O Blog 2112 vive procurando novidades fora do eixo
Rio-São Paulo e numa dessas paradinhas na net dei de cara com a galera do
Prognoise. A banda é de Rondônia e faz um prog maravilhoso e que prova que o Brasil
emite ondas sonoras de todos os lados e merece ser captado por seus ouvidos. Se
liga, cara!!
2112. O rock progressivo nestes últimos anos
deu uma reviravolta de 360 graus deixando o underground para retomar o seu
lugar de direito. Como surgiu o Prognoise?
Zeno. A banda surgiu em 2012. Veio da ideia de fazer música autoral com a
estética do que conhecemos como rock progressivo.
2112. O progressivo é um dos ramos mais
democráticos e criativos do rock’n’roll justamente por agregar em sua rica
musicalidade vários tipos de sons. Vocês também ouvem vários tipos de sons?
Alessandro. Eu acho sinceramente que seria impossível, prá mim, tocar rock
progressivo sem ouvir várias coisas. É dessa diversidade que surge a
vontade de misturar ritmos, compassos, estilos que compõem o progressivo. Como você mesmo coloca sobre o quão democrático
é o rock progressivo (e a música em geral), há momentos para se ouvir de tudo –
ou quase tudo. Um bom exemplo disso é o que acabou surgindo em nossa nova
música, Incandescente. O que ouvimos, de
uma forma ou de outra, acaba transparecendo em nossa música.
Zeno. Escuto muito rock e MPB. Gosto de jazz e música clássica. Recentemente
tenho curtido muito música pop dos anos 80. Considero me musicalmente muito
eclético.
2112. Eu sempre acreditei que é na mistura
de influências que se cria uma nova música. Um músico com sérios objetivos só
rompe fronteiras quando vence os próprios preconceitos...
Alessandro. Infelizmente existe uma linha tênue entre o que é preconceito e o que é
critério. Indo além, entre isso e o que é, simplesmente, gosto musical. Vivemos uma multipolarização na política, na
questão de gêneros e em vários pontos da sociedade em geral em que não se pode
mais dizer que não gostamos de algo, que já somos criticados e taxados de anti
isso, anti aquilo. Um músico com sérios objetivos precisa se livrar do
preconceito, mas tanto quanto isso, precisa definir bem seus critérios e se
conhecer ao ponto de conseguir definir bem em seu trabalho quais serão suas influências
– e isso, tirando a cópia grosseira – é involuntário.
2112. Quando ouço bandas como King Crimson,
Led Zeppelin, Traffic, Jimi Hendrix, Jethro Tull... é que se vê até onde um
músico pode chegar em termos de níveis de criatividade...
Zeno. De modo geral sinto que as melhores coisas foram criadas nos anos 60 e
70 e que atualmente vivemos a experiência de reviver antigas ideias em novos
contextos. Parece que serve prá tudo que nos cerca. Na música, a criatividade
hoje parece ser a capacidade de reinventar aquilo que já existe.
2112. Existe uma lenda sobre a gravação da
música “Achilles Last Stand” do álbum Presence do Led Zeppelin que Jimmy Page
queria um efeito orquestral. O cara simplesmente entrou em estúdio e gravou
várias afinações nas guitarras e depois mixou todas elas conseguindo enfim o
efeito desejado. Isso é uma coisa pouco usual... é coisa de gênio! Na opinião
de vocês como está o cenário musical hoje?
Zeno. Tem a ver com o que eu disse na questão anterior. Sinto que não há mais
a mesma originalidade, mas ainda há criatividade na reinvenção. Vale dizer
também que as melhores coisas da música hoje não estão na grande mídia.
2112. Quais bandas mais influenciam o som de
vocês?
Alessandro. Conheci King Crimson a partir do Zeno. Sensacional. Eu sou fã incondicional do Rush. Adoro ligar o computador e colocar as
“trocentas” músicas do Jethro Tull para tocar, enquanto trabalho em casa.
É completamente desnecessário dizer que também tem o Floyd, Deep Purple,
Genesis, Casa das Máquinas, Som Nosso de Cada Dia, Violeta de Outono, entre
tantos outros....
Zeno. Pro som que fazemos, penso que Pink Floyd, King Crimson e Jethro Tull
estão entre as maiores influências. Isso como banda, mas tem as influências
individuais. Nesse quesito, além dessas citadas, tenho uma influência forte de
Queen e Beatles.
