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quarta-feira, 13 de abril de 2022

Entrevista Rodolfo Ayres Braga

 

O Terreno Baldio é um dos maiores representantes do prog mundial e “terreno” de alguns dos melhores músicos do estilo. Rodolfo Ayres, baixista que entrou para a banda em 76 e gravou o hoje cultuado e cobiçado álbum Lendas Brasileiras. Mais um pouco de história!!

2112. Rodolfo, você entrou para o Terreno Baldio em 1976 depois de sair do Joelho de Porco. Como foi que surgiu o convite para participar da banda? Vocês já se conheciam?

Rodolfo. Eu já conhecia o Lazzarini, o Fuzza, o Joaquim pois já havia tocado com eles de 69 a 71 como guitarrista na Islanders. A gente fazia domingueiras nos clubes de São Paulo. Eu estava voltando dos Estados Unidos após ter morado lá de 73 a 75. E já no Brasil eu participei de um conjunto chamado Nirvana com o guitarrista Luiz Chagas, que tocava no Isca de Polícia; Luciano Toledo, vocal e violão de 12 que foi do Ursa Maior; Zé Roberto Izik "Belis" na bateria e Luiz Lopes, tecladista que foi apresentado pelo Lazzarini. Eles me convidaram após a saída do baixista que os deixou na mão. Tive apenas um mês para tirar todas aquelas músicas.

2112. Que outras bandas você participou antes do Joelho de Porco?

Rodolfo. No mesmo ano que eu toquei com o Joelho, eu participava também no Hot Rock que era com o Próspero, bateria e vocal; Carlos Bogossian "Bogô" (ex-Beatnicks) e um amigo do Colégio Porto Seguro, o Thomas Gruetzmacher no vocal. Após esse show no Tuca o Bogô foi para a Inglaterra e o Próspero me apresentou o Tico que me falou que ia montar uma banda chamada Joelho de Porco. Também toquei no US Mail que contava com Percy Weis, vocal; Marcelo Paranóico nas guitarras, Marcão "Índio", Alex "Scracho", Beto nas congas, Duda Neves na bateria e levei para o grupo o Roberto Lazzarini, que na época estava tocando com o Made In Brazil. Fizemos um show histórico, louco no Teatro São Pedro. No mesmo ano entrei para o Joelho, era mais interessante fazer música própria em português do que tocar covers.

2112. O Joelho fazia um som anárquico, debochado e quase punk ao contrário do Terreno totalmente prog, não é?

Rodolfo. Quanto ao Joelho fazer um som anárquico e debochado, não! Quando eu toquei com o Joelho a gente fazia basicamente rock blues. Uma música que tinha uma sátira seria o "O maldito fiapo de manga". O resto era algumas covers e umas músicas com temáticas malucas, psicodélicas. Mas não tinha anarquia, deboche, cara pintada e smokin. Isso foi criado depois que eu saí e praticamente já não havia quase ninguém do Joelho. O primeiro LP do Joelho "1554 São Paulo, Hoje" tem 95% de material musical (parte instrumental) criado na minha época. Ficará na memória, para mim basta.

2112. Mas foi essa com essa imagem "anárquica" que o grupo ficou conhecido, não é?

Rodolfo. O Tico começou fazer essa história de se vestir com smokin, pintar a cara, mas isso foi posteriormente. Foi um desmonte. Só tinha sobrado ele. Quando eu toquei com o Joelho não tinha nada dessa anarquia. O Tico fazia umas palhaçadas que era típica dele mas não sei se eu posso considerar isso anarquia, era uma bagunça. Era mais isso.

2112. O fato me lembra o episódio da entrada do Alan White no Yes que antes tocava em bandas mais voltadas para o rock'n'roll e derrepente estava tocando em uma das bandas mais prog do planeta. Isso mexe com o emocional de um músico, não é?

