O Blues Rock é uma das ramificações mais rica do planeta rock’n’roll, com
adeptos em todos os cantos da Terra com shows acontecendo desde um palco
minúsculo de um boteco até nos grandes estádios. Basta ligar os amplificadores
para o som tomar conta do ambiente e deixar tudo bem legal, cheio de energia e
satisfação no rosto de quem assiste as bandas. E Dudé um dos grandes nomes da
cena paulista nos conceda esta exclusiva onde conta a sua trajetória, suas
influências e sobre o novo cd que sai em breve. Caia de cabeça nessa aventura
musical... isso é blues rock em alta voltagem!
2112. Quando e como o blues
e o rock entrou na sua vida?
Dudé. O Rock faz parte da
minha vida desde muito cedo. O ponto de virada pra mim foi em 1985, assistindo
ao primeiro Rock In Rio. Quando assisti ao show do Queen pela TV, pensei: ‘’É
isso que eu quero fazer da minha vida!’’. Eu tinha 12 anos na época.
Apesar que minha família conta que aos 4 anos de idade, eu já cantava
Raul Seixas brincando com meus carrinhos no chão da cozinha, enquanto minha mãe
ouvia o disco Gita.
O Blues veio bem depois, já na adolescência. Comecei a me interessar
por quem serviu de influência pra quem tinha me influenciado. Depois disso,
teve a primeira banda que fiz parte pra tocar na noite paulistana e era
justamente uma banda de Blues. Isso foi em 1989, eu tinha 17 anos na época.
2112. Quais são suas
maiores influências?
Dudé. Rapaz, tem tanta coisa que me serviu de
influência que fica até difícil de contar (risos). Basicamente, o Blues dos
anos 60 e 70, como B.B. King e Luther Allison entre muitos outros artistas. O
Rock And Roll dos anos 60 e 70, o Hard Rock e Heavy Metal dos anos 80 também.
Gosto tanto do Johhny Cash que o homenageio quando subo no palco vestido de
preto. Minhas composições têm até influência do escritor maldito Charles
Bukowski nas letras que escrevo. Minhas influências são um apanhado de muita
coisa que acompanhou minha vida até aqui.
2112. Antes de formar a
Dudé e a Máfia você participou de várias bandas com estilos voltados para o
blues, o hard, o heavy metal... Fale um pouco sobre este período da sua vida e
o que isso te ajudou no desenvolvimento como cantor!
Dudé. Fiz parte de muitas
bandas. De lá pra cá, sempre teve o que aprender com elas. Tanto pro lado bom
quanto pro lado ruim.
2112. Existe algum registro
desse época?
Dudé. Sim, de algumas
bandas. É possível achar material de bandas que fiz parte, tais quais: Asilo
70, Rockdelia, Easy Rockers, Allied Forces, A Velha Pantera e Blues Underwear.
Tem bastante coisa dessas bandas no You Tube.
2112. Em 2013 você formou a
Máfia com amigos que também eram fãs de blues e rock. Neste período vocês já
compunham o próprio material ou apenas faziam covers?
Dudé. A banda Dudé e A
Máfia já começou como autoral. Isso se deve ao fato de todos nós que já
vínhamos de projetos cover e estávamos meio de saco cheio disso. O combustível
pro surgimento da nossa banda foram dois fatores: o pretexto pra trabalharmos
todos juntos e o tédio de ter passado muito tempo tocando sons dos outros.
2112. Quais as covers que
não podem faltar num show?
Dudé. Desde o nosso
primeiro show, nunca tocamos covers. Nada contra quem faz cover, mas bate uma
preguiça da porra na gente dedicar tempo e grana pra tocar sons dos outros.
Cada um, cada um.
Uma ocasião, tocamos a Stormbringer do Deep Purple na nossa passagem
de som antes do nosso show na Fofinho. Quem estava nessa casa naquele momento
disse que gostou, mas a gente tocou na pura ‘’orelhada’’ só pra testar o som
antes do show. Me aparece brotoejas por todo o corpo só de pensar em entrar num
estúdio pra ensaiar cover (rindo muito)
2112. O que mais os
influenciam na hora de compor?