2112. O advento do punk rock trouxe o básico
de volta o que de uma certa maneira jogou o progressivo numa rota suicida.
Várias foram as bandas que abriram mão de sua genialidade em favor de um som
mais comercial. Vocês como fãs/músicos concordam com esse tipo de atitude ou
eles tomaram a decisão mais acertada naquele momento?
Alessandro. Essa escolha entre o tradicional e o comercial sempre deve ser encarada
como algo absolutamente pessoal. Não cabe a nós julgar quem fez a escolha
A ou B. Só quem está diante de uma
necessidade de escolha sabe exatamente suas razões. No fundo, a música é
uma arte que tem espaço para todos; o rock, um dos estilos mais democráticos de
todos, como já dito anteriormente apresentou, ao longo dos anos toda essa
possibilidade, para quem quis e quer aproveitar, e se permite utilizar de todas
as formas possíveis... é essa diversidade e multipotencialidade que
faz do rock o estilo rico que é.
Zeno. O rock não precisa ter amarras. Qualquer radicalismo é perigoso, então
tudo pode ser compreendido, inclusive a ideia de fazer músicas mais “pop”. Se
for espontâneo, então tá valendo. Quem não gostar tem todo o direito de não
consumir. Digo tudo isso hoje após anos já mais maduro quanto ao tema. Nos meus
20 anos eu não suportava escutar Genesis na fase pop por exemplo. Hoje eu curto
sem problema, apesar de saber que no meu conceito de estética musical, Genesis
da fase pop é sempre infinitamente inferior ao Genesis da fase Prog. Mas
às vezes a mente pede algo menos complexo pra se distrair.
2112. Eu vejo os anos 80 como a década mais
nociva musicalmente falando se levarmos em conta que 80% da sua produção soa
descartável e datado. Achei o Neoprog com algumas poucas restrições um
verdadeiro tiro no escuro...
Alessandro. Essa pergunta tem tudo a ver com a anterior. No fundo, a produção
daquela época serviu para traçar um parâmetro e poder crescer com isso.
No final das contas, o que é ruim sempre some, enquanto que o que é bom
sempre fica.
Zeno. Tenho curtido muito Marillion ultimamente. Gosto de várias coisas do
Prog dos anos 80 e não gosto de outras.
2112. Sei que o movimento tentou do seu
jeito manter a chama acesa mas muitas bandas apenas soavam como meros clones
dos gigantes dos anos 70. Confesso que não gostei muito, e vocês?
Alessandro. Há de se definir o que é influência e o que é cópia. Isso existe
em todos os estilos, não só do rock, como em outras linhas musicais. Quem ouve
nossa música percebe influências, mas tomamos o cuidado de não sermos cópias.
Esperamos que as pessoas percebam isso em nosso trabalho
Zeno. Como disse antes ... gosto de algumas bandas e não de outras. Citei
Maríllion, mas gosto de IQ também. Já não curto muito Collage por exemplo.
2112. A banda já lançou um EP Esquizoide e
está em vias de lançar o segundo. Como é o processo de composição de vocês?
Todos colaboram?
Alessandro. O principal compositor da banda é o Zeno Germano. Geralmente, ele chega
com o “esqueleto” da música. A partir daí, existe uma abertura e uma
colaboração, principalmente nos arranjos, onde todos participam. Começamos a trabalhar na música e vamos todos
colaborando, trazendo suas influências, ideias... tentamos, testamos, erramos,
e por aí vai, até chegarmos ao que achamos um trabalho pronto. Quando
percebemos, temos 12, 14, 16 minutos de música.
2112. Fale um pouco sobre as gravações de
Esquizoide? Foi a primeira experiência em estúdio de vocês?
Zeno. Na época, fizemos nosso melhor. Foi divertido.
2112. Alguma curiosidade de estúdio?
Alessandro. O metrônomo é o terror do contratempo nos compassos quebrados...
Zeno. Concordo ( risos)
2112. O novo EP será lançado ainda este ano?
Dá para adiantar alguma coisa? O que os fãs da banda podem esperar?
Alessandro. Com uma maturidade maior, atrelada a um trabalho de equipe também maior,
fica notório que o disco é mais rico, musicalmente falando. No Solar
temos nossa primeira composição em Inglês, que é justamente Hanging
Garden. Originalmente, ela era em português. Na construção da música, percebemos algo em
relação à métrica e resolvemos “testar” uma transcriação para o inglês, que
apresentou essa metrificação mais acessível. Temos participações
especialíssimas de alguns músicos da cidade, como o Hercílio Santana, que toca
viola caipira, e a soprano cantora Mariana Gonçalves, que só enriquecem nosso
trabalho.
