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terça-feira, 11 de agosto de 2020

Entrevista Celso Nascimento/Cebolinha

Bate papo com o primeiro batera da lendária Made In Brazil contando um pouco dos primórdios da banda, de suas influências, do vocalista Cornélius e a decisão de sair antes da banda gravar o seu primeiro e clássico lp.

2112. Primeiramente explique o porquê do apelido Cebolinha. Tem alguma coisa a ver com o personagem da Turma da Mônica?

Cebolinha. Sim, o apelido for por conta meu do meu cabelo, que era todo espetado, quando eu era mais moleque.

2112. Qual sua formação musical?

Cebolinha. Estudei música no Conservatório Musical Santa Cecília, (Pompéia) Inicialmente eu era baixista, posteriormente migrei para baterista.

2112. O Made foi sua primeira banda ou você já havia participado de outras antes?

Cebolinha. Na verdade, eu iniciei como baixista, em uma banda de amigos do Alto da Lapa, que tocava por hobby, e o repertório era basicamente Beatles. Nos ensaios, trocávamos de instrumentos e eu sempre ia para a batera... me apaixonei... e decidi migrar para este instrumento. Voltei ao conservatório (por pouco tempo, deveria ter me desenvolvido mais) e assim virei baterista, inclusive comprei uma batera. Eu gostava de tocar, porém eu queria mais do que ficar brincando de músico e tão logo fui convidado por Oswaldo para fazer parte de uma banda, com uma proposta bem interessante e diferente, não exitei, aceitei na hora. Desta forma, me tornei o primeiro batera da banda, que aliás, nem nome tinha.

2112. A banda surgiu em 67 época que o rock brasileiro passava por profundas mudanças com o fim da Jovem Guarda e os primeiros estilhaços da Tropicália. E em meio a todas essas mudanças onde o Made se encaixava?

Cebolinha. Bem, de fato, foi uma época de transição, o rock no Brasil era basicamente voltado para bandas e cantores estrangeiros. Havia poucas bandas e cantores brasileiros expressivos, exceto Mutantes, Raul Seixas e alguns outros, com uma pegada mais forte, ainda assim, diferente da nossa proposta, que era de rock mais pesado, cover de bandas estrangeiras consagradas, principalmente Stones.

2112. O que você ou vocês ouviam na época?

Cebolinha. Na época, nós ouvíamos muito bandas e cantores estrangeiros, principalmente Stones, Doors, Led Zeppelin, The Who, Steppenwolf, Troggs, Jimi Hendrix, Litle Richard, Chubby Checker, entre outros.

2112. Lembro que na minha época quando alguém adquiria um LP, um compacto ou mesmo um K7 reunia toda a turma para ouvir, curtir e trocar informações. Vocês também faziam isso?

Cebolinha. Sem dúvida, conosco acontecia o mesmo, foi bem assim na nossa geração.

2112. Você lembra qual foi o primeiro disco de rock que ouviu?

Cebolinha. Eu não me recordo muito bem, mas rock com certeza não foi... rsrs.. meus pais curtiam muito Nelson Gonçalves, Nat King Cole e os italianos, Pepino de Capri, Gianni Morondi, Bobby Solo, etc.. Minha tia, que é um pouco mais velha que eu, curtia Elvis, Celi Campello, Brenda Lee, Neil Sedaca, Johnny Rivers, Chubby Checker, Los Lobos, etc., aí sim eu comecei a gostar do som desse pessoal.

2112. Sempre curti o jeito cool de Charlie Watts e o jeito anárquico de Keith Moon tocar. Quem mais te influenciou como baterista?

Cebolinha. Eu também sempre curti ambos, embora com estilos completamente diferente, Charlie Watts de estilo mais comportado, porém muito técnico, já Keith Moon, elétrico, cheio de gás e energia, também um ótimo baterista, figura ímpar, se destacava pelo seu comportamento agressivo e pirotécnico...rsrs. Na verdade, eu não me inspirei em nenhum deles, eu gostava do instrumento, tanto que, como citei anteriormente, iniciei como baixista.

2112. Como surgiu o Made In Brazil e quem o batizou com esse nome?

Cebolinha. Um dia, Oswaldo que me conhecia há algum tempo, entrou em contato, me falou que estava formando uma banda, precisava de um baterista e me convidou para fazer parte do grupo. Naquela época não haviam muitos bateristas e principalmente, que tinham o instrumento. Como morávamos na Pompéia e naquele momento eu já curtia o som que a banda estava empenhada em realizar, não exitei. Ficamos um bom tempo sé ensaiando sem um nome definido, até que fizemos um brainstorming com vários nomes e o mais votado foi Made in Brazil, nome este que eu defendi muito, por achar diferente...e assim nasceu o Made.

2112. No início vocês já compunham material próprio ou a set list dos ensaios/shows era composta apenas de releituras de clássicos do rock e bem ao nosso estilo?

Cebolinha. No período em que eu participei da banda, não compúnhamos, posteriormente a minha saída é que a banda veio a compor material próprio. Enquanto participei do Made, o repertório dos nossos ensaios e shows, eram compostos por releituras de clássicos do rock.

