Desde os anos 60 que o
sul do país tem bombardeado o cenário do rock com bandas sensacionais... Mas nos
idos dos anos 70 o cenário do rock deu uma esfriada com a entrada da dance
music o que dificultou encontrar locais e mesmo gravadoras que fecharam suas
portas para quem insistia em fazer rock’n’roll. Com isso muitas bandas acabaram prematuramente e outras se mantiveram
às duras penas lutando contra a corrente para sobreviver. Nesse turbilhão surge
os Garotos da Rua formada por adolescentes que acreditavam no rock, gravaram um
mega hit “Tô de saco cheio” virando o Brasil de ponta cabeça.
2112. Este ano a banda
completa 35 anos de estrada... Quais são os projetos para comemorar a data e o
que os fãs podem esperar?
Edinho Galhardi. Os fãs dos Garotos da Rua, estão
muito gratos com esse Projeto Garotos da Rua Revival. No final dos shows, nos
agradecem com muito carinho, muitas fotos, etc..
2112. Como foi criar uma
banda de rock’n’roll numa época em que as rádios não tocavam mais este tipo de
som? O que levou um grupo de adolescentes a criarem um som tão retrô?
Edinho Galhardi. Eu e Bebeco já tocavamos rock
desde 1970, com algumas formações como: Farinha do Bruxo (Blues) e mais o
baixista Tadeu Demarco. Este cantava as letras como um repente. Tínhamos o tema
e desenvolvíamos a letra no palco. Grande experiência. Depois A Barra (Edinho,
Bebeco, Tadeu e Felipe Soares-guitarra) Rock'n roll puro, com onda latina.
2112. Em pouco tempo vocês se
tornam a principal atração do bar Rocket
88 um dos grandes redutos do rock’n’roll na cidade. A início como era a
reação do público frente a música e a performance da banda?
Edinho Galhardi. No Rocket éramos a banda da casa.
Bebeco, Edinho e Mitch Marini. Na época não havia mais bandas de rock, a não
ser o Taranatiriça, que continuavam tocando na casa do batera. Compomos uma
música chamada Droga de Rock, que falava justamente por não tocar rock... Vamos
ver onde vai parar essa " Droga de Rock". Até hoje não paramos de
tocar. A reação do público foi das melhores. Curtiam muito! Fazíamos duas
entradas por noite. Tínhamos público assíduo... muitos músicos. Lembro de uma
menina que por duas vezes subiu na mesa e começou a tirar a roupa, para delírio
da galera. O Bar do Rocket 88 foi fundado por Mutuca (Carlos Eduardo
Weyrauch), nosso grande amigo.
2112. Ainda neste ano vocês
lançam a primeira demo “Sabe o Que
Acontece Comigo?” e iniciam uma série de shows por Porto Alegre e Rio
Grande do Sul com grande sucesso. Fale um pouco sobre a gravação e o impacto deste
trabalho entre os fãs!
Edinho Galhardi. Gravamos na Isaec, 4 canais, pela
ACIT, compacto " Programa". A Rádio Ipanema foi grande responsável
por esse movimento, e tivemos também dois grandes produtores, que vendiam os
shows e nos tornaram nessa época, pioneiros no Rio Grande do Sul. Tínhamos um
casarão para ensaios e escritório. Foi forte! O público ia ao delírio com os
shows.
2112. 1985 é o grande ano da
banda... é lançado Programa o primeiro single pela gravadora ACIT, participam
da lendária coletânea Rock Garagem e ainda assinam contrato com a major RCA
para o lançamento do primeiro trabalho que trouxe o hit Tô de saco cheio. Foi um
ano bem corrido, não?
Edinho Galhardi. Realmente foi bem corrido, ano
ótimo. O compacto Programa e Sabe o que acontece comigo. Coletânea Rock Garagem
com a música Levaram Ele história de um amigo que surtou com a crise e foi
internado pelos pais. Na clínica ensinou aos pacientes o refrão "Levaram
Ele...Levaram Ele..." e Rock Grande do Sul com Tô de Saco Cheio, tocando
em todo país.
2112. Não podemos deixar de
mencionar a participação de vocês no Festival MPG, no Parque Marinha do Brasil, em Porto Alegre com a banda
tocando para um público de 40.000 pessoas. Como foi esta experiência?
Edinho Galhardi. Esse show foi o maior evento em
Porto Alegre. Várias bandas... uma grande experiência... muita emoção.
2112. O imenso sucesso levou
vocês a deixarem Porto Alegre para morar no Rio de Janeiro? Vocês conseguiram
se adaptar?
Edinho Galhardi. Com o sucesso da música Tô de
Saco Cheio, vieram os pedidos de shows. O primeiro show no Rio de Janeiro, foi
na Lagoa Rodrigo de Freitas. Nossa adaptação foi ótima. Fomos morar em apto de
5 quartos a 50 metros da Vieira Souto, Ipanema. Mas sentimos falta do nosso
público gaúcho.
2112. A cena carioca era
muito diferente da que estavam acostumados em Porto Alegre, não é?
Edinho Galhardi. Sim...
2112. Na sua opinião quais as
vantagens e desvantagens de sair de um selo independente para uma grande
gravadora?
Edinho Galhardi. Todas as vantagens. Divulgação
nacional, incluindo jornais, rádios, revistas, tvs e distribuição de discos.
Vida 5 estrelas, na época.
