A Bombay Groove é uma das bandas mais interessantes e inovadoras da nova geração do rock brazuca. Rock com vários sotaques e temperos o que a põem em vantagem no atual cena brazuca. A banda já lançou dois álbuns maravilhosos e recentemente o single Saturnalia/Devil.
2112. Tomei conhecimento da Bombay Groovy através de um amigo que me passou os arquivos dos álbuns Bombay Groovy e Dandy do Dendê. Na minha opinião vocês são uma das bandas mais criativas e interessantes do atual cenário.
Rodrigo Bourganos: Ficamos muito felizes que tenha gostado! Recomendo que dê uma olhada no nosso último lançamento também, o single Saturnalia/Devil. Ano passado lançamos um LP chamado Odyssey em parceria com o selo grego Cosmic Eye que reúne os 3 lançamentos.
2112. Como foi que surgiu a idéia de substituir a guitarra pelo sítar? Pergunto isso levando em conta que para muitas pessoas a guitarra personifica a própria imagem do rock.
Rodrigo: O conceito da banda surgiu ao redor do Sitar, que foi o que conectou eu e o Danniel Costa. Ele também tocava mas estava aposentando o Sitar naquele momento para focar no baixo. A idéia era fazer um rock como o do ELP, que substituísse a guitarra sem perder o peso. Mas ao mesmo tempo queríamos transgredir o próprio papel do Sitar também, trazendo ele mais perto da guitarra.
2112. Pessoalmente não concordo pois Litlle Richards, Jerry Lee Lewis, Jon Lord, Keith Emerson são tão ou mais selvagens em seus instrumentos que muitos guitarristas por aí, não é?
Rodrigo: Justamente, e como mencionei ali, o Keith Emerson foi uma das grandes influências para nós!
2112. Entre as muitas influências da
banda me chamou a atenção o uso do samba. Digo isso pois muitos roqueiros não
vêem com bons olhos o ritmo. Achei muito bacana essa atitude da parte de vocês.
Rodrigo: Em Jakarta Samba fizemos um samba de gringo a lá The Doors mas em Dandy do Dendê contemplamos vários ritmos brasileiros com mais maturidade.
2112. A um tempo atrás montei um flyer comentando que Cartola era tão importante quanto Robert Johnson e que o samba era o nosso blues de raiz. Cara, quase fui apedrejado...
Rodrigo: Infelizmente muitos fãs de
rock possuem uma compreensão muito restrita da música popular... Esse paralelo
faz sentido sim.
2112. O engraçado é que muitos ouvem Santana e não reclamam das misturebas produzidas pelo guitarrista.
Rodrigo: Imagino que a roupagem de rock torna tudo mais fácil de digerir e também por isso nunca recebemos críticas roqueiras por usar uma diversidade de influências.
2112. Jakarta Samba é contagiante, soa como uma espécie de samba psicodélico que deve ganhar contornos interessantes quando tocada ao vivo.
Rodrigo: É uma das nossas músicas que o público mais pede normalmente, imagino que tenha algo ali que agrade bastante! É uma das mais divertidas de tocar ao vivo por causa das dinâmicas e o tom bem humorado.
2112. Já pensaram em misturar o som percussivo da música africana com a música produzida no Bombay Groovy? Acredito que ficaria bem interessante...
Rodrigo: Tentamos fazer isso no solo de percussão da faixa título Dandy do Dendê!
2112. A sensação que passa é que certas músicas mais parecem jams do que composições propriamente ditas.
Rodrigo: Nossas composições são baseadas em temas, um método interessante para a música instrumental. O primeiro disco era composto quase que integralmente de vinhetas, além das faixas mais longas (Aurora e Fonte de Castália) que são temas estendidos que são quase jams. As composições do Dandy do Dendê são mais detalhadas, assim como o single de 2019, quando assumimos mais nossa vertente progressiva.
2112. Como vocês trabalham os arranjos das músicas?
Rodrigo: Nós somos incrivelmente rápidos e entrosados com arranjos, não precisamos de mais de 4 ensaios pra preparar um disco inteiro do início ao fim! Não sei dizer como isso se dá, acontece bem naturalmente.
2112. Vocês toparariam um convite para fazer remixes de algumas músicas para serem tocadas em pistas de danças ou mesmo nas raves?
Rodrigo: Como nosso saudoso Danniel dizia, "com pay, Bombay".
