Um grande mal do brasileiro é super valorizar a música que vem de fora e
na maioria das vezes menosprezar “in louco” o produto interno. Temos bandas
maravilhosas que poderiam competir pau a pau com os gringos sem fazer feio... Eu
poderia citar várias bandas como a Stranhos Blues que faz um som pesado calcado
no blues e o que é melhor: cantado em português. Aumente o volume, feche os olhos
e viaje nesta sonzeira!
2112. Primeiramente quero dizer que adorei o formato “trio”
adotado por vocês o que me fez lembrar de bandas lendárias como Rush, Cream,
Trapeze, Jimi Hendrix Experience, The Police, Triumph, Beck, Bogart & Appice...
O que levou vocês a optarem por este formato tão pouco usado atualmente?
Luciano Matuck. Olá Carlos, primeiramente gostaria de
agradecer a oportunidade e espaço no Blog Fúria 2112 para contar um pouco sobre
a banda Stranhos Azuis. A banda, apesar de ter seus quase 11 anos, é formada
por músicos que tinham uma história em outras bandas de rock aqui em São
Carlos/SP. No caso todos nós experienciamos bandas com pelo menos 4
integrantes. A opção pelo power trio foi escolhida porque no início pensávamos
em um formato no estilo de bandas com uma pegada mais hard blues como por
exemplo, Joe Bonamassa, Johnny Winter, Stevie Ray Vaughan, Gov´t Mule, Cream e
Jimi Hendrix. Descobrimos outras facilidades nesse formato como os custos mais
reduzidos, um cachê maior e a possibilidade de viajar em um carro só, mesmo
levando somente alguns instrumentos.
2112. Conte um pouco da história da banda!
Luciano Matuck. A banda foi formada há um pouco mais de
10 anos, portanto no final de 2006. Eu, Luciano Matuck, já tocava com o Danilo
Zanite em uma outra banda de rock clássico chamada Homem com Asas também de São
Carlos. Por uns 6 ou 7 anos tocamos
anualmente em uma festa particular em Juiz de Fora/MG com essa banda. Em um
desses shows que fazíamos anualmente, o Danilo comentou comigo que queria
formar um power trio de hard blues com ele cantando. O Daniel eu já conhecia
desde 2002 e na época eu acho que ele estava sem banda, por isso sugeri para
que ele assumisse o baixo. Logo que voltamos desse show em Minas Gerais em 2006
começamos a ensaiar, e aí o Danilo já tinha algumas composições prontas nesse
estilo que misturava um pouco de blues com rock. Montamos um repertório e
gravamos além de duas músicas autorais chamadas “Deixa Pra Lá” e Ninguém É o
Dono do Mundo”, gravamos também algumas versões. Uma de “Got My Mojo Working”
do Muddy Waters e outra de “Tudo Bem Tudo Bom” do Made in Brazil. Assim ficamos
até mais ou menos 2011, misturando essas músicas e mais algumas outras novas
composições com um repertório de classic rock internacional e alguns blues.
Esse disco que lançamos esse ano foi tomar forma só em 2012, quando eu consegui
comprar equipamentos de estúdio. De 2006 a 2012 tocamos em várias casas de show
na região, festivais, participamos de coletâneas, lançamos um EP chamado
Terceiro Mundo junto com videoclipe também. Foi produtivo, mas acho que foi
produzido pouco material autoral por razões pessoais de cada um, falta de tempo
e dedicação exclusiva ao projeto. Em 2012 eu saí da banda mais ou menos no
final do ano e outro baterista, o Marquinhos “Joe” Dias assumiu meu lugar.
Nesse meio tempo a banda acabou se dedicando mais a projetos de tributos à
Janis Joplin ou Led Zeppelin porque o Danilo e o Daniel foram participar, a
convite de Rolando Castello Junior, da Patrulha do Espaço. Após o intervalo
entre 2012 e 2016, eu retornei à banda a convite do Danilo e do Daniel, eles
quase finalizaram a mixagem do disco, mas ainda sem previsão para lançamento.