Dudé. Cada um contribui na
banda da sua forma. O Sérgio e o Ed Navarrette são a veia pesada da Dudé e A
Máfia. O Lennon é o cara das misturas e ideias ousadas, o Luiz Cazati é a
guitarra groovada e com solos pra viajar na maionese. O Leandro, nosso
tecladista, é o cara do Blues e eu sou o retardado que liga o microfone e berra
feito um zé ruela (rindo muito)
2112. Os anos 60 e 70 foram
a base evolutiva das mais variadas vertentes musicais que dominaria os anos
seguintes: funk, soul, psicodelismo, hard, folk, blues rock, reggae, punk etc.
Muito do que se ouve hoje é reflexo direto destas duas décadas que lançou
bandas e músicos que até hoje são influências (e referências!) para meio mundo.
Na sua opinião como está a atual cena do rock e do blues? O que você indicaria
de interessante hoje?
Dudé. Tem muita coisa nova
nesse sentido pra ser ouvida. Coisas boas. Fica até difícil listar, mas fazendo
uma busca meticulosa, se acha muita coisa legal tanto aqui dentro, quanto lá
fora.
2112. Você acha que para se
criar um estilo próprio independente do estilo torna-se necessário que o músico
ouça vários estilos musicais?
Dudé. Identidade é tudo
nessa vida e em muitas ocasiões, vejo uma galera confundindo estilo com
influência.
Uma vez, uma banda entrou em contato comigo procurando vocalista.
Quando perguntei qual era a pegada da banda, me responderam: ‘’Nosso trampo é
estilo Led Zeppelin’’. Caramba, Led Zeppelin é uma banda e não um estilo
(risos). Se você pensar assim, corre o risco de ser a cópia de um troço que já
existe e mil desculpas pela sinceridade, mas ao invés da cópia, eu sempre
optarei por ouvir o Led Zeppelin original (risos).
Esse tipo de confusão ainda existe e alguns músicos precisam entender
que é perfeitamente possível criar um som com as mesmas influências do Led
Zeppelin (Blues, Folk, Hard Rock, Heavy Metal, etc), mas com identidade sua.
Aliás, as bandas que todos nós amamos até hoje se tornaram importantes na nossa
vida justamente por darem ênfase na identidade a partir do que eles se
influenciaram.
2112. O que você ouve além
do blues e do hard?
Dudé. Gosto muito de Jazz
também, além da MPB na sua vertente mais psicodélica.
2112. Tenho reparado que
muitas bandas nos últimos anos tem forjado seu som calcado em bandas destes
dois períodos. Você acha isso positivo ou negativo?
Dudé. Eu acho isso meio que
a evolução natural das coisas. Afinal, esse tipo de influência sempre existiu.
A diferença foi o ‘’suporte’’ da mídia de massa que dá a esse processo
que sempre oscila com os anos. Mas com o advento da Internet ficou claro que
essas influências sempre estiveram por aí.
Aliás, a Internet veio comprovar que não é porque não aparece mais na
TV que determinada influência deixou de existir.
2112. Mudando um pouco de
assunto conte como foi a gravação do primeiro Ep da banda? O material já estava
definido quando vocês entraram em estúdio?
Dudé. Sim, já tínhamos
ideia do que iria pro EP. Inclusive, esse material já estava pronto já há um
tempinho. Sendo assim, achamos legal lançar essas músicas pra servir de
degustação pro álbum oficial.
2112. O que foi mais difícil
em estúdio?
Dudé. Não deixar a tiração
de sarro entre a gente fugir ao controle e a ressaca malvada no dia seguinte
(rindo muito)
2112. Como foi a recepção
do trabalho entre os fãs da banda?
Dudé. A banda Dudé e A
Máfia depende e se mantém graças à atenção e carinho daqueles que acompanham
nosso trabalho, simples assim! Quando lançamos nosso EP virtual, a recepção
dessa galera foi fantástica, algo que me emociona até hoje ao lembrar.
A banda que tripudia, ou menospreza, seus fãs merece o fuzilamento em
praça pública.