Rodolfo. No meu caso, não! O que acontece é que eu venho tocando desde 65 num monte de estilos variados desde música instrumental The Ventures, música psicodélica isso quando eu tocava guitarra e eu segui como músico né? Eu sempre fui músico! Eu não me considero vamos dizer... roqueiro. Então fui seguindo uma trajetória natural e apareceu uma oportunidade diferente, um desafio, fui e toquei. Não era exatamente minha praia mas eu havia ouvido muitos grupos progressivos, né? Giante Gentle, Jethro Tull... sempre ouvi mas não é isso é nem aquilo. Significa que quando você tem a mente aberta você segue oportunidades que aparecem. Você não se restringe apenas a um estilo. Sem muita mudança emocional. Normal.

2112. Quando você entrou para a banda o material do álbum Além das Lendas Brasileiras já estava pronto, estava em andamento ou ainda estava sendo preparado?

Rodolfo. Eu entrei em maio de 76 pro lançamento do primeiro LP que saiu pela Pirata gravado no estúdio do irmão do Eduardo Araújo, que era amigo nosso, o Aurino Araújo. E eu segui com o conjunto e na sequência em 77 a gente assinou com a Continental. O Cesare Benvenutti é que veio com a proposta da gente fazer um LP com temática de lendas brasileiras. E aí nos foi apresentado o Orlando A. Begelli Filho que fez todas letras de lendas e nós desenvolvemos os temas instrumentais. Sou compositor junto com todos e sei exatamente as partes que eu fiz. Após assinar com a gravadora tivemos registro na SICAM, tenho a carteirinha de compositor etc. É bem isso.


2112. Você poderia falar um pouco sobre os bastidores do álbum? 

Rodolfo. Não tem muito mistério seguimos uma rotina bem metódica e muito focada. No estúdio o Lazzarini praticamente regeu a banda. Eu lembro bem dele fazendo uma movimentação dizendo o andamento. Todo mundo tava muito ensaiado com tudo já tirado. Foi tudo muito tranquilo, sem muitos problemas. Inclusive nessa gravação estava a minha atual esposa que na época era minha namorada e ela lembra bem dos detalhes. O problema foi quando mixaram pois eu não consegui chegar a tempo. Estava indo de táxi e ele foi abaurroado e a porta abriu em cima do meu peito e eu fiquei muito machucado. Mas não quebrou nada graças a Deus e eu acabei voltando para casa com muita dor.

2112. E como ficou a mixagem final na sua opinião?

Rodolfo. Segundo eu soube o cara que fez a mixagem tava bêbado e o disco saiu como a gente chamava de flat. Ficou meio achatado e as nuances do baixo não aparece como deve aparecer em qualquer disco que a gente acredita que seja excelente. Se ouve tudo direitinho, mas fica muito achatado o som, né? Mas é um disco primoroso eu tenho muita honra de ter feito. Só não gostei de não ter participado da mixagem pois eu ia chamar a atenção. O pessoal não atentou para esse fato e o disco saiu com o som um pouco achatado.

2112. Quanto tempo vocês gastaram em estúdio?

Rodolfo. Eu não sei quanto tempo a gente gastou pois já faz muito tempo e não me lembro mais. Imagina você que isso foi em 77 e nós estamos em 2021. Faz as contas... realmente não dá para lembrar. Deve ter sido uns dias provavelmente, dois, três dias... não tenho bem certeza. É aquela coisa de sessões grava x músicas. Deve ter sido três dias no máximo.

2112. Passaredo de Chico Buarque e Francis Hime se encaixou perfeitamente no contexto do álbum. Na minha opinião a versão de vocês supera em muito a versão original.

Rodolfo. Complementando o que você falou do Passaredo realmente foi uma inspiração maravilhosa na nossa interpretação, é uma recriação, ficou muito bonito mesmo. É o que eu posso falar.

