faixa “Escape to the Stars”

14. Ronaldo Rodrigues - Volume 1 [2019]. Teclados, composições, arranjos, mixagem, produção executiva.

15. Blue Rumble - Cosmopolitan Landscape / Sunset Fire Opal [single] [2020]. Teclados, baixo, composições, arranjos.

16. Samurai Of Prog (Finlândia) - Beyond your wardrobe [2020]. Teclados e composição da faixa "Another Time"

17. Bâmos Q Bânia - Filhos de Kuandu [2020]. Teclados na faixa "Eletrolux"

The Long Blue Trip - Desert Sun [single] [2020]. Teclados, arranjos.

18. Simmons & Mattheo (EUA) - Loving the Way that You Loved Me [single] [2020]. Teclados, arranjos.

19. Nasrul Ekram (Singapura) - Gaslight [single] [2021]. Teclados, arranjos.

20. Erick Ramsey & Elaine Samuels (Inglaterra) - Beyond Mytholmroyd's Red Dawn [single] [2021]. Teclados.

21. Ricardo Margadona & Rebecca Riss - They Will Go On [single] [2021]. Teclados, arranjos.

22. Vale Hermético - País Sapiens [single] [2021]. Teclados, arranjos.

23. Tommy Lorente - "L'Homme Elastique" [single] [2021]. Teclados, arranjos.

24. Orion's Epitaph (EUA) - Two in One / Azaryah [single] [2021]. Teclados, arranjos, vocais.

25. Prognoise - Lacrimal [2021]. Teclados nas faixas “Shedding Tears” e “De Caelo”. 

26. Opera Diabolicus (Suécia) - Death on a Pale Horse [2021].

27. Projeto Origens - Prisma [EP] [2022]. Teclados e arranjos na faixa “Prisma”.

28. Blue Rumble - Blue Rumble [2022]. Teclados, composições, arranjos.

29. Amyr Cantúsio Jr. & Ronaldo Rodrigues - Gates of Delirium [2022]. Teclados, arranjos.

30. Ronaldo Rodrigues - Vol. II [2022]. Teclados, composições, arranjos, produção executiva.

Obs.: Todas as fotos foram cedidas por Ronaldo Rodrigues.

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