2112. Em 2015 vocês
começaram a produzir seus próprios clipes, participaram de vários shows
organizados pelas empresas Dow Interprises e Serasa Sperian que contava com
você na produção executiva, tocaram na Virada Inclusiva organizado pela
Secretaria Estadual da Pessoa com Deficiência além de abrirem o show do Chico
César no Memorial da América Latina. Foi um período bem intenso para vocês não?
Dudé. Cada ano apresenta
uma rotina diferente, esse é o grande barato de ter uma banda. 2015, recebemos
convites pra tocar em empresas que trabalham a diversidade de uma forma que
mereciam se tornar referência no resto do país. Foi uma grande honra pra todos
nós celebrar a diversidade humana com essa galera.
Assim foi a Virada Inclusiva de 2015 que está entre os maiores shows
que fizemos até aqui. É por isso que eu falo que a música deve ser feita em
torno das pessoas e não em torno de egos inflados.
2112. Se você não se
importar poderia comentar um pouco sobre o Movimento IncluSom patrocinado pela
Natura? Acho bacana que todos conheçam e apoiem não por pena de ninguém, mas
para que respeitem a todos os seres humanos da mesma maneira.
Dudé. O Movimento Inclusom
visa produzir festivais de bandas independentes em locais com acessibilidade
pras pessoas com deficiência terem a oportunidade de curtir o evento como todo
mundo. Essa é uma bandeira que levanto há anos e o que posso adiantar no
momento é que esse sonho está bem próximo de se realizar.
2112. Como está a gravação
do novo trabalho? O que nós fãs podemos esperar: mais blues, mais hard ou tudo
junto e mixturado?
Dudé. Desde o começo da
banda, a gente estipulou que nosso primeiro álbum seria um apanhado de tudo o
que já citei aqui, um tipo de celebração a todos os estilos que moldaram nossas
vidas de lá pra cá.
Além das músicas que sempre estão no repertório dos nossos shows,
existem aquelas que tocamos pouco ou simplesmente ainda não executamos ao vivo.
Acho que o pessoal terá uma grande surpresa quando o lançarmos.
2112. Dá para adiantar alguma
coisa?
Dudé. Lógico que não. É
surpresa! (rindo descontroladamente)
2112. O blues apesar de ser
uma grande influência em todas as vertentes musicais contemporâneas nunca
alcançou o seu merecido lugar de destaque. No Brasil pouco ou nada se fala
apesar de ter fãs espalhados por todo o país, temos vários festivais e várias
páginas dedicadas ao gênero na net. Você acha o blues injustiçado?
Dudé. O Blues é muito
injustiçado ao meu ver. Ao começar que ele é considerado comercialmente
inviável o que é uma baita de uma bobagem. Já toquei Blues em praças públicas e
parques de São Paulo e a reação do público sempre foi maravilhosa. O que existe
é preguiça em divulgar algo que não advenha de uma produção meia boca com
conteúdo mastigadinho.
Quer saber o quanto o Blues emociona o povão? Pega uma gaita e toque
no centro de São Paulo ou na Avenida Paulista e observe a reação das pessoas!
2112. Meu amigo, o
microfone é seu... mete o pé na porta!
Dudé. Apoiem as bandas
nacionais. Sim, as bandas gringas são fantásticas, eu mesmo adoro um montão
delas, mas se a porra do cenário nacional desaparecer, aí que você terá motivo
de sobra pra reclamar do sertanejo universitário que trancou matrícula.
Pensa que as alternativas são:
1 – Apoiar a cena, curtir sons animais, se surpreender com novidades
que você desconhecia, se divertir pra cacete com os coleguinhas
2 – Passar o restante de uma existência de martírio desnecessário
reclamando no Facebook feito uma tia velha e ajudando a divulgar tudo aquilo
que você detesta.
A escolha é sua. E aí, o que vai ser?
Integrantes:
Ed Navarrette - Guitarra e
backing vocal
Lennon Fernandes - Baixo
Sérgio Navarrette - Bateria e
Backing Vocal
Luiz Cazati - Guitarra
Leandro Voinschi Lantin -
teclado
Dudé -
Vocalista
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