2112. Como eram os primeiros ensaios da banda? Todos opinavam na escolha do repertório?

Cebolinha. Os primeiros ensaios foram um pouco complicados, não nos conhecíamos tocando juntos, as músicas eram tiradas dos discos, em princípio, cada um tirava sua parte nas suas casas, aí nos ensaios é que botávamos em prática, o que havíamos absorvido e conjuntamente íamos ajustando. Com o tempo, as coisas ficaram mais fáceis, porque já nos conhecíamos musicalmente, já estávamos entrosados. A escolha do repertório, normalmente cabia a Oswaldo (sempre o grande lider) e também ao Binda, na primeira formação. Com a saída de Binda e entrada de Cornélio, este também opinava na escolha do repertório.

 

2112. Você se lembra quais foram as primeiras composições da banda?

Cebolinha. Neste período, eu já havia saído da banda e fiquei muito tempo desligado do pessoal, não acompanhei.

2112. O Made sempre produziu um rock'n'roll poderoso senão um dos mais pesados da época. Qual era a reação do público durante os shows?

Cebolinha. Verdade, o Made desde o início, foi muito intenso e poderoso nas suas apresentações e a interação com o público, também sempre foi intensa.

2112. Cornélius a meu ver sempre será o maior vocalista da história do rock brasileiro. Enquanto a maioria cantava segundo a escola do rock inglês, ele mandava ver num vocal rasgado o que era um tanto incomum para a época. Acho que apenas Janis Joplin cantava desse modo...

Cebolinha. Sem dúvida, Cornélio foi único, um crooner excepcional, ele não era um cantor, ele era um intérprete e ator, tudo ao mesmo tempo. Com sua voz estilo Janis Joplin, e suas coreografias eletrizantes, dominavam o palco e completavam o show, com o potente som da banda.
Até hoje, eu não entendo, como ele não recebeu todas as referências que merecia. Grande injustiça!

2112. ... isso sem falar na sua postura andrógina bem antes de ícones como David Bowie, Ney Matogrosso, Marc Bolan, Lou Reed, Sweet etc. Isso com certeza devia chocar a maioria das pessoas, não?

Cebolinha. Sim, Cornélio foi o pioneiro na sua postura, os demais, vieram posteriormente.

2112. Soube que ele tinha um temperamento forte, um tanto difícil... isso é real ou é apenas folclore?

Cebolinha. É uma realidade, seu temperamento era muito forte, pessoa difícil de conviver, tanto que saiu e entrou na banda algumas vezes, por discordar, em várias oportunidades, com os demais integrantes, principalmente com Oswaldo.
Gênios são assim.... rsrs

2112. Na época vocês vivenciaram a famosa "ditadura" que vetava tudo que não condizia com o que eles pensavam. Como era fazer rock'n'roll de atitude naquele período?

Cebolinha. Bem, como citei, eu não participava mais da banda, quando começaram a compor, portanto, eu não tenho parâmetros. Enquanto eu participei, não tivemos problemas, embora o repertório era composto por rock mais pesado, portanto, não apreciado pelos governantes da época.

2112. Vocês sofriam retaliações militares nos shows, nas letras das músicas, por tocarem rock alto, usar cabelos compridos etc? Como vocês driblavam a lei do AI-5?

Cebolinha. Então, eu não peguei o período mais complicado da banda na época do AI-5.

2112. Quando tempo você ficou na banda e porque saiu do Made?

Cebolinha. Eu fui um dos fundadores da banda (1967) fiquei perto de 2 anos. Eu saí da banda por pressão dos meus pais, uma vez que, eu estava indo muito mal no colégio, repeti por 2 vezes o segundo ano (curso científico), que posteriormente se tornou curso colegial e hoje chamado ensino médio. Eu precisava estudar. Outro fator, foi que comecei a me desinteressar pela banda, pois eu achava que não estava a altura dos demais músicos, inclusive ainda quando eu participava da banda, entrou outro baterista muito bom, Nelson Pavão, e por um tempo tocamos juntos, ou seja, outra inovação do Made, a banda tinha duas baterias, mas foi por pouco tempo.

2112. Após sair do Made você participou de outras bandas?

Cebolinha. Após minha saída do Made, não participei de mais nenhuma banda, embora eu tenha sido convidado. Mas, certamente não tocaria, para mim, o Made era o que havia de melhor.

2112. Você ainda continua atuando como músico?

Cebolinha. Não, quando saí do Made, resolvi estudar de verdade, me formei em Economia, morei fora do país um bom período, quando retornei ao Brasil morei no Rio, também por um bom tempo, me tornei um executivo e não mais me dediquei a música. Adoro música, principalmente blues e rock, vez por outra, encontro tempo para ver algum show do Made e principalmente para dar um abraço nos amigos Oswaldo e Celso.

2112. Foi um prazer enorme te entrevistar, conversar com o primeiro batera dessa banda que é puro rock’n’roll. Cara, o microfone é seu!!

Cebolinha. Eu que agradeço a oportunidade de conversar com você e expor um pouco do privilégio que foi ser um dos fundadores do Made e ver a fantástica banda que se tornou. Na verdade, um ícone do rock brasileiro. Parabéns Made in Brazil, por mais uma ano de estrada, nos proporcionando alegrias. Grande abraço meus irmãos do rock!

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