2112. O sítar dá um toque todo particular ao som da Bombay Groovy. O que as pessoas dizem após assistirem aos shows da banda? Vocês devem inclusive ouvir muitos comentários interessantes.
Rodrigo: Poxa, faz bastante tempo que não nos apresentamos, mas normalmente são diversos elogios!
2112. Entre as muitas lendas do rock
dizem que certa vez Jeff Beck queria um som de cítar numa das músicas que o
Yardbirds iriam gravar. A gravadora então providenciou um músico direto da
Índia que não foi aprovado por Beck que tirou o som do instrumento em sua
própria guitarra. Você conhece essa história?
Rodrigo: Conheço sim, em Heart full
of soul! Existe a versão com o sítar também mas a versão com a guitarra Fuzz
ficou mais icônica!
2112. Rodrigo, porque ao contrário dos tradicionais tocadores de sítar você toca o instrumento muita das vezes de pé e não na costumeira posição de Lótus?
Rodrigo: A razão inicial é que não tenho alongamento pra aguentar aquela posição haha. Mas isso contribuía com a nossa ideia de desconstruir o Sitar e trazer ele mais perto da guitarra.
2112. Destaco também o incrível trabalho do Jimmy Pappon no Hammond, do Danniel Costa no baixo e do Leo Costa na bateria. Quando tocam ao vivo vocês fazem muitas jams?
Rodrigo: Faz bem em destacar o papel do Jimmy e do Leo, 2 dos músicos mais sensacionais que eu já tive o prazer de contemplar! É incrível como o tempo voa, a última vez que tocamos juntos com esse lineup foi em 2014, 6 anos atrás! Fazíamos jams sim em certas seções de algumas músicas. Danniel infelizmente veio a falecer em 2015 enquanto eu estava estudando fora, e nessa época foram feitos shows importantes com um lineup alternativo. Na minha volta passamos um bom tempo tocando em trio (quando fizemos o Dandy do Dendê em homenagem ao Danniel) e acho que a partir dessa época, passamos a improvisar mais ao vivo.
2112. Como vocês se conheceram e
quando decidiram montar a banda?
Rodrigo: Eu e Danniel nos conhecemos
através do Sitar e nossa afinidade foi reforçada pelo nosso gosto por Led
Zeppelin. Inicialmente fazíamos somente versões de clássicos do rock mas
decidimos nos tornar uma banda autoral depois. Gravamos o primeiro álbum com
nosso amigo baterista Lucas Roxo e nessa época convidamos o Jimmy Pappon, em
busca de expandir nosso campo harmônico através do Hammond. Danniel conhecia
ele dos tempos de Astronete e foi uma ideia sensacional convidar ele, que
felizmente topou! Eu conheço o Leo desde a pré adolescência quando eu tocava
com a banda de rock clássico e progressivo da família dele e, quando precisamos
de um baterista logo convidei ele, que sempre foi virtuosíssimo.
2112. O mercado está cada vez mais fechado para as bandas de rock com as gravadoras investindo em hits descartáveis que garante uma resposta imediata nas rádios. Como vocês encaram toda essa instabilidade?
Rodrigo: Estamos absolutamente fora desse território. Mas ao mesmo tempo já tivemos bastante espaço na grande mídia brasileira diante de um movimento de música psicodélica nacional que fomos incluídos. Nossos lançamentos sempre davam no Estadão, Rolling Stone etc.
2112. A meu ver restou apenas os selos independentes e algumas web rádios que ainda apoiam o underground, não é?
Rodrigo: Sim, e as pessoas que procuram consumir esse tipo de conteúdo.
2112. Entre as muitas bandas
surgidas nos últimos anos quem vocês destacariam com um trabalho interessante?
2112. Qual e-mail/telefone para contratar os shows da banda após a pandemia ou mesmo adquirir material de merchandising?
Rodrigo: A nossa página de Facebook é sempre o lugar mais fácil de nos encontrar :)
2112. ... o microfone é de vocês!
Rodrigo: Muitíssimo obrigado por entrar em contato e pelo espaço!
Esta entrevista é dedicada a memória de Danniel Costa
Crédito das Fotos: Identifiquei apenas Master Mind Fotografias e Bolivia & Catia Rock. Quem souber o nome dos demais favor enviar as informções para o meu e-mail: furia21112@gmail.com.
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