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segunda-feira, 18 de abril de 2022

Entrevista Bidu Sous

O mundo vive de novidades... mas Bidu Sous faz parte de uma nova geração que defende a bandeira do lendário blues surgido nos pântanos do Mississipi. A história do blues é longa mas na entrevista abaixo conheceremos um pouco da trajetória dessa cantora que se tornou a primeira brasileira a gravar um disco de puro blues tradicional.

2112. Você é considerada uma revelação do blues e a primeira mulher a gravar um álbum de puro "blues tradicional". Como o blues chegou até você?

Bidu. Eu tinha uns 17 anos. Conheci o blues, indiretamente, através de meus tios. Eles eram, são, marceneiros e nós morávamos bem próximos. Eu passava bastante tempo na oficina, gostava de acompanhar a construção das peças que eles faziam e eles ouviam muito Roling Stones, Janis Joplin, Eric Clapton... então eu passei a ouvir também. Porém, eu saber o que essa galera ouviu pra chegar naquele som e foi assim que descobri Big Mama, Muddy Waters, BB King... 

2112. Bidu, o que te levou a tomar a decisão de voltar aos primórdios do blues para gravar "Don't Wake Me Up Early"?

Bidu. Desde quando ouvi a versão original de “Ball and Chain" por Big Mama, inclusive composição dela, eu me apaixonei. Não sabia o significado das palavras mas aquela melodia, aquele sentimento de alguma forma me disse algo. Eu pensei “eu quero cantar essa música, quero cantar blues". E comecei a ouvir...

2112. Entre os músicos/bandas de blues que você escuta quais são as suas maiores influências?

Bidu. Não posso dizer que trago isso quando interpreto ou quando fazemos música porque essa cultura não é nossa, não está na nossa pele nem em nossa vivência mas cantar blues para mim é uma forma de homenagear grandes ídolos que criaram um estilo de música que influenciou o mundo inteiro na história da música. Escuto bastante coisa, entre eles; Junior Wells, Sonny Boy Williamson II, Big Mama, Mable Hillery, Etta James, Koko Taylor, Little Walter, Sugarpie Desanto...

2112. Entre os nomes citados tem alguém que você curte mais?

Bidu. Sugarpie Desanto. Ela tem uma energia incrível!!! Desde o começo de sua carreira até os dias de hoje, o espírito radiante e imprevisível no palco é mesmo.

2112. Você cresceu ouvindo o seu pai tocando modas de viola. Isso de uma certa maneira influenciou em seu jeito de cantar blues?

Bidu. Eu acredito que sim... posso estar falando besteira mas acho que o nosso caipira é o bluesman do Mississippi tem alguma coisa em comum... 

2112. O músico Zé Pretim (in memorian) conseguiu unir as duas vertentes resultando num ótimo trabalho. Você chegou a conhecê-lo ou mesmo o seu trabalho?

Bidu. Eu não o conheci infelizmente mas conheço o trabalho! Um artista incrível! Fazia muito bem essa mistura!

2112. Para quem não conhece indico uma atenta audição da releitura que ele fez do clássico Asa Branca. Simplesmente maravilhoso!!

Bidu. Sim!! É maravilhoso!! Eu já ouvi!!  Também recomendo!!

2112. Mas apesar do preconceito a viola caipira e o próprio samba de raiz se adequam perfeitamente ao blues e vice versa. A diferença a meu ver é apenas geográfica, você não acha?

Bidu. Concordo plenamente! A África é o berço da humanidade, quando os povos migraram (muitos como escravos) adequaram o que levaram com o lugar onde foram impostos a viver e assim nasceram vários estilos em diversos lugares diferentes, porém a raiz é uma só.

2112. A própria temática das letras é a mesma: solidão, indiferença social, malandragem, bebidas, amores não correspondidos... O porquê do preconceito, não é?

Bidu. A palavra “blues" já existia antes do estilo musical. Eles usavam essa palavra pra identificar uma vida sofrida, uma vivência pesada ou injusta. E atribuíram ao estilo musical porque usaram a música para se expressar, não podiam reivindicar ou reclamar seus direitos ou injustiças, por isso as músicas remetem a esses temas... solidão, indiferença social, bebidas, reclusão, prisão (muitos eram condenados injustamente apenas por serem negros) ... Com relação ao preconceito, independente do estilo, pra mim a letra faz bastante diferença. Pode ser blues, sertanejo, samba, se eu não gostar da letra eu não vou ouvir.

2112. Admiro músicos que se permitem ir além do óbvio ao misturar outras influências ao molho blues. O que você ouve além de blues?

Bidu. Eu sou bastante eclética. Escuto muito música raiz, reggae, country, soul... 

2112. O álbum Don't Wake Me Up Early é uma parceria com o grande guitarrista/produtor Lancaster Ferreira. Como foi trabalhar com ele? Ele te deu muitas dicas durante as gravações?

Bidu. Gravar com o Lan foi um presente! Somos grandes amigos! Fizemos as letras num espaço de tempo bem curto, foi realmente uma parceria! Eu tenho muito respeito por ele como pessoa e principalmente como músico e produtor, ele sempre tem dicas muito valiosas! 

2112.  Além do próprio Lancaster, você se cercou de um naipe de outros grandes músicos como Lucas Espildora, guitarra slide; Raoni Brascher, baixo: Adriano Grineberg, piano; Thiago Cerveira, gaita; Maurício Gaspar, bateria. Como foi reunir toda essa turma?

