O Blues é uma das manifestações culturais mais duradoura que se tem
notícia... Desde os primeiros lamentos dos escravos nas plantações de algodão
até os acordes num boteco muitos foram os que deram sua própria interpretação
do gênero o que o torna o mais democrático entre todas as manifestações
musicais. E este livro Blues, The Backseat Music do jornalista Eugênio
Martins Júnior é um relato sincero ao contar parte da história do blues no
Brasil e no mundo através de várias entrevista. Um documento histórico!!
2112. Primeiramente o que mais o
motivou a escrever um livro sobre o blues brasileiro num país dominado pelo
samba, pelo sertanejo e pelo pagode?
Eugênio. Bom, já vou logo falando que
gosto de samba e de funk carioca. O samba é a nossa música, e tenho orgulho
do Brasil por isso. Samba de raiz, ou partido alto. Muita coisa boa derivou
do samba. E acho que ele tem várias similaridades com o blues. Cara, sou um
velho roqueiro, mas toquei instrumento em blocos e escolas de samba aqui em
Santos. Cresci nos anos 80, curtindo Rolling Stones, Led Zeppelin, AC/DC,
Chuck Berry e Elvis. Seria natural um dia dar de cara com o blues. E foi isso
que aconteceu. Vi o filme A Rosa em um cinema aqui. Foi a primeira vez que
ouvi a palavra "blues". Depois vi The Blues Brothers. Santos tinha
uns 30 cinemas. Era demais. Então me apaixonei por esse gênero e comecei a
ouvir e estudar de onde vinham todos aqueles caras, Muddy Waters, Blind Lemon
Jefferson, Leroy Carr, Buddy Guy, Mississippi John Hurt, T Bone Walker,
Sonnyboy Willianson, Brownie McGhee, Lightning Hopkins, Howlin' Wolf. Era
muita gente boa, sacou? E Essas histórias ficaram na minha cabeça por anos.
Até que eu me formei em jornalismo e comecei a trabalhar com música ao mesmo
tempo. Aí as coisas começaram a tomar forma. Eu viajava e produzia show dos
caras e tinha material inédito. mas a idéia vem desde o começo dos 90.
2112. Apesar da pouca exposição
deste gênero musical em nosso país temos muitos amantes espalhados por todo o
Brasil, temos várias páginas na net sem contar os zines dedicados ao blues.
Foi difícil coletar material para confecção dos textos?
Eugênio. Difícil? Mais ou menos. Como
disse, eu viajava e produzia os caras. Então já chegava com o roteiro pronto
para as entrevistas. Faço isso até hoje. Todo o meu material é inédito e
exclusivo.
2112. Quantos anos você levou
pesquisando o material utilizado no livro? O que foi mais difícil?
Eugênio. Entre maturar a ideia e começa
a coletar o material levei dez anos. E o mais difícil, sem dúvida, foi
acreditar. Como você disse, ninguém mais liga pra essa porra. Ninguém lê mais
nada. Ninguém pesquisa. Está todo mundo conectado, mas está todo mundo meio
que amortecido. Às vezes bate a preguiça da minha parte. às vezes falta grana
pra continuar. Eu me banco com a minha empresa, a Mannish Boy Produções, e as
coisas não estão muito bem para o blue e o jazz.
2112. Você teve ajuda de músicos e
bandas na reconstrução da história?
Eugênio. Não tive ajuda nenhuma. Todas
as viagens, todo o tempo gasto foi graças ao meu trabalho. O que fizeram foi
conceder as entrevistas. Claro, cada um contou sua história até então. E sou
grato por isso.
2112. Qual o critério utilizado por
você na hora de escrever os textos? Foi preciso deixar de mencionar alguma
banda por falta completa de informação?
Eugênio. Bom, o primeiro critério foi o
de o artista ter pelo menos um disco gravado. O segundo foi a
disponibilidade. Se o cara estava para vir ao Brasil eu já me preparava para
ir ao seu encontro. Tem de ter um certo planejamento e muita vontade. Às
vezes pegava estrada de moto só pra falar com o cara. Outras, enchia o saco
do produtor. E até entrava nos lugares sem ser convidado. E alguns artistas
brasileiros fizeram corpo mole mesmo. Mas é assim mesmo.
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Eugênio e o Mestre Celso Blues Boy |
2112. O que você sentiu quando pegou
o seu livro pronto?
Eugênio. Pode parecer pedante, mas foi
uma parada normal. Na verdade, senti que precisava fazer o segundo volume.
2112. Você tem planos de lançá-lo no
exterior?
Eugênio. Não pensei nisso ainda. Nem
sei se é possível. Tem muitos nomes nacionais que os gringos nem conhecem e,
na verdade, nem sei se se importam. Mas quem sabe?
2112. Uma curiosidade: Qual o estado
com o maior número de bandas ou bluesmans?
Eugênio. São Paulo e Rio em segundo.
Mas em praticamente em todos os estados têm bandas de blues no Brasil.
2112. O microfone é todo seu...
Eugênio. O blues é uma música secular,
fascinante e única como o samba. Mas ninguém está interessado. A gente escuta
porque gosta. De teimosia mesmo. Contando essas histórias. Fazendo jornalismo
e ouvindo música boa. Não existe pra mim uma coisa mais importante que essa
música. Só fazer isso e vou levando.
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