2112. Explique como surgiu essa idéia de misturar elementos da música brasileira com o blues. Como isso se processa na sua cabeça?
Sid. Bom eu sempre escutei vários tipos de música, gostando de estilos variados e da forma que o Brasil miscigena os sons, o próprio blues caminha dessa forma. Se você pegar artistas do princípio e de hoje, é clara a transformação do estilo, acho que de tanto parar pra perceber coisas interessantes em outros estilos isso acabou se fundindo ao tipo de som que faço, de forma a aproveitar elementos.
2112. Fico imaginando o que os puristas do estilo devem pensar sobre isso. Isso de uma certa maneira te incomoda ou pouco importa para você?
Sid. A música de forma geral sempre foi mutável, acho que cada indivíduo tem suas concepções e respeito todos, quanto a esse purismo acho uma bobagem, principalmente que o blues não foi inventado no Brasil, e até mesmo os próprios bluesmans raízes foram modificando o estilo no decorrer do tempo, posso citar vários e alguns brasileiros também já fizeram isso, não é novidade, estou em paz com isso.
2112. ... a meu o "samba de raíz" é o nosso blues pois ambos vieram da mesma fonte. Imagine músicas do Cartola, Donga, Geraldo Pereira, Elton Medeiros, Carlos Cachaça etc em arranjos blues. Acho que ficaria bem interessante, não?
Sid. Sem sombra de dúvidas, a exemplo disso o Zé Pretinho fez esse tipo de fusão em "Asa Branca" de Luiz Gonzaga, o Renato Fernandes dos Bêbados Habilidosos fez uma versão de "Boemia" do Nelson Gonçalves, e acredito que farei alguma versão de algum clássico assim também rs, super funciona, isso responde também um pouco da pergunta anterior.
2112. Como você citou acima o bluesman Zé Pretinho (In memorian!) fazia umas releituras interessantes do nosso cancioneiro.
Sid. Zé pretinho era um autêntico Bluesman tupiniquim, sempre o admirei desde quando o conheci e ele assim como outros quebraram esses paradigmas quanto a se reinventar, de certa forma é o que em alguns aspectos estou levando sobre meu trabalho.
2112. Você nasceu numa família que
respirava música e já com quatorze anos se decidiu pela guitarra. Como foram
esses primeiros anos? O que você ouvia e o que mais o influenciou musicalmente?
Sid. Eu comecei a tocar guitarra influenciado por sons do final dos anos 80 e início dos anos 90, época que fui contemporâneo, sempre fui um grande admirador do punk e do grunge sendo esses estilos a base da minha formação como guitarrista, escutei diversas bandas desses estilos as quais foram as primeiras onde aprendi meus acordes iniciais, Nirvana por exemplo foi a banda que me fez ter vontade de ser guitarrista, e adorava tocar os punks clássicos.
2112. Por um período você tocou em bandas punk e grunge. Vocês faziam shows ou apenas tocavam por diversão?
Sid. Desde quando estive nesses projetos sempre fui de levar muito a sério, nunca toquei por brincadeira apesar de que fazer música é uma diversão, inclusive nessas bandas foram desde o início onde comecei a fazer música própria, e num país como o Brasil, música alternativa/underground sempre teve dificuldade de conseguir espaço pelo mainstrean, e eu sempre gostei de ler e estar informado, daí minha preocupação em procurar fazer shows e participar de festivais com responsabilidade.
2112. Existe gravações desse período?
Sid. Existem sim, em suma um material precário, as dificuldades de gravar eram evidentes pra época, e ainda estávamos por amadurecer em vários quesitos, então foi um material que não chegou a ser lançado em disco, só ficou na nuvem como demos alternativas.
2112. E como foi que o blues chegou até você?
Sid. Peguei a fase das fitas VHS, cds, cassete, etc tinha um colega que seu pai era um amante de blues, tinha cds de uma coleção, um pouco antes disso eu descobri Jimi Hendrix através de um documentário sobre guitarristas as cenas eram ele tocando no lendário Woodstock, no vídeo ele tocava PURPLE HAZE um de seus maiores clássicos, lembro como se fosse hoje o quanto fiquei impressionado com o som de sua guitarra, sua performance visceral as roupas todo o contexto, logo queria saber tudo sobre ele, e como todos os artistas que me fizeram gostar de suas músicas fui pesquisar de onde o Hendrix tinha bebido, aí veio nomes como B.B king, dentre vários outros aí entra a história desse colega.
2112. Uma curiosidade: como você conheceu Jimi Hendrix o meu "guitar hero number one"?
Sid. Respondida acima, inclusive é meu preferido de todos, porém quando se fala de Blues, o meu preferido pra o estilo é o Freddie King.
2112. ... voltando a sua carreira fale um pouco sobre o B.R316 que inclusive gravou um álbum. Aqui você já tocava blues?