Quando eu retornei aos Stranhos Azuis em 2016 sempre achei que pelo fato de ter
deixado a banda 4 anos antes existia uma pendência em relação à finalização das
gravações e mixagens das músicas que eu havia ajudado a criar. Dessa forma
regravei as baterias e remixei o disco no final de 2016. O resultado final acabou
sendo o que você escuta no nosso site e no disco prensado.
2112. Quais as bandas que mais influenciam vocês?
Luciano Matuck. São muitas bandas, mas acho que Patrulha
do Espaço, Made In Brazil, os clássicos do Blues como Muddy Waters, Willie Dixon,
entre outros, e os clássicos do Rock internacional como Cream, Jimi Hendrix,
Led Zeppelin e Black Sabbath.
2112. Vocês acompanham o movimento do mercado musical? O que
vocês têm visto de interessante? Alguma indicação em especial?
Luciano Matuck. Sim, na medida do possível acompanhamos.
Far From Alaska, Supercombo, Ego Kill Talent, Rincon Sapiência, Emily Wolffe,
White Lies, Royal Blood, Steven Wilson, Gary Clark Jr., acho que são nomes
interessantes aqui e lá fora.
2112. Tenho reparado que o rock vem se renovando com bandas
mais voltadas para suas raízes e uma nova geração de músicos ávidos por um som
mais cru. O que vocês pensam a respeito disso?
Luciano Matuck. Creio que existem vários públicos hoje
em dia. Quem curte mais essa pegada power trio com o som mais ‘cru’ geralmente
é um pessoal mais velho, que já curte e conhece bandas como Cream ou Jimi
Hendrix. Tem um público universitário mais novo que curte isso também, mas
acaba gostando mais desse formato quando tocamos covers, por não conhecer as
músicas próprias. Isso no nosso caso. Em outros casos não sei explicar muito
bem porque existe um público disposto a escutar bandas nesse formato mais
vintage. Acho que tem público para todos os gostos hoje em dia, basta a música
ter qualidade dependendo do estilo.
2112. A banda tem diversos shows e festivais no currículo...
pergunto: está difícil manter uma banda hoje em meio a toda essa crise?
Luciano Matuck. Alternamos entre shows com repertório
cover de classic rock internacional inserindo músicas autorais, com shows
somente autorais. Isso pelo menos gera algum capital para a banda, fazendo como
que parte desse rendimento seja reinvestido em material. É complicado, mas acho
que é uma estratégia possível.
2112. Recentemente vocês lançaram o primeiro cd com dez músicas
autorais que abordam temas cotidianos como a solidão, o amor, conquistas e
desapegos. Como é o processo de composição de vocês?
Luciano Matuck. No caso desse disco o Danilo compôs
todas as letras, mas muitas delas foram adicionadas depois da música pronta.
Geralmente o Danilo chega com um linha de violão e voz cantando alguma melodia.
Depois disso eu e o Daniel compomos as partes de bateria e baixo. Assim que a
estrutura da música está pronta, vamos lapidando criando partes entre verso e
refrão e aí trabalhamos bem o instrumental. Após isso adicionamos a letra do
Danilo à melodia que ele havia criado adaptando o vocal à estrutura
instrumental. Essa forma de compor não é uma regra. Músicas como a “Colarinho
Branco”, eu criei quase todas as partes cantando para o Danilo as melodias dos
riff de guitarra do verso e a melodia do refrão por exemplo.
2112. Cantar em português não limita a banda ao mercado externo
impossibilitando de vôos mais altos “digo” internacionais ou vocês tem planos
de gravar também em inglês?
Luciano Matuck. Acho que não porque existem bandas
brasileiras que cantam em português e fazem shows fora do país, como o Ventre,
ou Boogarins, entre outras. Acredito que muitos países estrangeiros gostam do
nosso idioma por achar exótico. Além disso é complicado cantar em um inglês
perfeito. Só algumas bandas brasileiras conseguem isso. A maioria fica muito
forçado ou mal feito.
2112. O cd traz uma banda afiada e com bastante peso fazendo a
alegria de quem ouve e que já está cansado de sintetizadores, orquestrações
entre outras modernidades. É rock no talo! Vocês gravam pensando nas
apresentações da banda?
Luciano Matuck. No caso da gravação desse disco a ideia
foi trazer a essência da banda para o ouvinte. Por isso tem poucas
participações ou mesmo a inclusão de outros instrumentos. Queríamos que soasse
como o nosso show.
2112. Em meio ao peso de algumas músicas tem uns lances
acústicos interessantes que coloca a banda em outro patamar e que muito me
lembrou o formato apresentado pelo Led Zeppelin no álbum IV. Vocês concordam
que um músico precisa ter a mente aberta e ouvir vários sons para criar uma
sonoridade própria?
Luciano Matuck. É muito importante escutar outros
estilos de música para ter ideias que não soem tão óbvias. Principalmente
pesquisando na internet ou no Youtube mais especificamente. Hoje o acervo que é
possível acessar através dessas plataformas é uma coisa incrível. Todo
músico/música deve se aproveitar disso afinal acredito que a criação musical ou
a musicalidade se resume em 50% de prática no instrumento e 50% de escuta de
referenciais. E quanto mais boas, ou significativas referências você tiver,
aliada a prática do instrumento, maior será a qualidade do seu produto final.
2112. O que vocês ouvem quando estão na estrada ou mesmo em
casa?
Luciano Matuck. É um repertório bem variado. O Daniel
escuta mais blues e rock nacional dos anos 70. O Danilo, bandas dos anos 70 de
rock clássico, principalmente guitarristas e alguma coisa dos anos 90 e 2000, e
eu, Luciano, como trabalho em rádio escuto de tudo. Principalmente música
eletrônica Lounge e suas vertentes.
2112. Como são as apresentações da banda? E os fãs como reagem?
Luciano Matuck. O pessoal gosta bastante. Tem gente que
dança, tem gente que fica parado escutando batendo o pé e tem outros que dão
uns pulos de 1 metro e meio no ar (rs). Cada um tem uma reação. Nosso público é
bem heterogêneo.
2112. A banda conquistou duas vezes o primeiro lugar (2008/2011)
no Festival de Bandas Independentes do CAASO. O que isso representa para
vocês?
Luciano Matuck. Isso na verdade tem um significado mais
simbólico, essa premiação. Fazemos questão de ressaltar isso, mesmo que para
alguém que não conhece o CAASO como um são-carlense conhece. É um local que
além de ser um espaço cultural e de resistência, foi e é um espaço de formação
de bandas e de público do rock da cidade. Tanto para os estudantes da USP,
quanto para o público são-carlense. Foi e sempre será um reduto do underground
em São Carlos, afinal existe desde os anos 70.
2112. Vocês também já abriram para bandas importantes como
Cachorro Grande e o Krisiun que é um dos grandes nomes do metal mundial. Isso
ajuda na divulgação da banda?
Luciano Matuck. Sim. Na verdade foram dois festivais. Um
o Contato, que é um festival que acontece em setembro/outubro e abrange vários
estilos de música independente, e o outro é o Rock na Estação, que é o festival
de rock mais importante da cidade. Acho que ajuda bastante na divulgação, não
pela abertura dessas bandas em si, mas pelo fato de serem festivais gratuitos,
então o público que comparece é grande.
2112. Como vocês descreveriam o novo trabalho da banda?
Luciano Matuck. O puro creme do rock n’ roll de São Carlos/SP!
(rs)
2112. Que faixas vocês destacariam e qual é a música de
trabalho?
Luciano Matuck. A música “Sr. da Razão”, que é a faixa
de trabalho e a música “Bagagem de Mão”, acho que são os destaques para nós.
2112. Quero agradecer a banda pela disponibilidade para
responder as perguntas e dizer que as portas da casa estarão sempre abertas
para vocês!
Luciano Matuck. Eu, Luciano Matuck, em nome da banda que
agradeço o convite Carlos. Grande abraço e que você continue fortalecendo o
rock nacional.
2112. O microfone é seu...
Luciano Matuck. Aqueles que tiverem um tempinho dêem uma
passada no nosso site para conferir as novidades. Agenda, vídeos, o nosso disco
para baixar gratuitamente entre outras mídias. É só acessar: www.stranhosazuis.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário