Rio Grande do Sul sempre foi um celeiro de
grandes músicos e bandas... quem conhece
e acompanha a cena sabe o que estou dizendo. E é dentro deste contexto
que surge Maria Rita Stumpf, cantora admirada mundo afora por seus trabalhos e
conhecimentos musicais que ultrapassa barreiras culturais e linguísticas. Seu
primeiro LP “Brasileira” é disputado a tapa no mercado europeu pela sua
diversidade musical ao explorar uma infinidade de sons dentro de uma visão toda
própria. E é com muito orgulho que o 2112 apresenta esta entrevista. Saia de
sua área de conforto e aprenda a caminhar por outras vias musicais a que você não
está acostumado. Aventure-se!
2112. Primeiramente, qual é a sua formação musical?
Maria Rita Stumpf. Apesar de ter estudado no
Instituto de Artes de Porto Alegre e na Orquestra Sinfônica de Porto Alegre sou
autodidata. Componho com a voz e não conecto escrita musical com música.
2112. Como você se descobriu cantora e compositora?
Maria Rita Stumpf. Compositora aos 14 anos e duas
maravilhosas cantoras que infelizmente não seguiram carreira, magníficas vozes
cantavam minhas composições Mirian Gazola e Berê, ambas do Sul. Comecei a
cantar mais tarde quando fui morar em Porto Alegre e elas seguiram outro rumo.
Tínhamos um grupo do qual também participavam Luiz Paulo Faciolli e Germano
Maraschin, excelente letrista, e o flautista Ricardo Guimarães, em Caxias do
Sul. Quando me mudei para Porto Alegre para cursar jornalismo encontrei Ricardo
Bordini, grande parceiro musical da vida toda.
2112. A princípio qual cantor/cantora despertou em você
o desejo de cantar?
Maria Rita Stumpf. Nenhum em especial. Quando eu era
muito jovem, até os 17 eu não conseguia cantar, porque chorava ao cantar. Ouvi
muita música clássica, muitos coros de ópera e gostava muito do som de vozes
cantando juntas. Mas sempre tive grande admiração por cantoras como Ângela
Maria, vozes negras do gospel americano, Maria Farandouri, grega, Mercedes
Sosa, Elis Regina, obviamente.
2112. Você participou de vários festivais no Rio Grande
do Sul onde chegou classificar Cântico Brasileiro No 3 (mais conhecida como
Kamaiurá!) na 3ª edição do Musicanto. O que este prêmio representou para você?
Maria Rita Stumpf. Na época uma injustiça, pois não
deveríamos ter ficado em terceiro... e depois praticamente nada pois nem
mesmo sou mencionada nas memórias deste festival que eu nem sabia que tinha um
site ou algo assim. Olhei de curiosidade e não vi nenhum registro... Não
participei de tantos festivais em comparação à quantidade que existia e
mulheres compositoras não tem muito espaço nestes festivais até hoje. Menos
ainda com o tipo de música que eu faço.
2112. Como era a cena do Rio Grande do Sul nesta época?
Maria Rita Stumpf. Muitos músicos novos surgindo,
cultura sofrendo com a ditadura e falta de recursos, muita criatividade e muita
dificuldade. Como até hoje.
2112. Sempre afirmo que para um músico descobrir uma
linguagem própria ele precisa antes de mais nada estar aberto as várias
manifestações musicais. Um músico ou um instrumentista que se feche ficará
preso dentro do seu mundinho e em nada acrescentará a evolução da música. Um
músico/banda precisa estar em constante movimentação, não é? Você concorda com
estas afirmações e quais são as suas influências?
Maria Rita Stumpf. Concordo totalmente e tenho pena
de não poder conhecer mais, ouvir mais, ver mais. Tive a sorte de viajar por
muitos lugares e poder acessar desta forma a música de grupos e pessoas tão
diferentes quanto o Egchinglen da Mongólia quanto de minha querida amiga
Choying Dolma, monja nepalesa ou Luna la Nube da Galícia, Afroceltic da
Irlanda, ... e tantos e tantos... Minhas influências são muitas e misturadas.
Tantas que nem sei, incluindo a música de galpões do sul e filarmônicas do
mundo todo.
2112. Em 1985 você se muda para o Rio de Janeiro para
estudar com o maestro Luiz Eça um dos grandes ícones da MPB. O que isso
representou para você e sua música?
Maria Rita Stumpf. Luizinho foi um grande mentor e
grande amigo. As gravações com ele foram momentos que jamais esquecerei, aulas
de composição e respiração em plena gravação. Tocamos ao vivo muitas vezes e
sempre foi uma grande experiência. Estudei a vida com Luizinho e a música
acompanhava.
2112. Neste período você apenas estudou ou fazia shows
nos tempos livres?
Maria Rita Stumpf. Eu trabalhava como produtora e
cheguei ao Rio selecionada pela Funarte para show na Sala Sidney Miller que fiz
3 meses após chegar dividindo palco com João de Aquino. Conheci Mauricio
Carrilho nesta época também e os shows eram esporádicos de acordo com as
possibilidades do trabalho. O estudo com Luizinho não era formal, era prático.