Sid. O B.R316 foi o primeiro
trabalho relacionado ao blues, e nesse trabalho eu já vinha fazendo esse
"fusion" experimentando ideias, e nessa época já vinha também
estudando o estilo de muitos guitarristas de blues, foi o período que mais
absorvi informações, hoje vem buscando criar uma sonoridade minha do que
aprendi, mas eventualmente aprendendo coisas novas.
2112. O álbum trazia apenas material
autoral ou era constituído apenas de releituras?
Sid. O álbum só teve composições autorais, na real nunca gravei alguma releitura, mas que bom que comentou sobre isso, acho que é algo que tenho que fazer em breve.
2112. Vocês faziam muitos shows?
Sid. Sim havia uma agenda legal pela cidade e interior do estado, inclusive fizemos vários shows fora do estado rodando o nordeste, participando de festivais, editais de arte, etc. Foi um período de muito aprendizado e memórias legais, saudades inclusive.
2112. A banda acabou ou apenas você se desligou dela?
Sid. Bom como fundei a banda, desliguei ela também com o fato de mudar de cidade, acabou que não havia sentido do projeto ter continuado visto eu ser fundador e principalmente compositor/produtor da banda, e os amigos que estiveram juntos seguiram seus projetos.
2112. No início de 2016 você se muda
para São Paulo, cria o Projeto Aurodharma e grava o álbum "Cabeça do
Tempo". Como é que funciona esse projeto? Os músicos são fixos ou você os
contrata segunda as suas necessidades?
Sid. Antes do Aurodharma tive um
projeto de blues rock também, que foi embrião do projeto Sid Blues, se chamava
Uzina Elétrica, esse foi meu primeiro projeto aqui o qual já tinhamos
praticamente um disco pronto, com o fim do mesmo conheci o Martin participando
de seus projetos, até que chamei ele pra voltar essas raízes de coisas que
tocava no início, e conhecemos o Marcelo e formamos o Aurodharma, então a banda
é tipo uma família, fixa que passou por algumas modificações e agora está
solidificada com a presença do baixista e brother Elidio.
2112. Você poderia falar um pouco sobre a concepção e gravação do Cabeça do Tempo?
Sid. Eu e o Martin passamos um ano, meio que secretamente produzindo as músicas, que são temáticas do introspecto humano, temas políticos específicos e sobre as relações humanas de forma geral. São nove faixas que compomos juntos e são basicamente influenciadas em sons dos anos 90, como Nirvana, Alice In Chains, Soundgarden e por aí vai, mas também trazendo o aspecto de brasilidade dando nossa cara ao trabalho. O disco é proeminente de 2018, a gravação aconteceu no estúdio Dual Noise sob supervisão e cuidados do brother Rogério Wecko, e neste momento estamos nos preparando pra gravar o segundo disco chamado Denso, vai vir mais intenso como o próprio nome instiga.
2112. Apesar do nome Sid Blues Trio sugerir uma banda trata-se de um trabalho solo. O que te levou a tomar a decisão de seguir carreira solo e como fica o Projeto Aurodharma?
Sid. Sim é um trabalho solo, essa banda é meio que mutável, mas tenho um time que me acompanha meio que fixo, inclusive o Russo no baixo é o cara que fundou comigo o Uzina Elétrica, e que gravou comigo o disco Sid Blues, também me acompanha nesse projeto, quanto o Aurodharma vai seguindo firme também e me desdobro nos dois trabalhos de forma que não se choquem marcando de forma organizada os compromissos, mas o que me levou a montar o Sid Blues foi o fato de o Aurodharma ter dado um stand by por conta da pandemia daí sentir a necessidade e também com tempo conseguir produzir o material do EP.
2112. O trio já está em estúdio preparando o seu debut. Você pode adiantar alguma coisa? O que os fãs de blues podem esperar? O material é todo autoral?
Sid. Na realidade já foi lançado o material em todos as plataformas e fiz uma edição limitada de CDs, pra comemorar isso e servir também de souvenir. Porém estou produzindo novos sons pra um segundo disco, só que esse terá novas curiosidades, quem sabe até uma releitura hein, no caso o primeiro trabalho é todo autoral.
2112. ... o lançamento será em cd, vinil ou apenas nas plataformas digitais?
Sid. Foi lançado em CD, e plataformas digitais.
2112. Qual o seu telefone/e-mail
para contratar seus shows?
Sid. Você me encontra no Instagram
@sid_blues Fone: 11970226879 contato-vitor@outlook.com
2112. ... o microfone é seu!
Sid. Bom queria em primeiro lugar agradecer a você Carlos e ao blog 2112 pelo fomento aos trabalhos artísticos musicais e o convite pra falar sobre essa história que venho caminhando a pouco mais de 20 anos, e deixar a mensagem pra que todos apoiem e incentivem artistas independentes, tem muita coisa legal acontecendo que o mundo precisa ver além.do mainstream.
Obs.: Todas as fotos foram retiradas do facebook do entrevistado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário