A net é hoje um dos palcos mais
democráticos para se conhecer bandas bacanas que estão fora do esquema das
grandes mídias. E o Hard Blues Trio é um verdadeiro achado com seu blues rock autoral
que muito dignifica a cena brazuca. Aumentem o som!!
2112. Confesso que eu tenho um carinho
todo especial pela cena aí do Sul... Vocês tem uma cena notável com grandes
bandas e grandes compositores. Parabéns!
Juliano. Obrigado! A cena daqui realmente
é bem movimentada e nós fazemos a nossa parte promovendo shows e integrando os
músicos da nova e velha geração.
2112. O Hard Blues Trio tem uma
formação que é considerada “clássica” na história do rock. Fale um pouco sobre
o surgimento da banda e o porquê da escolha desse formato.
Juliano. A banda surgiu em 2012 da minha
vontade de tocar Blues e Blues-Rock em Porto Alegre depois de alguns anos sem
tocar profissionalmente. Desde o início pensei que deveria ser um trio por ser
a formação mais clássica e simples possível, o que facilita muito em vários
aspectos, e também porque o foco principal da banda seria a guitarra, que é o meu
instrumento. A primeira formação da banda era Juliano Rosa (guitarra), Alex
Haas (bateria) e 150 (baixo). No final de 2013 entraram Giovani Ouriques
(bateria) e Jailson Tavares (baixo), com esta formação a banda lançou o single
“I Gotta Play My Blues” em 2014 e começou a ser conhecida na região de Porto
Alegre. Em 2015 Dani Ela começou a participar como convidada cantando algumas
músicas nos shows. Após a saída do baixista Jailson, Dani foi convidada a
integrar a banda assumindo baixo e vocal e lançamos o single “Porto Alegre
Blues”. Alexandre Becker entrou no início de 2016 e consolidou a formação atual
da banda: Dani Ela (baixo/vocal), Juliano Rosa (guitarra/vocal) e Alexandre
Becker (bateria/vocal). A partir daí gravamos o primeiro álbum Pé Na Estrada e
fizemos várias apresentações em shows, festivais, rádio e TV.
2112. Achei muito bacana vocês
investirem no trabalho autoral com composições em inglês e português. De uma
certa maneira isso dá mais credibilidade a uma banda, não é?
Juliano. Com certeza. O trabalho autoral
valoriza e define a carreira de uma banda/artista trazendo mais credibilidade e
responsabilidade também. Alguns dizem que uma banda só passa a existir de fato
após lançar o primeiro trabalho autoral.
2112. ... mas os fãs de uma certa
maneira devem esperar ansiosos pelas releituras dos grandes clássicos. Como
vocês trabalham isso?
Juliano. Nos nossos shows sempre mesclamos
o trabalho autoral com as releituras de grandes bandas que gostamos e standards
de Blues. Na verdade, a maioria do público espera ouvir músicas que já conhece,
mas surpreende-se ao ouvir nossas músicas próprias. Então para nós ainda é
importante tocar músicas dos nossos ídolos para ajudar a chamar atenção para
nosso trabalho autoral.
2112. Qual clássico que nunca pode
faltar?
Juliano. Eu citaria dois: no lado Blues
não pode faltar “I Can’t Hold Out” de Elmore James. No lado Rock não pode
faltar “Gimme All Your Lovin” do ZZ Top.
2112. O Brasil é um país de múltiplas
culturas e como vocês viajam muito fica uma pergunta: Existe uma reação
diferenciada do público de estado para estado?
Juliano. Existe sim, eu diria que muda de
cidade para cidade. Tem lugares que o público curte mais Rock, outras mais
Blues, bem como lugares em que as músicas autorais são mais valorizadas. Nós
costumamos sentir a reação do público no início do show e, dependendo, vamos
para um direção ou outra durante a apresentação.
2112. Além do blues e do rock vocês
tem influências do soul o que de uma certa maneira dá mais dinâmica e
flexibilidade na hora de compor, não é?
Juliano. Sim. Temos influência de tudo que
ouvimos, inclusive jazz, fusion, música brasileira e até rock mais pesado. Cada
um dos três músicos tem suas próprias influências e vem de escolas musicais
diferentes, mas o Blues é o que une tudo isso. Gostamos de dizer que fazemos
música com influência de Blues, que é a principal característica, mas sem o
compromisso de estar preso a uma estética.
2112. Todos na banda compõem?
Juliano. Sim. Todos compõem. Alexandre
contribui com idéias de músicas que normalmente já vem prontas faltando só
letra e arranjos de harmonia. Dani contribui muito com letras e algumas ideias.
E eu normalmente componho as harmonias, arranjos e letras.
2112. O que vocês ouvem além do rock,
do blues e do soul?
Juliano. A gente ouve quase de tudo. Além
de rock, blues e soul, eu gosto de jazz, música experimental, erudita, fusion e
tudo que tem guitarra ou é bem feito. Dani gosta de heavy metal e hard rock,
além de funk (americano) e músicas com groove. Alexandre vem da escola do rock
progressivo e também gosta de música brasileira, música pop, fusion etc.
2112. Em 2017 vocês lançaram Pé na
Estrada disponível em cd e em todas as plataformas digitais. Vocês poderiam
falar um pouco sobre as gravações e como foi feita a escolha do material?
Juliano. Temos muito orgulho do nosso
primeiro cd. Eu já tinha muitas ideias e composições guardadas. Dani tinha
algumas letras e ideias escritas. Quando Alexandre entrou na banda no início de
2016, veio com muitas ideias e composições quase prontas, foi quando vi que era
o momento de trabalhar o primeiro disco. Eu compilei as melhores idéias de
todos e logo já tínhamos as principais composições definidas. A maioria das
músicas, como a faixa título Pé Na Estrada, fui eu que compus e trabalhei a idéia
inicial com a Dani em casa. Alexandre compôs a faixa instrumental Dani’s Groove
e levou a ideia no primeiro ensaio com a banda, de onde a música já saiu
pronta. Dani escreveu a letra de Growin’ Up e me mostrou pensando em um “Slow
Blues“, mas eu compus a harmonia numa pegada diferente lodo depois. A faixa
Véio Bruno foi composta em homenagem ao meu pai. Escrevi a letra com ajuda da
Dani e fizemos um shuffle bem tradicional. Dani escreveu a letra de Cadeiras
Vazias e me mostrou quando eu estava brincando com o violão afinado em D
aberto, assim logo surgiu o riff e já compus a música na hora. Estas duas foram
gravadas totalmente ao vivo no estúdio com participação do amigo chileno
Gonzalo Araya, um dos maiores harmonicistas da atualidade. Correndo Com O Diabo
foi composta por mim durante as gravações com ajuda da Dani na letra. Os três
músicos contribuíram com ideias e arranjos em todas as composições.
2112. Dizem as lendas que um músico
nunca está totalmente feliz com o resultado final de sua obra. Faltou corrigir
isso, retirar aquilo, o solo de guitarra que não ficou bacana, a bateria que
ficou abafada na mixagem... Enfim qual é a visão de vocês “hoje” sobre o
trabalho pronto?
Juliano. Sim, a gente sempre é muito
crítico com o próprio trabalho. Eu faria algumas coisas diferentes, faria algum
solo de outro jeito e gravaria uma ou outra música novamente mudando alguma
coisa, tem uma ou outra faixa que eu não gosto de ouvir, mas estamos
satisfeitos com o álbum no geral. Aprendemos algumas lições e o próximo com
certeza será melhor.
2112. Além de músicos, vocês são
compositores, agitadores culturais, tem programas de rádio web, são
arranjadores, trabalham em estúdio... e ainda tem a banda. Como é o dia a dia
de vocês?
Juliano. É bem corrido. Além do trabalho
musical temos outros compromissos com família, estudos e outros afazeres. É
trabalho dia e noite, dorme-se pouco, mas fazemos o que gostamos e o retorno do
público tem disso muito gratificante.
2112. ... ao menos conseguem tirar
férias?
Juliano. Tiramos alguns dias de férias
entre final de dezembro e início de janeiro, mas já estamos de volta com shows
e trabalhando em composições para o segundo álbum.
2112. O blues tem um diferencial dos
demais ritmos pois ele enraíza nas entranhas da alma... e faz moradia eterna.
Como é a cena aí no sul? Ela é muito concorrida?
Juliano. Temos algumas boas bandas de
Blues na região de Porto Alegre, Caxias do Sul e arredores. Tem espaço para
todo mundo, temos vários bares que gostam de variar as atrações, apesar de que
nem todos pagam um cachê razoável. Nós não consideramos as outras bandas como
concorrentes, mas sim como parceiras. Os shows de Blues propiciam a integração
com outras bandas e músicos através de jam sessions e este é o principal
atrativo do estilo.
2112. Juliano, você tem um programa
sobre blues na web. Como as bandas interessadas podem enviar material para
você?
