O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



sexta-feira, 28 de junho de 2019

Entrevista Banda Blindog



O Brasil é um celeiro de grandes bandas e músicos e a Blindog usa rock e blues em doses certeiras para criar um som bacana, visceral e o que é melhor... cantada em português. Seu último álbum Paulicéia, Madrugada & Blues merece ser ouvido com atenção no volume máximo.  

2112. A Blindog é uma autêntica banda de rock e blues inserida dentro de uma cena cada vez mais artificial. Qual o maior desafio em manter uma banda com características vintage nos dias de hoje?

Jessé: Os espaços, na mídia e em shows, estão cada vez diminuindo mais. A bandeira do classic rock, blues-rock e do blues nunca esteve tão pesada de ser carregada. 

2112. Apesar de toda essa "artificialidade" bandas como Kurandeiros, StringBreaker, Amargo Malte, Stranhos Azuis, Putos Brothers Band, Power Blues, Dudé & A Máfia, Mr. Huddy, Nicotines, vocês... tentam a todo custo manter viva a chama do classic rock, não é?

Jessé: São idealistas, verdadeira resistência, que mantém acesa a chama criativa do rock e do blues e a banda Blindog engrossa essa pequena fileira. 
2112. A reação do público nos shows e mesmo quando ouve os trabalhos da banda te surpreende? 

Jessé: A banda Blindog tem como proposta evitar o cover e a mesmice dos 7lists. Tocamos as "encrencas" das bandas clássicas, exemplo: da banda Steppenwolf levamos Screaming Night Hog ao invés da manjada Born to be wild. Isso requer músicos dispostos a pesquisar e ensaiar. A outra característica da banda é fazer releituras dos clássicos, não apenas copiá-los. Então, quando tocamos nossa versão de Come Together/Beatles ou Johnny B. Good/Chuck Berry, entre várias outras, percebemos com satisfação a boa surpresa causada, vendo que os esforços valeram a pena.

2112. A sua carreira começou nos anos 60 celeiro de bandas incríveis que influenciou toda uma geração de músicos. O que você mais curtia nessa época?

Jessé: Eu sempre estive no fundão da Zona Oeste, Osasco principalmente, onde já em meados dos anos 60s toquei em bandas de bailes. Havia bastante casas, clubes e bares que levavam música ao vivo. Então, as minhas influências básicas da época foram inicialmente o rock instrumental dos The Shadows, The Ventures e, em seguida Beatles e Rolling Stones, com quem tomei contato com o blues (obrigado Brian Jones!). Mas a grande influência, e o que me fez a cabeça em definitivo, foi ouvir guitarristas como Hendrix, Robin Trower, Alvin Lee e bandas como Cream. Mountain, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple (obrigado Ritchie Blackmore, tb!), e algumas do progressivo, Jethro Tull, Procol Harum e Yes.

2112. Entre as bandas citadas qual delas se tornou influência direta na sua carreira?

Jessé: Inegavelmente Jimi Hendrix. Foi um catalizador que bebeu na fonte do blues (T-Bone Walker, Buddy Guy, Freddie King, entre outros) e catapultou sua influência para as gerações seguintes. Quando você assiste, mais de quarenta anos após sua morte, guitarristas virtuoses como Malmsteen, Vai e Satriani, fechando seus shows com músicas dele, dá pra concluir que ninguém posterior a ele, escapou de sua influência.
2112. A atual cena do rock te empolga?

Jessé: Raras exceções me empolgam hoje: Joe Bonamassa, Eric Gales, Walter Trout, o velho e bom Robin Trower, e outros poucos, ainda me fazem arrepiar, e se salvam nesse mar de sons descartáveis.

2112. Vejo o período 1965/1975 como os mais férteis do rock servindo de base para o que viria a ser o punk, a new wave, o eletrônico... e mesmo os revivais do rock'n'roll, do hard rock, do funk etc. Foi um período de grandes bandas, grandes discos...

Jessé: As bandas dessa década se digladiavam sempre em nome da criatividade. Álbuns maravilhosos um após outro. Até que as grandes gravadoras tomaram as rédeas e impuseram "sempre mais do mesmo" para otimizar lucros.

2112. Mas voltando a sua carreira que bandas você participou até formar a Blindog?

Jessé: Nos anos 60s as principais foram Blue Star e Beatos, de bailes. Nos aos 70s e 80s, já com trabalhos autorais e releituras de clássicos do rock e do blues, Sepulcro, Nó Virgem e Atalho Tao. Nos anos 90s, Bluedog (1993 e 1994), Irmandade do Blues (1994 e 1995) e Blindog (1995 até hoje).
2112. Existe registros desses períodos?

Jessé: Lamentavelmente muitos registros foram perdidos, mas no Youtube Banda Blindog, estão sons da banda Atalho Tao na música Brasileiro Nato-1983 (Maria da Paixão/vc, Reynaldo Alves/bx, Roberto Batera, e eu-gt);  banda Bluedog (com Silvio Alemão/bx, Armando De Julio/bt, Vasco Faé/vc e gaita, e eu-gt) 1993-numa versão de Little Wing/Hendrix no lendário Jazz and Blues-Santo André; banda Irmandade do Blues na TV Alphaville-1994 (formação do Bluedog, acrescido do guitarrista Edu Gomes) nas releituras de Big Bill Blues (Big Bill Broonzy) e Screaming Night Hog (Steppennwolf), e da banda Blindog, músicas do último CD "Paulicéia & Madrugada & Blues". 