2112. A repercussão do álbum foi boa?

Rodolfo. A repercussão do disco foi boa mas não houve uma boa divulgação por parte da gravadora. Na época gente arrumou um empresário que era o mesmo do Belchior. Ele pedia vários discos e gente acabou descobrindo que ele destribuia esses discos como brindes para amigos, gerente de banco então foi uma coisa muito chata. Não houve um apoio por parte da gravadora e aí o disco não alcançou o objetivo de divulgação como eu já disse. Passaredo tocava nas rádios. Eu cheguei a ouvir mas as outras músicas eu não ouvi. Tem essa coisa de jabá. A gente esteve num programa da Rádio Pirata com apresentação do locutor Jaques Gesgorim pra divulgar o LP mas a coisa não tava andando. Eu consegui um show na faculdade que eu estudei de tradutor de intérprete, de turismo fora o show no Ruth Escobar. Mas em 78 eu acabei saindo junto com o Mozart.

2112. Existe gravações desses shows?

Rodolfo. Existe a fita do Ruth Escobar. Ele foi gravado em rolo em quatro canais e a gente ia lançar esse show que é uma coisa maravilhosa. Mas vou mixar isso ainda e vou lançar eventualmente em qualquer momento.

2112. Não entendo porque do álbum não ter sido lançado em cd ou mesmo relançado em vinil. Não se acha nem em versão pirata o que o torna um ítem raríssimo, não é?

Rodolfo. De fato havia intenção de lançar um cassete. Eu até tinha a capinha mas acabou não saindo. Na realidade nós tínhamos um contrato de dois anos para fazer dois lps. Acabou que não teve o segundo disco e ninguém explicou nada. Faltou comunicação do Lazzarini comigo, com o Mozart porque quem tinha o contato direto com o Cesare Benvenutti que foi para a Itália era o Lazzarini. Então não deram nenhuma explicação e houve um desinteresse geral e acabou que não aconteceu nada e terminou por aí.

2112. Outra curiosidade é que mesmo entre críticos e alguns fãs o Além das Lendas Brasileiras é pouco citado. Qual a sua opinião acerca disso?

Rodolfo. É aquilo que eu falei não houve interesse da gravadora em divulgar o disco. E se você não tem divulgação ninguém fica conhecendo só um pequeno grupo... os fãs.

2112. Ainda assim Lendas Brasileiras é muitíssimo cultuado.

Rodolfo. Hoje o disco hoje é super disputado, é citado como um trabalho primoroso porque realmente é. Foi um trabalho muito árduo, todo mundo deu muito sangue. Mas se você não tem um apoio da sua própria gravadora como é que você vai chegar a algum lugar.

2112. Em 1979 o progressivo entra em declínio com a ascenção furiosa do punk rock e nessa roda viva o Terreno termina para retornar apenas em 1993 com uma nova formação. Você chegou a ser contactado para voltar a banda?

Rodolfo. Eu havia saído em 78 e segui tocando na noite paulistana o que me deu muita cancha como músico. Eles conversaram comigo numa reunião num bar chamado Woodstock e depois disso eles gravaram em inglês. Eu não fui convidado para participar mas recebi o cd do meu sobrinho, filho do Mozart.

2112. Você ainda mantém contato com eles?

Rodolfo. Falo de vez enquanto com o Lazzarini, o Joaquim não toca mais... mudou para Minas, o Fuzza faleceu e o Mozart segue.

2112. Você formou ou participou de outras bandas depois que saiu da banda?

Rodolfo. Participei de uma banda chamava Cadillac 56 que era basicamente covers. Tocamos praticamente cinco anos seguidos em várias locais de São Paulo e no interior em cidades como São Vicente.

2112. Algum projeto em pauta?

Rodolfo. Estou em contato com vários músicos de São Paulo (existe um projeto, uma gravação!) e também o convite de uma grande banda do cenário de metal. Por enquanto é o que eu posso dizer. Continuo criando e tocando. Este ano teremos novidades.

2112. ... o microfone é seu!!

Rodolfo. Sou grato a Deus por tudo o que Ele me proporcionou até os dias de hoje. Obrigado! 

Links sobre a banda e seus integrantes:

 

 

Nota: As fotos utilizadas nessa postagem foram todas retiradas do Facebook do entrevistado e não constava o nome de seus autores. Se alguém souber a quem pertence envie as informações para furia2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.   

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