Juliano. O programa está de férias durante
o mês de janeiro, pois a rádio está se re-estruturando. As bandas podem entrar
em contato comigo nas redes sociais (@julianoguitar) ou por email: juliano@rapsodia.radio.br ou julianoros@gmail.com .
2112. Entre bandas e instrumentistas
que te enviam material quem você destacaria como promissores?
Juliano. Gostei muito do trabalho do Tiago
Galleli que acabou de lançar o single Lonesome Blues. O argentino Saverio Macne
também enviou material que impressionou pela qualidade. Meu amigo aqui de Porto
Alegre, Alexandre França, que também lançou álbum recentemente. São alguns que
posso citar.
2112. O blues se tornou uma realidade
no Brasil com a realização de vários festivais dedicado ao estilo, o surgimento
de várias bandas, o lançamento de cd’s autorais etc. Na opinião de vocês...
existe o blues autenticamente brasileiro?
Juliano. Este assunto é polêmico.
Essencialmente, Blues é um estilo criado pelos negros norte-americanos que
foram brutalmente explorados durante e após serem feitos de escravos. Os
entendidos dizem que Blues é só o que foi e é feito por autênticos
afrodescendentes americanos que vivem ou tem ligação direta com esta realidade
cultural e social. Então “Blues brasileiro”, “Blues britânico“, “Blues qualquer
coisa” serve apenas para definir a música que tem forte influência de Blues
feita por músicos que vivem em outra realidade cultural e social. Os puristas e
entendidos de Blues dizem que não existe outro Blues senão o autêntico.
Mercadologicamente falando, usa-se o termo Blues para definir tudo que é feito
com influência do Blues, especialmente o rock que não é tão pesado. Eu
acredito que existe o Blues brasileiro, que é como chamamos o estilo tocado
pelos artistas que se identificam e respeitam o Blues original e fazem suas
composições inspirados neste estilo e em suas próprias vivências socio-culturais.
Atualmente, o verdadeiro Blues não está no mainstream, dominado na maioria por
músicos brancos. Os velhos Bluesmen estão morrendo de fome e tocando por
migalhas nas ruas das cidades americanas. Por isso a polêmica é grande e muitos
não gostam que se use o termo Blues para tudo. Penso que é importante conhecer
a história, respeitar seus protagonistas e ter cuidado ao usar o termo Blues,
que muitas vezes é aplicado a artistas que são mais rockeiros do que
blueseiros.
2112. Quando digo brasileiro não é apenas
por conter letras em português... mas com sotaque brasileiro, entendeu?
Juliano. Eu sou favorável a letras em
português. É fácil identificar um brasileiro cantando em inglês pelo sotaque e
muitas vezes por erros comuns nas letras. Temos artistas que cantam muito bem
em inglês e outros que tem ótimas canções em português, o que também é difícil.
2112. Quais os projetos de vocês para
este ano? Teremos um trabalho novo?
Juliano. Estamos trabalhando em novas
composições. Nosso álbum Pé Na Estrada está concorrendo agora ao Prêmio
Açorianos de música, mais importante do estado do RS e um dos mais importantes
do Brasil. O plano para 2019 é lançar um novo single e um videoclipe
possivelmente no primeiro semestre. E também preparar o segundo álbum para
possível lançamento em 2020.
2112. De que modo as pessoas podem
adquirir os cds, camisetas e outros produtos da banda?
Juliano. Podem entrar em contato
diretamente com a gente nas redes sociais (facebook, instagram) ou por email (hardbluestrio@gmail.com). O CD está à venda também no
Mercado Livre para quem quiser comprar diretamente na internet. Também temos
CDs disponíveis em Porto Alegre com os nossos parceiros na Vibe Guitars, Guitar
Garage, Openstage, Gravador Pub e Distrito Brew Pub.
2112. ... o microfone é de vocês!
Juliano. Agradeço em
nome da banda pelo espaço. Para nós é um grande prazer falar dos nossos
projetos e mostrar nosso trabalho para cada vez mais pessoas. Estamos muito
felizes com a repercussão do primeiro álbum e já estamos trabalhando no
próximo. Temos muitos fãs que nos acompanham pela internet e através de vídeos
no Brasil e exterior. Obrigado pelo carinho de todos e aguardem que em breve
teremos novidades para vocês! Um grande abraço do Hard Blues Trio (Dani Ela,
Juliano Rosa, Alexandre Becker) para todo mundo ligado no Blog 2112. Obrigado!
2112. Eu é que agradeço a sua disponibilidade em
responder.
Crédito das fotos: Zé Carlos Andrade e Felipe Lins
Próxima entrevista
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