2112. Em 1987 você gravou o LP Brasileira com treze
canções autorais, arranjos e participações de Ricardo Bordini, Luiz Eça e o
grupo mineiro Uaktí e que obteve excelentes críticas. Você se lembra de como
foram as gravações?
Maria Rita Stumpf. Eu gravei uma de Lupicinio
Rodrigues com um inspirado arranjo de Ricardo Bordini, Luiz Paulo Faciolli e
Julio Saraiva e o canto angolano que chamei de Lamento Africano, não eram todas
minhas. A Cidade é uma parceria com Ricardo Bordini. Lembro de cada uma das
gravações. Gravei quatro com o Uaktí e arranjos de Marco Antonio Guimarães no
estúdio Bemol em BH. Gravei duas com Luizinho num apartamento no Flamenco de um
amigo maravilhoso, pois ali tínhamos o piano que o Luiz queria e excelente
material de som. Também gravei neste apartamento e não em um estúdio as
composições em que toco violão e as que gravei com Ricardo, onde ele toca todos
os instrumentos.
2112. Neste período você realizou shows de lançamento
deste trabalho no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Salvador e Porto Alegre.
Esses shows foram decisivos em sua carreira?
Maria Rita Stumpf. Estes shows representaram o
início de uma carreira, que se desenvolvia como já disse com muita dificuldade.
Não só para mim mas para muitos criadores na época. A certo ponto,
desisti.
2112. Em 1989 você foi indicada como cantora revelação
para o prêmio Prêmio Sharp. O que isso representou para você?
Maria Rita Stumpf. Um reconhecimento que foi
importante de todas as maneiras. Fiquei muito agradecida por isso.
2112. Mapa das Nuvens lançado em 1983 contou com a
participação de grandes nomes da MPB como Marcos Suzano, Danilo Caymmi, Farley
Derze, Lui Coimbra, André Santos e Eduardo Neves. Conte um pouco sobre este
trabalho e sobre a repercussão que ele trouxe para você.
Maria Rita Stumpf. Este CD trazia as músicas
gravadas com o Uaktí e com Luiz Eça. Ampliou a experiência sonora e trouxe
grandes amigos, mas após lançar no Rio de Janeiro, em duas memoráveis noites no
Jazzmania, enfrentei problemas com um músico, que acabou prejudicando a mim e aos
demais, e perdi a vontade. Parei, já tinha criado minha empresa, a Antares que
dirijo até hoje e agora se tornará a produtora de meu trabalho artístico.
Voltas da vida que sempre tem lógica quando observadas de longe.
2112. Você compôs músicas para oito poemas de Mário
Quintana e gravou duas: Canção da Garoa e Canção de Barco. O que levou você a
musicar estes poemas e o que pensa em fazer com as seis que permanecem
inéditos? Que tal um disco tributo a este grande poeta?
Maria Rita Stumpf. O que levou foi o amor e
admiração por este poeta e por sua poesia, sua simplicidade genial. Já tentei
em vários editais verba para gravar todos, mas até agora... Ainda não desisti
de gravar todos e penso compor alguns mais sobre poesia de Cora Coralina,
quando estiver em sua hora deve surgir.
2112. Neste período você se apresentou em diversos
teatros no Rio de Janeiro, com destaque para o show no Jazzmania tendo em
alguns deles a participação de Luiz Eça, Jards Macalé, Nelson Angelo, Laudir de
Oliveira, Totonho Villeroy... O que você sente quando está no palco?
Maria Rita Stumpf. Muitas coisas, pois é uma
experiência complexa e envolve uma interação com os músicos que estão comigo e
com o público e nunca é a mesma coisa. A vontade é de que a música traga luz e
alegria, que aporte alguma coisa boa para todos.
2112. Atualmente está havendo um renascimento da MPB
clássica com a volta de grandes nomes da velha e nova guarda por uma nova
geração antenada como Mariza Monte, Céu, Maria Gadú, Tulipa Ruiz, Silva... o
que possibilitou a volta de muita gente esquecida. Como você o cenário musical
hoje?
Maria Rita Stumpf. Com preocupação pois as condições
seguem difíceis mas existe um público ávido. A banalização de tudo é o que mais
prejudica a manifestação artística, seja qual for. E deste mal estamos sofrendo
todos em grande escala.
2112. A diversidade musical sempre foi o grande trunfo
da nossa música: rock, jazz, blues, forró, samba, pop, toada, sertanejo... Como
você classifica a sua música?
Maria Rita Stumpf. Não classifico.
2112. A partir de 1993 você começou a dedicar-se a
produção à frente da Antares trazendo não apenas ao Brasil mas a vários países
da América do Sul os mais importantes nomes da cena cultural mundial. O que te
impulsionou a tomar esta decisão?
Maria Rita Stumpf. Eu já tinha trabalhado como
jornalista, redatora, produtora em televisão. Comecei a Antares em 1994 e
entrei em áreas não exploradas na época ou pouco exploradas. Sou muito
intuitiva eu não penso e planejo muito e creio que nem decido, as coisas vão
fluindo, como está acontecendo agora.