2112. A Blindog tem mais de vinte anos de estrada e já lançou três álbuns: Blindog (95), Sampa Midnight (03) e Paulicéia, Madrugada, Blues (10). Quando você decidiu que era a hora de criar a sua própria banda?

Jessé: Na verdade, Blindog é mais que uma banda, é um projeto musical que tem o blues-rock como base sonora, que se iniciou na banda Bluedog, passou pela Irmandade do Blues (que seguiu seu caminho, com sucesso), e se consolidou na banda Blindog. Nessa trajetória a banda teve várias formações, tendo vários músicos de talento e dedicação passado por ela, e contribuído para seu estágio atual.

2112. A início foi difícil encontrar pessoas com as mesmas idéias que a sua?

Jessé: Como se trata de uma banda com som e 7list focado numa vertente específica do Rock e do Blues, poucos são os músicos que se adaptam, e se sujeitam tirar músicas em casa, ralar em ensaios antes de subir em um palco, preferindo um repertório mais comercial/standard, de fácil aceitação, e visando retorno financeiro imediato. Por isso, sou sempre agradecido aos que abraçaram e contribuíram para esse projeto musical.
2112. Na entrevista concedida a Guitar Player você mencionou possuir um banco de riffs e levadas que serve de base na hora de compor. Como isso funciona?

Jessé: Sou um cara que transpira música, acordo e durmo ouvindo bons sons. Ouço de tudo! Então, em vários momentos me vem fagulhas/idéias de composições, levadas, riffs...Através dos tempos fui registrando essas idéias de todas as maneiras, gravando, escrevendo...Então há uns 10 anos gravei todo esse material, subdividido em riffs, de onde seleciono as introduções, pontes e finais, e levadas. Isso facilita muito na hora de compor. É "só" aplicar bom senso, criatividade e inspiração. Tem me facilitado a vida! Ainda tenho umas 20 horas de gravações inéditas. 

2112. Você é do tipo que compõe muito?

Jessé: Compunha quando tinha um trabalho/gravação para fazer. Hoje estou mais empenhado. Para o instrumental, e arranjos, tenho maior facilidade. Quanto a letras/líricas sou bem mais crítico e sofro um pouco. Com a atual situação econômica, onde os contratantes pagam os músicos com a sobra de caixa, quando pagam, a banda Blindog resolveu se concentrar em gravar materiais inéditos, e menos palco, o que vai demandar um exercício maior de composição. Eu curto!

2112. Qual o parâmetro que você faz de um álbum para o outro?

Jessé: Quem acompanha a trajetória da banda Blindog sabe que o som tem uma cara, uma personalidade: É blues para os roqueiros e rock para os bluseiros. É esse lema a ser mantido em cada novo trabalho.
2112. Motoboy é um relato sincero do dia a dia de muitos brasileiros. A temática me trouxe na cabeça a letra de Eu sou Boy do grande Kid Vinil que retratava com muito bom humor a dureza da vida de um trabalhador. Isso de uma certa maneira cria um elo importante entre a banda e o ouvinte, não é?

Jessé: Também entendo assim. Motoboy é uma singela crônica do dia-a-dia dessa classe batalhadora, sofredora e, às vezes, com razão, incompreendida. 

2112. Traduz: paulicéia, madrugada, blues...

Jessé: Com o quarto CD "Avenida Paulista", completamos a trilogia de tributo a capital paulista, uma metrópole com suas virtudes e mazelas, mas acolhedora. E não tem nada mais bluezy que o centro velho de SP em plena madrugada.

2112. Vocês se preparando para gravar o quarto álbum da Blindog com previsão de lançamento para final deste ano. Vocês já tem uma data prevista para entrar em estúdio? Como anda a pré-produção?

Jessé: Está tudo planejado para em Julho/19 começarmos a gravação do CD autoral "Avenida Paulista" (provavelmente com 14 músicas, 12 inéditas e 2 regrações). A pré-produção está concluída, só estamos revisando.
2112. Quem irá produzir o álbum?

Jessé: Como já me envolvi na produção do CD "Sampa Midnight" e coproduzí "Paulicéia & Madrugada & Blues" (junto com o fera e mestre Alexandre Fontanetti), provavelmente irei produzir "Avenida Paulista".

2112. Você pretende usar a mesma sonoridade analógica para a gravação do novo álbum como no Paulicéia...?

Jessé: No que for possível, sim. Acho mais "quente" o som. 

2112. Haverá algum single antecendo o lançamento do álbum?

Jessé: Provavelmente a música título "Avenida Paulista".

2112. ... o microfone é seu!

Jessé: Aproveito para agradecer aos fãs da banda Blindog, às casas/eventos em que temos tocado por prestigiarem a música ao vivo, aos músicos que passaram pela banda pela contribuição, e aos atuais Marcelo Viterite, bateria e Michele Naglieri, vocal e baixo por dividirem comigo o peso de manter ativa uma banda independente e a chama acesa do blues-rock tupiniquim! 

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