2112. O Festival Totem Prog apenas comprovou
o que muitos fãs sempre souberam: ainda existe um público fiel que cultua suas
bandas. O que vocês tem ouvido de bacana?
Zeno. Tenho curtido muito bandas de Prog brasileiras como Vitral e Caravela
Escarlate.
Alessandro. Eu sempre ouço Rush! Eles fazem umas quebradas muito interessantes. Também sempre ouço Jethro! Vitral
e Caravela são bandas que conheci agora e aprecio muito! Um
trabalho muito rico e interessante!
2112. Vejo que o prog hoje está mais forte
que nos últimos anos levando em conta a quantidade de bandas surgidas e os
muitos festivais em torno do mundo, não é?
Alessandro. A tecnologia certamente tem sua parcela de contribuição nisso tudo.
O progressivo é um estilo musicalmente mais complexo. Ficou muito mais “fácil” gravar e divulgar
trabalhos em geral. Sabemos que existem talentos espalhados no mundo
inteiro e que não aparecem por falta de acesso, possibilidades etc. o século XXI trouxe uma possibilidade gigante
de produzir e mostrar os trabalhos. Consequentemente, cada vez mais vai
surgir coisa boa e ruim. Ao mesmo tempo que ficou mais fácil produzir, tudo
ficou mais acessível, com interação global.
2112. Falando de renascimento... como é a
cena aí em Rondônia? Tem muitas bandas bacanas?
Alessandro. Fora do progressivo, tem algumas bandas legais, que estão na batalha
tanto quanto a gente.
2112. Acontecem muitos eventos por ai?
Alessandro. Infelizmente não. Este ano de 2018 foi bem interessante, pois criou-se o
Boto Rock Festival, com quase 40 bandas, em 2 dias, produzido pela Fundação
Cultural de Porto Velho, que nos deu a oportunidade de conhecer bandas
interessantes e mostrar nosso trabalho para um número maior do que aqueles que
já nos acompanham. Houve também, em Ji Paraná, no interior, o Rondon Rock
Festival, com mais de 40 bandas em três dias.
Fora isso, há alguns locais para tocar, mas eventos, propriamente ditos,
somente de forma independente.
2112. Tem mais bandas progs além de vocês?
Quem vocês destacariam?
Alessandro. Particularmente, não tenho conhecimento de outras bandas que façam rock
Progressivo propriamente dito, embora haja alguns trabalhos instrumentais e
experimentais, como a Tuer Lapin, que faz um som bem interessante aqui em Porto
Velho. No restante do estado, não conhecemos. Na década de 90, já havia esse passeio pelo
rock progressivo, com o Zeno e outros amigos nossos, com bandas como Fermata
Aquarius de 1991 a 1993 e Perigeu de 1995 a 1997.
2112. Que conselhos vocês dão para quem está
começando?
Alessandro. Tenho um certo receio sobre essa história de dar conselho para quem está
começando. Nós estamos começando!
O que nós tentamos fazer é, primeiramente, respeitar um ao outro,
principalmente quando estamos compondo. Cada um é um mundo diferente, então
todos temos que estar preparados para ouvir qualquer ideia que venha de
qualquer um de nós, ao mesmo tempo em que temos que estar preparados para que
nossas ideias sejam rejeitadas pela banda. Afinal, o objetivo é fazer uma
boa música. Se você percebe que 3 ou 4
da banda argumentam contra uma ideia, isso pode significar que ela pode ser
descartada. Outro fator é o nosso foco,
que não é ficar tocando em bares e locais fixos. Nosso tempo é muito limitado, então tentamos
aproveitar ao máximo para produzir.
Porém, essa resposta acaba retomando uma pergunta anterior, sobre os
objetivos de cada banda, de cada músico...
Zeno. Estamos sempre começando... Mais uma coisa que penso ser importante
transmitir: Quem faz rock precisa saber da história do estilo. Penso que isso é
até mais importante do que ser um músico fenomenal.
2112. O microfone é de vocês...
Zeno. Queremos que as pessoas escutem nossa música e gostem. Basicamente
isso! Obrigado Carlos, pela oportunidade!!!
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