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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Entrevista Jedias Hertz

Viajar na música é essencial e se ainda for num Maverick Voador é mais recompensador. Jedias faz um som psicodélico de altíssimo nível instrumental, vocal e lírico. Quem já ouviu o álbum nas plataformas pode afirmar positivamente o que estou falando. Um discaço!!

2112. Recentemente você lançou Maverick Voador. Como surgiu o projeto do álbum como um todo?

Jedias. O 'Maverick Voador' foi um trabalho que levou muito tempo pra ser feito, estive trabalhando na parte de produção desde 2019, por conta dos arranjos (que tem muita coisa orquestral e instrumentos diferentes) tive que ir fazendo com calma até chegar na sonoridade que eu queria. Nesse meio tempo trabalhei também no álbum da Marina 'O Caótico Jazz Tropical de Marina Silva' isso também me ajudou a ter mais bagagem e idéias pra ir trabalhando os conceitos do meu álbum. As canções dele são mais antigas ainda, a maioria escrevi em 2011 ou 2012 e já tocava elas em apresentações, aí levou todo esse tempo pra ir amadurecendo as idéias e conseguir fazer o trabalho que eu imaginava com essa estética que eu queria. 

2112. Achei o título super genial. Imagine um possante daqueles voando... Cara, que viagem, não?

Jedias. Pois é, apesar de tudo eu não sou muito ligado a carros. A ideia do Maverick foi algo mais pessoal, pois era o carro que meu pai tinha na minha infância, então sempre tive essa carga de carinho por esse carro especifico, aí o Maverick Voador em si foi uma ideia que me remetia tanto ao navio Holandês Voador quanto a ideia de liberdade e da psicodélia, de estar flutuando, ou voando por ai... Quando escrevi a canção que dá título ao álbum eu queria fazer um blues bem com cara de blues, puxando uns 12 compassos e tal mas que trouxesse a simbologia que une o Blues a música brega brasileira, a imagem do garçom, da bebedeira e do coração partido, juntando isso com a imagem desse carro que 'já foi novo e potente mas agora só bebe'. 

2112. O álbum traz influências do movimento psicodélico dos anos 60 e da nossa Tropicália. Como foi mixturar tudo isso para criar algo que tivesse a sua cara?

Jedias. Na verdade foi tudo muito natural, eu já tinha esse conceito mesmo de trazer essa mistura, muito disso foi inspirado pelo ideal Antropofágico dos Tropicalistas, então era algo que eu já  tinha em mente, mas na hora de compor e fazer os arranjos eu ia percebendo que as músicas estavam ganhando certas caras e características, umas mais puxadas pra The Doors por exemplo, outras mais pra Rolling Stones, e aí eu deixava me levar por essa influencias pra sair o que saiu, me levando pelas sensações que aquelas sonoridades me traziam. 

2112. Não esquecendo que nesse cardápio você ainda inclui elementos de música experimental. Que bandas desse seguimento você mais curte?

Jedias. Nossa, acho meio difícil esse lance de experimental, porque sito que tem muita gente que traz elementos de experimentalismo e nem se considera ou é considerado um artista com um trabalho experimental de fato. Mas vou citar alguns artistas brasileiros que eu acho que mandam bem demais no experimentalismo e que me inspiram um bocado: Tom Zé, Rogério Duprat, Jards Macalé, Naná Vasconcelos, Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé.  

2112. Quais são suas maiores influências?

Jedias. Sem dúvida a galera da Tropicália, Gilberto Gil, Catano Veloso, Tom Zé, Mutantes, Gal Costa, o Torquato Neto, Jorge Ben... Também tem o Chico Buarque, Milton Nascimento, Lô Borges. Na gringa Beatles, Stones, The Doors, Bob Dylan, Simon & Garfunkel, Pink Floyd, etc. Acho que tem muita coisa. 

2112. Sei que essa pergunta vai gerar polêmica mas eu prefiro o Small Faces ao The Faces. E você?

Jedias. Cara, pra ser sincero eu não ouço muito nem Faces nem Small Faces hoje em dia, até preciso pegar pra ouvir de novo. Lembro de ouvir mais o Ogdens do Small Faces, então acho que me marcou mais. 

2112. A saída de Steve Marriott provou que ele era a alma da banda. O The Faces é uma grande banda mas sua música é muito influenciada pelos Rolling Stones enquanto o Small Faces criou sua própria identidade. Você não concorda?

Jedias. Então, cono faz muito tempo que eu não escuto eu não consigo opinar. Mas lembro de achar a sonoridade do Small Faces mais interessante na época, não sei se hoje teria outra visão, vou dar uma ouvida nos próximos dias. 

2112. Mas voltando ao Maverick Voador suas letras tratam de temas como solidão, liberdade, guerras, arte e antropologia. Você lê muito?

Jedias. Eu gosto muito de ler, mas depois que cursei filosofia fiquei tão saturado por causa das obrigações de leituras e tal (por mais que os livros fossem interessantes) que entrei numa espécie de ressaca literária. Agora estou voltando a ler aos poucos, gosto muito de contos e poesia.

2112. No seu ponto de vista o que é "liberdade" no mundo de hoje e o que as suas letras expressam dentro desse contexto?

Jedias. Eu acredito que a liberdade é inalcançável e inimaginável, pois no momento em que a gente pensa nela com algo que é, ela deixa de ser, ela é engessada, engaiolada, e deixa de ser livre, é meio complicado, principalmente pra gente que pensa e que deseja a liberdade, pois só por pensar e desejar a gente acaba com qualquer chance de ser realmente livre. 

2112. Pode parecer negativismo da minha parte mas vejo que a tecnologia tirou a liberdade do homem e o tornou prisioneiro dele mesmo. Onde fica a sua dita liberdade?