Bidu. Gravamos o álbum no meio da pandemia então na verdade essa galera nunca esteve reunida hehe. Mas quase tudo foi gravado no home studio do Lan em tempos diferentes. Apenas a bateria foi gravada em estúdio realmente. E o slide o Lucas Espildora gravou da casa dele com um celular.

2112. Lancaster também participou ativamente na composição das letras e na parte gráfica. Ele acabou se tornando seu grande parceiro nesse projeto, não é?

Bidu. Sim! Com certeza!! Até já citei acima, foi um grande presente! Eterna gratidão por tudo que ele fez mas ele não fez isso só por mim, o Lan é movido a música, está sempre tendo novas ideias, novos projetos... quando ele acredita em alguém ele realmente soma! Eu tive a honra dele acreditar em mim! 

2112. Como foi realizada a pré-produção, os arranjos e as composições? Quanto tempo vocês gastaram em estúdio?

Bidu. Ahh quanto tempo exatamente eu não sei... mas fizemos todas as letras em duas semanas. A produção e gravação demorou um pouco mais, coisa de um ano, por conta da pandemia.

2112. Não é segredo para ninguém do machismo que ainda impera na sociedade e na própria cena quando o assunto se trata de vocês mulheres. Como você lida com esse tipo de situação?

Bidu. A pior atitude machista que eu sinto é o fortalecimento da invisibilidade das mulheres por parte dos homens. Parece que os homens tem uma certa “aliança" e acabam sempre promovendo o trabalho de outros homens muito mais do que o trabalho de uma mulher. Isso se reflete na programação dos festivais, produção de material áudio visual entre outros. Por isso cada vez mais tenho me atentado em fortalecer e promover um coletivo feminino para angariar nosso espaço. Uma pesquisa feita recentemente pela Ong WOMEN MUSIC constatou que na cena do mercado musical no mundo inteiro, apenas 30% é composto por mulheres. Isso entre produtoras, curadoras, cantoras e instrumentistas. Não é nem a metade comparado aos homens. E isso é fácil de enxergar, é só observar o line up dos festivais que acontecem por aí... 

2112. Nos shows apesar da importância de cada músico você é a grande estrela. Rola ou já rolou algum tipo de ciúme por causa disso?

Bidu. Eu nunca me vi dessa forma. É claro que quem canta acaba chamando mais a atenção por estar ali na frente e estabelecer uma comunicação maior com o público e por levar o nome do trabalho, mas sempre procuro passar a importância de cada um dentro do que estamos apresentando. Sobre ciúmes, eu como uma boa escorpiana não permito que meus músicos toquem com outras bandas hahahah. Brincadeira!

2112. Vocês mulheres já quebraram muitas regras e tabus... Mas na sua opinião o que ainda falta ser derrubado?

Bidu. Falando de forma abrangente, acho que falta pararem de tratar o corpo da mulher como um produto e respeitá-las por suas profissões, talentos e aptidões psicológicas.

2112. Na sua opinião que já fez vários shows e festivais pelo Brasil o que é mais difícil para se manter "on the road"?

Bidu. Eu acho que o mais difícil é manter viva aqui dentro essa vontade de compartilhar, de querer mostrar pro mundo isso que mais gostamos de fazer!! Difícil porque o músico no Brasil ainda é muito marginalizado. Dos festivais que já participei; todos foram experiências maravilhosas, em todos fui muito bem tratada e senti que valorizaram o meu trabalho mas também já recusei muitas propostas por achar que não estavam dando o devido valor. Essa parte as vezes é cansativa.

2112. Acredito que as políticas públicas deveriam dar mais "atenção" aos artistas que estão começando e não aos artistas renomados que já tem "espaços garantidos" a sua disposição, você não acha?

Bidu. Sim. Tem muitos artistas maravilhosos por aí que ninguém conhece. É que muitas vezes o maior interesse não é apresentar novidades mas garantir a aceitação. Acho que tem que haver um equilíbrio para não se tornar algo maçante e poder oferecer sempre algo rico e diversificado! 

2112. Após dois anos de "férias" forçadas quais são seus projetos para os próximos meses?

Bidu. Bom eu ainda quero reproduzir muito esse álbum em shows agora presenciais graças a Deus!!! E já estou trabalhando em alguns singles que pretendo lançar em breve...

2112. Você tem projetos de se apresentar no exterior? Já recebeu algum convite para participar de festivais em solo americano ou europeu?

Bidu. Eu já  me apresentei para um público no exterior através do projeto “Can't Stop The Blues". Uma página americana que promove shows online apresentando artistas do mundo inteiro. Apresentei meu álbum e tive um retorno muito positivo, um público que através dessa live vem acompanhando meu trabalho desde então. É bem possível que isso aconteça presencialmente futuramente!

2112. Que conselhos você daria a quem está começando uma carreira?

Bidu. Eu não sou ninguém pra dar conselhos mas uma coisa que sempre digo é; se você não valorizar o seu trabalho, ninguém vai.

2112. Qual o seu e-mail/telefone para te contratar e adquirir o seu álbum?

Bidu. Contato: bidusous@ymail.com

2112. ... o microfone é seu!

Bidu. Eu só quero agradecer por esse espaço e agradecer o convite! Muito obrigada!! Pessoas como você fazem a diferença na carreira de um artista independente! Viva a música e as contas pagas! Hehe

Obs.: As fotos utilizadas foram enviadas pela própria Bidu e outras copiadas da sua página do Facebook. Consegui apenas identificar os nomes de Danilo Ferrara e Tiago Cardeal. Qualquer problema é só entrar em contato comigo pelo e-mail: furia2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.   

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