2112. Outro Tempo: Eletronic and Contemporary Music From
Brasil 1978-1992, faz parte desse projeto que é uma compilação que mistura
ritmos indígenas com sintetizadores, tambores sintetizados com MPB. O trabalho
foi realizado após uma extensa pesquisa de John Gomez e que teve participações
importantes como Priscila Ermel, Andrea Daltro, Fernando Falcão, Nando
Carneiro, Os Mulheres Negras além de você. Você pode nos contar um pouco sobre
este projeto e a importância dele numa época que a música estão tão artificial?
Maria Rita Stumpf. John Gomez encontrou o LP
Brasileira em Tóquio e a partir dele, segundo ele mesmo, teve a ideia de criar
esta compilação. Foi uma grande surpresa receber o primeiro e-mail dele e uma
agradável convivência. Priscila também colaborou para a pesquisa de John. Creio
que a compilação abriu caminhos para criadores que não tiveram espaço em seu
tempo e foi extremamente bem elaborada. Para mim resultou no relançamento do LP
Brasileira através dos DJs da Selvagem, Millos Kaiser e Augusto Trepanado. No
lançamento no Teatro Oficina, ele mesmo um ícone da resistência cultural no
Brasil trouxe um público muito jovem e curioso, entusiasmado e que certamente
trouxe novo ânimo para todos os que se reuniram naquele palco.
2112. Após vários anos dirigindo a Antares você foi
retornou a música, certo? Foi difícil para você manter-se longe da música por
tanto tempo? Neste período você compunha muito?
Maria Rita Stumpf. Jamais compus uma linha neste
tempo. Eu parei totalmente. Até escrevi esporadicamente, mas pouco.
2112. Qual a sua opinião a respeito da distribuição
gratuita de músicas na internet. Isso te incomoda?
Maria Rita Stumpf. Tem pontos favoráveis e
desfavoráveis. Os DJs também se apropriam de músicas e não pagam direitos. O
mercado vai se acomodando pois as mudanças são muitas e muito rápidas. Alguns
compositores tem como forma de difusão somente a internet. É um tema complexo.
2112. Hoje infelizmente a música brasileira está tomada
de artista imediatista que nada acrescentam em termos de qualidade instrumental
e lírico a nossa música. O que você pensa a este respeito e qual seria a
solução para resolver esta questão?
Maria Rita Stumpf. Sinceramente eu não penso nada
pois entendo que existe mercado e existe público para todos os tipos de
manifestação. Mas certamente a educação básica no Brasil é o principal ponto a
ser revisto e a inclusão das artes nos currículos além de outras ações
consequentes que possam atrair interesse e também dar acesso a mais pessoas.
2112. Vi pelas suas redes sociais que você tem uma
preocupação muito grande com a ecologia. Como você vê a atual situação da
Amazônia e do resto do mundo? Na minha opinião se as pessoas não despertarem
para o real perigo que vamos sofrer diante de tanta agressão a natureza. Qual a
sua opinião?
Maria Rita Stumpf. Todos temos que zelar por nosso
planeta e estamos vendo no clima para onde nos dirigimos. Afora ser uma questão
essencial para toda a humanidade tem que ser um compromisso individual. Uma vez
mais a educação é a melhor solução. Existe uma geração praticamente perdida e
outra tentando mudar paradigmas, a tempo, esperamos todos.
2112. Agradeço a sua disponibilidade em dar esta
entrevista e desejar muito sucesso e dizer que o microfone é todo seu...
Maria Rita Stumpf. Obrigada. Envio o post da pequena
turnê de lançamento do LP e me desculpo pela demora. Tive algumas emergências
sérias desde agosto. Mando um abraço, anexo o release de BH que será a base
para todas as cidades.
Serviço:
Belo Horizonte -Teatro de Câmara /
Cine Brasil Vallourec
Dia :01/11 Horário: 20:00
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia)
Endereço: Rua Carijós, 258-
Centro, Belo Horizonte
Informações e venda de
ingressos: http://cinetheatrobrasil.com.br/
E pelo Compre Ingressos:
https://www.compreingressos.com/ (31) 26261251
Outras informações: http://www.mariaritastumpf.com
https://www.facebook.com/Maria-Rita-Stumpf-Artista
Fotos em alta: https://drive.google.com/drive/folders/0B8G5rKplshJkY2p5ZTZwV3gwMGM
Matérias sobre a Artista:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/03/1869960-cantora-maria-rita-stumpf-revelac
ao-de-1989-e-redescoberta-por-djs.shtml http://noize.com.br/o-rarissimo-brasileira-de-maria-rita-stumpf-e-reeditado-em-vinil-pela-pri
meira-vez-selo-selva-discos/#1
https://www.redbull.com/br-pt/rbmasp-outro-tempo
Mariana Starling
Assessoria de Imprensa - Virtuosi Produções
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O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
Entrevista Maria Rita Stumpf
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