Jedias. Eu não acho que somos prisioneiros de nós mesmos na verdade, acho que somos prisioneiros do mercado que nos dita e convence do que gostar, no que pensar, do que falar, em quem votar... Tá aí toda essa história do povo que foi convencido a votar no Bolsonaro por causa de fake news né? E no Trump também, acho que a internet nos dá mais ainda essa falsa sensação de que se tem muita gente falando algo aquilo se torna verdade, essas ferramentas todas estão na mãos de grandes empresas e pessoas milionárias que não tem escrúpulos que vão fazer o que for preciso pra ganhar uns trocados a mais, e as pessoas de modo geral tendem a não pensar muito nisso, aí somos todos enganados pelos algoritmos.

2112. Você poderia falar como foram realizadas as gravações de Maverick Voador? Você mesmo produziu, arranjou e mixou o álbum?

Jedias. Sim, eu mesmo fiz a parte de arranjo, produção, mix e master. O processo de gravação foi bem lento, eu comecei em 2019 eu fui gravado aos poucos, tudo que era instrumento analógico e eu sabia tocar eu fiz questão de fazer eu mesmo, então gravei Voz, Guitarra, Baixo, Gaita, Theremin, Sitar, Berimbau, um pouco da Bateria e Percussão, a Marina fez um pouco da Bateria e Percussão também e gravou voz em algumas faixas, aí a parte de orquestração, metais e piano e orgão eu fiz digitalmente usando um teclado midi e instrumentos virtuais, eu queria poder fazer tudo bem do meu jeito e foi um processo bem artesanal, acho que foi importante tanto pra obra quanto pra mim adotar esse método, consegui aprender bastante coisa durante o processo todo. Até a capa eu quis fazer.

2112. Quem mais além de você participou das gravações?

Jedias. Só três pessoas participaram, eu a Marina Silva e a Natália Pavezzi que vez os backing vocals na faixa Maverick Voador, por causa da pandemia ela gravou da casa dela as faixas de voz e me mandou. 

2112. Maverick Voador será lançado apenas nas plataformas digitais ou você tem projetos para lançá-lo em cd, vinil e cassete?

Jedias. Além das plataformas digitais vamos fazer uma pequena tiragem dele em CDs, aí dependendo da procura a gente pode fazer mais cds ou buscar outros formatos como o vinil, vamos ver... 

2112. Você pretende fazer alguma live de lançamento? Quais são os seus projetos pós-pandemia?

Jedias. Eu não me dou muito bem com esse negócio de Live, com as condições que a gente tem por aqui não ia dar pra fazer nada muito legal... Mas quando acabar a pandemia a gente pretende voltar a tocar com um projeto bem puxado pra psicodelia sessentista, com muito improviso e com certeza várias faixas do Maverick Voador vão estar no repertório. 

2112. Como você conheceu Marina Silva e como funciona a parceria entre vocês dois? Até onde o trabalho de um influência o trabalho do outro?

Jedias. A gente se conhece a muitos anos, eu ajudava uma professora de teatro na escola dela durante o ensino médio, aí nos conhecemos e ficamos amigos. Aí cada um seguiu sua vida, ela fez faculdade em Assis, eu fiquei por aqui (em Rio Claro/SP) e depois fui pra São Carlos, aí em determinado momento nos nos reencontramos e começamos a sair, eu andava muito inseguro com palcos porque tenho Síndrome do Pânico, ela me deu a maior força e a convencia a tocar percussão comigo, já que ela já tocava bateria e gostava das mesmas coisa, aí nosso projeto foi evoluindo assim. Acho que nosso trabalho é totalmente influenciado pelo trabalho um do outro, a gente se ajuda tanto na hora de desenvolver os conceitos do que a gente está fazendo como em ideias, sinto que boa parte das influencias dessa sonoridade mais latina veio do trabalho dela, ao mesmo tempo ela teve bastante influência das experimentações do meu trabalho, por exemplo. 

2112. Você poderia falar um pouco sobre o EP Feliz Natal e Um Ano Novo Melhor Que Esse. Vocês apenas regravaram standards natalinos ou ele é todo composto de material próprio?

Jedias. Eu e a Marina Lançamos esse trabalho no fim de 2020, com todo aquele clima de fim de ano pesado graças a pandemia, a gente nem pensava que esse ano ia ser pior ainda... Mas é um EP com 3 músicas autorais e 2 canções típicas natalinas pra abrir e fechar o trabalho, a gente tentou abordar outro aspecto do natal que as pessoas não falam, que não passa na TV ou em filmes, o lado pesado da coisa, de famílias que se reúnem mas não se suportam, da ilusão do "natal norte americano' que o cinema nos vende, da solidão nesses períodos festivos e de um Papai Noel totalmente embriagado. Na parte de arranjos a gente tentou trazer uma atmosfera bem natalina pra que as letras tivessem mais contraste ainda.

2112. Qual o seu telefone/e-mail para contratar seus shows e aquisição de material de merchandising?

Jedias. A gente não tá fazendo show ainda, vamos esperar a pandemia passar de verdade. Mas pra quem quiser entrar em contato com a gente, pode nos procurar nas redes sociais @jedias.hertz e @jediashertzemarina ou mandar um email para jediasemarinaduo@gmail.com.

2112. ... o microfone é seu!

Jedias. Acho que nesse momento é sempre bom lembrar que a pandemia ainda não acabou, então sigam todos os protocolos sanitários que ainda são completamente necessários, assim como derrubar o Bolsonaro e botar ele em seu lugar, na lata de lixo da história. 


 
Obs.: As fotos utilizadas nessa entrevista foram todas retiradas do Facebook do músico e infelizmente não deu para identificar o nome dos fotógrafos. Quem tiver alguma informação favor enviar para o meu e-mail: furia2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.

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