2112. Diante de tanta coisa
bacana acontecendo como foi as gravações de Garotos da Rua na RCA? Vocês
tiveram tempo suficiente em estúdio e liberdade na escolha do material que iria
ser gravado?
Edinho Galhardi. Sim, fomos gravar no RJ e tivemos toda liberdade
de escolha do material, inclusive com participações especiais e todo tempo
necessário.
2112. Como surgiu a
participação do Celso Blues Boy em Não é você?
Edinho Galhardi. Conhecemos Celso Blues Boy
dividindo o palco. Entre um bate-papo e uma cerveja, convidou Edinho para rolar
um som em sua casa. Tínhamos um blues "Não é Você" para gravar. Tudo
certo. Foi aí que convidamos ele para produzir a faixa. E mais a participação
do saxofonista Sapão, que conheci tocando na orquestra do Programa do Chacrinha.
2112. O disco trouxe hits do
calibre de Gurizada Medonha, Babilina, Você é Tudo que Eu Quero, Sabe o Que
Acontece Comigo? e Não é Você. Como era os shows? Havia uma boa resposta por
parte do público?
Edinho Galhardi. Sim, os shows sempre foram bons,
com muito carinho do público.
2112. Em 1986 é lançado Dr. em Rock 'n' Roll que trouxe o hit Eu
Já Sei sucesso nas rádios e posteriormente incluída na trilha sonora da novela
Mandala. Foi um período de grande afirmação para vocês não é?
Edinho Galhardi. Dr. em Rock'n Roll, 1986... com a
música Eu Já Sei. Inicialmente eu e Caramez começamos compor para o Bebeco.
Depois ele deu um toque de mestre e virou um hit até hoje. Grande afirmação!
2112. Em 1988 com o lançamento de “Não basta dizer
não” vocês incluem o blues e o rhythm and blues na receita musical da banda o
que dá uma amplitude sonora maior para vocês experimentarem. O que ocasionou
esta mudança?
Edinho Galhardi. Em "Não Basta Dizer
Não", resolvemos abrir um leque que enriqueceu o repertório.
Funk, soul, rhythm blues foram muito bem aceitos pelo nosso público.
2112. Meu Coração Não Suporta
Mais, Harley Davidson Blues e Só Pra Te Dar Prazer se destacaram no
repertório... O que os fãs acharam desta mudança?
Edinho Galhardi. Os fãs sempre aceitaram as
mudanças com carinho.
2112. Mesmo com o sucesso
batendo a porta, a banda deu uma sumida reaparecendo apenas em 2016 com uma
nova formação e o inédito Volt. Havia muita pressão em cima de vocês? O que
realmente aconteceu?
Edinho Galhardi. Muitas
mudanças. Justino foi para Los Angeles e a relação com a Gravadora desgastada,
procuramos fazer uma última excursão pelo Rio Grande do Sul, antes de
parar a banda. Convidamos Mimi Lessa ex guitarrista do Bicho da Seda e
Frenéticas. Nesse período, eu, Edinho Galhardi registrei o nome Garotos da Rua
no INPI para nossa proteção perante a Gravadora. Após um bom tempo, Justino (último
a entrar na banda e o primeiro a sair), tomou o nome e usou durante muito
tempo, impossibilitando eu e Bebeco de um Revival. Continuamos a tocar a
carreira solo de Bebeco. Depois de sua morte, ao revirar gravações antigas dos
Garotos, encontrei várias músicas inéditas do início da Banda. Chamei
alguns amigos para gravar três músicas. Ficaram ótimas. Foi aí que decidi fazer
o CD Volt, com a parceria de Carlos Caramez, letrista dos Garotos. Quando fui
registrar a Banda Volt no INPI, a grande surpresa de que o nome Garotos Da Rua
estava liberado. Retomei o nome. Como a Volt era uma continuação dos Garotos e
o cantor não gostava disso, chamei Rodrigo Teles (Zebu), meu amigo e do Bebeco
de longa data. Também grande fã da Banda. Ficou excelente. Garotos da Rua
Revival.
2112. A constante mutação do
cenário musical intimida vocês ou o que importa é o rock’n’roll e dane-se o
resto!
Edinho Galhardi. O que importa é que curtimos
tocar um bom rock'n'roll desde sempre.
2112. Gene Simmons do grupo
Kiss afirmou que o rock morreu. O que vocês pensam a respeito disso?
Edinho Galhardi. "Andam dizendo por aí que o
rock vai morrer. Meu Deus o que é que eu vou fazer??? Já sei, vou me matar
também..." Música "Garotos da Rua", de Carlos Caramez e
Sérgio Mello. Distribuída pelo Pasquim, vendida em bancas de jornais, nos anos
70, com produção de Belchior. Vamos levar sempre essa bandeira.
2112. Vocês ainda ouvem os
mesmos discos?
Edinho Galhardi. Mesmos discos não. Mas a mesma
onda sim.
2112. A distribuição gratuita
de arquivos na internet incomoda?
Edinho Galhardi. Distribuição gratuita hoje é
assim, mas não incomoda.
2112. O microfone é seu...
Edinho Galhardi. Deixo aqui um grande abraço aos
fãs dos Garotos da Rua. Prometemos continuar dando o melhor, para
podermos retribuir o carinho emocionante dos fãs nos finais dos show's. A nova
formação tem Rodrigo Teles ( guitarra e vocal) Eric Peixoto (guitarra), Paulo
Franzmann (baixo) , Edinho Galhardi (bateria) e Clayton Chiesa (teclados). O
site da banda: www.garotosdarua.com.br
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